Sob a Face de Boneca escrita por Jace Jane


Capítulo 5
Capítulo 5 - Prestação de contas




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Quando chegaram a Gusu foram recebidos pelo líder da seita, Zewu Jun, que parecia bem humorado. Wei WuXian se apressou para esconder a jarra do sorriso do Imperador em suas costas, Bianca riu por trás do leque. A pequena estava sentada em cima do Maçãzinha, que era puxado pelo WuXian.

— Como foi à viagem? – Perguntou o irmão do Lan Zhan.

— Teve seus altos e baixos. – Respondeu WuXian olhando para a boneca sentada em cima do seu burro.

— Os altos foram às noites e os baixos fui eu puxando o cabelo dele por ter me feito possuir uma boneca de trinta centímetros. – Completou Bianca dando uma risadinha.

Zewu Jun segurou a risada. Wei coçou a cabeça ao lembrar-se da dor que sentiu.

No caminho Wei e Lan Zhan se separaram do líder da seita, Bianca aproveitou a oportunidade para passar algum tempo com Lan Xichen, estava empolgada em aprender a tocar o guqin de brinquedo que havia ganhado, o líder não se incomodou em ensina-la.

Aprender a tocar com Lan Huan era uma oportunidade incrível, na novel ele sempre esteve em sua lista de favoritos, por sua gentileza e por ser justo, graças a ele o Wei WuXian pode se esconder em GusuLan quando descobriram sua verdadeira identidade. Xichen era um anjo dentro da seita Lan, pena que ele era o típico personagem que é feito de trouxa pelos que sabem se aproveitar, mas isso não mudava o fato que Bianca o adorava.

— Quando eu era jovem eu aprendi a tocar flauta – Comentou Bianca nostálgica, eram bons tempos. – Conheço musicas que você jamais ouviu, agora que não sou capaz de tocar desejo muito poder, é como minha mãe dizia, só damos valor quando perdemos.

— Eu sinto muito. – Sua expressão calma estava cabisbaixa, como consolaria um pobre espírito?

— Estou triste, sinto falta do que perdi e não consigo seguir em frente. – Teria suspirado se tivesse pulmões cheios de ar. - Meu eu do passado teria aconselhado a ver os pontos positivos.

— E tem pontos positivos em esta morta? – Perguntou Lan Xichen sem tirar os olhos do guqin.

— Se você vivesse dentro do governo político que eu vivi apreciaria em estar morto, nenhuma alma poderá ser salva, só se preocupam em enriquecer em quanto os mais pobres morrem todos os dias. – Infelizmente o Brasil é assim, todos os políticos roubavam o dinheiro suado do povo brasileiro. – E eu morri no começo de uma praga. Se eu a pegasse teria uma morte longa e dolorosa, pelo menos morri rápido.

O tempo passou e Bianca desistiu de tocar e preferiu ouvir a musica de Lan Xichen, ela acalmava sua alma melancólica e clareava a sua mente.

Naquela mesma noite se pegou pensando na sua vida antiga, não foi uma pessoa ambiciosa, seus planos eram viver o momento, quando reclamou de ter morrido sem beijar um único ser humano foi pura baboseira, beijos são só troca de contato, não estava perdendo muita coisa, estava? Só não queria ter deixado sua mãe para trás, ela havia perdido tanta coisa.

Era um dia quente, o começo do ano era sempre assim, se não tomasse cuidado ficaria doente com o sol do meio dia, mas estava devidamente protegida atrás das cortinas de seu quarto, sentada no chão de frente ao ventilador, tempo como aquele não lhe dava energia para fazer algo produtivo, então deixava sua mente correr nos campos da imaginação para encontrar algo bom para as suas histórias, graças a sua mente perturbada sempre pensava em algo pervertido, tendo amigos que cada três palavras, duas eram de duplo sentido era difícil não pensar nessas coisas. Acabava rindo das imagens que vinham a sua mente.

Para se livrar daquelas imagens tentava pensar em algo puro, inocente, então cantava suas musicas preferidas.

— Cedo ou tarde a gente vai se encontrar, tenho certeza em uma bem melhor, sei que quando canto você pode me escutar.... – Aquela era a musica que ouvia em sua adolescência, cinco anos atrás. Eram tempos bons aqueles – [...] Me sinto só, mas sei que não estou, pois levo você no pensamento... Sinto que algum dia ainda vou te ver...

As velas que estavam acessas foram apagadas com o vento.

— Cedo ou tarde? – Falou uma voz vinda da escuridão. – Não a nada que lhe agarre a esse mundo.

— Como posso partir sabendo que minha vida me foi tirada injustamente? – Rebateu Bianca, não estava com medo, mesmo que devesse.

— Quanto mais tempo ficar neste mundo, mais rápido sua alma será corrompida. – Disse a voz.

— Ainda bem que estou em uma seita que cuida de casos como o meu. – Desafiou Bianca com suas palavras impertinentes.

— O que você não viveu em sua vida passada, poderá recuperar na próxima. – Insistiu a voz. – Pense nisso.

Como poderia recuperar, voltaria para o seu mundo de origem, dentro de uma crise política que esta dentro de uma crise econômica e graças à pandemia ainda nasceria dentro de uma crise de saúde publica. Como poderia pensar em reencarnar com o seu mundo estando naquele estado? Mesmo se não voltasse ao Brasil ainda sofreria pelo vírus. Existir em um mundo medieval de Mo Dao Zu Shi ainda era mais seguro do que voltar ao seu mundo.

Não era uma decisão simples como a voz fazia parecer, não poderia desistir da sua existência neste mundo sem saber o que lhe aguardaria no futuro, mas também não poderia ficar parada sem fazer nada, estava na hora dos deuses da morte pagar pelo seu crime, exigiria seu ressarcimento, ou apelaria para os deuses lideres do panteão grego e egípcio, seria tão irritante que Zeus e Rá não teriam escolha a não ser descer dos céus e ouvir suas reclamações.

***

Assim que amanheceu esperou que algum aprendiz da seita lhe fosse buscar, mas nenhum apareceu. Poderiam estar tomando seu café da manhã, era difícil saber as horas quando não tinha um relógio, então ficou sentada batucando na mesa no ritmo de We Will Rock You.

— Buddy, you’re a boy, make a big noise… - Ficou murmurando em quanto esperava, e assim começou há contar o tempo cantava uma musica inteira e assim sabia quantos minutos haviam passado.

Começou cantando Queens e finalizou cantando e dançando Bad Romance da Lady Gaga.

— I want your leather studded kiss in the sand… I want your Love – Seus movimentos eram bem estranhos, seus braços estavam arqueados para cima, seus dedos apontados para baixo em quanto balançava de um lado para o outro. Se alguém se deparasse com tal cena cairia na gargalhada.

Quando finalizou a musica ouviu a chamarem do lado de fora, arrumou os cabelos despenteados rapidamente, apalpou as vestes e se sentou em seu lugar com seu leque cobrindo a metade do rosto.

— Sim?

— Senhorita Sa Xinyue, o mestre Wei pediu para que eu a levasse até ele. – A voz era do garoto que vivia ao lado do filho adotivo do Wei WuXian e Lan Zhan.

— Entre, por favor.

O garoto explicou que um antigo amigo do Wei Yin estava visitando Zewu-Jun e ficou curioso quando descobriu de sua pessoa em GusuLan e pediu um encontro entre as partes, e Wei ficou empolgado e pediu para o garoto lhe buscar, antes que ele fosse se encontrar com o líder da seita Lan.

— Virei atração de circo, bah! – Como não conseguia reproduzir o som de quando bufava substituiu a onomatopeia por “bah” – Só falta o Wen Ning e a Cadela do líder Jin, daríamos um belo time. – Não pode deixar de rir com a comparação ridícula, teve que reprimir as imagens que vinham em sua mente se não iria cair na gargalhada, deixando certo aprendiz bem confuso.

Quando chegaram no Jingshi a sensação de estar no mundo dos titans voltou.

— Wei WuXian! – Gritou com sua voz fina. – Faça o favor de me buscar, não tenho mais pernas longas.

— Se não fosse por mim nem pernas teria – Alfinetou WuXian estendendo a palma da sua mão para Bianca atravessar.

— Continue me perturbando para ver o que lhe acontece, talvez Lan Qiren descubra que certo alguém anda escondendo certa coisa que deixa o marido do Hanguang-jun tão calmo.

O Patriarca estancou no caminho até a mesa onde o líder da seita Nie estava. Como era possível que a convidada de Lan Yuan soubesse o esconderijo de bebidas do Lan Zhan?

— Não subestime o espírito de uma mulher, Wei. – Riu Huaisang por trás do seu leque.

Wei a colocou em cima da mesa de frente para o líder Nie, o homem lhe encarou cheio de curiosidade inocente. Às vezes fazia perguntas para o WuXian de como a garota foi parar lá, o caso dos cupins fora mencionado para o desagrado de Bianca.

— No final de tudo isso você vive em GusuLan com o nome da boneca que possuiu pela primeira vez. – Resumiu Huaisang.

— Exatamente, achei que ficaria mais fácil para todos já que meu nome vem de uma cultura diferente da que vocês conhecem. – Respondeu Bianca fechando o leque e batendo a ponta em sua pequena mão de madeira. – E também foi uma cortesia caso não conseguissem pronunciar, eu mesmo não sei pronunciar a metade dos nomes dos aprendizes de Gusu. – Revelou abrindo o leque novamente para esconder sua face.

— Qual é o seu verdadeiro nome se me permite perguntar?

Seus olhos eram sinceros, sem qualquer malicia, sua cara de bobo também contribuía para se abrir a esse desconhecido conhecido.

— Me chamo Bianca, o nome da minha família é Gama, não possuímos nome de cortesia e nos referimos aos outros pelo seu primeiro nome. – Explicou Bianca. – Mas se quiser pode me chamar de Sa Xinyue, é meu nome temporário.

A conversa fora curta, mas de certa forma instrutiva, quando o líder da seita Nie se despedia de Wei WuXian, Bianca aproveitou a oportunidade para escapar, precisava colocar seu plano em pratica e rogar aos deuses celestiais para que a libertassem de sua agonia. Não foi uma tarefa fácil, estava no mundo dos gigantes, cada degrau ou relevo era uma dificuldade, os sapatos nos seus pés não aguentaram a metade de sua aventura, mas nem percebeu que só andava com um par.

Parou de correr quando parou de ver as casas da seita e passou a só ver mato e arvores. Ficou de joelhos e começou a implorar a Osíris e ao Hades para que se responsabilizassem pelo erro de seus lacaios, não queria muito, só um corpo humano em perfeito estado quanto seu eu antigo. Depois de algumas horas sem sucesso começou a implorar a Zeus e a Rá, os chefes dos seus panteões.

— Zeus, eu lhe imploro, não posso viver neste corpo patético por causa de um erro de um deus, Hades não me responde, e foi o deus sob o comando dele que me matou, junto com o cachorro egípcio, o senhor criou a humanidade, criar um corpo para mim não é nada, por favor, me ajuda...

Não importava o quanto rezasse suas preces não eram ouvidas ou eram ignoradas. Quando o anoitecer chegou deixou a floresta cabisbaixa e caminhou sem rumo, nem reparou quando chegou até um jardim de pedras brancas, se jogou no meio delas e ficou encarando a lua cheia.

O tempo passa, mas a saudade fica.

Não sei quanto tempo me resta,

Mas sei que não terá um dia que eu não pense em você

A lua que eu vejo é a mesma que você encara toda a noite

Só isso me consola

Minha alma vagará por este mundo

De boneca a boneca, ainda estarei aqui.

O tempo passa, e as memórias se acumulam.

Eu não me esquecerei daqueles que me devem

Voltarão a me ver, seja como um espírito ou demônio.

Um sonho tolo, que só uma tola como eu pode realizar.

O tempo passará e eu alcançarei os céus,

Ou o trarei até a mim.

Com tais pensamentos dentro de si começou a cultivar seus desejos em sua alma, recolheria poder e desceria ao inferno ou subiria aos céus para exigir o que lhe era devido.


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