Quinta feira chegou. A casa estava irreconhecível com guirlandas de folhas de outono em vermelho dourado e castanho espalhadas. Sacas de espigas de milhos secas na porta. Marcie comprou e alinhou as abóboras ao longo da calçada, garagem e na varanda.
Parei no corredor para a escada observando Marcie. Ela usava um sutiã de vinil preto e calça legging de também de vinil. Nada mais que isso.
— Voltei! - Nora gritou parando ao meu lado. - Copos plásticos, um saco de anéis de aranha, dois sacos de gelo, e mais confetes de esqueleto, como você pediu. A soda ainda está no porta malas. Algum voluntário pra me ajudar a trazê-las para dentro?
— Coloque a soda na geladeira, o gelo no freezer, e espalhe os confetes de esqueleto na mesa de jantar, mas não deixe cair na comida. Só isso por enquanto. Esteja por perto caso eu precise de mais alguma coisa. Tenho que terminar minha fantasia.
— Bem, isso é um alívio. Por um minuto, achei que isso fosse tudo que você estava planejando usar. - Nora falou fazendo sinal com a mão para a fantasia.
— E é. Eu sou a Mulher Gato. Só preciso colar as orelhas de feltro preto na minha cabeça.
— Você vai usar sutiã na festa? Só sutiã?
— Um top.
— Quem é o Batman?
— Robert Boxler.
— Então isso significa que Scott se salvou? - Nora perguntou e Marcie deu de ombros.
— Que Scott? - Ela perguntou e eu gargalhei.
— Levou o fora! - Falei. - Ponto pro Scott. - Ela virou as costas e saiu.
— Ele escolheu Vee ao invés de você! - Nora falou indo atrás dela.
— Eu não ligo. Você provavelmente fez a cabeça dele. Não é segredo que ele faz tudo o que você diz. Coloque a soda na geladeira antes da virada do século.
— Eu tenho que me aprontar também, você sabe!
Minha fantasia tinha chegado um dia antes em uma caixa enorme e eu mal acreditei quando olhei o bilhete. "Vai ser irônico, mas gostaria de vê-la assim! B.A."
Abri a caixa e gargalhei puxando o vestido branco e as asas de anjo com uma aréola pendurada em cima.
O vestido tinha ficado perfeito no meu corpo, era um decote canoa e apertado no corpo até a cintura, depois mais soltinho alcançando o chão. As asas tinham argolas para enfiar em meus braços e elas ficarem em minhas costas com a aréola pendurada em cima da minha cabeça.
Junto deles ainda tinha uma sandália branca.
Ele havia pensado em tudo.
Passei um rímel preto e um batom coral antes de arrumar meus cabelos. Fiz uma trança cascata com cachos nas pontas. Tinha ficado perfeito o visual.
Desci as escadas e encontrei a casa cheia de pessoas. Ao canto vi Tyler vestido de Superman e meu irmão de Batman. Eu gargalhei caminhando até eles.
— Não acredito que vocês vieram.
— Nada melhor que curtir uma festa irmãzinha. - Nico falou. - Principalmente uma que não me reconheçam.
— Marcie é a Mulher-Gato se cuida ela pode se jogar em cima de você.
— Eu ainda tenho repulsa por Marcie. - Ele fez careta.
— E o par de vocês? Não acredito que vocês vieram juntos! Essa festa tem o tema de casais.
— Deixa de bobagem. - Tyler falou. - Muita gente veio sozinho também, Anjinha. Gostei da fantasia. Mas acho que você errou. Todo mundo sabe que de Anjo você não tem nada.
— Agora você me ofendeu. Sou um doce de pessoa.
— Claro. E é capaz de matar uma pessoa só usando seu sarcasmo. - Sorri e ele sorriu.
— E seu companheiro? - Nico perguntou.
— Atrasado como sempre. - Respondi.
Olhei para a porta e gargalhei. Patch estava todo de preto e usava uma máscara de esqui. Enquanto Ben estava todo de branco.
Ben veio até mim sorrindo e passou o braço pela minha cintura me prendendo em seus braços. Depositou um beijo em minha bochecha.
— Esta bonita como achei que ficaria. - Ele murmurou e depois encarou Nico e Tyler. - Boa noite, meninos.
— Boa noite. - Nico respondeu. - Isso é uma fantasia?
— Não sigo códigos. Vamos. - Ele puxou meu corpo para o meio da multidão.
Nós seguimos as escadas em direção ao meu quarto. Peguei a chave que eu guardava no decote do vestido e abri a porta. Ben sorriu.
— Medo de usarem seu quarto de motel?
— Claro. Ele só é usado por nós. - Ben fechou a porta com o pé antes dos seus lábios alcançarem minha boca.
Tirei as asas e as joguei por cima da cama, depois Ben me levou em direção a cama, depositando-me lá.
Quando estávamos nos beijando no maior amasso, ouvi os pensamentos de Nora e os gritos de Blyte. Empurrei Ben de cima de mim rapidamente e levantei.
Me apressei pelo corredor até alcançar o banheiro.
— Nenhuma palavra de você! - Blyte falou para Nora. - Você disse que tinha terminado com ele. Você disse que esse... Esse lance... Entre você e ele... Tinha acabado. Você mentiu para mim!
— Eu posso explicar. - Nora falou.
— É isso que você faz? Seduz moças jovens em suas próprias casas com as suas mães a metros de distância? Você deveria se envergonhar de si próprio! - Patch segurou a mão de Nora e eu senti Ben atrás de mim.
— Pelo contrário Blyte. Sua filha é tudo para mim. Completamente e totalmente. Eu a amo, é simples assim. - Patch falou e eu sorri.
— Você destruiu a vida dela! No momento que ela te conheceu tudo desmoronou. Você pode negar o quanto quiser, mas sei que você estava envolvido no sequestro dela. Saia da minha casa.
— Tia...
— Você calada! - Ela mandou e Ben estalou a língua.
— Eu deveria ir. - Patch falou.
— Eu acho que sim! - Blyte falou.
— Eu vou com você. - Ben falou e Blyte o encarou.
— Eu não estou te expulsando...
— Mas eu prefiro ir também. - Ele beijou meus lábios e seguiu com Patch para fora.
— Entra. - Blyte falou e eu entrei antes dela fechar a porta.
— Vocês estão de castigo. Aproveitem a festa enquanto ela dura, pois este vai ser seus últimos eventos sociais por um bom tempo.
— Você está mesmo interessada em me ouvir?
— Preciso de um tempo para esfriar. É de seu interesse me dar algum espaço. Posso estar com espírito para falar amanhã, mas essa é a última coisa em que estou interessada agora. Você mentiu para mim. Agiu pelas minhas costas. Pior, eu tive que encontrar você tirando sua roupa com ele no nosso banheiro. Nosso banheiro! Ele quer uma coisa de você, Nora e vai levar para onde quer que possa conseguir. Não há nada de especial em perder sua virgindade num banheiro.
— Eu não estava... Nós não estávamos... Minha virgindade? Esquece. Você está certa, não quer ouvir. Você nunca quer. Não quando se trata de Patch.
— E outra coisa, eu não estou de castigo. Caso você lembre-se você não é minha mãe. - Resmunguei. - Você nunca escuta a sua filha. Você nunca presta atenção nas coisas e acha que pode se meter e nos colocar de castigo. Tenha santa paciência, você cometeu erros. Você!
— Está tudo bem aqui? - Nós viramos para Marcie na porta. - Desculpe interromper, mas ficamos sem olhos de monstro também conhecidos como uvas sem casca.
— Nora, Nikki e eu estávamos terminando. Eu posso ir até a loja rapidinho comprar umas uvas. Mais alguma coisa que tenhamos pouco?
— Molho de queijo nacho. Mas você realmente não precisa se preocupar. Quero dizer, é só molho de queijo nacho. Não haverá nada para acompanhar os salgadinhos, claro, e é o meu favorito, mas realmente e verdadeiramente não é grande coisa.
— Ótimo. Uvas e molho nacho. Mais alguma coisa?
Marcie sorriu.
— Não, é só isso.
Blyte saiu nos deixando sozinhas e eu me apoiei na pia do banheiro.
— Você sempre pode enganar a mente dela sabe. Fazer ela pensar que Patch nunca esteve aqui. - Marcie falou.
— O quanto você ouviu?
— O bastante para saber que você está em uma profunda encrenca.
— Eu não vou enganar a mente da minha própria mãe.
— Se você quiser, posso falar com ela. - Marcie falou e Nora riu sem humor algum.
— Você? Minha mãe não. Ela pegou você sob alguma forma equivocada de hospitalidade. E provavelmente para provar alguma coisa para sua mãe. A única razão para você estar vivendo debaixo desse teto é que é assim que minha mãe pode jogar na cara da sua mãe: ela era a melhor amante e agora ela é a melhor mãe.
Encarei Nora com os olhos arregalados.
— Você está tentando me fazer sentir mal, mas não vai funcionar. Você não vai arruinar minha festa. - Marcie falou. - Eu acho que é hora de jogar Bob-for-a-Date.
— Bob o quê?
— É como pegar maçãs, exceto que cada maçã tem o nome de alguém da festa atrelado. Quem quer que você tire é seu próximo encontro às cegas. Nós jogamos todo ano na minha festa de Halloween.
— Parece brega.
— É um encontro às cegas, Nora. E já que você está de castigo pela eternidade, o que tem a perder? - Ela puxou Nora para a cozinha e eu segui para o meu quarto.
A minha rixa com Blyte tinha começado e não tinha acabado, quando ela chegasse eu sabia que ela viria impor que eu ficasse de castigo por que estava na casa dela.
Só o que ela não sabia é que eu estava vivendo ali por Nora. Para ajudá-la.
Respirei fundo antes de colocar minhas asas de Anjo de novo.
— Maçãs vermelhas correspondem aos nomes dos meninos. - Ouvi Marcie falando enquanto descia as escadas. - Maçãs verdes das meninas.
Parei no caminho encarando Nora de joelhos tentando pegar a maça na tigela.
— Me deem um tempo. - Nora falou. - Eu não tenho feito isso desde os 5 anos. Isso já diz muito sobre esse jogo!
— Nora não tem um encontro às cegas desde que ela tinha 5 anos. - Marcie debochou.
— Você será a próxima. - Nora falou.
— Se houver próxima. Me parece que você vai ficar sugando o rosto com maçãs a noite toda.
Nora mergulhou a cabeça na banheira de novo tentando agarrar a maça com os dentes.
— Patético. - Murmurei.
Nora agarrou uma maça com os dentes e depois a jogou para Marcie.
— E o sortudo que conseguiu um encontro às cegas com nossa rata afogada aqui é... - Marcie tirou o tubo selado do miolo da maça. - Baruch? Só Baruch? - Ela enrugou o nariz pronunciando Bar-ooch. - Estou falando certo? - As pessoas começaram a se afastar. - Ele não é um dos seus amigos?
— Não. Achei que fosse um dos seus.
As luzes começaram a piscar, uma, duas e se apagaram completamente. A música acabou e tudo ficou silencioso. Me apressei parando ao lado de Nora bem no momento em que os gritos começaram.
— Nora! - Marcie chorou. - O que está acontecendo?
Anjos Caídos invadiram a casa.
— Nora, Nora. Saia para brincar. - Um homem falou. - Eu vou te achar minha querida, meu bichinho.
— Nora? É você? O que está acontecendo? - Um garoto da escola perguntou.
— Quieto. - Nora mandou.
— Se você não vier até mim, eu vou até você. - O homem falou de novo.
— Pare! - Nora falou quase chorando. - Qualquer coisa para sufocar as chamas devorando minha carne.
— Saiam todos. - O homem mandou.
Todos começaram a correr para a saída.
Continuei ao lado de Nora e franzi a testa olhando pela escuridão. Tinha mais alguém com o homem. Uma mulher. Uma mulher que eu conhecia muito bem.
— Me disseram que você anda me procurando. - Caroline falou me encarando e sorrindo.
— Eu sou Baruch. - O homem pronunciou Bar-rewk.
Nora fugiu para o canto da sala e eu avancei para Caroline. Ela veio na minha direção e minhas mãos se acenderam a magia piscando do verde para o azul.
Nessa hora Tyler e Nico entraram na briga.
Acertei a magia nela a lançando contra a parede, mas antes que eu pudesse agarra-la. Ela já tinha levantando e acertado minha barriga. Cambaleei para trás e ela girou acertando o lado da minha cabeça.
Meu corpo caiu no chão.
Mal consegui acreditar que aquela vadia sabia lutar além de tudo. Encarei ela que sorria. Senti sangue invadir minha boca.
A raiva me dominou e meu corpo acendeu. O sorriso em seu rosto vacilou e eu sorri.