A casa na colina escrita por Dricamay


Capítulo 13
O jogo começou


Notas iniciais do capítulo

Perdão pela demora!
Espero que gostem, para compensar a demora este capítulo é um pouco mais longo.
Boa leitura! ❤



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O jardim emitia a doce fragrância das flores que Eleonora adorava, mesmo a beleza daquele espaço e sua influência, geralmente útil para apaziguar seu ânimo, estava em segundo plano nos pensamentos da loira. O acontecimento misterioso da noite passada ainda navegava em sua cabeça, Eleonora tentava procurar algo coerente para formular, tentou convencer a si mesma de que não vira nada, de que fora ilusão causada pelo cansaço mas quando refletiu sobre o assunto naquela manhã teve certeza de que havia algo... ou melhor havia alguém no jardim, ela perpassou o olhar pelo espaço procurando algum vestígio que comprovasse sua conclusão... nada. Pensou em participar sua visão com o pai mas não tinha como provar ou não tinha certeza? No fim decidiu não preocupa-lo. Se alguém estivesse ali não poderia fazer muita coisa; desde o baile a casa estava com homens a mais em sua vigilância.

A mulher fechou os olhos e respirou fundo. Sentiu um leve toque em seu ombro esquerdo e com sobressalto abriu os olhos para encarar o responsável por tal ato. Seu temor passou rapidamente e um sorriso deslizou em seus lábios.

— Perdão, não queria assusta-la. – disse Edgar beijando a mão estendida de Eleonora.

—  Apenas estava distraída.

— Algo a perturba? – perguntou.

— Não... só a situação toda, acho. – respondeu jogando as mãos dramaticamente.

Edgar não conseguiu evitar sorrir de seu sarcasmo.

— Sinto muito, por estar passando por todo este incômodo. – exclamou em um tom mais baixo

—  Pois eu não. Tudo o que até então aconteceu levou-me a você, não arrependo-me disso... o destino tem seus segredos.

Edgar a encarou com um olhar terno e aproximando-se sussurrou:

— Você foi a melhor coisa que aconteceu-me. – seus dedos acariciaram o queixo da jovem com delicadeza.

Uma tosse notoriamente forçosa interrompeu o casal.

— Acredito que não seja necessário lembra-los que o compromisso dos senhores é um segredo. Além disso imagino que devemos ir não, senhor Hendeston? – exclamou a Marquesa com os braços cruzados em frente ao peito e a postura impecável que tomava quando tentava parecer séria.

Eleonora sorriu da expressão da mãe e Edgar a acompanhou.

— Ir onde, minha mãe? – questionou a loira.

— Acabei por distrair-me... vim busca-los para ver a casa. Ainda falta alguns ajustes mas grande parte está pronta. – explicou Edgar. Seus olhos brilhavam de empolgação, Eleonora já vira aquele olhar antes quando o Conde mostrou seus projetos para a casa. Ele gostava daquilo.

— Tão rápido! Tenho certeza de que está maravilhosa. – afirmou a loira empolgada.

O sorriso do Conde alargou-se.

— Espero que goste.

A Marquesa tossiu novamente.

— Tenha paciência, senhora Voguel. Vamos, Edgar, antes que mamãe acabe por prejudicar a garganta. – gracejou Eleonora e recebeu um olhar duro da mãe.

XXX

Edgar e o Marquês conversavam amistosamente no percurso de carruagem, Eleonora acompanhava com os olhos as expressões relaxadas de ambos e com a sensação alegre que florescia em seu peito pensou que cenas como essa seriam mais frequentes quando ela e o Conde se casassem. Formaria uma família.  A Marquesa acompanhava a paisagem silenciosamente mas a filha tinha certeza que prestava atenção na conversa, segundo a mãe uma dama devia se portar com classe contudo deveria estar atenta a sua volta, conhecimento era poder, mesmo em situações banais.

A carruagem se aproximava do início da colina, onde um portão de ferro fora levantado e um caminho de pedras agora emergia até o topo. Na entrada Eleonora pode distinguir duas figuras conhecidas. O verde água do vestido de Cecília esvoaçava com a brisa morna da manhã enquanto ela conversava animadamente com o Conde Harrington que sorria diante da animação dela. Eles formariam um belo casal, conclui Eleonora lançando um olhar discreto a Edgar. Eles também seriam um belo casal?

— Chegamos. – anunciou Edgar quando a carruagem parou.

Ele desceu e estendeu a mão para ajudar Eleonora, enquanto o Marquês fez o mesmo com a esposa.

— Finalmente! Eu e a senhorita Benthey estávamos prestes a forçar os portões de ansiedade – exclamou o Conde Harrington com ar risonho. Parecia muito animado.

— Não ousaria, oficialmente. Mas tentei coletar algumas informações ao longe. – gracejou Cecília radiante. Ela foi até Eleonora e depois de abraça-la entrelaçou um dos braços no do amiga. – Vamos?

Edgar acenou e abriu o portão de ferro. A caminhada até o topo da colina era breve mas Cecilia fez Eleonora caminhar mais devagar para que o grupo a frente tomasse mais distancia, apesar dos dois Condes vez ou outra voltarem o olhar para a direção das moças.

— Diga-me, pelo amor de Deus, que esta visita à casa do senhor Hendeston é mais significativa do que parece. - sussurrou Cecilia sem olhar para a loira.

Eleonora apertou brevemente o braço de Cecília, ela entenderia.

A morena mordiscou os lábios na tentativa de conter a empolgação. 

—Ele já fez o pedido?

— Ao meu pai, mas é um segredo. – respondeu rapidamente

— Por que? – perguntou a amiga visivelmente decepcionada.

— Apenas confie em mim, por enquanto não posso falar... ao menos não agora. – respondeu Eleonora com uma piscadela.

Cecília assentiu. Eleonora sabia perfeitamente que quanto menos pessoas soubessem seria melhor mas Cecilia era confiável, confiaria sua vida a ela assim como sabia que a amiga confiaria a sua. Laços como o delas eram sólidos como o amor de duas irmãs.

 O fim da pequena estrada de pedras dava em um muro baixo de arbustos que cercavam a entrada para o topo da colina. Eleonora ergue os olhos para a estrutura deslumbrante a sua frente, a antiga construção de pedras que explorava quando criança em segredo com Cecília não existia mais, a casa que via diante de seus olhos eram encantadora. O esboço podia lembrar a velha mansão mas a alma contida ali agora era outra, a pedraria antiga ganhava mais claridade agora que os arbustos mortos que cobriam as paredes foram removidos, a grama alta fora aparada e as árvores podadas, os vidros das altas janelas foram trocadas e o revestimento de ferro que delineava as vidraças eram retorcido com tamanha delicadeza que parecia um desenho. Flores roxas e rosas estavam dispostas nas janelas da frente e quando Eleonora se aproximou mais da propriedade ficou deslumbrada com o jardim. Uma fonte de pedra fora posta no centro e um anjo esculpido de mármore jorrava a água, as flores delicadas estavam espalhadas em diversos pontos, na lateral da casa havia uma escada de pedras que descia para um ponto ainda não alcançado pelos seus olhos.

— É magnifico! – exclamou Cecília soltando o braço de Eleonora.

— Muito obrigada, Senhorita Benthey! Dado o seu bom gosto para decoração, vou receber esse elogio como uma gratificação para meus esforços. – a voz suave e firme de Edgar veio de uma pequena distância ao lado de Cecília.

— Pois reafirmo o que disse mas terei que analisar o interior para uma avaliação final. – disse a morena com um sorriso simpático. – Irei discutir os pontos principais com o senhor Harrington, com licença.

Cecilia saiu às pressas na direção do Conde que a esperava com a mão erguida para acompanha-la.

— Agora a avaliação de minha querida noiva. – disse Edgar ainda mais próximo de Eleonora.

— Edgar, é maravilhoso! Estou sem palavras. - exclamou com admiração, os olhos negros do Conde brilhavam em contentamento. Ele ergueu o braço para que ela o tomasse.

— Espero agrada-la igualmente com o interior de nossa casa. – disse dando ênfase em “nossa casa”. Eleonora sorriu satisfeita e deixou-se conduzir pelo homem.

Ao chegar na porta dupla de madeira negra, Edgar parou com a mão segurando a maçaneta.

— Espero que apreciem o resultado e sejam bem-vindos. – anunciou ao pequeno grupo. Apesar da voz firme e calma que costumava apresentar, Eleonora notou que ele parecia apreensivo.

Edgar empurrou a porta e abriu espaço para os convidados, indicando que o Marquês e a Marquesa fossem os primeiros, o senhor Harrington e Cecilia entraram em seguida. Edgar estendeu a mão para a loira que admirava o que seus olhos esmeraldinos alcançavam, ela segurou a mão do Conde, maravilhada.

Ao passar pela porta podia-se ver uma escada de mármore larga que possuía dois anjos, um de cada lado do corrimão, a esquerda uma sala ricamente adornada com móveis em madeira negra e estofados em vermelho vinho que contrastavam com as paredes de pedras brancas, um lustre majestoso pedia do teto.

—  A parte superior da casa ainda não está mobilhada, mas as reparações já foram feitas. Estou à espera de algumas estantes para a biblioteca e outros móveis para os quartos. – explicou Edgar conduzindo o grupo para a entrada da direita que iniciava a sala de jantar. A mesa e cadeiras de madeira talhada estavam banhadas pela luz da manhã proporcionada pela entrada que as grandes janelas concediam. Uma lareira de mármore esculpido concedia ao lugar um ar de conforto e elegância.

Edgar conduzia o grupo por todos os cômodos do andar inferior: sala de estar, sala para refeições, cozinha, um pequeno mas elegante escritório; cada espaço organizado com evidente cuidado, com muitas janelas que traziam luz solar para dentro da casa, fazendo do ambiente um local aconchegante. O segundo andar foi explorado mais brevemente, em sua maioria os cômodos estavam vazios, Edgar apenas explicava o que seriam: três quartos, uma sala para projetos particulares, que não foram relevados pelo dono da casa, uma biblioteca e uma pequena sala de estar.

— Devo dizer, senhor Hendeston, que estou surpreso com tudo o que o senhor fez. – confessou o Marquês.

— O lugar ficou encantador, senhor Hendeston. - concordou a Marquesa

— O senhor é muito talentoso. Estou encantada com tudo. – afirmou Cecília com um sorriso amigável.

O conde Harrington foi até o amigo e deu um tapinha amistoso em seu ombro.

— Não espera menos de você. – disse orgulhoso. – Agora acredito que esse seja um momento ideal para comemorarmos, um vinho talvez?

— Devo ter alguma coisa na adega. – confirmou Edgar.

— Faço as honras. O Marquês gostaria de escolher a bebida? – perguntou o Senhor Harrington

O Marquês arrumou a postura e olhou brevemente para Edgar que assentiu, um consentimento singelo para que ficasse a vontade. Os senhores rumaram para adega enquanto Cecília levava a Marquesa para ver uma das muitas pinturas espalhadas pelo local.

´- Venha, Marquesa. Veja essa pintura magnífica, a senhora conhece o autor? – exclamou entusiasmada.

Eleonora e Edgar ficaram a sós na sala. A moça observava um quadro específico de um mar tempestuoso.

— Você ficou calada durante todo o percurso. Não gostou? – pergunto o de cabelos negros observando a moça que ainda admirava a tela.

— Pelo contrário, está tudo perfeito, Edgar. – replicou a moça com os olhos agora voltados para ele. – Você pensou em tudo.

— O jardim foi feito em especial para você. Mas devo confessar que omiti algo... – sussurrou aproximando-se dela.

— Não estou apenas esperando as estantes para concluir a biblioteca. Ainda não as pedi. – informou calmamente. – Queria lhe dar tempo para que pudesse escolher o que deseja, o espaço será seu, para que decida quais livros, móveis, quadros e cores queira. Tudo o que quiser. Claro se desejar modificar algo do que foi feito nos demais cômodos, fique...

Mas Eleonora não permitiu que ele continuasse, jogou-se nos braços do noivo e inclinou os lábios em sua direção. Sem hesitar Edgar capturou os lábios macios em um beijo suave, esquecendo de tudo ao seu redor por alguns segundos. O casal se separou.

— Eu amo você – sussurrou Eleonora com os olhos marejados.

Edgar curvou-se para acariciar com a ponta do nariz o pescoço da loira.

— Falta pouco. Logo os primeiros movimentos do jogo serão dados e quem nos separa não estará no nosso caminho. – ele afirmou pausadamente, agora olhando em seus olhos. – Em breve será minha esposa e teremos essa casa só para nós.

O som de risadas foi ouvido a uma pequena distância anunciando a chegada dos visitantes.

— Mamãe adora este pintor, temos alguns quadros dele em casa. – a voz de Cecília preencheu a sala onde os dois amantes voltaram a observar o quadro.

— Seu pai ainda não voltou? – questionou a Marquesa a Eleonora.

— A escolha de um vinho é uma tarefa que deve ser feita com calma, minha querida. – interrompeu o Marquês entrando na sala, seguido pelo senhor Harrington que trazia algumas taças em uma bandeja

As taças foram distribuídas e após Edgar servir o vinho, em uma dose menor para Eleonora e Cecília a pedido da Marquesa, o grupo brindou animadamente.

XXX

A volta de carruagem foi entusiasmada, a conversa foi voltada para elogios ao talento do Conde Hendeston com o planejamento e ornamento da propriedade, ao que ele respondia com breves agradecimentos. O Conde desviavam os olhos para Eleonora sempre que podia, fazendo com que ela sorrisse largamente.

Ao chegar na casa dos Vogel dirigiram-se para a sala de visitas. Uma das criadas entrou no aposento apressadamente.

— Ah que bom, peça para pôr a mesa para seis pessoas. Os senhores e a senhorita Benthey farão a refeição conosco. – ordenou o Marquês sentando-se em sua poltrona.

— Sim, senhor... Marquês há uma visita esperando o senhor na entrada. – informou a moça.

— Ora, quem será neste horário? – bufou o Marquês

— O Visconde Castillo. – respondeu a criada  

O Marquês coçou a barba brevemente lançando o olhar para esposa. Cecilia moveu-se desconfortável no sofá, o Conde Harrington entrelaçou as mãos em frente ao corpo. Eleonora cruzou o olhar com o de Edgar e viu nos olhos negros dele a confirmação que queria. O jogo começou.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado! Até o próximo!



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