Training days escrita por Nati Miles


Capítulo 22
Confusões e conversas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791225/chapter/22

Estava sendo muito difícil para Ochako pegar no sono aquela noite. Não apenas pelo ataque que havia a deixado agitada, mas por conta da conversa que havia escutado sem querer. Seu cérebro custava a acreditar que havia ouvido corretamente. Não, Toga só estava jogando um verde, vendo se Bakugou caía na armadilha dela. Mas aí é que está: parece que ele tinha caído. Sua reação havia sido estranha, como se o que a vilã falava fosse verdade. E aí entrava o fato de por qual motivo ele cairia numa cilada dessa, se não fosse por gostar dela? Não, ela não deve ter ouvido direito, eles devem ter falado alguma coisa antes que ela não ouviu... E lá ia ela de novo.

A morena esfregou o rosto novamente, sem paciência com seus pensamentos. Ela estava nesse ciclo de pensamento desde que voltaram para a escola. Virou o rosto para o lado e encarou a pelúcia de estrela que estava em cima da escrivaninha, sentindo um aperto no peito. Levou a mão ao local, suspirando e fechando os olhos. Não negaria que havia se divertido com Bakugou e que ele vinha se mostrando até que um bom amigo, mas era tudo tão... confuso.

Não, não precisava ser confuso. Bakugou não gostava dela, não tinha como. E ela gostava do Deku. Simples. Agora que estava resolvido, ela poderia só parar de pensar em como havia ficado afetada com as palavras da Toga: “Você odeia como a Ochako-chan não percebe seus sentimentos, porque ela está ocupada demais amando outra pessoa.”

Argh, lá vinha tudo de novo. Pra começo de conversa, como a vilã poderia saber de uma informação dessas? Há, mas claro! Toga estava errada. Ela estava só tentando jogar um verde e... Ah, não, lá ia ela de novo. Mas que noite mais... merda. Ela tinha passado na Recovery Girl antes de ir pro quarto, então não era suposto estar cansada e dormir logo? Tudo bem que a enfermeira disse que o ferimento não estava tão profundo, então não exigiria muito para ele sarar, mas mesmo assim! Talvez seus pensamentos estivessem tão acelerados que seu corpo não conseguia uma brecha para descansar.

Virou de lado, ficando de costas para a pelúcia, quem sabe assim conseguiria parar de pensar em tudo. Fechou os olhos e começou a tentar encher sua cabeça com outras coisas. O dia seguinte era domingo, poderia aproveitar que estariam livres para ir conversar com o Deku. Claro! Ela não tinha conseguido falar com ele no festival, até porque se perderam um do outro, aí depois teve o ataque e então... Não! Foca no Deku. Iria falar com ele amanhã. Isso. Começou a traçar um plano de como poderia fazê-lo, pensando em quais palavras poderia usar. E assim, conseguiu se distrair um pouco.

Só não poderia ser dito que o mesmo estava acontecendo do outro lado do prédio.

Bakugou estava jogado na sua cama, com a cara afundada no travesseiro e pensando em como poderia se enfiar em um buraco e nunca mais sair. Virou o rosto para sua mesa de cabeceira, encontrando ali o bonequinho do All Might que a morena havia ganhado para ele. Sentiu uma pontada no peito e uma vontade enorme de explodir tudo, quem sabe assim conseguiria esquecer a vergonha que tinha passado poucas horas atrás. De todas as possíveis pessoas que poderiam ouvir aquela conversa de doido, tinha que ser justo ela? Bom, claro que ele havia ficado bem orgulhoso de como ela já chegou desmaiando a vilã e depois havia chutado várias bundas, mas... ele nem havia conseguido dar tanta atenção a isso, já que estava mais preocupado com o ferimento no pescoço dela e o fato que ela ouviu a conversa.

Sabia que a rabo de cavalo e a outra lá tinham levado a Uraraka para a enfermaria quando voltaram para a escola, mas não sabia como ela estava. A doida havia a cortado? Foi profundo? Tinha um pouco de sangue no curativo improvisado dela, talvez estivesse pior do que ela havia dito. Será que ela estava bem agora? Sua vontade era de mandar uma mensagem e perguntar, mas não queria dar tanta bandeira de sua preocupação e sentimentos. Apesar que, depois desse dia, seria difícil a morena não perceber o que estava acontecendo, afinal ela havia ouvido a conversa. Ah, pronto, agora lá ia ele se martirizar de novo.

Precisava se recuperar. Poderia fingir que nada havia acontecido, o que era um bom plano. Era isso. Negaria até a morte tudo que a vilã louca havia dito, afinal todos sabiam que ela era meio despirocada. Claro, ela só estava blefando, tentando arrancar informações. Tudo bem que Bakugou meio que caiu no blefe dela... E acabou que ele não negou muito as coisas que ela falou... E aí a Uraraka e as outras duas ouviram... Bom, ele sempre poderia falar que elas estão sofrendo um delírio coletivo. Argh, ele não era babaca assim. Esfregou a mão no rosto e fechou os olhos com força. Dormiria e esqueceria tudo que havia acontecido, nem que fosse na base do ódio.

 

xxx

 

Pensar em fazer uma coisa e realmente a fazer são duas coisas completamente opostas. Bakugou havia dito que dormiria e esqueceria tudo, mas não o fez. Bom, ele até conseguiu dormir depois de muita luta, mas adivinha só? Ele sonhou com a morena. Primeiro ele sonhou que era ele quem havia encontrado ela lutando com a vilã, que cortou o pescoço dela e ela sangrou até a morte em seus braços. Isso lhe fez acordar no susto no meio da madrugada, respirando pesado e suando frio. Ok, estava em seu quarto e estava tudo bem.

Voltou a dormir depois de fazer um esforço e, que surpresa, sonhou com ela de novo. Dessa vez foi com o ocorrido da tarde. Uraraka o encontrou, nocauteou a vilã, disse que havia ouvido tudo e que o amava também. Ela o beijou e o cenário todo mudou, então de repente estavam no quarto dele, se beijando afoitos e se... apalpando? O loiro acordou de novo, respirando pesado por outro motivo agora. Levantou o cobertor e deu uma olhadela ali, averiguando o que já desconfiava que aconteceu. Foi mais difícil voltar a dormir depois disso, porque a cada vez que fechava os olhos, lembrava do festival e do sonho.

Acordou no dia seguinte parecendo que havia sido atropelado por um trator, de tão acabado que se sentia. Acabou nem indo treinar de manhã e imaginou que Uraraka também não iria, então nem mandou mensagem nem nada. Não se sentia na capacidade de se dirigir à ela naquele momento. Só que claro que a vida adorava causar. Quando desceu para tomar café da manhã, encontrou com a morena lá. Foi o momento mais estranho de sua vida, com certeza.

Bakugou passou reto de onde a garota estava sentada, pegou qualquer coisa pra comer e foi se sentar o mais longe possível dela. Levantou o olhar por um instante e encontrou Uraraka o encarando. Quando percebeu que havia sido pega no flagra, a morena abaixou a cabeça e corou, voltando a comer seu café da manhã.

Novamente: pensar em fazer uma coisa e realmente a fazer são duas coisas completamente opostas. Se havia sido difícil para o garoto cumprir com o que havia planejado, para ela foi mais difícil ainda. Uraraka havia pensando em ir falar com Deku naquele dia, mas após o encontro desastroso com Bakugou na cozinha, ela parecia ficar ainda mais consciente de tudo que havia acontecido. Estava estampado no rosto corado do loiro que ele estava incomodado e constrangido com a situação. Ele estava claramente a evitando! Por que ele a evitaria? A única explicação que a morena pensava era: porque toda aquela conversa com Toga era real. E pronto. Lá estava ela de novo pensando sobre aquilo. Estava sendo um verdadeiro inferno, se alguém a perguntasse. Quanto mais ela tentava se distrair e fugir daquele assunto, mais ele dominava seus pensamentos.

Na hora do almoço, a morena estava andando distraída e olhando para os próprios pés até a cozinha. Quando ergueu a cabeça, deu de cara justo com ele. Bakugou havia pego um prato e tinha decidido correr pra comer no seu quarto antes que a garota chegasse, mas os dois acabaram dando de cara quando ele saía da cozinha.

— B-bakugou! — Ela se assustou. — Eu... Não te vi... Eu... T-tá tudo bem? — Ela sorriu sem graça.

— Tá. — Ele mordeu o lábio, tentando controlar o seu nervosismo. Sentia as mãos que seguravam seu prato tremerem e suarem, as apertando com mais força contra o objeto. — Só olha pra frente, quase derrubou meu almoço. — O garoto se esforçou muito para que sua voz saísse direito, mas não saiu tão irritada quanto ele esperava.

Sem nem dar brecha para a garota falar mais alguma coisa, ele se apressou em continuar seu caminho, a deixando lá sozinha. Se essa fosse uma prévia de como seria a interação deles a partir daquele momento, ele não queria nem ver como sobreviveria.

A morena apenas suspirou e entrou na cozinha. Deku estava por ali já e a chamou para sentar com ele. Uraraka forçou um sorriso e se juntou ao amigo. Já tinha se martirizado pela manhã por não ter tido coragem de pedi-lo para a encontrar no pátio depois, e agora passou o almoço todo fazendo a mesma coisa. Por mais que quisesse ir se declarar e acabar logo com aquela aflição que tomava seu ser, sentia que não era isso que a aliviaria. O olhar perdido e levemente aturdido que Bakugou havia lhe lançado minutos antes estava fixado em sua mente e ela sentia que deveria ir fazer alguma coisa, talvez falar com ele. Não, isso só pioraria. No momento, tinha que focar nos seus sentimentos pelo amigo de cabelos verdes e em como poderia se confessar para ele.

Bom, claro que Uraraka passou a tarde pensando e juntando coragem, para quando chegasse de noite... ela não conseguisse ter feito o que gostaria. Por que era tão difícil só chegar no garoto de cabelos verdes e falar o que sentia? Por que ela se lembrava do Bakugou cada vez que pensava no que falar pro Deku? Por que aquela maldita pelúcia de estrela era tão confortável de se abraçar para dormir? E por que ela ainda se sentia tão afetada pelas palavras da vilã?

A morena suspirou alto e fechou os olhos, tentando se acalmar e dormir. No dia seguinte tinha aula e não poderia ficar acordada até tarde. Quem sabe poderia usar algum momento do período escolar para ir falar com o Deku?

 

xxx

 

O dia começou tranquilo, apesar de ser estranho não ter visto nem rastro do Bakugou quando estava caminhando pra aula. O loiro chegou um tempinho depois, nem a olhando na cara. Só foi pra sua carteira e sentou, fingindo que não tinha visto ninguém. Durante as aulas, ele se segurava muito para não ficar encarando a garota, mas às vezes era difícil e, quando percebia, já estava a observando. Nas aulas práticas, Bakugou grudava em Kirishima, que não entendia direito o que estava acontecendo, mas também não queria se meter.

E assim se foi o dia inteiro — e mais dois dias daquela semana. Bakugou fugia da Uraraka como o diabo foge da cruz. Sabia que não era a coisa mais inteligente ou madura de se fazer no momento, mas o que poderia fazer? Ele se sentia envergonhado, acuado e com o orgulho levemente ferido, afinal seus sentimentos foram expostos sem seu consentimento.

Já Uraraka, por mais que estivesse se sentindo estranha e com vergonha de toda aquela situação, estava começando a sentir falta de conversar com o garoto. Não que ele conversasse muito, normalmente ela falava e ele ouvia, mas ainda assim era uma boa interação. Ele estava ficando mais amigável com o passar dos dias e o festival... Eles haviam se divertido juntos e havia até dado aquela pelúcia para ela. Balançou a cabeça, afastando todos esses pensamentos estranhos que rondavam sua cabeça desde sábado. Tinha que focar no presente e em como finalmente falaria com o Deku.

Depois de muito também fugir do que deveria e gostaria de fazer, a morena finalmente havia conseguido a coragem de falar com o amigo. Mandou mensagem para ele após o jantar, pedindo se ele poderia encontrá-la no pátio em alguns minutos, o que foi prontamente respondido. E lá estava a morena, sentada no banco do pátio, o corpo levemente de lado para poder conversar melhor com o garoto, que a observava enquanto ela não sabia o que fazer.

— Então... — ela começou incerta. — Como foi o festival, Deku-kun? — Ela se xingou mentalmente pela pergunta idiota.

— Ah, foi... Bem. — Ele deu de ombros. — Pelo menos até o ataque e tudo mais. A gente descobriu que o Todoroki-kun é bem ruinzinho nesses joguinhos de barracas.

— Isso é bem estranho. — Ela riu fraco. — Eu sempre achei que ele seria bom em tudo.

— Parece que todo mundo se enganou. — Ele a acompanhou, rindo levemente. — E... como foi pra você? A gente acabou se perdendo...

— Eu acabei encontrando o Bakugou. — Ela desviou o olhar. — A gente jogou algumas coisas, eu ganhei um All Might pra ele e ele me deu uma pelúcia de estrela.

— Que legal! — O garoto deu um sorriso amigável, sentindo seu corpo formigar por dentro.

— Sim... E, bom, depois teve o ataque, né? A gente tava junto, mas aí nos separamos.

Uraraka sentiu que precisava daquilo e desabafou, as palavras simplesmente saindo de sua boca. Por mais que conversasse normalmente com os amigos, ainda não havia contado com muitos detalhes tudo que havia acontecido no sábado. Quando se deu conta, estava falando para o garoto de cabelos verdes tudo que havia visto durante o ataque, desde quando Toga lhe feriu até quando ela e Bakugou chegaram até onde ele estava com All Might. E como Bakugou agora a evitava.

— E foi isso — ela suspirou. — Mas... Deku-kun... não foi pra isso que eu te chamei. Bom, foi pra conversar, mas eu não queria falar disso. Eu... queria falar de outra coisa. Aliás, eu... quero.

— Estou ouvindo. — Ele sorriu afável, a encorajando.

— Eu acho que... Bom, eu não acho, eu sei... Eu... — A garota tentou se declarar, voltando a se atropelar nas palavras.

Por que era tão difícil só dizer o que sentia? Havia acabado de contar toda uma história, era só aproveitar que os dois estavam ali tranquilos e pôr tudo pra fora. Mas as palavras entalavam na garganta e não pareciam querer sair. E por que ela estava lembrando do Bakugou agora? Ela estava se declarando pro Deku! Ela não deveria ficar lembrando como o seguiu até seu quarto para insistir que a treinasse, e depois ele acabou cedendo e a ensinou todas as posições corretas para lutar melhor. Ou em como ele era super ranzinza, mas depois começou a ser mais fácil de conversar. De como ela gostava de apostar corrida contra ele e ver aquele bico infantil de mal perdedor, que ele também fazia quando ela ganhava na luta, mas ela via que, no fundo, ele parecia orgulhoso. Como ele sempre acreditou no potencial dela e sempre disse isso, mesmo que fosse do jeito mal humorado e explosivo dele. Em como ele havia dito que ela não era de todo mal — e provavelmente se arrependido, porque ela não perdia a chance de trazer isso pras conversas. E em como ela havia ficado estranhamente feliz e com o coração quentinho quando ele lhe deu aquela pelúcia de estrela.

— Uraraka-san? — o garoto a chamou, com o cenho franzido em preocupação. — Já faz alguns minutos que você tá em silêncio...

— Deku, eu... — Ela abaixou a cabeça, se sentindo a maior idiota de todas. — Eu queria dizer que eu... gosto de você... mas eu...

— Mas você gosta do Kacchan agora, não é? — Ele sorriu complacente. A garota ergueu a cabeça rápido, arregalando os olhos na direção dele, o fazendo rir e suspirar. — Não é difícil de ver.

Uraraka sentiu os olhos marejarem, sendo confortada pelas mãos do amigo, que pousaram suavemente sobre as suas. Ele lhe sorria gentil, a acalmando.

— Eu sou tão estúpida. — Ela fungou. — Não era isso que eu queria, eu... Eu devia ter vindo antes.

— Não se preocupe, Uraraka-san. — Ele passou a mão pelo rosto dela, secando uma lágrima teimosa que escorria. — Eu... ficaria feliz até demais se ainda gostasse de mim, mas... não podemos controlar por quem nos apaixonamos.

— Mas eu...

— Uraraka-san... — ele a cortou. — As coisas acontecem por um motivo. Talvez... tenha sido melhor ficarmos apenas amigos.

— Ainda me sinto bem ridícula. — Ela bufou. — Eu vim querendo me declarar pra você e vou sair com a descoberta que gosto de outro? Um outro que, inclusive, me evita o máximo que pode... Eu sei que o Bakugou é orgulhoso e deve estar morrendo por dentro de ter tido seus sentimentos expostos, mas a gente nem treinou juntos esses dias. Eu não sou tão sem tato ao ponto de querer conversar sobre isso, eu só... queria ter a nossa rotina de volta. Eu não tenho ido atrás, porque eu sei que ele precisa do espaço dele... Mas eu sinto falta.

— Não se preocupe, Uraraka-san, eu sei que vão se resolver.

— Você é um amor, Deku-kun! — Ela sorriu e se lançou pra frente, o abraçando. — Obrigada por ser o melhor amigo que eu poderia ter.

O garoto de cabelos verdes corou e a abraçou de volta, levando uma das mãos aos cabelos da amiga e fechando os olhos. Ele também se arrependia de não ter ido atrás dela antes, quando ainda podia, mas sabia que se ela estivesse feliz, ele também ficaria. E, no momento, o que a deixaria feliz era voltar a falar normalmente com Kacchan, que era o que ele a ajudaria a fazer, se fosse preciso.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gracias à Mileninha_Fics por ter me dado umas dicas e ajudinha com o Deku, porque eu não sei escrever esse menino, HAISUEHUASIESA.

E é isso, meu povo. Espero que tenham gostado! ♡

Se não deu pra perceber o climão de final chegando, aviso que o próximo capítulo já será o último!

Até lá! ♡



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Training days" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.