A casa na colina escrita por Dricamay


Capítulo 11
A praça das camélias


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! tudo bom?
Esse capítulo é bem especial, espero que gostem ❤



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791318/chapter/11

A noite estava silenciosa e o ar que entrava pela janela aberta abraçava o quarto de Edgar. O Conde manuseava alguns papeis em uma tentativa de desviar a atenção do que realmente o perturbava. Uma tentativa fracassada, o dia de trabalho no porto roubara um pouco a atenção dele mas assim que chegou em casa seus pensamentos foram conduzidos para os olhos esmeraldas, para o cheiro floral, doce e suave, que emanava dela. Que tolice! Aproximar-se tão bruscamente da moça fora praticamente repeli-la.
Ele rabiscara algumas palavras de desculpa em uma carta para joga-la em seguida no lixo, nada de recados como um menino, o assunto devia ser tratado pessoalmente mas a possibilidade de Eleonora não querer mais vê-lo o perturbava profundamente, seu interior estava em conflito, uma parte queria ir ao encontro dela, a outra o puxava para o passado. No andar de baixo o barulho da porta abrindo-se fez ele despertar de seus devaneios, em pouco tempo, como previa, a porta de seu quarto foi aberta sem cerimônia relevando o amigo que parecia bastante contente.
— Consegui convidar a senhorita Benthey para um passeio. – exclamou com um sorriso que ameaçava rasgar seu rosto.
Edgar devolveu um meio sorriso para incentivar Afonso, buscando forças para esconder qualquer vestígio do que sentia.
— Hum... Algo diz-me que o senhor Harrington finalmente foi conquistado por uma dama. – retrucou Edgar.
Afonso fez um gesto displicente.
— Ela é uma moça bonita, naturalmente desperta interesse. – falou aproximando do amigo. – Não significa que estou apaixonado.
— Tens certeza? Conheço você tempo suficiente para ter minhas dúvidas. – exclamou o de olhos negros.
Afonso deu de ombros.
— E você? Algum progresso com a senhorita Vogel? – o sorriso do Conde Harrigton surgiu travesso.
— Não sei do que está a dizer... falando em progresso, a casa está em ótimo andamento, creio que em menos de um mês estará pronta para mobiliar. – respondeu Edgar voltando sua atenção para a papelada em sua escrivaninha.
— Fico feliz em saber, mas não mude de assunto, sei que a filha do Marquês tem algum atrativo para você e acho que está mais que no tempo de meu amigo seguir com sua vida. Não há nada de errado em viver após o luto, Edgar. – disse Afonso.
Edgar virou para encarar o amigo. Por vezes esquecia de como Afonso o conhecia e que apesar da personalidade expansiva e quase sempre brincalhona havia um homem sagaz.
— Por mais doloroso que seja ter perdido sua família, você merece e deve ser feliz, mas para isso precisa permitir-se seguir em frente. – continuou Afonso apoiando a mão no ombro de Edgar. – Bom, a senhorita Benthey mencionou o quanto era inapropriado passearmos sozinhos então sugeri que ela levasse a senhorita Vogel e posso ter dito que você também iria...
Edgar cruzou os braços encarando o Conde com desconfiança.
— Então, o casal decidiu que poderia envolver-me neste encontro além de arquitetar um com a senhorita Vogel? – disse Edgar.
— Veja bem... era uma questão de ajudar-me, apenas pensei que seria agradável para você também. – retrucou Afonso com fingida ingenuidade.
— Entendo... nesse caso acho que devo ajuda-lo.
Afonso acenou com alegria.
— Muito bem, Edgar. Sendo assim escreverei para a senhorita Benthey confirmando.
Ele saiu do aposento com certa pressa. O amigo tinha razão já estava na hora de seguir em frente.
X----X
A manhã ensolarada adentrava no quarto de Eleonora, calma e alegre com o som dos pássaros perto de sua janela, contrapondo-se com a imagem agitada de Cecília. O vestido azul esvoaçava a medida que a moça andava pelo quarto com as pequenas mãos segurando a cintura.
— Agora isto! – bufou parando de repente na frente de Eleonora. – Ele... de alguma forma tentou algo ofensivo?
— Não! – apressou-se Eleonora em responder. – Cecília, o Conde pegou-me de surpresa, de fato, mas não foi desprezível, Ele...
A voz de Eleonora perdeu-se com a lembrança, a onda de sensações provocadas por aquela aproximação perpassou ligeiramente por seu corpo. Cecília sentou-se no seu lado na cama, colocando sua mão entre as delas.
— Eleonora, o que você sente pelo Conde Hendeston? – a voz da amiga saiu macia como sempre fazia quando queria falar algo com cuidado.
— Eu... Eu não sei ao certo. O senhor Hendeston é uma pessoa interessante, não? Acho que pode ser apenas isso... uma boa impressão. – respondeu sem sentir firmeza nos seus argumentos.
Ela olhou para Cecília e esperou que pudesse de alguma forma transmitir com aquele olhar a confusão dos próprios sentimentos.
— Acho que você deve descobrir. Mas espere a atitude dele para com o que aconteceu, um teste de caráter. Caso seja um desses conquistadores baratos darei um jeito de mostrar o erro que cometeu ao aproximar-se de você. – exclamou com o rosto sério e posição rígida que não combinavam em nada com a leveza natural. Eleonora conteve um sorriso.
— Então... acha que deve aceitar meu convite? – perguntou com os olhos cor de mel brilhantes.
Eleonora refletiu sobre o convite para um passeio com Ceci5lia e o Conde Harrington que certamente iria estender-se ao Senhor Hendeston.
— Acho que seria a melhor oportunidade para tirar minhas dúvidas, não?
— Acredito que sim. Estarei ao seu lado, minha amiga. Sempre. – disse Cecília envolvendo a filha dos Vogel em um abraço acolhedor.
X---X
O tempo passou mais rápido do que Eleonora espera, a carruagem aproximava-se da Praça das camélias, um dos principais pontos de encontro da sociedade de Monte Silene. A loira passou as mãos pela saia do vestido com nervosismo.
— Com respeito a sua aparecia não precisa preocupar-se com nada, está deslumbrante como sempre. – disse Cecília com um sorriso significativo.
— Pois posso dizer o mesmo de você, apesar de achar que hoje, em especial, alguém parece ainda mais elegante. – disse analisando o penteado elaborado nos cabelos cacheados. – Entedo...
— Entende o que? – perguntou Cecilia, umas das sobrancelhas erguidas em questionamento.
— Estamos chegando, conversamos sobre isso em outro momento. – retrucou Eleonora rindo da expressão indignada da amiga.
A carruagem parou em frente ao portal de pedra que marcava a entrada do espaço, Cecília foi a primeira a descer e Eleonora respirou fundo antes de seguir a moça. Próximo ao arco de entrada dois rapazes conversavam e não foi necessário mais que alguns segundos para que Eleonora identificasse os olhos negros que a fitaram quase que de imediato.
— Boa tarde, senhoritas! – cumprimentou o Conde Harrington com uma reverência educada.
— Espero não termos feito os senhores esperarem demais. – retrucou Cecilia aceitando o braço que o Senhor Harrington oferecia.
— De modo algum, senhorita Benthey. – disse o Conde Hendeston, mas sua atenção logo foi desviada para Eleonora, fazendo com que ela segurasse a respiração por alguns segundos.
— Acompanha-me? – perguntou estendendo o braço na direção da loira, seu olhar fixo no dela.
Eleonora assentiu segurando o braço do Conde enquanto Cecília e o senhor Harrington iniciavam a caminhada.
A loira observava os canteiros de camélias que contornavam a fonte principal da praça onde estátuas de mármore representavam ninfas do bosque.
— Preciso conversar com a senhorita. – murmurou o Conde. Eleonora sentia o olhar dele sobre ela mas continuou a admirar a paisagem, a uma pequena distância conseguia ouvir a voz de Cecília em sua conversa particular com seu acompanhante.
— Estou ouvindo. – foi tudo o que conseguiu dizer.
O senhor Hendeston deteve a caminhada e olhou na direção do casal a frente, pareciam ocupados com os próprios assuntos.
— Gostaria de desculpar-me pelo que ocorreu na sua casa no outro dia. Foi um impulso inconsequente, não tive intenção de ofende-la. – exclamou medido cada palavra. – Peço que perdoe minha falta.
Eleonora o encarava com atenção, não havia sombra de falsidade em seus olhos. O Conde pegou uma das mãos da moça entre as suas.
— Desejo que minhas intenções sejam claras e espero que possa receber seu consentimento algum dia.
— Senhor Hendeston o que quer dizer? Eu... – Eleonora tentou dizer mas o coração em seu peito parecia querer buscar liberdade fora dela, tamanha a violência com que batia.
— Eleonora está tudo bem? – a voz de Cecília chegou a seus ouvidos e com muito custa ela virou a cabeça percebendo que a amiga já estava quase ao seu lado.
Ela olhou para o Conde e voltou os olhos esmeraldinos para Cecilia.
— S-sim. Preciso conversar em particular com o Senhor Hendeston. – respondeu tranquilizando Cecilia.
A moça assentiu com um sorriso dançando nos lábios cheios e voltou para a companhia do Conde Harrington. Eleonora voltou seu olhar para o homem a sua frente.
— A senhorita Benthey é uma boa amiga. – disse ele com um sorriso compreensivo.
— Ela é como uma irmã para mim.
— Não tenho dúvida.
O Conde aproximou-se da fonte e capturou com cuidado uma camélia de um dos canteiros, quando voltou para perto de Eleonora depositou a flor com cuidado na mão da loira.
— Você é dona do meu coração desde o primeiro momento que a vi, só não sabia disso até o dia que tentei beija-la. Estou a sua disposição, a decisão é sua.
A moça fitou a flor em sua mão e com delicadeza a ergueu encaixando-a no cabelo.
— O que fará a respeito caso minha resposta seja afirmativa? – disse a moça sem deixar os olhos negros por um momento.
O Conde encurtou o espaço entre eles, esticando os dedos para tocar no rosto da jovem.
— Pedirei que seja minha, pois já sou seu. – murmurou aproximando-se dos lábios de Eleonora.
— O Senhor tem o meu sim. – respondeu a moça com um sussurro.
O Conde aproximou-se mais um vez e Eleonora sentiu um leve roçar em seus lábios, o toque macio e caloroso a alcançou finalmente e o mundo ao seu redor não importava mais. Apenas os dois, apenas aquele beijo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até o próximo! Obrigada por ler!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A casa na colina" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.