A casa na colina escrita por Dricamay


Capítulo 14
Capítulo 14- Desvio pela floresta


Notas iniciais do capítulo

Após este longo período parada, devido a várias situações, estou retornando. Peço desculpas aos que estavam acompanhando a história e esperaram todo esse tempo, voltarei a publicar regularmente até o fim desta narrativa e conto com a compreensão de vocês. Boa leitura!



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O barulho dos talheres riscava o silêncio sepulcral na casa dos Vogel. A entrada do Visconde Castilho na sala para a refeição foi recebida com fria e calculada educação; Edgar segurou o ímpeto de arrastar aquele homem do local quando o Visconde tocou com os lábios a mão de Eleonora em um cumprimento, precisava manter a compostura e não deixar passar um detalhe sequer de oportunidade. O almoço foi servido após uma breve conversa formal em recepção ao convidado indesejado.
– Perdoe-me minha falta em não vir logo após o ocorrido, Marquês. Meu pai ficou muito abalado com o que ocorrera naquela noite e o senhor sabe que seu coração não suporta mais tantas emoções. – disse o Visconde em uma reverencia afetada.
– Entendo perfeitamente, meu caro. Em todo caso, o senhor Hendeston foi de grande auxilio nesse momento difícil, não tenho do que queixar-me. – retrucou o Marques sem alterar o tom de voz.
O Visconde lançou um breve mas perceptível olhar de desprezo para o Conde. Edgar, contudo, deliciou-se com sua raiva.
Após se sentarem à mesa para a refeição o silêncio tomou o ambiente e mesmo a brisa suave que entrava pelas grandes janelas do aposento foi incapaz de tornar o lugar agradável naquele momento.
– Senhor Hendeston, a Marquesa comentou que o senhor costumava pintar quadros antes de vir para Monte Silene, perdoe-me se caso esteja sendo inconveniente, contudo preciso saber: os quadros que vimos em sua casa foram feitos pelo senhor? – disparou a senhorita Benthey. O Conde notou que ela conteve-se ao máximo para sustentar aquela situação em silencio, mas até onde pode observar a natureza da jovem não era dada para a austeridade.
Edgar sorriu gentilmente para jovem.
– De modo algum a senhorita é inconveniente. Bom... para ser sincero alguns dos quadros pertencem a mim, outros, como imagino que tenha notado, são de alguns artista que realmente são talentosos. – respondeu Edgar.
A senhorita Benthey balançou a cabeça em discordância.
– Os quadros que não reconheci e imagino que sejam do senhor, são tudo menos desprovidos de mão talentosa. – retrucou a moça.
– Concordo plenamente com Cecília. – interveio a Marquesa. – Deixe-me adivinhar... os quadros que compõem a sua sala, não reconheci assinatura neles. São seus?
Edgar sorriu
– Creio que tenha acertado, minha querida. – gracejou o Marques
– A modéstia de meu amigo não permite, mas afirmo que a Marquesa está correta em sua dedução. – disse o Conde Harrington dando um tampinha no ombro de Edgar.
Os membros ao redor da mesa, exceto o Visconde, riram.
– Interessante, além de tudo é um artista e pelo que vejo já apresentou sua casa aos Vogel. – comentou o Visconde com visível desdém
– Um excelente artista, senhor Castilho. – exclamou Eleonora com um sorriso apesar de os olhos esverdeados não acompanharem a meiguice dos lábios ao fazê-lo.
O almoço estendeu-se por mais alguns minutos com alguns comentários banais sobre o movimento intensificado no Porto com a chegada de novas mercadorias da França, ao que o senhor Castilho demonstrou interesse.
Ao fim da refeição o grupo retirou-se para a sala de visitas. Eleonora e a senhorita Benthey foram para o jardim e a Marquesa retirou-se para seu aposento. Os quatro homens ali presentes conversavam sobre negócios.
– Os navios quase não param no cás, os pedidos para abastecimento estão fervorosos. – comentou Edgar satisfeito. O crescente desenvolvimento dos centros de comerciais dos países vizinhos aumentaram a projeção das vendas no Porto.
– Ao que sou bastante grato, devo admitir. – respondeu o Marques tragando seu charuto.
– Sem dúvida está é uma excelente notícia, Marques. Contudo tanta movimentação não pode atrair pessoas de má índole? Digo... há sempre pessoas com intenção duvidosa e o senhor já sofreu uma tentativa de furto. – disse Afonso analisando a situação.
O visconde mexeu-se no sofá onde estava. Edgar agradeceu ao amigo intimamente pela excelente colocação, era tudo o que precisava.
– Acredito que a pessoa que atacou a casa do Marques já deve ter deixado Monte Silene, seria tolice permanecer aqui. – opinou o Visconde Castillo.
– Possivelmente, mas de toda forma é sempre bom prevenirmos de qualquer situação- retrucou Edgar com firmeza. – Bom, já que acabamos por entrar neste assunto, Marques gostaria de falar em particular com o senhor.
O Marques o encarou e seus olhos demonstraram a compreensão implícita das palavras do Conde Hendeston.
– Imagino que queira falar sobre a segurança do novo carregamento. Vamos ao meu escritório para acertamos os detalhes. Com licença senhores, porém o dever nos chama. – exclamou o Marques com simplicidade ao levantar-se
Edgar notou uma faísca de curiosidade no olhar do Visconde Castilho, assim como esperava. A isca fora jogada e o próximo passo era atrair a presa.
Os dois homens dirigiram-se ao escritório do Marques, deixando um Afonso distraído com algo no jardim e um Visconde muito inquieto na sala de estar. Edgar acompanhou o Marques até o aposento de destino e com muito cuidado deixou a porta entreaberta da forma que parecia mais natural possível, ambos olharam-se cúmplices do que fora conversado anteriormente e em tom tranquilo iniciaram sua abordagem.
XXX
O Visconde movia-se em desconforto em sua poltrona, agora além de próximo da família o Conde Hendeston ficara ainda mais importante dentro dos assuntos do Porto. Contudo o que mais o perturbava era sobre o assunto que estavam tratando dentro do gabinete do Marques, os carregamentos de carga que eram enviados para as cidades vizinhas por meio terrestre eram de bastante valia e sua situação financeira atual era sofrível, um vislumbre passou pela sua mente mas parecia perigoso, ele olhou para o Conde Harrigton mas seu olhar estava perdido pela janela que dava para o jardim, Gregório esticou levemente o pescoço para tentar alcançar o que estava na linha de visão do Conde mas apenas viu o vislumbre da cabeleira de cachos castanhos, era o suficiente para entender o motivo de sua dispersão, finalmente Cecilia seria útil para algo.
– Acredito que meu tempo por aqui tenha sido suficiente por hoje. – disse o Visconde com um aceno de cabeça.
– Ah sim... claro. Vou espera por Edgar mas fique à vontade. – respondeu o Conde sem dar muita atenção ao homem a sua frente.
O visconde saiu da sala a passos lentos e cuidadosos, não queria ser notado. Passou pela frente do escritório e com contentamento e observou que a porta estava entre aberta, provavelmente o Marques achava que estivesse a sós já que os demais estariam na sala e jardim. Ele aproximou-se com cuidado e espreitou com atenção para tentar ouvir algo.
– ... então o senhor acredita que a via alternativa que atravessa a floresta seria uma rota mais viável para o carregamento de jóias? Senhor Hendeston esta mercadoria é de grande importância, o senhor não acha arriscado? – ouvia-se a voz do Marquês preocupada soar um pouco mais alto que um cochicho.
– De modo algum, está trajetória é bem menos usada pelos comerciantes o que nos faz passar quase despercebidos. Acredito ser a forma mais segura já que é a menos provável. – argumentou o Conde.
Os dois ficaram em silencio por alguns segundos até que um suspiro foi ouvido com alguma dificuldade pelo Visconde.
– Acredito que tenha razão. Nesse caso, faremos a travessia amanhã à noite, não? – disse o Marquês.
– Sim, com dois homens de minha confiança.
– Nesse caso, deixo nas mãos do senhor. – concordou o Marquês por fim.
O visconde dirigiu-se para a entrada da casa com todo o cuidado que pode para não ser visto ou ouvido. Um carregamento de joias transportado pelo caminho taciturno da floresta, apenas dois homens. Se conseguisse pôr a mão naquelas joias sua situação financeira melhoraria consideravelmente até poder tomar a filha do Marquês como esposa. Ele repassou mentalmente as informações que acabara de ouvir, era uma possibilidade única, talvez precisasse de alguma ajuda mas isso não importava no momento, o Visconde remoía a possibilidade, talvez valesse a pena arriscar.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima!



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