Imperia escrita por Pauline


Capítulo 4
Of Spells and Soulmates


Notas iniciais do capítulo



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A noite da Cerimônia de runas foi silenciosa. Dentro da carruagem de Lorde Graymark, o Alto Feiticeiro e o Príncipe iam discutindo o que viram, sempre chegando à mesma, curiosa e devastadora conclusão.

Almas gêmeas não eram incomuns em Edom. De fato, era muito mais fácil encontrar sua alma gêmea andando por Edom do que em qualquer outro lugar do Continente.

Magnus não era uma das pessoas que procurava sua alma gêmea em qualquer rosto. Já tinha imaginado como seria a sua alma gêmea, mas nunca se prolongou em tal pensamento, já que seu pai sempre lhe recordava de sua missão como Rei. Ao lado de Magnus deve governar alguém fiel a Edom e ao Rei, alguém crescido dentro da Corte, que saberá como se portar em Conselhos e festejos. Alguém em quem Magnus poderia confiar de olhos fechados. Alguém que fosse para Edom o que um parceiro deveria ser para si.

Almas gêmeas... Nem sempre eram assim.

—Então, você o encontrou – o Alto Feiticeiro disse finalmente enquanto brincava com o anel que recebera do Rei – E ele é um Arqueiro.

—Aparentemente – Magnus sussurrou, brincando com as mãos cheias de anéis. Sua magia parecia querer pular para fora de si, e ele sabia que tal era bem provável.

—O que exatamente aconteceu ali? – Lorde Graymark perguntou.

—Minha magia... – o príncipe suspirou, fazendo uma chama azul dançar entre seus dedos – Minha magia é milhões de anos mais antiga que eu. A de meu pai, e a de Lorenzo também. Ela me encontra e renasce em mim em todas as minhas vidas.

—Às vezes, amamos alguém tão profundamente que nossa mágica... Espalha-se – o Alto Feiticeiro tomou a palavra – Envolve este alguém e não volta quando morremos. Torna-se parte do outro ser.

—Foi isso que eu... Minha mágica sentiu hoje – Magnus sussurrou, vendo a chama azul pular em suas mãos – Eu amei Alexander em uma de minhas outras vidas... E agora, a minha mágica que se prendeu nele chamou pela mágica que ainda existe em mim.

—Almas gêmeas – o Lorde sussurrou, e ambos feiticeiros assentiram.

—Almas gêmeas.

 

—O Rei sabe? – Ragnor perguntou, observando seu amigo caminhar nervosamente de um lado para o outro.

—Não! – Magnus quase rosnou – Fiz Lucian e Lorenzo jurarem que não contariam... É algo que eu preciso fazer.

—E fazer rápido – apontou Catarina – Sua magia ficará vulnerável agora e... Magnus, ele é um Arqueiro.

—Eu sei que ele é um Arqueiro! Essa é uma grande parte do problema! – o príncipe se jogou no sofá, o olhar ainda baixo – Se eu... Se eu precisar de energia e ele estiver longe, acabou. Eu sei disso – ele choramingou diante de suas opções.

—Você deveria contar para o Rei, Magnus – o sir sentou ao lado do amigo, o puxando para um abraço. Era raro que Magnus deixasse ser abraçado, e isso só fez com que o aperto se tornasse mais forte – Ele saberá o que fazer.

—Ou ao menos saberá como burlar a Lei por você – a Lady entrou no abraço – Ele é o Rei, afinal.

Isso arrancou uma risada de Magnus. Seu pai era o Rei, mas estava tão preso pela Lei quanto qualquer um dos três.

—Agora, nos conte de novo sobre como os olhos da sua alma gêmea brilham – Catarina disse suavemente, com a risada escondida em sua voz.

Alma gêmea ou não, o Arqueiro tinha deixado uma impressão enorme em seu amigo.

 

Rei Asmodeus não tinha o melhor histórico de se manter fiel à sua Rainha Consorte, mas Lilith não se deixava abalar. Ela tinha sua coroa, sua companhia de servos para se manter aquecida nos dias de inverno e reinava sobre o reino mais promissor do Continente. Tinha tudo.

Porém, o que mais a irritava era a presença do bastardo que Asmodeus insistia em treinar como Rei. Lilith sabia que uma de suas funções como Rainha era continuar a linhagem, mas não conseguia acreditar que merecia ter a prova da traição do Rei caminhando pelo palácio com ares de realeza apenas por não cumprir essa função. Principalmente quando a mãe da criatura horrenda que tomara a posição de príncipe era uma de suas damas.

A sorte da criança era que se parecia suficiente com Asmodeus para que ninguém desconfiasse de nada, e quando suas semelhanças com a dama começaram a surgir, a Rainha tinha sido rápida para enviá-la para longe. Magnus, como o Rei o nomeou, nunca tinha visto Lilith como sua mãe, embora ninguém tivesse o contado sobre suas origens. Era o que acontecia quando se crescia com os cavaleiros e damas, pois ambos os pais eram ocupados demais para o herdeiro.

A presença do garoto começou a se tornar mais e mais insuportável, na medida em que ele tomava personalidade própria. E, naquela noite, a mera existência do bastardo era o suficiente para irritar a Rainha.

—Já que você insistiu em um jantar privado, Magnus, comece a falar – comandou o Rei, sentado à ponta da mesa.

—Pai, quando visitei a Iniciação do Arqueiro hoje, Lorenzo me pediu para que eu o marcasse com o símbolo de Edom... – a voz do príncipe soava como gongos aos ouvidos sensíveis da Rainha.

—Sim, sim, Lorenzo me disse que fez um ótimo trabalho – Asmodeus fez pouco caso da fala do filho – Conte-me o que te fez pedir um jantar sem nossos companheiros.

A Rainha sentiu seus olhos revirarem ao tomar um gole do seu vinho. O Rei era louco se achava que a Corte era companheira de alguém outro deles mesmos.

—Quando eu usei minha magia em Alexander... – o príncipe hesitou.

—Fale logo, Magnus – Lilith se viu o repreendendo – Reis não hesitam.

—Sim, milady – com um breve aceno, Magnus voltou a falar com o Rei – Minha magia... Minha magia encontrou em Alexander a outra parte de minha alma.

A bebida doce rapidamente tornou-se amarga na boca da Rainha. O bastardo tinha magia, a coroa, e uma alma gêmea?

—No Arqueiro? – o Rei perguntou, sua voz entregando o quão surpreso estava.

—Sim, meu pai – o príncipe disse – O Arqueiro.

—Ah, isso é incrível – Lilith riu sarcasticamente – Uma alma gêmea que estará constantemente longe. Constantemente fazendo nosso futuro Rei mais fraco.

—Milady, eu não creio que...

—Você sabe que é isso que acontecerá, Magnus, não tente nos enganar – a Rainha suspirou, encarando o bastardo – Devo dizer que não estou surpresa.

—Milady sabe tão bem quanto eu que não posso escolher em quem minha magia habita – o príncipe retrucou, defensivo.

—Basta, os dois – o Rei chamou – Eu devo me reunir com meus conselheiro para decidir como procedermos.

—Você sabe como – Lilith olhou para Asmodeus – Faça o maldito Arqueiro o príncipe consorte. Ele é um Lightwood, não é? Assim ao menos um de nós terá um casamento de verdade.

—Renegar o título foi parte de seu juramento – o bastardo voltou a falar – Ele não é mais Lorde.

—De toda a hierarquia, um Arqueiro – o Rei bebeu o restante do vinho em seu cálice – O que devemos fazer?

—Meu pai, você sabe que eu não desejaria tal confusão...

—Magnus, basta – Asmodeus cortou a fala do príncipe – Irei me retirar para reunir-me com meus conselheiros e Lorenzo.

O rei se levantou e sua ação foi imitada pelos ocupantes da mesa.

—Tenho muito o que deliberar – o Rei anunciou – e sugiro que ambos façam o mesmo.

Ele se retirou, e Magnus seguiu os passos do pai, indo de ombros baixos para seus aposentos. A Rainha, porém, foi para seu jardim.

Deveria preparar-se mais rápido do que esperava.

 

Ser o Alto Feiticeiro de Edom vinha com suas vantagens, uma delas sendo os grandes aposentos na mesma Ala que os aposentos reais. Lorenzo podia disfrutar as regalias de sua posição confortavelmente de sua torre, sozinho com sua lareira constantemente acessa.

Às vezes se permitia sentir saudades dos tempos em que vivia no interior, com nada a se preocupar. Permitia-se imaginar como seria sua vida se Ragnor Fell não o tivesse encontrado naquele dia, e mesmo que sentisse falta de sua terra, sabia que devia muito ao Sir. E, embora não gostasse do Príncipe Herdeiro a princípio, tinha aprendido a respeitá-lo.

Não que o Alto Feiticeiro tivesse uma escolha. Magnus Bane era poderoso demais para ser desrespeitado.

Lorenzo sentiu a familiar presença do Rei se aproximar de suas barreiras, e assim levantou-se rapidamente, trocando o cálice de vinho por um de seus livros. Mais uma das vantagens de ser o Alto Feiticeiro: seu acesso à literatura mágica era imenso.

—Lorenzo – o Rei chamou, e o feiticeiro quase imediatamente sentiu o peso da magia intimidadora que escorria de Asmodeus.

—Meu Rei – ele se curvou respeitosamente – Como posso servi-lo?

—Responda-me sinceramente – a voz do monarca era extremamente severa – Meu filho, o Príncipe Herdeiro, tem uma alma gêmea?

—Eu temo que sim, meu Rei. A magia do Príncipe Herdeiro o reconheceu assim que tocou o jovem Lightwood – o Alto Feiticeiro suspirou – Tão próximo da Coroação, também. Parece que o Anjo nos jogou diversas surpresas.

—Um Arqueiro, de todas as possibilidades – Asmodeus sussurrou, caminhando de um lado para o outro na torre de Lorenzo por alguns instantes antes de encarar o feiticeiro – Pode-se quebrar o elo.

—Meu senhor, quebrar o elo é muito perigoso...

—Você o fez, não? – o Rei olhou para seu servo, e Lorenzo se viu obrigado a desviar o olhar – Você quebrou o seu elo.

—E isso corrói minha magia todos os dias – declarou o feiticeiro – Mata uma parte de mim a cada nascer do sol.

—Magnus estará morto assim que o Arqueiro falhar em uma das missões – o monarca rosnou – Ele estará morto mesmo sendo Rei. Teremos um morto governando o maior Reino do Continente!

—Meu Rei, o feitiço é delicado e deve ser feito com a consciência do Príncipe...

—Seu par sabe?

—Meu senhor...

—Já chega – Asmodeus parou na frente de Lorenzo e, pela primeira vez em anos, fez o homem se sentir pequeno. – Você preparará o feitiço e irá o administrar a Magnus. Eu pessoalmente informarei o Arqueiro. Tenho certeza que ele entenderá o porquê o príncipe escolheu Edom ao invés de si. E se esta conversa for descoberta... Teremos que mandar Sir Fell em busca de um novo Alto Feiticeiro.

Lorenzo engoliu em seco, assentindo.

—Estará pronto na manhã da Coroação, meu Rei – disse por fim, voltando ao seu livro para procurar pelo feitiço.

Quando sentiu o Rei se afastar de suas barreiras, porém, permitiu uma única lágrima escorrer por seu rosto.

—Andrew... O que eu devo fazer?

Mexeu uma última vez no anel presenteado pelo Rei, e então começou a trabalhar.

 

Uma, duas, três. Três flechas cravadas no centro do alvo, e a quarta a caminho. Os movimentos de Alexander naquela tarde eram tão fluidos quanto os que ele apresentara no dia anterior. O jeito como se movia tão naturalmente denotava os anos de prática, e Magnus permitiu-se admirar o Arqueiro.

Estando em um dos jardins da Lightwood Manor, o príncipe observava de perto os movimentos de Alec. Estavam sozinhos a pedido do arqueiro, e mesmo sem conhecer direito o homem, Magnus sabia que vê-lo treinar era reservado para aqueles que o Lightwood considerava mais próximos.

—A magia de Vossa Alteza... – o jovem começou enquanto preparava mais uma flecha – é afetada por ter uma alma gêmea?

—Apenas quando a excerto – o príncipe respondeu, vendo a tensão presente em Alec diminuir gradativamente – Eu posso receber energia de qualquer um, mas a sua é a única que minha magia aceitará em momentos derradeiros. Você carrega uma parte dela, afinal.

—Me parece impossível – o arqueiro olhou para Magnus, claramente cheio de dúvidas – Vossa Alteza é o homem mais poderoso de Edom.

—Este é o cargo de meu pai – o feiticeiro suspirou, criando uma pequena chama azul entre seus dedos – Eu sou muito poderoso, isso não posso negar, mas meu pai... Ele pode reinar por mais cinquenta anos e não veríamos uma falha.

—O Rei é um bom homem – Alec instintivamente levou a mão para o ombro esquerdo, onde a marca de Edom queimara sua pele – Tem grande honra.

— Alexander, você morreria por um homem que não conhece? – o príncipe se viu perguntando – Porque quando vocês juram lealdade ao seu Rei... É isso que fazem. Juram morrer por um homem que não conhecem.

—Nós juramos morrer por milhares de homens, Vossa Alteza – o arqueiro largou sua arma, sentando-se ao lado de Magnus – Juramos lealdade a Edom, e se manter Edom segura significa morrer... Morremos por Edom.

Magnus riu sem humor algum, olhando para o jovem em busca de sarcasmo. O que encontrou, no entanto, o surpreendeu.

Os olhos de Alec brilhavam em algo que ele não conseguia decifrar, porém sabia que, enquanto o arqueiro olhasse para si daquela maneira, ele estaria a salvo.


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