Where's My Love escrita por Khaleesi


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Até que esse capitulo saiu mais rapido do q eu esperava...

Boa leitura!



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Percy sentiu-se aliviado quando Nico disse que o escoltaria até seu chalé. O filho de Hades era muito bom em afastar as pessoas com apenas um olhar.

Não é que ele não estava feliz por rever seus amigos. Ele apenas estaria mais feliz se todos aqueles rostos não o olhassem com pena.

Os gêmeos Stoll não tentaram nenhuma brincadeira, Clarisse La Rue não lhe fez nenhuma ameaça, nem mesmo Will lhe recebeu com um sorriso. Todos haviam perdido algo ou alguém durante a guerra, mas por que Percy sentia que era o único que estava sendo tratado como se fosse algo frágil e quebradiço, que se partiria ao menor toque?

Quíron e o senhor D. foram os únicos que não o trataram diferente; talvez a imortalidade os fizesse encarar a perda como algo comum, já deveriam tê-la presenciado mais vezes do que o garoto pudesse contar.

— Estamos quase lá — disse Nico, notando o desconforto nas feições de Percy toda vez que eram abordados por algum semideus que vinha cumprimentar o garoto.

— Cade o Leo e a Piper? — perguntou Percy, tentando pensar em qualquer outra coisa.

— Acampamento Júpiter, é claro — respondeu Nico. — Piper não consegue desgrudar do Jason e Leo… Bem, o mesmo.

 Percy tentou apreciar a paisagem ao seu redor. A vista dos campos de morango, do refeitório, o campo de treinamento, os campistas jogando vôlei na quadra de areia… Era tudo tão familiar.

As construções haviam sofrido danos durante a batalha e Percy podia ver que os campistas haviam tido um ano de trabalho duro para colocar tudo de volta ao lugar. Ainda era possível ver alguns andaimes e tábuas de madeira amontoadas nos cantos junto as ferramentas dos filhos de Hefesto.

Quando chegaram na área dos chalés, Percy se esforçou ao máximo para não olhar para a cabine de Atena. Todas aquelas crianças loiras de olhos cinza… Ele não conseguia. Nico pareceu perceber seu descontentamento pois acelerou o passo.

Quando finalmente alcançaram o chalé de Poseidon, Percy parou há alguns metros da entrada observando as paredes baixas de pedra cinzenta com corais adornados. Aquele lugar lhe trazia tantas lembranças...

A brisa fresca e convidativa vinda de dentro do chalé 3 fez com que ele se arrependesse de não ter voltado antes, pelo menos para uma visita rápida. 

— Você vai entrar? — a voz de Nico tirou o garoto de seu transe e Percy percebeu que estava parado ali há alguns minutos.

— Claro — ele limpou a garganta e apressou-se para a entrada do chalé.

— Ei, Nico! — Will Solace aproximou-se dos dois garotos com as bochechas coradas como se tivesse corrido uma maratona. — Precisamos de você na Casa Grande.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Percy, que não havia deixado de notar a estranha movimentação no acampamento que normalmente acontecia quando havia uma grande missão ou evento preocupante para acontecer.

Will e Nico entreolharam-se como se compartilhassem um segredo.

— Não deve ser nada demais — disse Nico tentando parecer despreocupado. 

— É só uma reunião rotineira, você sabe… Com os conselheiros… — disse Will. O filho de Apolo era bom em muitas coisas, mas mentir não era uma delas.

— Então eu deveria ir também, não? 

— Você acabou de chegar Percy — disse Nico. — Relaxa, eu cuido disso. Nos vemos mais tarde?

Percy não conseguiu disfarçar o semblante desconfiado e apenas acenou com a cabeça quando os dois garotos se afastaram apressadamente.

Tentou seguir o conselho de Nico e relaxar, afinal ele estava lá para isso e qualquer assunto urgente podia ser resolvido sem ele. Não estava nem um pouco ansioso para se meter em problemas agora.

Quando finalmente adentrou o chalé, Percy achou que seus músculos haviam sido anestesiados. Inalou o aroma de maresia enquanto suas pálpebras desciam e repousavam e seus lábios se esticavam involuntariamente. Ele estava em casa.

Largou a mochila sobre a cama e abriu as cortinas, iluminando o quarto com a vista para o horizonte e as ondas do mar. Ainda havia algumas de suas roupas nos armários, a maioria delas já não lhe serviam mais e estavam rasgadas ou manchadas. Ele apanhou uma das únicas camisetas do acampamento em estado usável, despiu-se e vestiu-a junto a uma bermuda confortável. 

A praia definitivamente seria seu próximo destino. Durante a viagem, tudo o que conseguia pensar era em como queria colocar os pés na água salgada e deixar-se levar pela brisa suave.

Quando alcançou a areia depois de uma caminhada curta até a costa e finalmente adentrou a água até a altura dos joelhos, Percy conseguiu fazer o que planejava. Fechou os olhos, sentindo a quentura leve do sol de fim de tarde sob sua pele enquanto o vento bagunçava seus cabelos e a energia do mar fluía em suas veias… Só então percebeu o quanto sentira falta daquilo. 

Mas é claro que aquele canto escuro em seu peito estaria ali sempre para lembrá-lo que por mais que as coisas estivessem se encaixando novamente e parecessem melhorar, ela não estava lá. Portanto Percy nunca mais poderia sentir-se completamente bem ou feliz. E não deveria.

Seus olhos abriram-se e o que era alívio transformou-se em um semblante duro, amargo. O garoto então virou-se e voltou a areia. Encontrou um lugar na praia com a sombra de uma palmeira e largou-se no chão. Por sorte havia levado consigo o pote de biscoitos que Sally havia preparado, agora pela metade. Mordeu um biscoito e concentrou-se no sabor doce e suave. Não queria pensar em mais nada a não ser o quão deliciosos estavam aqueles biscoitos.

 

Percy estava no quarto cookie quando sentiu a presença do filho de Hades. Nico trazia as mãos nos bolsos e um olhar preocupado nas feições.

— Sabia que estaria aqui — comentou ele.

Percy fez sinal com a cabeça para que ele se sentasse. Nico pareceu relutante antes de se acomodar na areia ao lado do garoto. Percy observou-o enquanto ele olhava demoradamente para o horizonte com os braços repousando sobre os joelhos dobrados.

— O que está rolando, Nico? 

O filho de Hades lhe lançou um olhar rápido e inseguro.

— Quer mesmo saber? — perguntou ele.

Percy soprou o ar pelas narinas enquanto pensava na resposta.

— Não. Mas vai em frente.

Nico coçou a cabeça, sem saber como começar.

— Achamos que depois da guerra as coisas voltariam ao normal, mas… Não recebemos ninguém novo desde então. — Ele fez uma pausa e balançou a cabeça — Além disso, têm semideuses desaparecendo. Mandamos gente para procurar e eles também sumiram. Não sei o que está acontecendo.

— Como assim desaparecendo? — Percy franziu o cenho. — Você não acha que… Ela está de volta?

Nico engoliu em seco.

— Não descartei essa possibilidade, mas… Não. É impossível. — Nico recusou-se a seguir aquela linha de pensamento. — O que quer que seja, precisamos descobrir rápido.

— Tudo fica mais difícil quando não podemos mandar gente pra investigar — disse Percy.

— Droga, será que nunca podemos ter um pouco de sossêgo nesse lugar? — Nico verbalizou seus pensamentos.

Percy virou-se para o horizonte imitando o garoto e os dois passaram a apreciar o silêncio e a vista. Ele não queria pensar que havia uma nova ameaça a ele e seus amigos tão cedo, haviam acabado de travar uma guerra e ainda estavam se recuperando e lidando com suas consequências.

O próprio Percy tivera sua cota de loucuras relacionadas ao mundo dos semideuses. Desde que havia descobrido sua verdadeira identidade aos doze anos, nunca havia parado de fato para respirar e viver como uma pessoa normal.

Tentou afastar chacoalhar os pensamentos e afastá-los de sua mente.

— Senti falta dessa vista — ele quebrou o silêncio. De repente o ar pareceu ficar mais pesado.

Nico encolheu-se e balançou a cabeça.

— Olha, Percy… — sua voz travou em sua garganta por alguns segundos. Percy apenas esperou. — Eu… sinto muito. Eu devia ter ido antes.

O garoto foi pego de surpresa. Não achava que Nico iria trazer o assunto a tona. 

— Eu provavelmente teria batido a porta na sua cara — confessou Percy. — Foi assim com todo mundo no começo.

— Mas eu devia ter tentado pelo menos… — disse Nico, a frustração mais evidente em cada palavra — eu não devia ter…

Percy também sentiu um nó formando-se em sua garganta.

— Sumido? — ele disse por Nico. O menor olhou-o de esgueio e desviou os olhos escuros no segundo seguinte, incapaz de encará-lo. O filho de Hades então começou a mexer na areia abaixo de si com os dedos em movimentos repentinos.

— Sinto muito — murmurou ele.

— Por que você sumiu? — aquela pergunta martelava cabeça de Percy há um ano. Quando não estava enterrado em sua cama, nos raros momentos em que não se sentia sufocado com aquela dor que já havia sugado tanto de si que tudo o que restava era um imenso vazio; nesses breves momentos sua mente latejava com aquela pergunta. Afinal, todos os amigos haviam ido até ele; haviam dito algo, haviam expressado seu luto… Todos menos Nico. O garoto havia sumido por uma semana após a última batalha no acampamento. Percy foi embora para sua casa e tudo o que ouviu depois foram notícias de que Nico havia retornado. Ele esperou que o garoto lhe visitaria um dia, talvez aparecesse de repente em sua varanda, saindo das sombras como costumava fazer. Mas isso nunca aconteceu, então ele deixou de esperar.

Não era de se admirar que Percy não conseguiu disfarçar a surpresa quando Nico finalmente apareceu em seu apartamento mais cedo naquele dia; não o via desde o fim da guerra.

— Eu não sei — disse Nico, depois de quase um minuto de silêncio. — Eu… Não sabia o que dizer… Achei que você não queria ver ninguém.

Percy sabia que por ninguém o garoto estava se referindo a si próprio.

— Eu nunca disse isso.

— Eu sei — Nico esfregou o rosto com as mãos e murmurou alguma maldição em grego antigo. 

Percy estava mais do que cansado daquela barreira invisível que existia entre os dois garotos; uma barreira que os impedia de conversar abertamente e agir como amigos ou somente como dois adolescentes idiotas. Ele não sabia direito como agir na presença do garoto. Havia visto Nico crescer, deixar de ser aquele menino que vivia no mundo da fantasia e tornar-se um dos semideuses mais fortes que conhecia… Mas por algum motivo, tudo relacionado a Nico era complicado. E ele sabia que o outro garoto sentia o mesmo.

— Quando Bianca morreu — o filho de Hades começou, surpreendendo Percy. — Eu fiquei com raiva…Tanta raiva…

Percy lembrava-se bem demais daquele dia. Sentia um aperto em suas entranhas toda vez que a lembrança do chão do refeitório se rachando e trazendo os esqueletos enquanto Nico fugia para a floresta cruzava sua mente.

"Você prometeu"

— Não achei que ficaria preso nisso por tanto tempo, mas eu fiquei — continuou o garoto. — Se é assim que alguém se sente quando perde alguém que ama… 

Sua voz falhou. Percy engoliu em seco. Não queria que o garoto continuasse. Aquela conversa estava trazendo de volta o peso em seus pulmões que dificultava sua respiração.

Merda… — foi tudo o que ele conseguiu dizer.

Nico apenas assentiu, sem precisar concluir.

— Por pior que tenha sido… — Percy procurava as palavras com cautela. Qualquer descuido e sua voz se tornaria embargada e ele já não conseguiria dizer mais nada. — Droga, Nico, eu não queria que você tivesse sumido. Só isso.

Havia um certo ressentimento em seu tom, o que Percy sabia que não era certo… Ele não podia culpar Nico por ter desaparecido quando ele mesmo não estava presente para apoiá-lo quando o garoto perdeu a irmã. 

— Não precisa se desculpar — continuou ele. — Eu sei como é difícil lidar com… tudo isso.

Nico balançou a cabeça, insatisfeito.

— Seria engraçado se não fosse trágico…

— O quê? — perguntou Percy, visivelmente confuso.

— O filho do deus dos mortos não sabe como lidar com a morte — disse ele amargamente.

Percy riu sem humor.

— E o filho do deus dos mares tem medo de morrer sufocado.

Os dois se olharam por alguns segundos antes do semblante de Percy quebrar-se em uma risada e logo arrastar Nico junto, que não conseguiu manter-se sério diante da visão do outro garoto.  

Percy ao menos sabia porquê estavam rindo; talvez não fosse uma risada exatamente saudável e por essa mesma razão sentia ainda mais vontade de continuar. Talvez as coisas houvessem chegado em um ponto tão ruim que sofrer em silêncio já não serviria para mais nada. Tudo o que sabia era que não queria parar agora. 

Não conseguia se lembrar da última vez que havia gargalhado de verdade e nunca imaginara que depois de tanto tempo, Nico di Angelo seria o responsável por aquela sensação.

Quando se recuperou, Percy observou com divertimento um Nico muito menos tenso, olhando para a areia e balançando a cabeça ainda com um traço de sorriso nos lábios. Ele não se lembrava de já ter ouvido o som da risada de Nico antes… Mas definitivamente gostaria de ouvir de novo.

— Será que a gente pode só esquecer tudo isso e comer cookies azuis? — Percy ofereceu o pote com os biscoitos. Nico olhou do pote para o garoto e então apanhou um cookie.

— Deuses! — exclamou o garoto ao morder o biscoito.

— Eu sei — disse Percy, saboreando seu quinto e infelizmente último cookie. Sally realmente havia se superado dessa vez.

Percy tentou esquecer a conversa e divertiu-se com as reações de Nico a deliciosa culinária de sua mãe enquanto os cantos de sua boca ficavam sujos de farelos azuis. E funcionou. Ele precisava daquilo mais do que precisava de conversas profundas que supostamente deveriam ajudar a resolver seus problemas, ou pelo menos era o que pensava.

O sol dava seus últimos suspiros no horizonte quando o garoto percebeu que logo teriam que se reunir aos outros campistas para o jantar. 

— Nico? — chamou ele. — Obrigado por… ter me trazido de volta.

Percy pôde ver o olhar satisfeito nas feições do menor. 

— Percy, eu… — Nico de repente voltou a ficar sério e sustentou o olhar de Percy por alguns segundos como se buscasse as palavras certas para o que estava prestes a dizer. Suas bochechas coraram levemente — Não vou sumir de novo.

Percy sentiu que não era exatamente aquilo que o garoto estava tentando lhe dizer, mas não se importou.

— Promete? — Percy ergueu uma sobrancelha de maneira provocativa, o que fez com que ele corasse ainda mais.

Nico deixou escapar um sorriso e revirou os olhos ao mesmo tempo.

— Prometo.


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Notas finais do capítulo

Eu nunca lidei com luto na minha vida pessoal, então escrever sobre isso esta sendo um verdadeiro desafio... Espero não decepcionar

Ate o proximo ♥



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