Training days escrita por Nati Miles


Capítulo 18
Chuva




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Talvez, mas só talvez, Katsuki estivesse errado e fosse mais difícil do que o esperado superar essa paixonite. Duas semanas haviam se passado e ele não foi capaz de enfiar aquele sentimento para o fundo da mente e esquecer. Muito pelo contrário, parecia que piorava a cada dia. Perdeu as contas de quantas vezes se pegou pensando nela, do quanto a ficava encarando nas aulas e de como estava sendo difícil treiná-la.

Os treinos estavam sendo a pior parte, na verdade. O que antes era um momento de extravasar e relaxar para o loiro, agora era o momento em que ele se sentia mais tenso e próximo de literalmente se explodir. Cada movimento dela era seguido por seus olhos atentos, que não deixavam nada lhes escapar. E cada movimento dele era pensado milhares de vezes, por medo de acabar fazendo alguma coisa que pudesse dar na cara que estava gostando dela. Sentia que estava enlouquecendo aos poucos.

Mas quem sabe se ele apenas se deixasse levar e parasse de tentar inibir, esse sentimento ia embora? Sim, ele estava fazendo errado. Se ele simplesmente se permitisse pensar nela o quanto quisesse quando estivesse sozinho e não se importasse com sua mente produzindo sonhos com ela, poderia acabar diminuindo todo esse hype.

Só não poderia colocar isso em prática nesse momento, pois estava treinando com Uraraka e sentia que ela estava prestes a derrubá-lo novamente. Ela sorriu com aquela determinação que só ela tem e ele baixou a guarda por um segundo. Uraraka aumentou o sorriso e se abaixou, dando uma rasteira no garoto. Bakugou caiu de costas e nem se deu tempo de pensar muito, só sentou-se rápido, bem a tempo de ver a garota fazer uma dancinha da vitória ridícula.

— Uraraka: 1! — Ela sentou-se na sua frente, sorrindo tanto que ele não sabia como o rosto dela não estava doendo.

— Tá, foda-se.

— Não faça essa cara! Devia ficar feliz que sua pupila tá ficando fodona.

— E aprendendo a falar palavrão. — Ele arqueou a sobrancelha.

— O que posso dizer? É a convivência. — A morena deu uma risadinha. — E aí, vamos voltar pros dormitórios? Aposto que ganho a corrida dessa vez!

— Vai sonhando, Bochechas!

A dupla começou a recolher seus pertences, quando foram surpreendidos pelo alto barulho de trovão. Uraraka se virou para o amigo com os olhos levemente arregalados, enquanto uma expressão irritada se instalava no rosto do loiro. Terminaram de enfiar tudo dentro da mochila e andaram a passos apressados até a porta de entrada do ginásio. E é claro que já havia começado a chover.

Bakugou olhou bem para o céu cinza de onde caía uma forte chuva e depois olhou para os prédios não muito longe dali. Normalmente ele era uma pessoa precavida e andava com um guarda-chuva na mochila, mas é claro que justo hoje havia esquecido em seu quarto. Afinal, é assim que essas coisas funcionam, não é mesmo?

Encarou o céu novamente como se ele fosse um adversário a ser derrotado. Ele não era de açúcar, podia chegar nos dormitórios sem grandes problemas. Sim, ele iria chegar lá! Ele derrotaria essa adversidade. Colocou-se em posição para começar e correr, mas foi interrompido.

— Bakugou... — Uma voz suave e angelical soou atrás de si. Ele se virou e encontrou a morena com a cabeça inclinada para o lado, claramente confusa. — Tá fazendo o que?

— O que você acha que eu tô fazendo, Cara Redonda?

— Meu palpite é que você esqueceu seu guarda-chuva e estava prestes a explodir o céu, dada a cara de raiva que você tava olhando pra cima. — Ela riu. Ele teve vontade de mandá-la se foder, mas não conseguiu, então só voltou a olhar pra frente.

— Ahn... Bakugou...

— Que foi, cacete?

— Podemos dividir, se não se importar — Ela foi para o lado dele.

Ele revirou os olhos e virou-se para ela devagar e, claro, a cara de anjo era mais esperta que ele e havia levado um guarda-chuva na mochila. Ela segurava o objeto aberto sobre sua cabeça e o encarava como se ele fosse doido de sair correndo nessa chuva forte. E ele realmente preferia ter que enfrentar essa chuva do que ficar grudado nela embaixo do guarda-chuva, porque pelo menos a chuva não mexia com os sentimentos dele.

Se tinha uma coisa que ele detestava, era como a garota parecia tirar toda a sua gravidade quando estava por perto, o que já havia o feito se questionar se a individualidade dela funcionava de longe e ela não sabia. Demorou um pouco, mas ele percebeu que não, que era só ele sendo um idiota apaixonado mesmo. Tsk, como se precisasse dessa merda. Ainda mais com ela seguindo aquele nerd inútil por todo o lado.

— Não, prefiro ir sozinho.

— Bakugou! Só vem logo pra baixo desse guarda-chuva.

A morena se aproximou mais e fez com que o objeto o cobrisse também. A diferença de altura era grande, então o guarda-chuva batia um pouco na cabeça dele. Ele pensou em se abaixar, mas não queria ficar com o rosto na mesma altura do dela, com certeza não. O loiro fez então o que parecia mais prudente: pegou o guarda-chuva da mão dela e ele segurou para os dois.

— Tá batendo na minha cabeça, Bochechas — ele explicou, ao ver que ela o olhava estranho por ele ter pego o objeto. — Anda, vamos logo, pra chegar logo.

— Essa chuva caiu do nada, né? — Ela claramente estava tentando iniciar uma conversa enquanto andavam em direção aos dormitórios. Ele apenas murmurou que sim. — Podia ao menos ter caído depois que a gente já estivesse lá. Estaríamos quentinhos e secos.

— Que seja. — Ele deu de ombros.

— Eu acho que esse guarda-chuva não está ajudando muito, porque sinto minhas pernas molhando até o joelho. — Ela fez um bico enquanto olhava para as próprias pernas. — Esse vento forte não colabora.

— Logo a gente chega e você para de reclamar.

— Não tô reclamando. Tô só comentando fatos.

— Sei, sei, claro. — Ele riu pelo nariz.

Eles não estavam nem na metade do caminho quando o vento piorou. Bakugou segurou mais firme o guarda-chuva e Uraraka se agarrou ao braço dele. Ótimo, tudo que ele precisava era dela agarrada nele, claro. Mas a Lei de Murphy tinha que agir um pouco mais e virar o objeto no avesso. Os dois se olharam um pouco assustados e começaram a correr, mas a chuva era forte demais e eles já estavam ficando ensopados.

— Tem uma marquise ali! — a morena gritou, apontando para o local.

— Guarda-chuva de merda, ein — o garoto reclamou quando chegaram no coberto, jogando o objeto de volta para sua dona.

— Acho que não podíamos exigir tanto dele — ela comentou com um bico, guardando o objeto quebrado numa sacolinha e colocando de volta na mochila. — E agora a gente faz o quê?

— Você eu não sei, mas eu vou correr. — Ele começou a se posicionar novamente.

— Não, Bakugou-kun! — Uraraka o agarrou pelo braço, o puxando de volta pra trás. Ele voltou com força e quase caiu em cima dela. A morena percebeu o que tinha feito e ficou envergonhada quando o percebeu tão perto. O garoto a olhou sem entender nada, também corando com a ideia dela ter o agarrado com tanta força. — É... É que... tá muito forte essa chuva. Olha nosso estado! E a gente correu só uns 20 metros.

— E você quer o quê? Esperar aqui?

— Bom... Sim.

— Tá brincando, né?

— Não... Por favor, vamos esperar — ela pediu com aquela expressão angelical que ele tinha certeza que convencia todo mundo. Ou era ele que estava ficando muito fraco por ela. O garoto bufou e se sentou no chão, sendo copiado pela morena. Um silêncio se instalou por alguns minutos, enquanto a chuva só piorava. — Acho que devíamos avisar o pessoal que estamos presos na chuva. — Ela pegou o celular e começou a digitar uma mensagem.

— E eles vão fazer o quê?

— Não se preocupar com a gente, oras.

Ele apenas deu de ombros e encostou as costas na parede atrás de si. Pelo canto do olho, viu quando a morena terminou de digitar a mensagem e guardou o celular de volta na bolsa, encostando-se na parede como ele e fechando os olhos por alguns instantes. Uraraka já era uma pessoa que trazia paz e tranquilidade naturalmente, apenas por estar ao lado dele, mas a expressão serena que estava em seu rosto naquele momento parecia deixar a situação ainda mais tranquila.

A garota estava aproveitando aquele momento para relaxar e tentar não pensar em como a chuva estava atrapalhando seus planos de chegar no quarto e descansar enquanto se remoía pelo tempo estar passando depressa e ela ainda não conseguir falar com Midoriya. Seu momento foi interrompido pela sensação de que estava sendo observada, o que lhe causou estranheza. Abriu os olhos e percebeu que era só impressão, pois só estavam os dois ali e Bakugou parecia ocupado demais analisando a chuva. Mal sabia a garota que estava sim sendo observada, mas ao perceber que Uraraka abriu os olhos, o loiro só virou pra frente depressa e torceu para que ela não tivesse percebido.

— Caralho, Cara Redonda, quanto tempo pretende ficar aqui sentada ainda? — perguntou irritado, tentando disfarçar.

— Eu não queria chegar ensopada no dormitório...

— Claro, porque seu guarda-chuva quebrou e nos deixou bem sequinhos, né. — Ele revirou os olhos impaciente. Ficar assim do lado dela o deixava com os nervos à flor da pele. — E essa porcaria de chuva parece que não acaba nunca!

— É, eu queria estar no meu quarto também. Eu não gosto muito de chuva... — Ela sorriu e o cutucou com o cotovelo, brincalhona. — Agora tem que me devolver um fato sobre você.

— Vai começar com essa merda de novo?

— Talvez. Pode ajudar a passar o tempo.

— Coisa que não precisaríamos se tivéssemos saído correndo. — Ele bufou. — Da próxima vez, eu corro e te largo.

— Que maldade! — Ela pôs a mão no peito e se fingiu de ofendida. — Mas sério, me conta alguma coisa!

— Que necessidade você tem de ficar arrancando as coisas de mim? — Ele fez uma careta.

— Ah, sei lá... O Todoroki-kun, por exemplo, tem toda aquela aura misteriosa e tudo mais, mas no fundo ele é muito bonzinho e chega a ser sincero até demais. Eu só acho que por baixo dessa sua aura irritada, existe alguma coisa a mais.

Ele a observou por alguns instantes, e lá estava ela o olhando de novo com aquela cara fodida que o convenceria a fazer qualquer coisa. Nessas horas, agradecia por ela não ter nem ideia do que aquela carinha pidona era capaz. Respirou fundo, tentando afastar os milhares de pensamentos que cruzavam sua mente.

— Prefiro sol e calor.

— Por causa da sua individualidade, né? Eu também, mas é porque me sinto melhor. Chuva e frio me remetem a um sentimento meio de... tristeza. Não sei explicar ao certo.

— Monotonia e tédio.

— Exatamente! Calor me traz mais uma sensação de conforto e aconchego.

— E realmente fica mais fácil pra eu criar explosões.

— Sabia! — Ela sorriu como se tivesse descoberto o universo e ele descobriu que gostava mais do que pensava do sorriso dela.

Talvez, mas só talvez, começou a pensar em como poderia fazê-la sorrir mais vezes, porque a sensação que o sorriso dela lhe trazia era a mesma que ela havia descrito para o calor: conforto e aconchego. Bakugou pigarreou, tentando fazer com que seus pensamentos não pegassem esse caminho de novo, pelo menos não com ela sentada bem do seu lado e o olhando com essa cara de anjo.

— Ah, olha! — Ela apontou pra frente, graças aos deuses mudando o assunto. — Tá diminuindo!

— A senhorita consegue correr nessa garoa? — ele perguntou sarcástico. — Ou vai derreter no meio do caminho?

— Fico lisonjeada por pedir minha opinião — Ela riu.

— Então parece que chegamos rápido na vez em que eu corro e te deixo. — Ele se levantou, realmente se preparando pra sair dali e a deixar.

— Calma, calma! — Ela também se levantou, um pouco afobada. — Eu corro na garoa!

E lá se foram os dois correndo pros dormitórios. Por mais que estivesse uma fina garoa, eles já estavam molhados de antes e acabaram chegando um pouco ensopados, de qualquer jeito. Uraraka ainda encontrou os amigos na sala e ficou alguns minutos conversando com eles e explicando o que tinha acontecido, enquanto Bakugou só passou reto e foi direto pro quarto, louco para tomar um banho fervendo e trocar de roupa.

Assim que colocou roupas secas, o loiro se jogou na cama e ficou encarando o teto. Achava que o que sentia era besteira e logo passaria, mas parecia que cada segundo ao lado da morena o fazia ficar ainda mais encantado por ela — se é que isso era possível. Já estava cogitando contar pra ela, mas é claro que seu orgulho não o deixava só ir assim. Talvez se ele tivesse como ter outra perspectiva da situação, seria mais fácil de lidar com ela. Bufou alto, não acreditando em si mesmo por ter tido essa ideia estúpida, mas fazer o quê. Situações desesperadas pedem medidas desesperadas.

O loiro ficou deitado na cama quietinho, apenas tentando colocar os pensamentos em ordem. Não demorou muito e ouviu barulho vindo do quarto ao lado. Respirou fundo e se levantou, indo em direção à porta do seu quarto e depois batendo na do quarto ao lado. Ouviu uma movimentação e logo a porta foi escancarada.

— E aí, bro! — Kirishima abriu um sorriso e deu espaço pro loiro entrar.

Bakugou entrou e foi em direção à cama, se jogando nela sem nem ao menos responder nada. O ruivo fechou a porta e se aproximou do amigo com o cenho franzido, claramente estranhando a situação. O loiro só costumava bater em sua porta para o acordar, para chamar pra fazer alguma coisa ou pra mandá-lo fazer menos barulho.

— Bakugou? — Kirishima puxou uma cadeira e sentou-se na frente da cama, claramente confuso. — Aconteceu alguma coisa?

— Preciso conversar...


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