Imperia escrita por Pauline


Capítulo 3
Of Runes and Magic


Notas iniciais do capítulo

Como estamos no dia de hoje? Espero que vocês estejam se cuidando o quanto possível ♥



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Alec estava extremamente cansado. Pelas últimas cinco horas, tinha acertado alvos enquanto nadava, era coberto de lama e Aequum corria em sua máxima velocidade. Tinha corrido e caído e escalado os obstáculos na trilha, e agora estava tão exausto que podia dormir por horas.

Como parte da última prova, ele deveria provar que saberia trabalhar sendo parte de um time. Estava escalando a última parede entre si e o banho quente antecedente da cerimônia das runas, porém só poderia escalar quando ouvia Hogde. Contava de cem para um enquanto ficava parado, uma técnica que aprendera com o mentor, para se manter acordado e em alerta. Suas mãos doíam pela queimadura das cordas, tantos as de escaladas quanto as do seu arco, e seus ombros estavam quase desistindo depois de horas sustentando o golpe pesado da arma. Depois das provas na água e lama, Alec achou que não poderia mais andar, mas algo em si gritou e ali estava ele, apenas a um metro de distância do topo da parede.

—Livre! – gritou Hogde, e, em um salto, Alec agarrou o topo. Se empoleirou ali com dificuldade, observando as opções: poderia descer pela escada espiralada com alvos móveis, mas a movimentação do arco seria comprometida. Poderia usar a corda e descer assim, mas suas mãos já estavam em quase carne viva. Poderia saltar e torcer para que caísse graciosamente o suficiente para conseguir ir até Aequum e este o levar para a casa.

O arqueiro observou a parede em si. Era idêntica à primeira, e para subir Alec tinha utilizado as pequenas pedras que a constituíam como degraus. Fazer o contrário era possível, mas incrivelmente difícil. E também, um movimento clássico de Hogde.

Alec assentiu para si mesmo e apoiou as mãos na borda do muro, girando seu corpo e descendo lentamente até encontrar o primeiro degrau. Testou a força e, se dando por satisfeito, procurou por um para o pé esquerdo. Lentamente, foi descendo a parede, mais lento do que gostaria, mas definitivamente impressionante para os que estavam assistindo.

—Porque ele não usou a escada? – Duque Robert se viu perguntando em voz alta – Ele consegue atirar nessa distância.

—É uma escada espiralada, tem muitos pontos cegos – respondeu Lorde Jace – E o arco ficaria difícil de manusear.

—Ele só tem uma flecha – notou o príncipe, olhando curioso para Lorde Jace – Não teria que terminar a prova sem nenhuma flecha na aljava?

—Ele tem mais um alvo, Vossa Alteza – o Lorde apontou para um aro de metal, que do ponto de vista de Magnus parecia ser pequeno o suficiente para usar-se como um bracelete – Acertando aquele, ele completa o teste.

—Prepararam o banho? – perguntou Hogde, sem desviar os olhos do aprendiz, que chegava ao fim da parede.

—Achei que esperavam para fazer isso – Magnus sussurrou – E se Lorde Alexander não acertar?

—Meu irmão não erra, Vossa Alteza – Lorde Jace se pronunciou novamente, no mesmo tom de Magnus – Todos aqui sabem que ele acertará.

Magnus assentiu, vendo o jovem arqueiro correr até seu cavalo ao final da trilha. Os dois dispararam em direção à casa, e em um movimento cheio de fluidez, Alexander preparou sua última flecha.

Para Alec, o tempo passou mais devagar. Sua mente focou-se unicamente no alvo, e ele pode sentir todos os músculos do seu corpo trabalhando ao puxar a corda pela última vez.

Respirou fundo e, ao soltar o ar, disparou.

Para Magnus, o tempo havia diminuído seu ritmo. Ele pode ver com clareza a flecha rodopiando, indo de encontro ao aro. Podia sentir o arrepio que subia por sua coluna ao testemunhar o momento em que a última flecha de Alec passou ao meio do aro e cravou-se chão, em frente à casa. Foi acordado do momento pelo grito vitorioso dos arqueiros e de Lorde Jace, que correram para receber o mais novo Arqueiro da Ordem Real. Alec sorriu quando Aequum parou, e teve certeza de que o animal estava orgulhoso também quando carinhosamente bateu seu rosto ao de Alec. Envolto pelos arqueiro e por Jace, ele sorriu aliviado.

Finalmente, tinha chegado onde deveria estar.

 

Magnus não se sentia desconfortável facilmente. Na maioria das vezes que isso aconteceu, Camille estava envolvida e ele tinha grandes motivos pelos quais estar desconfortável. Mas ali, no meio dos arqueiros, esperando por Alexander, ele sentiu o terrível frio de não pertencer ao grupo.

Lorde Graymark tinha sido incrível ao não deixa-lo sozinho, mas agora ele estava envolvido em uma história com Hogde e alguns outros arqueiros sobre Clary, e mesmo estando ao seu lado, o príncipe não conseguia tirar de sua mente que aqueles homens não o consideravam parte do grupo.

Claro, quem consideraria que o mimado Príncipe Herdeiro tinha em si uma grande paixão pelo arco?

Ele suspirou levemente, olhando ao redor do cômodo. Todos pareciam entretidos em algum tipo de conversa, e isso incluía o Duque, mesmo que mais ouvisse do que falasse. Lorde Jace tinha acompanhado Lorde Alexander paras as câmaras de banho, e assim as opções de conversas para Magnus iam se esvaindo.

Ele percebeu que talvez deveria ordenar que sua carruagem fosse trazida, já que Lorde Graymark tinha sido convidado para a cerimônia, quando o jovem arqueiro reapareceu. A linguagem corporal do rapaz demonstrava sua exaustão, mas o sorriso que tinha era radiante. Magnus se recordava dos encontros que tivera com o Duque e seu filho mais velho, e sabia que se tivesse visto aquele sorriso, se lembraria. Percebeu, então, que assim como ele se permitia ser ao lado de Ragnor e Catarina, Lorde Alexander se permitia ser ao redor dos Arqueiros.

—Acho que esta é a minha deixa – disse, sorrindo para todos no cômodo. Encarou o lorde, que o observava com respeito no olhar – Será uma honra tê-lo na Ordem Real dos Arqueiros, Arqueiro Alec – disse, assentindo levemente em reverência antes de se voltar para a porta.

—Vossa Alteza – ouviu a voz grossa do lorde o chamar e se voltou para o encontrar o rapaz ainda o encarando. Ele piscou algumas vezes, parecendo pensar, antes de suavemente dizer: – Seria uma honra se Vossa Alteza ficasse para a cerimônia das runas.

O cômodo ficou silencioso e Magnus quase podia ouvir seu próprio coração batendo. A cerimônia das runas era reservada, e aqueles de fora da Ordem precisavam de um convite oficial para tal. Geralmente, apenas os homens da família do arqueiro receberiam o convite, e no entanto...

—Será uma honra – disse por fim, e todos os presentes pareceram respirar. A atmosfera de festa voltou, e Alexander foi novamente envolvido por abraços. Agora, sua pele parecia rosada e seus cabelos caíram teimosamente sobre os olhos. Vestia uma camiseta simples de algodão, e calças escuras. Tinha o colete em azul-ciano aberto, mas o símbolo dos Lightwood ainda brilhava em suas costas. Mais alguns cumprimentos e todos se voltaram para o centro da sala, onde o Alto Feiticeiro os aguardava.

Feiticeiros eram raros em Edom. Além da família real, eram poucos que possuíam magia em si, e todos eram cuidadosamente monitorados pelo rei. Lorenzo Rey, atualmente Alto Feiticeiro de Edom, tinha sido descoberto brincando com magia por Sir Fell em uma de suas viagens. Era quase tão poderoso quando o rei e o príncipe, e assim foi trazido para trabalhar na Corte. Não gostava muito de Magnus, mas o respeitava como seu príncipe.

As runas costumavam ser tatuadas, antes do cargo de Alto Feiticeiro ser criado. Agora, elas eram gravadas na pele com magia. Mais rápido, menos dolorosa, embora a queimadura ainda fosse quase insuportável.

Magnus estremeceu. Se queimou apenas uma vez com magia, e nunca mais tinha cometido tal erro. Mas ali estava Alexander, disposto a tal pelo reino, graciosamente revelando o torso ao se deitar no macio cobertor que tinham colocado ao centro da sala.

—Lembre-se do juramento – Hogde disse, guiando os membros da Ordem para fecharem-se em um círculo ao redor de Alec. Lorde Jace e Duque Robert se ajoelharam ao lado direito do jovem, e o arqueiro logo tomou a mão do irmão na sua, enquanto o Alto Feiticeiro se prostrava de pé ao lado esquerdo, esfregando as mãos para gerar sua magia. Magnus sentiu seu corpo esquentar, e algumas fagulhas azuis escaparam de seus dedos. Magia atrai magia, pensou, se concentrando para manter a sua controlada dentro de si.

—Quando quiser – Lorenzo disse, e Alec assentiu, respirando fundo antes de começar a entoar o juramento.

De onde Magnus tinha se posicionado no círculo, podia ver claramente quando o aperto na mão de Lorde Jace se tornou mais forte. A magia do Alto Feiticeiro atingiu Alec e se espalhou pelo corpo do arqueiro, fazendo todo ele brilhar em tons dourados. Era possível ver a magia correndo pelas veias de Alec, e se posicionando em seis lugares diferentes. A voz de Alec tremeu, mas o juramento não parou quando as áreas localizadas começaram a queimar. Lorde Jace segurava a mão do irmão, o olhando preocupado, mas não ousava reclamar do aperto. Duque Robert estava visivelmente tenso, e segurava delicadamente as pernas do filho, evitando que ele se machucasse ao se mover.

Seis runas aparecem na pele clara, primeiramente brilhando em dourado, e depois se tornaram escuras. Contra a pele clara do pescoço de Alexander, Magnus reconheceu a runa de desvio e bloqueio que cobria uma cicatriz longa, embora os outros símbolos eram completamente estranhos para si. O arqueiro se permitiu gritar a última parte de seu juramento, e a mágica abandonou seu corpo.

—Agora, o símbolo de Edom – o Alto Feiticeiro declarou, observando o círculo de homens ao seu redor – Príncipe Magnus, nos daria essa honra?

O príncipe se viu assentindo e tomando o lugar de Lorenzo. Era parte de sua apresentação na coroação criar o símbolo de Edom para todos verem, e assim, sabia fazê-lo de olhos fechados. O grandioso tigre apareceu, envolto por vinhas e espinhosas roseiras, e com um breve movimento do pulso de Magnus, foi enviado para o ombro esquerdo de Alexander.

Ao contrário da magia de Lorenzo, que lhe era estranha e queimava, a magia de Magnus foi bem acolhida por Alec. Era suave e quente, e não desconfortável. O símbolo de Edom brilhou em um azul escuro antes de se cicatrizar no mesmo preto das runas.

Apenas Magnus e Lorenzo perceberam o fio de magia que se desprendeu e correu para o coração de Alexander.

—Levante-se, filho – a voz suave da Duquesa o acordou – Temos visitas.

Alec abriu os olhos com dificuldade. Depois de receber suas runas, os arqueiros até tinham tentado convencer o jovem a ficar, mas seu corpo estava acabado e ele só pensava em sua cama. Assim, acompanhado de seu pai e irmão, Alec voltou para casa para encontrar um jantar feito especialmente para ele. Isabelle tinha sido cuidadosa ao lembrar o cozinheiro das preferências do irmão, e a Duquesa fez questão de abrir um de seus vinhos favoritos. Até mesmo o pequeno e tímido Max tinha se aproximado e abraçado Alec, dizendo-se muito orgulhoso, antes de correr para perto do pai.

Depois do breve jantar, Alec mal tinha conseguido se manter acordado para tirar as roupas do dia. A noite foi tranquila, e agora ele realmente sentia todos os músculos de seu corpo implorarem por mais algumas horas de descanso. Mesmo assim, se sentou na cama e olhou curioso para a mãe.

Duquesa Maryse era uma boa mãe que fez questão de se fazer presente em todos os momentos da vida dos filhos. No entanto, tê-la acordar Alec era raro e, honestamente, levemente estranho. Principalmente quando clamava que tinham visitantes.

—Que horas são? – pediu baixinho com a voz rouca de sono.

—Você perdeu o café da manhã – a Duquesa disse suavemente – Eu pedi para que te deixassem dormir, mas agora temos visitas para o almoço.

—Quem? – o arqueiro alongou os braços enquanto pedia isso. Pelo Anjo, seus braços nunca tinham ficado tão doloridos...

—O Príncipe Herdeiro está te esperando no solar – Maryse anunciou, observando o rosto do filho mudar – Ele nos pediu que vocês dois tivessem um tempo sozinhos, e como o almoço se aproxima...

—Eu almoçarei com o príncipe? – Alec quase gritou.

—Uma conversa com refeições, sim.

—O que pode ser tão importante que o príncipe não pode esperar? – indagou o arqueiro.

—Isso, meu filho, você terá que perguntar a ele.

O adorável solar onde se encontrava era banhado pela luz dourada. Claramente era o espaço de Alexander: cheio das armas e roupas características dos Arqueiros, assim como alguns livros na política e economia dos Ducados de Edom.

Magnus deixou-se passear pela área, apenas sendo interrompido pelos servos que traziam o almoço. Ele tinha requisitado privacidade para a conversa que teria, mas não pensava que os Lightwood tinham o levado tão a sério.

Agora, olhava de pertinho as almofadas que enfeitavam o sofá macio. Todas elas tinham as chamas dos Lightwood bordadas em dourado, sendo as próprias feitas com a mesma cor de azul-ciano que os três portavam no dia anterior. Pareciam extremamente macias e perfeitas para o sono que fugiu do príncipe a noite inteira. Pensou que, talvez, depois de conversar com Alexander, se sentiria bem o suficiente para dormir.

A porta do solar se abriu, e Alexander entrou. Usava roupas simples, quase idênticas às do dia anterior. A única runa visível era a que subia pelo seu pescoço, e a ver trouxe lembranças para Magnus. A postura impecável do Arqueiro era diferente da de um lorde. Aquele rapaz tinha sido moldado para ser um guerreiro.

—Vossa Alteza – reverenciou o príncipe – Sua visita é uma agradável surpresa.

—Agradeço por me acolherem tão bem, Lorde Alexander – Magnus sorriu, se permitindo sentar no grande sofá macio.

—Por favor, Vossa Alteza, sou apenas Alec.

—Claro, Alec – o príncipe assentiu – Creio que ainda não saiba o motivo da minha visita.

—Temo que não, Vossa Alteza. Não pude deixar de me questionar o que seria tão importante para que Vossa Alteza sentisse a necessidade de me procurar.

—Por favor, não seja tão pomposo – Magnus pediu – Príncipe Magnus está de bom tamanho. E, para responder-te, sim, é realmente um assunto que não pode ser adiado.

—Que assunto seria esse, Príncipe Magnus?

O Príncipe Herdeiro suspirou, olhando para suas mãos antes de voltar a encarar o arqueiro.

—Na noite de ontem, quando lhe marquei com o símbolo de Edom, minha magia reconheceu em você a outra metade da minha alma.


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Notas finais do capítulo

Alec é oficialmente um Arqueiro, yeyyy!
Mais sobre essa coisa de "almas gêmeas" no próximo capítulo...
All the love, Pauline ♥



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