Elas escrita por Karina A de Souza


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olá, Resistentes! Hoje, Steff vai atrás de pessoas que podem ajudá-la a derrotar o Mestre...



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Londres. 2019. Século 21.

1.022 anos para a Guerra de Stichford.

Permaneci onde estava do outro lado da rua, observando a casa amarela, como fazia há algumas horas.

Repassei o plano na minha cabeça, pensando em como aquilo terminaria.

Engoli mais um analgésico antes de cruzar a rua, e me aproximei da casa. Não podia enrolar mais.

Bati na porta. Uma voz feminina veio lá de dentro, alertando que já ia me atender. Olhei em volta mais uma vez, a rua parecia muito tranquila. Eu não via isso há muito tempo. Não ter uma guerra acontecendo devia ser o motivo.

—Ah, desculpa, eu estava pintando a cozinha. -Uma mulher disse, ao abrir a porta. -Posso ajudar?
Ergui meu celular, verificando se a pessoa na foto era a mesma na minha frente.

—Martha Jones, certo?

—Hã... É. -Se apoiou no batente. A outra mão segurava um pincel molhado. -Sou eu. E você é...?

—Stefflon Rogers. Sou do ano 3046, e preciso da sua ajuda.

Isso não pareceu tê-la deixado chocada nem nada. Olhou pra cima e pra baixo na rua, então saiu do caminho.

—Entre.

Passei por ela, entrando na casa. Havia muitas caixas fechadas e abertas nos chãos e o cheiro de tinta fresca pairava no ar.

—Meu marido e eu acabamos de nos mudar. -Tirou algumas tralhas de um sofá. Me sentei, sentindo minha perna esquerda protestar e uma pontada na altura das costelas. -Você não parece bem.

—Uma semana atrás eu fui soterrada por escombros de uma base secreta.

—Imagino que tenha ido ao hospital.

—Uma passada bem rápida, na verdade. Era arriscado.

—Por causa da base secreta.

—Basicamente. Não parece me achar maluca.

—Eu já vi muita coisa.

—Como companheira do Doutor. -Ergueu uma sobrancelha. -Eu pesquisei. Pesquisei muito.

—Você veio do futuro pra me encontrar. Por quê?-Deixou o pincel de lado e sentou numa poltrona. -O Doutor mandou você?

—Não. Eu vim por que preciso de ajuda. Meu país, Stichford, foi tomado por um ditador alienígena que se mostrou muito difícil de ser derrotado. Havia pessoas resistindo, lutando contra ele... Mas todos foram mortos. Sou a última.

—E quer que eu te ajude a derrotar esse ditador por que...?

—Por que você já lutou contra ele, Martha Jones. Ou devia chamá-la de A Mulher que Andou pela Terra?-Ela ficou em silêncio por alguns segundos, surpresa pela primeira vez.

—É o Mestre. É ele que dominou seu país.

—E que a cada dia vem tomando mais cidades e quem sabe o que vem depois? Dizem que ele já dominou a Terra antes. Eu não me espantaria.

—Mas e o Doutor?

—Eu não sei. Não está fácil encontrá-lo. Ele não aparece há muitos anos. Eu saí de 3046 atrás de pessoas capazes de derrotar o Mestre. Você é uma delas. Eu acredito que possa ajudar.

—Quem mais está na sua lista?

—Eu prefiro não dizer até encontrar essas pessoas. -Ficou de pé.

—Vou arrumar minhas coisas e deixar um bilhete. -Se afastou, começando a subir as escadas, então parou. -Como é 3046?

***

Westminster, Inglaterra. 1501.

1.540 anos para a Guerra de Stichford.

—Quem viemos encontrar?-Martha perguntou, andando ao meu lado pelos corredores da corte.

—Uma dama real.

—E uma dama real pode nos ajudar a derrotar o Mestre?

—Eu acredito que sim. Essa dama real um dia foi uma mulher do século 21.

—E o que ela faz aqui?

—Proteção à Testemunha Temporal. Deixaram todos pensar que tinha morrido, então foi mandada pra cá, onde dificilmente seria encontrada ou reconhecida. Com tecnologia você pode encontrar qualquer um. Era o que eu fazia antes da guerra.

—Parece que ainda é boa em encontrar pessoas.

—Ainda bem. -Paramos de andar. -Acho que o quarto é esse. -Bati na porta. Sem resposta. -Olá? Lady Lucille?

—Talvez ela não esteja.

—Podemos esperar um pouco. Ou entrar, ainda sei arrombar portas...

—Acredito que não será necessário. -Me virei na direção da voz. A mulher parecia um pouco ansiosa, os cabelos loiros bem presos com uma tiara delicada.

—Lady Lucille.

—Não, espera. -Martha pediu, dando um passo pra frente. -Essa é a Lucy Saxon!

—Bingo. Mas acho que ela não gosta mais desse nome.

—Senhorita Jones. -Lucy murmurou. Olhou pra mim. -Você eu não conheço.

—Stefflon Rogers. Precisamos conversar.

—Eu... Preciso ajudar a princesa Katherine a...

—Eu acho que é melhor vir com a gente. A princesa pode esperar. -Olhou de mim para Martha. -Acredito que esse seja seu quarto?-Apontei. Ela assentiu e abriu a porta.

—Entrem, por favor.

O quarto era enorme, e muito bem arrumado, para os padrões da época. Lucy nos indicou sofás perto da lareira e se sentou, as mãos nos colo, parecendo uma perfeita dama de 1500.

—Achei que ninguém soubesse que estou aqui.

—A UNIT é boa com segredos, mas eu sou mais. Desculpe se a assustamos, mas viemos pedir a sua ajuda.

—Ela veio. -Martha disse. -Ouvi dizer que você tinha morrido.

—Bem, eu sou de 3046. Meu país foi dominado por alguém que você conhece muito bem e que não é fácil tirar do poder.

—Não sei como posso ajudar. -Disse.

—Eu acredito que possa. Você o matou uma vez. Vim te pedir ajuda para derrotar o Mestre.

—O que?-Ficou de pé, agitada. -E-Eu... Vocês precisam ir...

—Senhora Saxon...

—Esse não é mais o meu nome. Eu vim pra cá para não ser achada por ninguém, nem por ele...

—Eu não queria deixá-la nervosa.

—Por favor, saiam ou chamarei ou guardas. -Me levantei.

—Como quiser.

—Mas... -Martha começou.

—Você ouviu a Lady Lucille. Temos que ir. -Comecei a sair, com Martha confusa atrás de mim. -Aliás, milady, o estilo renascentista lhe cai bem. -Sai do quarto

—Você achou que ela aceitaria?-Martha perguntou.

—Você achou?

—Não sei. Quando a vi pela última vez ela estava em choque. Por que ela? Lucy Saxon pode ter atirado no Mestre, mas ela é... Sabe... As garotas ricas e não muito espertas.

—Mulheres com vingança em mente se tornam armas letais. É uma motivação e tanto.

—Isso te faz uma arma letal?

—Com toda certeza. Ele prendeu meus pais e tentou me matar.

—Ah, eu sei como é. A história do meu encontro com o Mestre. Bem, parece que temos uma pessoa a menos na equipe.

—Podemos pensar em alguém para...

—Esperem!-Martha e eu paramos de andar, trocando um olhar confuso, então nos viramos. Lucy parou de correr, soltando as pontas do vestido e respirando fundo.

—Algum problema, Lady Lucille?

—Lucy. -Corrigiu. -Me chame de Lucy. -Ajeitou a postura. -Eu vou com vocês. Vamos derrotar o Mestre.

***

Eldamar, Via Láctea. 2043.

998 anos para a Guerra de Stichford.

—A gente devia arrumar outras roupas pra ela. -Martha comentou.

—Ela tá ótima nas dela.

—Esses vestidos são horríveis de usar. E estamos andando bastante. Aposto que ela mal consegue respirar.

—Empresta alguma coisa pra ela.

—Tá brincando? Como se algo meu fosse caber na super modelo ali. Acho que ela caiu de novo. -Parei de andar.

—Tudo bem aí, Lucy?

—Tudo ótimo. Eu só tropecei. -Me aproximei, estendendo a mão. A mulher hesitou, mas aceitou a ajuda. -Obrigada.

—Deve ter uma barraca de roupas em algum lugar por aqui.

—Eu estou bem.

—Essa coisa tá engatando e te derrubando o tempo todo.

—Estou bem. Nós podemos continuar.

—Okay. -Voltei a andar. -Ela é teimosa.

—Orgulhosa. -Martha comentou.

—Vocês não vão se desentender, vão? O lance dela ter sido esposa do Mestre e todo o... Problema lá com...

—Por mim está tudo bem. Acho que uns tempos em 1500 moldaram o caráter dela. Talvez viver numa época tão horrível tenha sido castigo suficiente.

—Ela era tão ruim assim?

—Podia ter sido melhor. Quem estamos procurando, afinal?-Parei de andar. Lucy esbarrou nas minhas costas.

—Tudo bem?

—Ótimo. -Respondeu.

—Certo. Bem... Se meus cálculos estão corretos, ela deve estar por aqui...

—Ela?-Martha perguntou. -Outra mulher? Estamos montando o A-Force?

—Eu devia saber o que é isso? Ah. Ali. Acho que vi. Martha Jones, você está prestes a ter uma surpresa e tanto.

Voltei a andar, tendo a impressão de ter ouvido Lucy suspirar. As roupas de 1500 não estavam a ajudando na caminhada. Eu tinha que lembrar de dar uma parada pra descansar, antes que ela desmaiasse ou algo assim.

—É a TARDIS. -Martha comentou, apontando. -Parece diferente, mas é a TARDIS. Por que disse que estamos atrás de uma mulher?

—Por que estamos. -Bati nas portas azuis, que abriram repentinamente. -Meninas, vocês se lembram do Doutor?

—Não é possível.

—Olá. Sou Stefflon Rogers. É um prazer conhecê-la, Doutora.

***

—Então você virou uma mulher. -Martha disse, surpresa. -Eu não sabia que isso podia acontecer.

—Tudo bem, muitos não sabiam. -A loira sorriu.

—Você vai ajudar?

—Com toda certeza. -Olhei em volta da lanchonete. -Algum problema? Parece preocupada.

—Força do hábito. -Respondi. -Será que a Lucy se perdeu?

—A TARDIS está aqui do lado. -Dei de ombros. -Estou surpresa por ela ter aceitado vir com vocês.

—Eu também. Ela não pareceu feliz em nos ver e não gostou quando ouviu sobre o ex marido.

—A história de Lucy com o Mestre começou como um conto de fadas insano e terminou como um filme de horror. É muito complicado. Mas ter aceitado vir significa que ela quer lidar com isso de uma vez por todas. Só me preocupo como.

—Vamos deixá-la longe de armas. -Martha garantiu.

—Acho que devíamos ir. -Avisei, ficando de pé. Tive que me apoiar na mesa quando uma onda de dor estourou na lateral do meu corpo.

—Você está bem?

—Uhum. Só preciso de analgésicos.

—Você acabou de tomar um.

—Tenho tomado de hora em hora.

—Ah, meu Deus. Não é assim que funciona. Doutora, me ajuda.

—Eu estou bem. -Martha segurou meu braço, me apoiando. A Doutora fez o mesmo do outro lado.

—Imagino que a TARDIS tenha uma enfermaria.

—Imaginou direitinho. -Disse. -É melhor levarmos ela pra lá.

—Eu estou bem. -Murmurei, mas as duas ignoraram, me puxando em direção à caixa azul.

Lucy estava na sala de controle quando entramos e tinha trocado de roupa.

—O que aconteceu?-Perguntou. -Ela está bem?

—Vai ficar. -Martha respondeu.

Pouco depois eu estava deitada em uma maca, com Jones e a Doutora andando de lá pra cá e falando sem parar. Tentei não focar nas duas, minha cabeça estava explodindo.

—Eu só preciso de analgésicos. -Resmunguei.

—Acho que eles não serão mais suficientes. -A Doutora avisou, se aproximando. -Você está sangrando.

—O que?

—Com licença. -Ergueu a minha blusa com cuidado.

—Quem deu esses pontos em você?-Martha perguntou. -Estão horríveis. Alguns abriram. Vou ter que refazer.

—Não, não. -Neguei, tentando levantar. -Nós não temos tempo. Tem mais um nome na lista. Precisamos ir.

—Não podemos ir com você assim.

—Quanto mais tempo demorarmos...

—Estamos numa máquina do tempo. -Lucy disse, se aproximando e me fazendo deitar de novo. -Lembra? Assim que estiver melhor, podemos partir, encontrar o último nome da lista e ir atrás do Mestre. Mas não poderemos fazer isso se não puder estar com a gente.

Suspirei, vencida. A Doutora apareceu com um tipo de máscara que soltava uma leve névoa.

 

—Pode respirar aqui e contar regressivamente a partir de dez?

—O que?

—Apenas respire isso. -Martha instruiu. -É anestesia.

—Mas por que eu...

—Respire.

—Tá bem. -A Doutora colocou a máscara no meu rosto.

De repente, tudo começou a apagar aos poucos.

Bem... O treco de névoa funcionava, afinal.

***

Quando eu acordei, o “esquadrão médico” tinha se dissipado, deixando apenas Lucy e eu na enfermaria.

—Ah, você acordou. Bem vinda de volta.

—Por quanto tempo me apagaram?-Sentei na maca, esfregando os olhos.

—Umas duas horas, eu acho. Sua blusa estava suja de sangue, e Martha acabou cortando ela, mas peguei outra pra você.

—Obrigada. -Franzi a testa. -Sério? Me vestiram com uma camisola hospitalar?

—Elas se empolgaram. -Revirei os olhos.

—Perceptível.

Saltei da maca, puxando a camisola, a tirando rapidamente. Lucy virou de costas, cruzando os braços.

—Você tem muitas cicatrizes. -Comecei a me vestir. -A medicina do futuro não deu um fim nelas?

—Se puder pagar, consegue qualquer coisa. Mas alguns de nós nasceram com pouca condição financeira. Tanto faz, gosto das minhas cicatrizes.

—Sério?

—Um corpo sem cicatrizes é como uma tela em branco. Elas têm história.

—Pensamento interessante. Os soldados da corte inglesa viviam se gabando por suas cicatrizes de batalhas sangrentas.

—Sensatos. -Terminei de me vestir. -Okay. Pronta para continuar. -Virou pra mim.

—Ele realmente está lá? Har... O Mestre?

—Infelizmente sim. Tem certeza de que quer fazer isso?

—Eu achei que o tinha parado antes, duas vezes. Quero ter certeza de que vai ser pra valer dessa vez.

—É assim que se fala. Vamos encontrar as outras... Temos mais alguém pra buscar.

***

Holanda. 2023.

1.018 anos para a Guerra de Stichford.

—Você devia ter dito antes. -A Doutora sussurrou, ao meu lado. -Isso vai ser um pouco... Complicado.

—E só nos tomaria tempo. Até todas concordarem com essa decisão, estaríamos muito, muito atrasadas. É melhor assim.

—Esteja preparada para lidar com os problemas, por que eles virão.

—Ah, eu sei.

Nos aproximamos da mesa. Uma mulher estava sentada, uma xícara branca em mãos. Lentamente, ela olhou para o nosso grupo, sem muito interessante, então sorriu.

—Olhem o que o Universo chutou na minha direção. -Comentou, largando a xícara na mesa e ficando de pé. -Você também é mulher agora? A revolução matriarcal tomou Gallifrey?-Riu.

—É bom te ver também, Missy.

—É claro que é. Quem são suas amigas?-Olhou pra mim. -Não conheço você.

—Tem certeza?-Perguntei.

—Não sei, vocês humanos parecem todos iguais. -Apontou para Martha. -Você parece um pouco familiar. Eu já tentei te matar?

—Poderia dizer que sim. -A Doutora murmurou. Martha parecia confusa.

—E você... -Parou, pega de surpresa, e se recompôs depressa. -Mas que surpreendente. Está viva. E bem aqui... Viva. Muito viva. -Olhou para a Doutora. -Ela está viva.

—Eu sei.

—O que foi que você fez?

—Desculpe, eu a conheço?-Lucy perguntou. Missy a encarou.

—É claro que sim, querida. Fomos casadas.

—O que? Não... Espera, não pode ser... -Recuou.

—Olá, Lucy. O que achou do rosto novo do seu marido?


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Notas finais do capítulo

Se alguém quer saber: Martha casou com o Mickey.
Lucy Cole Saxon é uma personagem que me interessa, sério. Eu quis trazê-la e deixá-la ter sua segunda chance. A coloquei escondida na Corte Inglesa por causa da Série The Spanish Princess, onde a atriz interpreta uma rainha.
Quem aí reconheceu Eldamar?
E aí, o que acontece agora?
Até a próxima segundaaaaa!



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