Imperia escrita por Pauline


Capítulo 1
Of Archers and Princes


Notas iniciais do capítulo

E aqui está o fruto da quarentena para mim!
Sinceramente, espero que gostem de Imperia tanto quanto eu ♥





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A dor de cabeça que tinha o acordado naquela manhã parecia piorar cada vez que a carruagem encontrava uma curva. O jovem lorde não gostava de viagens de carruagem, principalmente das longas e árduas viagens até a Capital, mas essas se tornavam cada vez mais necessárias, visto que o rapaz concluíra sua educação apenas a alguns meses.

Lorde Alexander Lightwood, filho do Duque de Idris, se encontrava no meio de sua última viagem com tal título. Tinha treinado por dez anos e agora, aos pés dos seus dezoito anos, se despiria de sua família para tornar-se membro da Ordem Real dos Arqueiros. “Na Ordem não há espaço para títulos”, lembrava as palavras de seu mentor. “Na guerra, não se importarão se é duque, conde ou lorde, e vocês não devem se importar também”.

Alexander se viu deixando o nome formal para trás junto com seu título nos primeiros meses de treinamento. Era apenas conhecido como Alec, pupilo do temido e misterioso Hogde, nada mais, e gostava assim. Como filho mais velho do Duque de Idris, sentia-se sufocado entre obrigações e etiquetas da vida em uma família nobre. Sua irmã, Lady Isabelle, tinha muito mais jeito para tal, e assumiu a condição de futura Duquesa com grande graça. Alec, por outro lado, nunca conseguiu a realização que sentia viajando pelos ducados com nada em si além de seu cavalo e seu arco dentro do escritório de seu pai.

Os Lightwood eram uma família poderosa e antiga, descendentes diretos dos fundadores do Reino de Edom. Os diversos casamentos arranjados entre a família real e os antepassados de Alec fizeram os laços entre os dois extremamente apertados. Casar-se com um Lightwood, em Edom, era o mesmo que casar-se com o Príncipe Herdeiro, pois as regalias que sua família havia conquistado ao longo dos séculos eram imensas. Alexander era cortejado antes mesmo de poder entender o que casamentos eram, e assim viviam seus irmãos mais novos. Lady Isabelle sabia aproveitar-se de sua posição, divertindo-se com os galanteios de marqueses e lordes da região. Lorde Jace também aproveitava-se, mesmo que mencionasse sempre a mesma garota em suas últimas cartas para Alec. O mais novo dos Lightwood, Lorde Max, ainda não tinha sido apresentado para a Corte, mas o primogênito sabia que aquele destino o aguardava também.

Alexander suspirou, deixando seu olhar vagar pelas paisagens familiares que iam ficando para trás. Sabia que Aequum, seu cavalo, ia disciplinadamente ao lado das montarias de seus irmãos, mas sentia saudade do equino. Criado especialmente para ser rápido, disciplinado e preciso, Aequum e Alec estavam juntos a seis anos. Um presente de Hogde no dia em que Alec primeiro saiu em uma missão sem o mentor, o cavalo malhado tinha se tornado seu companheiro e melhor amigo em viagens por todo Edom.

Para sua mãe, era triste que Alec considerasse um cavalo seu melhor amigo. Porém, o arqueiro entendia que aquele animal tinha sido treinado de maneira a entender o arqueiro sem precisar de comandos, e Aequum era mais que um cavalo qualquer. Era seu amigo, e não precisava ser humano para isso.

—Isabelle! – ouviu o grito soar de dentro da carruagem, e olhou para seu lado, onde Jace e Isabelle estavam envolvidos em um jogo de cartas com o baralho de Alec. O de Jace é marcado, tinha explicado a Lady ao pedir para o irmão mais velho. E mesmo que o seu seja também, ele não sabe as marcas.

—Dois ouros? – se viu perguntando ao perceber qual jogo os dois competiam. Escopa era um de seus favoritos, embora fosse raro encontrar alguém que soubesse jogá-lo.

—E o Belo! – a Lady disse contente, exibindo o sete de ouros em sua mão – já tenho pontuação o suficiente para ganhar a rodada.

—Novamente – o Lorde mais novo resmungou, recolhendo para si o sete de espadas graças ao oito de copas que tinha na mão – Como você conseguiu ensinar a ela melhor do que ensinou a mim, Alec?

O primogênito riu. Não tinha muito tempo livre com os irmãos, já que seu treinamento exigia passar grande parte dos anos na cabana de Hogde, uma parte afastada da propriedade de seu pai, mas Alec nunca permitiu que se esquecessem que tinham alguém para recorrer. Era durão e reservado, muito menos propenso a sair escondido nas noites de verão (embora fosse o melhor em não ser visto), mas ainda era seu irmão mais velho. Lorde e Lady Lightwood não precisavam de ninguém, mas quando Izzy e Jace se viam necessitados de um amigo, o arqueiro era o primeiro a qual corriam. Os jogos de cartas eram a coisa mais simples que os ligavam, pois Alec os ensinou todos que aprendeu com Hogde. “Bêbados falam, mas jogadores bêbados falam mais”, dizia o mentor.

—Nunca segure o dez, Jace – instruiu ao ver que estavam nas últimas cartas – Senão ela recolherá com certeza.

—Sim senhor, capitão – o Lorde brincou, largando a figura do rei que tinha na mão e a recolhendo na rodada seguinte com o cinco de ouros – Depois da sua Iniciação, ainda vou poder te chamar de Alec, certo?

—Claro que sim – o mais velho sorriu, bagunçando carinhosamente os cabelos loiros do irmão – o que não pode acontecer é você me chamar de Lorde enquanto eu estou em serviço...

—O que será o tempo todo – Izzy complementou enquanto embaralhava as cartas para uma nova rodada – Lorde Alexander não existe mais.

—Não se eu puder evitar – Alec admitiu, vendo o olhar triste de sua irmã – Izzy...

—Não, Alec – a Lady sorriu, pegando as mãos machucadas do irmão – Eu tenho muito orgulho de você, do que você se tornou. Só o Anjo sabe o quão orgulhosa eu estou de ser a irmã do mais novo Arqueiro Real. – Izzy apertou a mãos do irmão antes de trocá-las por um abraço no pequeno espaço da carruagem – Não deixe que o meu egoísmo te impeça de viver o que você lutou tanto para conquistar.

—Eu ficarei perto de Idris – o arqueiro disse, mas sua voz estava cheia de incertezas.

—Você irá para onde o Rei te enviar, irmão -  Jace corrigiu, sabendo que seu irmão não seria capaz de contradizer o rei – e se ele desejar que você volte para Idris, Alicante estará te esperando.

Magnus suspirou entediado, movendo as pequenas fagulhas de magia azul entre os dedos. Como Príncipe Herdeiro, ele deveria estar guardando suas habilidades para a grande apresentação que faria quando fosse coroado em menos de duas semanas, e não as gastando em “coisas fúteis”, como seu pai descreveria. Porém, o príncipe encontrava-se extremamente entediado durante aquela particular reunião do Conselho, e se não fizesse algo, tinha certeza que adormeceria. Aquela reunião era para marcar quais seriam seus primeiros passos como Rei de Edom depois de sua coroação, e mesmo que diversas propostas fossem apresentadas, Magnus já sabia qual seria aceita: coroar-se, ficar alguns dias em visitação nos ducados, apaixonar-se pela filha do Duque Belcourt, voltar para a Capital e anuncia-la como sua noiva. Ele suspirou. Camille era uma boa garota, e uma boa companhia para algumas bebidas, mas não queria ela como sua esposa. Não queria ela como sua rainha consorte, e definitivamente não gostava dela o suficiente para a aturar durante o resto da vida. Além do mais, a traição que acontecera no verão passado não tinha saído da sua mente.

—Magnus!

O príncipe encarou seu pai, que o observava com o rosto sério. Rei Asmodeus era conhecido por ser extremamente rígido, e seu filho não era a exceção.

—Sim, Majestade? – o jovem pediu, mantendo-se firme na postura, emborra seu corpo gritasse para que ele se encolhesse na frente do pai.

—Devo perguntar o que lhe pareceu mais interessante do que a proposta de Lorde Graymark? – o rei pediu rudemente, e Magnus sentiu seu rosto corar – Ou devo fazer questão que nos conte o que tanto pensavas?

—Não irá acontecer novamente, Majestade – o príncipe respondeu firme, olhando na direção de Lorde Graymark – Por favor, Lorde, peço que repita a proposta.

—Gostaria que Vossa Alteza me acompanhasse na Iniciação de um Arqueiro – o lorde disse. Seu rosto era sério, mas a felicidade em sua voz era inegável – Este Arqueiro vem do sul, do Ducado de Idris, e foi treinado pelo Arqueiro Hogde. Temos grandes planos para ele.

—Um arqueiro de Idris? – o príncipe se viu questionar – achei que eram todos leais aos Lightwood.

—Não seria o filho dos Lightwood? – Duque Belcourt interrompeu – Ouvi dizer que eles estavam enviando o filho para treinar com o Hogde.

—Alexander, sim – Lorde Graymark assentiu – Ele recebeu todo o treinamento padrão, e segundo Hogde está mais do que disposto a abdicar do título de Duque para entrar na Guarda.

—Jace Lightwood está na Escola de Guerra, não está? – o rei perguntou – Os Lightwood estariam desistindo do Ducado?

—Eles tem um terceiro filho, Vossa Majestade – informou o Alto Erudita – Max Lightwood, ainda não formalmente apresentado à Corte. Seu nascimento foi informado nove anos atrás.

—Também tem uma filha, Lady Isabelle – Lorde Graymark completou – Embora já esteja prometida a um lorde menor próximo de Idris.

—Uma pena – rei Asmodeus disse, pensativo – Um casamento entre os Lightwood e a família real seria incrivelmente conveniente em nossos tempos.

Magnus viu Conde Belcourt se mover no assento, inquieto. Não podia culpa-lo: desde que fora apresentado à Corte, príncipe Magnus tinha sido imensamente cortejado por diversas duquesas, condessas e marquesas, mas Camille era a única que tinha evoluído com o príncipe. Claro, se não se contasse Lady Catarina Loss, mas por pertencer a uma casa extremamente baixa, poucos acreditavam que Lady Catarina poderia sequer competir com Lady Camille.

—Seria uma honra participar da Iniciação – o príncipe retomou a palavra, olhando para Lorde Graymark e depois para seu pai – Tenho certeza que Lorde Lightwood terá algumas histórias interessantes que podem me inspirar para a apresentação.

Os olhos de Asmodeus brilharam, e o príncipe sabia que o tinha satisfeito ao relembrar todos naquele gabinete que ele, assim como Asmodeus e o rei antes dele, possuía magia. Era o que os diferenciava. O que os dava poder.

—Tenho certeza que sim – o rei afirmou por fim – Agora, Magnus, por favor se retire. Tenho assuntos pessoais a tratar.

O príncipe assentiu e reverenciou o pai antes de sair, sentindo seus guardas pessoais o seguindo. Suspirou. Estava cansado, as roupas pesadas começavam a ser quentes demais para o tempo cada vez mais quente de Edom, e suas enormes sombras pareciam cada vez mais autoritárias e invasivas. Aguentou até chegar em seus aposentos, e nesse momento virou-se para o guarda mais próximo de si. Tinha dito o nome dele, mas não lembrava.

—Por favor, encontre Sir Fell e Lady Catarina e peça para que eles me encontrem em meu solar – comandou, a voz séria, porém gentil. Uma de suas fraquezas, lembrou-se amargamente. – Seu colega pode me acompanhar sozinho até lá.

Viu o guarda hesitar e trocar um olhar com o parceiro antes de reverenciar o príncipe e sair. Seria fácil encontrar os dois convocados por Magnus, pois ambos viviam em volta da fonte nos jardins da rainha, então o jovem guerreiro não se distanciaria de sua missão por terrivelmente muito. E o solar pessoal do príncipe se encontrava a menos de vinte passos de onde o herdeiro se encontrava, era seguro deixa-lo apenas com um guarda.

Guarda esse que foi ordenado a ficar do lado de fora do solar. Magnus podia ser o príncipe herdeiro e estar acostumado a ter todos os seus movimentos monitorados, mas seu solar e seus aposentos eram os lugares onde se sentia mais seguro. Podia relaxar a postura, tirar a coroa de uso diário que, mesmo sendo mil vezes mais fina que a usada na Coroação, pesava o suficiente para dar-lhe uma boa dor de cabeça ao final dos dias, e se permitia abrir os botões de seu colete cuidadosamente bordado, deixando o corpo mais tranquilo. Podia ser apenas Magnus, e brincar com a magia azul que escapulia de seus dedos.

Estes eram seus momentos favoritos dos seus vinte anos. Quando podia deixar a máscara de príncipe herdeiro cair e apenas ser. Sentar e conversar por horas com seus amigos mais antigos e não precisar reclamar nenhuma vez por eles não o chamarem de “Vossa Alteza”.

Sir Fell e Lady Loss sabiam do sentimento que o príncipe buscava quando os chamava para o solar. Ali, Eram apenas Ragnor e Catarina, amigos de Magnus Bane. E mesmo quando a realidade batia na porta, os três ainda se permitiam alguns minutos de seu segredo antes de voltarem às fachadas.

—Então, você vai acompanhar Alexander Lightwood durante a Iniciação dele? – Ragnor pediu, ainda rindo de uma história de Catarina.

Magnus deu de ombros e se esticou para pegar uma uva do prato que tinham deixado no chão, quase caindo no processo.

—Lucian quer que eu participe – disse, sem medo de usar o nome de Lorde Graymark. Ele era outro que não se importava com títulos fora de ocasiões oficiais – Aparentemente, o garoto é bom.

—Ouvi rumores sobre ele – a mulher falou – aparentemente, é o melhor que Hogde já treinou.

—Hogde treinou ele mesmo para ser bom assim – Ragnor se viu brincando – um garoto não pode ter tanta fama.

—Ele é um Lightwood, Ragnor, a fama vem de berço – Catarina deu de ombros – Talvez por isso ele seja tão decidido em relação à desistir do nome.

—Talvez – Magnus concordou – Eu só espero que ele seja interessante.

—Magnus! – ambos os amigos o repreenderam.

—O que? – o príncipe riu – Só tenho duas semanas antes de ter que fingir ter me apaixonado por Camille. Preciso aproveitar enquanto posso.

—Não é como se eu não tivesse me oferecido – Catarina se defendeu quando Ragnor a olhou acusadoramente – O rei não acha... Que palavra ele usou?

—Apropriado.

—Isso! O rei Asmodeus não acha apropriado que o futuro Rei se case com uma Lady de baixo status.

—Nem tentarei te cortejar então, meu amigo – Fell suspirou – Afinal, sou apenas um Sir.

—Ora, parem vocês dois – o herdeiro jogou as macias almofadas que tinha no rosto dos amigos, os fazendo rir.

—Não nos troque pelo Lorde Lightwood, certo? – a mulher declarou brincando, e jogou a almofada em Magnus, que riu.

Ele, trocar seus amigos por um Lorde?

Nunca.


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Notas finais do capítulo

Yey para finalmente passar por cima da ansiedade de postar algo!
Comentários me fariam muito feliz ♥

All the love, Pauline :D



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