Imperia escrita por Pauline


Capítulo 2
Of Royalty and Bows


Notas iniciais do capítulo

O capítulo em que Magnus e Alec finalmente se encontram! Yeyyy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791435/chapter/2

A casa dos Lightwood na Capital era menor do que Alicante, mas não menos pomposa. Localizada extremamente próxima ao palácio, a Lightwood Manor tinha sua entrada voltada para os jardins reais, e suas enormes janelas eram perfeitas para que seus moradores cuidassem a movimentação no grande palácio. Tinha sido construída não somente para abrigar a família nobre, mas também para servir de abrigo e trincheira caso algum levante civil acontecesse. Não que os habitantes de Edom tivessem vontade alguma de revoltar-se contra o rei, pois ele era um bom governador, sabendo exatamente como suprir as necessidades de seu território, sendo elas vindas do calor escaldante no verão ou das neves fortes do inverno.

O quarto favorito de Alec, no entanto, não permitia ver o palácio. O solar no segundo andar da casa era voltado para o sul, e era ali que o jovem arqueiro tinha passado grande parte das visitas que faziam à Capital. A biblioteca do Duque era apenas há algumas portas de distância, e Alec também tinha recebido a permissão de treinar sua pontaria, muitas vezes colocando o arco de modo que ficasse quase invisível para o observador no solar. Anos de treino, e Alec já não errava o alvo.

Agora, pela proximidade de sua Iniciação, o arqueiro tinha transformado o solar em seu pequeno escritório. Os grandes e macios sofás estavam escondidos embaixo das mais diversas lâminas e apetrechos que geralmente iam espalhados pelo corpo do rapaz, quando não levados em segurança na pequena mala que sempre carregava. Seu arco estava reclinado em uma das grandes janelas e a corda era um corte feio na fluidez do mármore branco da mesa de centro. Sua aljava tinha sido cuidadosamente limpa e consertada especialmente para a ocasião, e isso poderia ser dito para a maioria das roupas confortáveis que usaria. Nada dos trajes de Lorde, não. Usaria e se sentiria muito mais confortável nas roupas simples feitas de algodão do que nos casacos feitos de seda.

A única exceção se fazia no presente momento, onde ele se preparava para encontrar Lorde Graymark ao lado de seu pai e irmão. Lorde Graymark era o capitão da Guarda Real, e mesmo que a Ordem dos Arqueiros fosse completamente separada da Guarda, o Lorde sempre acompanhava as Iniciações, e com um dos filhos dos Lightwood deixando o nome para trás, ele se encontrava extremamente animado para acompanhar essa.

Alec se viu metodicamente fechando os botões de seu colete azul-ciano, a cor do Ducado de Idris. Tinha, teoricamente, um servo exatamente para o ajudar a se vestir, mas os anos vivendo na cabana de Hogde tinham tirado toda e qualquer vontade de usar essa regalia. Além do mais, usaria a capa típica dos Arqueiros por cima de toda a pompa de suas roupas, e enquanto tinha certeza que os diferentes tons de verde da capa não complementariam em nada o ciano de suas roupas nobres, ter aquele pedaço da Ordem o acalentava.

O arqueiro ajeitou os cabelos negros, observando sua reflexão no grande espelho do solar. Lorde Graymark tinha comentado em uma das cartas que planejava trazer um convidado especial para as cerimônias de Alec, e apenas por isso o rapaz se viu colocando um esforço maior nas roupas que usava. Era raro que o rei acompanhasse algumas partes da Iniciação, mas tudo que o arqueiro menos queria era desapontar o rei antes mesmo de começar sua carreira. Era nisso que pensava enquanto terminava de ajeitar as roupas, permitindo que a cicatriz que corria verticalmente pelo seu pescoço ficasse visível.

Uma de suas memórias mais dolorosas, mas de grande valor para Alexander, a cicatriz era parte de um conjunto de feridas que ele havia recebido durante os anos de missões solitárias. Aquela cicatriz já tinha sido um corte profundo que quase tomou a vida de Alec, se não fosse pelo Alto Feiticeiro Real. Suspirou ao vê-la e lembrou de agradecer ao Feiticeiro se o visse naquele dia.

—Lorde Alexander? – ouviu a voz de Jace chamar, e teria o corrigido se não tivesse captado a presença de seu pai no recinto. Duque Robert Lightwood era um homem quieto e austero, sempre envolvido em grandes reflexões, e sempre parecia capaz de silenciar um cômodo apenas por entrar nele.

—Lorde Jace, Duque Lightwood – cumprimentou, virando-se para os dois – Creio que seja hora de irmos, se vieram me buscar.

—Precisamente, Alexander – o Duque disse, ainda austero – Devo lhe recordar que estaremos brevemente na presença do rei e que as cerimônias de hoje, bem como as de todas sua Iniciação, serão supervisionadas pelo Príncipe Herdeiro. Peço-lhe, então, que se mantenha no melhor dos comportamentos.

—Príncipe Magnus? – o arqueiro pediu surpreso, e Robert assentiu – Será uma honra compartilhar minha Iniciação com ele, pai. Prometo-lhe não falhar.

—Tenho certeza que sim – o Duque disse brevemente – Devemos ir agora.

Alec assentiu novamente e seguiu seu pai, vendo Jace caminhar à sua direita e levemente para trás. Suspirou suavemente ao ser lembrado que ainda era o herdeiro ao Ducado, e de que teria que manter a postura pelos próximos dias. Por que o príncipe teria aceitado ser parte das cerimônias?

Geralmente, o príncipe não se envolvia nas Iniciações, e os Arqueiros só tinham contato com o Rei para seu juramento final e o recebimento de missões, e o último só acontecia em casos extremos. Para a cerimônia de Alec ter a presença do futuro rei, precisava-se assumir que este não tinha nada de importante na agenda, e isso lhe parecia impossível visto que a coroação do príncipe aconteceria em duas semanas.

Talvez Lorde Graymark tivesse ajudado o príncipe a se afastar um pouco da Corte, decidiu Alec, ainda pensativo. Sabia muito bem o quão enlouquecedor era viver como o futuro Duque, não podia nem começar a imaginar a pressão existente no futuro rei. Também sabia que Lorde Graymark era conhecido por equilibrar muito bem sua vida pessoal e seu trabalho, exatamente por ser capaz de escapar da Corte sempre que quisesse.

Escapar, as vezes, era tudo que se precisava.

Alec entrou na carruagem adornada de seu pai, sentando-se na frente do homem e ajeitando a capa nos ombros. Ao contrário de Alec, o Duque e Jace usavam capas no mesmo tom de ciano dos coletes, e em suas costas portavam o símbolo dos Lightwood, bordado em dourado. As capas pareciam mais ostentosas ao serem comparadas ao simples algodão pintado para a camuflagem do arqueiro, e o arqueiro sabia que as roupas do príncipe se destacariam entre eles.

Respirou fundo. Devia deixar esses pensamentos para trás e focar nos juramentos que teria que fazer em algumas horas. A cerimônia do dia envolvia provas de resistência, pontaria e estratégia, além de alguns testes puramente para o divertimento da Corte, que se faria presente. Então, Alec seria levado por Arqueiros mais velhos para a casa onde a Ordem se reunia e ali seria marcado por sete vezes: seis runas e o símbolo de Edom gravados em sua pele enquanto ele jurava lealdade àquele chão. Seu pai e Jace estariam presentes para a marcação, e Lorde Graymark tinha sido convidado por Hogde nas cartas enviadas na última estação. Novamente, os pensamentos de Alec fugiram para o Príncipe Herdeiro. Deveria chama-lo para assistir à cerimônia? Não era nada secreto, mas geralmente se reservava tal para a família.

Deixou esses pensamentos para trás quando viu o campo de treinamento da Capital de aproximar. Respirando fundo, lembrou-se de todas as lições lhe passadas por Hogde. Para isso treinara, isso venceria.

O campo de treinamento dos Arqueiros ficava fora das muralhas da Capital. Fazia sentido para Magnus, já que flechas sendo atiradas dentro das muralhas não lhe parecia cem por cento seguro. Para não chamar atenção, ele e Lorde Graymark viajavam na carruagem do Lorde, muito mais discreta que a designada para as saídas do príncipe, e extremamente confortável pelos anos de uso.

—E Clarissa, como ela está? – perguntou sorridente ao Lorde, que se viu sorrindo também.

—Eu a vi escrevendo cartas à alguém essa semana – disse Lucian – mal posso acreditar que minha Clary já pensa em trocar cartas. Parecia ontem que a apresentei à Corte.

—Ela é uma das garotas mais cobiçadas da Corte, Lucian – o príncipe comentou – E, se for seu desejo, tenho certeza que posso descobrir para quem ela as envia.

—Eu sei para quem, Magnus – o Lorde sorriu – o veremos hoje, na verdade.

—O arqueiro?

—Não – o lorde riu – o segundo filho dos Lightwood, Lorde Jace. Ele quer entrar na Escola de Guerra quando completar sua educação, e por isso acha que ambos devem esperar.

—Uma ideia sensata – ponderou Magnus – nem todos os relacionamentos conseguem sobreviver à Escola de Guerra.

—Definitivamente não os fracos – Lucian afirmou – Por isso pedi para que ambos aguardassem, mas creio que teremos futuro com os Lightwood.

—Isso seria maravilhoso! Não apenas para Clary, mas para o seu negócio também, Lorde Graymark.

O capitão corou e riu, desviando o olhar para a paisagem.

—Ver Clary se tornar Lady faria Jocelyn feliz – disse sonhador.

—E assim deverá de ser – o príncipe sorriu, e logo a carruagem parou em frente ao campo de treinamento.

Magnus se viu diante de quilômetros de campo aberto, muito mais do que imaginava. Podia ver, da pequena janela da carruagem, alguns lagos e diversas estações de tiro ao alvo. O que não esperava eram os cinquenta Arqueiros da Ordem os esperando no portão.

Assim que viram o príncipe, todos se abaixaram em um joelho, encarando o chão e se apoiando nos arcos longos. Era a mesma reverência que faziam ao rei quando estavam na presença dele, e vê-los se apresentando assim lhe era estranho. Ele sorriu para o Arqueiro Hogde quando este se levantou, e o mesmo sorriu de volta.

—Vossa Alteza. É uma honra estarmos em vossa presença – o arqueiro cumprimentou, e os outros seguiram o exemplo, assentindo quase fervorosamente em concordância com Hogde.

—É minha a honra de poder acompanhar Lorde Alexander em suas cerimonias – o príncipe disse, observando cuidadosamente os homens mais perigosos e fiéis de seu país. Claro, um grande soldado podia derrubar homens em um alto número, mas aqueles homens eram treinados nas sutis artes do silêncio, da escuridão e da pontaria.

“Nunca queira estar na mira de um Arqueiro de Edom”, dizia o ditado. “Pois aqueles tomados pela Ordem não erram”.

—Não utilizamos esse nome para ele, Vossa Alteza – explicou Hogde, confiante ao olhar o príncipe nos olhos – Para nós, ele é apenas Alec. Vossa Alteza não se sinta corrigido, é claro...

—Não se preocupe, Arqueiro Hogde – Magnus negou e dispensou as palavras com um aceno fraco de sua mão. – Acredito que faça decisões melhores do que eu jamais poderia nesse assunto – o príncipe procurou um rosto jovem no grupo, mas não o encontrou.

—Alec está chegando! – alguém gritou, e o grupo se reorganizou aos olhos de Magnus. Lucian suavemente o guiou para esperar o rapaz ao centro da formação, ficando ao lado esquerdo dele, e Hogde ao direito. A carruagem pomposa de Idris foi vista chegando, e parou suavemente ao lado da de Lorde Graymark.

Magnus sabia das conversas sobre os filhos do Duque de Idris. Diziam que os quatro haviam puxado a beleza e a graciosidade do Anjo, e que as usavam como uma parte irresistível de sua personalidade. Ele sabia que muito do que se falava nas ruas eram apenas fofocas, coisas passadas de mensageiro para mensageiro em sussurros, mas quando o Lorde saiu da carruagem, sou que aquele não era um dos casos.

Lorde Alexander Lightwood era alto, com os cabelos tão negros quando a noite e lindos olhos azuis que pareciam brilhar contra a pele clara. Tinha os ombros largos escondidos embaixo da capa de Arqueiro que usava, mas mesmo assim era possível ver seu corpo claramente esculpido pelos anos de treino. Lorde Jace era de igualável beleza, contrastando com o irmão em seus cabelos loiros, olhos quase dourados e capa feita de fina seda.

Os irmãos vinham alguns passos atrás do Duque, que reverenciou Magnus imediatamente. O príncipe dispensou os cumprimentos, seus olhos ainda focados no rapaz, que o reverenciou também antes de cumprimentar seus companheiros e mentor. Hogde os guiou até a frente da pequena casa da Ordem, onde os membros se reuniram em um círculo. Alexander ficou ao oposto de Magnus, sendo ladeado pelo pai e o irmão, enquanto Hogde e Lucian continuavam ao lado de Magnus.

—Hoje, testaremos o aprendiz de Arqueiro Alec Lightwood – Hogde anunciou, e Magnus viu o desconforto que a falta de títulos causava no Duque – Treinado por dez anos pelo Arqueiro Hogde, Alec será testado em sua resistência, pontaria e estratégia, em ordem de se mostrar digno das runas e juramento da Ordem. De acordo?

—De acordo – responderam em uma voz os 49 arqueiros no recinto.

—Você poderá usar seu próprio arco e aljava, assim como seu cavalo – Hogde disse, olhando para Alec – Aequum está te esperando no início da trilha. Terá cinco horas para completar a tarefa adequadamente e, se suceder, voltará para a casa para a cerimonia das runas. De acordo?

—De acordo – o rapaz respondeu brevemente, sua voz baixa e grossa. Ele se despiu do colete azul-ciano, ficando apenas com as roupas típicas dos Arqueiros. Entregou o colete para o irmão e assentiu em um sinal mudo, reverenciando o pai antes de se dirigir para o começo da trilha.

Magnus se pegou sorridente. Aquele seria um dia interessante.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu organizei Imperia esses dias e duas coisas podem acontecer: 30~ capítulos compridinhos, ou 15~ capítulos com mais de 3k de palavras. O que vocês acham?

All the love, Pauline ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Imperia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.