Renascença escrita por Nunuzes


Capítulo 7
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

Eu tava na dúvida se postava esse cap assim ou em duas partes aaa tá indo inteiro mesmo, até porque depois de dias ces tão merecendo neh, sepa depois eu mudo mas enfim...
A cena que eu mais tava ansiosa pra escrever (e que foi o pontapé pra que eu escrevesse essa fic) está aí nesse belíssimo capítulo que começa estranho porque eu tava com bloqueio e não sei HSIHIAUSHAIS
Quero ver quem adivinha a cena :v
Boa leitura!



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— Senhorita? Está tudo bem?

Eloise de súbito voltou à realidade. O vampiro aristocrata havia entrado na biblioteca sem que ela percebesse. Ele a olhava com preocupação ao perceber que a garota encarava o vazio com os olhos arregalados.

— O quê? Ah, oi, Vladimir. Desculpe, eu estava distraída.

— Você me preocupou, por um momento. Em que pensava com tanta concentração?

— Ah, eu... – Será se podia conversar com Vladimir a respeito? – Eu só estava pensando... No que vestir para a festa.

— Entendo... Sei que as mulheres geralmente se importam bastante com isso.

— Pois é... Bom, eu vou te deixar tranquilo e vou estudar essas partituras. Se o som o incomodar, me avise, por favor. – Eloise saiu apressada do cômodo sem esperar uma resposta.  Só queria ficar sozinha e pensar em outras coisas.

O grande salão se encontrava vazio, para seu alívio. As partituras deixadas na noite anterior continuavam ali. Ela as recolheu, guardou e sentou-se. Alongou as mãos e decidiu tocar uma música lenta que sabia de cabeça para aquecer os dedos.

As notas suaves de “The Swan” começaram a ecoar pelo ambiente, limpando a mente de Eloise e lhe trazendo a paz que essa música lhe proporcionava. Concentrada, fechou os olhos em alguns momentos e teve a impressão de conseguir sentir a vibração de cada corda martelada.

Caminhando a passos lentos em sua direção, Raphael apreciava a delicadeza com que o seu cálice interpretava a música. Ao soar das últimas notas, ele decidiu se pronunciar.

— Saint-Saëns, ótima escolha.

Raphael...”

Claro, o seu vampiro estava ali, assim como eles haviam combinado. Conseguiu tirar o homem da mente por um instante para logo em seguida para o ver materializado ali na sua frente

— Obrigada...

— Posso me juntar a você?

— Claro. – Com o coração acelerado e sem saber como reagir, a garota arrastou o corpo para o lado esquerdo do banco. O vampiro prontamente sentou-se ao lado dela.

“Por que eu estou tão nervosa?”

— Você está bem? Sua respiração está ficando ofegante. – Droga, por que ele percebia tudo?

— Estou um pouco nervosa, não é nada de mais.

— Não precisa ficar tímida ao tocar na minha frente. Estamos apenas entre músicos. – Eloise respirou fundo lentamente tentando normalizar seu coração.

— Então... Você gostaria de contar mais sobre a sua história na música?

— Ela acabou há muito tempo atrás.  – Eloise já percebera o quanto Raphael era fechado sobre o assunto e não quis insistir. Mas sem que percebesse seu corpo estava se movendo. Ela pegou na mão direita do rapaz e a fez tocar as teclas, sob a sua própria mão.

— A música... Se sente.

O vampiro estava com os lábios entreabertos de surpresa. A mão quente e as palavras de Eloise lhe tocaram de forma profunda. Ele tateou as teclas, procurando senti-las melhor.

— A música era tudo pra mim. Mas ao perder a visão eu fiquei tão ocupado me revoltando... Que o instrumento também se foi. Nunca mais encostei em um cravo, nem sei se ainda existem.

— A sua paixão existe, Raphael. – Nesse instante, Eloise pressionou os dedos do vampiro com os seus, fazendo-o tocar as primeiras novas de “The Swan”.

Ele ficou mudo, com uma emoção que não poderia explicar. Sentia nostalgia apesar de estar tocando em um instrumento novo. Sabia que não era a mesma coisa que em seus tempos de glória, sabia que não era ele quem guiava a melodia. Estava ali apenas de figurante. Mas mesmo assim ao acionar as teclas de um instrumento outra vez...

Raphael tinha vontade de agradecer Eloise por lhe propor esse sentimento, mas não tinha ideia de quais palavras usar. Aproximou seu corpo do dela, tombando a cabeça e fazendo seus ombros se tocarem. E nesse tímido abraço eles continuaram ali em silêncio.

 

—--xxx---

 

Os dias seguintes passaram de forma similar. Todas as noites vampiro e cálice se encontravam e dividiam o banco do piano. Perdendo o medo aos poucos, Raphael deixou-se ser ensinado pela garota, que guiava seus dedos pelas notas, ensinando-lhe acordes e ritmos de algumas composições mais simples.

Estavam felizes. Gostavam da companhia um do outro. Eloise reacendeu a chama dentro do vampiro, que o fazia ansiar pela música. Até conseguiram tocar alguns trechos juntos.

— Essa é uma música moderna, se chama Fly, do compositor Ludovico Einaudi. Espero que goste.

— Tenho certeza que irei. Você tem muito bom gosto.

— Você vai usar a mão esquerda. Eu vou fazer essa sequência por oito tempos, escuta... – Eloise executou as primeiras notas da música. – No quinto você vai tocar essas duas juntas. – Ela pegou na mão do homem e posicionou nas teclas que ele deveria tocar. – Vamos tentar?

— Vamos, professora!

Ao iniciarem a execução, duas figuras dançantes adentraram o salão.

— Ah, meu Deus... – A garota tirou a mão do teclado para levar até os olhos, em sinal de vergonha alheia.

— O que o Beliath e o Ethan estão fazendo? – Barulhos de passos e pés deslizando pelo assoalho davam-lhe uma ideia do que poderia estar acontecendo.

— Estão dançando balé ridiculamente... E o Beliath está usando um vestido meu.

— Como é? Hahaha, que pena que sou cego.

— Sou uma bela moça aprisionada no corpo de um cisne. – Beliath falou forçando a voz para que ficasse mais fina enquanto balançava os braços como um movimento de bater de asas.

— É uma bicha presa no corpo de um viado.

— Oh, meu cavaleiro branco, me livre dessa maldição!

— O que caralhas vocês estão fazendo? Beliath, você vai alargar o meu vestido.

— Oh, não! É o cisne negro. Se escondam! – Ele e Ethan correram nas pontas dos pés até a parte de trás da mesa do salão. Em seguida a silhueta de Ivan apareceu na porta. Seus olhos percorreram Beliath de cima a baixo.

— Ok... – Virou-se e saiu, deixando a capa preta esvoaçar.

— Vamos, meu príncipe. Me livre de meu destino cruel. – Beliath falou, pulando no colo do mais novo.

— Caralho, Beliath. Você é pesado. Você não era um cisne? Por que não saiu voando? – Ethan carregou o vampiro de vestido para fora do salão, deixando um Raphael rindo e Eloise com uma expressão decepcionada.

— Parece que hoje as coisas estão agitadas por aqui.

— Nem me fale... Depois dessa vou até dormir.

— Vai ir mais cedo hoje?

— Sim... Vou precisar acordar durante o dia.

— Que pena... Tenha uma boa noite, minha professora. Até amanhã.

 

—--xxx---

 

“É uma ideia meio estranha, mas espero que o ajude de alguma forma...”.

Eloise tentava imaginar a reação de seu vampiro ao receber o que ela preparava. Com os dedos sujos de cola, a garota agrupava barbantes finos em folhas de papel, formando pentagramas para posteriormente transcrever uma partitura. Pensou que assim, talvez, Raphael pudesse ter mais independência.

Com uma pistola de cola quente, ela desenhava as notas sobre os barbantes. Optou por uma música fácil e alegre, também a primeira que aprendeu a tocar: Für Elise. Não imaginou que essa tarefa seria tão trabalhosa... Certamente iria anoitecer antes que ela finalizasse a primeira folha. O som da porta do hall se abrindo tirou sua concentração.

Delicadamente, ela se aproximou da porta da cozinha, se escondendo para ver o que poderia estar acontecendo ali. Seu coração se acalmou quando ela identificou a silhueta a do vampiro mais jovem que tirava seus sapatos.

— Ivan! Você ainda vai me matar de susto. – O loiro se desequilibrou e quase caiu quando a garota surgiu do nada na sua frente.

— Eu digo o mesmo! Por que você está aqui?

— Que eu saiba o vampiro entre nós é você.

— Tá, você me pegou. Eu devia estar dormindo. Perguntei porque faz um tempo que você tem acordado só à noite.

— É verdade. O dia tem sido menos atrativo. Pelo menos à noite eu tenho companhias.

— Você sente falta dos seus hábitos de... Antes?

Eloise entendeu que ele se referia ao seu acidente. A pergunta a fez pensar por um breve instante.

— Falta da vida que eu levava?... – Suspirou antes de continuar. – Não era ruim, mas era... Medíocre. Curiosamente eu estou gostando da minha vida agora.

— Você se adaptou melhor que eu... Mas entendo seu ponto. É diferente quando somos independentes. – Eloise ficou sentida. Sabia que não era fácil para Ivan. Já era a segunda vez que ela o via saindo durante o dia e, depois do que ele lhe falou, ela concluiu que o garoto ainda estava apegado à sua vida humana. Sentia pena por ele.

— Tem razão...

— Bom, eu vou te deixar em paz agora. Ainda preciso preparar as músicas para a festa de amanhã.

— Tudo bem. Bom trabalho, Ivan. – O garoto pegou os sapatos e subiu os degraus rapidamente. Eloise continuou sua tarefa artesanal até que a noite caísse. Antes que os vampiros começassem a perambular pela casa ela jantou e subiu para escovar os dentes e se perfumar. Logo o seu novo aluno a estaria esperando.

Enquanto estudava sozinha, Raphael apareceu em silêncio para acompanhar a garota ao piano, como de costume. Ela tocava lentamente as sequências de notas, indício de que estava aprendendo uma música nova.

— Essa valsa você está praticando para tocar amanhã? – Prontamente a garota levantou os olhos e encontrou o seu vampiro indo ao seu encontro.

— Nem pensar! Além de morrer de vergonha eu não quero trabalhar amanhã, quero curtir a festa.

— Nem se o cachê valer a pena?

— Nem se o cachê valer a pena! Além do mais, duvido que o Beliath ofereça algum cachê. – Após uma risada mútua o homem sentou-se ao lado esquerdo de Eloise.

— Então, professora, o que preparou para hoje? – A garota ficou tensa por um momento, ainda em dúvida se deveria apresentar ou não as partituras especiais.

— Vamos começar com os exercícios... Quero que você foque em localizar, sozinho, as notas no teclado.

Naquela noite, Raphael sentiu que poderia avançar. Estava fazendo isso com o principal objetivo de passar mais tempo com Eloise, mas ela estava mesmo disposta a lhe ensinar. E ele percebeu que podia aprender.

— O cravo tinha menos teclas... Não crie muita expectativa, sim? – Eloise havia proposto que o vampiro encontrasse sozinho todas as notas “dó” do teclado. Sentindo as teclas pretas com as pontas dos dedos ele começou a tocar as teclas corretamente.

— Você conseguiu, Rapha! Com o tempo vai saber localizar melhor o espaço e vai encontra-las muito mais rápido!

— Consegui graças à professora que tenho. – Raphael virou o rosto na direção da garota, se aproximando tanto que ela podia sentir o calor de sua respiração na pele.

— É... Bom, eu... Obrigada. Eu acredito na sua independência. Claro, terá que estudar muito, mas... Fiz algo que... Talvez possa ajudar. – Em um momento de coragem, Eloise levantou-se para alcançar as folhas. Raphael, curioso, ouvia atentamente os sons que ela fazia. – Eu sei que não é como braile... Enfim. Me dê a sua mão.

A garota posicionou os dedos do homem sobre o papel para que ele sentisse o relevo das notas.

— Mas isso é... – Raphael tateava toda a folha, abismado com o que sentia. Eloise havia se esforçado a esse ponto por ele?

— Eu pensei que talvez uma partitura em relevo pudesse te ajudar... Eu entendo se – Sua fala foi cortada por um abraço caloroso.

— Obrigado. É o gesto mais bonito que já fizeram por mim. – Ela sorriu e o abraçou de volta.

— Eu só quero te ver feliz.

— E eu quero te ver. – Eloise ficou sem ação. Por um lado ficou feliz em saber que, de todas as coisas belas no mundo que ele poderia ver, queria ver ela. Por outro lado, ficou triste em saber que ele não veria nada. – Então, se você me permitir... – Raphael havia desfeito o abraço e passado uma das pernas para o outro lado do banco, ficando de frente com Eloise.

— O que você quer fazer? – Questionou, confusa, e imitando o gesto do rapaz.

— Ver você. Sabe... Com as mãos. – Claro, por que não pensou nisso antes? Era verdade que, mesmo depois de tantas semanas ligados e convivendo juntos, Raphael ainda não sabia como Eloise era.

— Então faça. – O vampiro levantou uma das mãos, levando-a com delicadeza na direção da garota, até tocar em uma mecha do seu cabelo que cobria o ombro. Ele enrolou a mecha entre os dedos e deslizou até a ponta, sentindo um cacho no final.

“Que fofo...”

— Qual a cor dos seus cabelos?

— Castanho escuro... – Agora ele elevou as duas mãos, até estas tocarem no topo da cabeça de Eloise. Deslizou-as novamente até os cachos da garota. Tocou-lhe as bochechas, desenhando o maxilar e levando os polegares até o queixo dela. Suas mãos subiram até a testa, tocaram as sobrancelhas, as pálpebras e os cantos dos olhos de seu cálice.

— E esses belos olhos, que cor eles têm?

— São cinza claro. – Eloise sentia leves cócegas quando os dedos dele passavam por suas bochechas. Não pode se impedir de sorrir em alguns momentos. Os polegares do vampiro contornaram seu nariz e enfim pousaram em seus lábios.

Ao sentir a boca úmida de Eloise, Raphael posicionou sua outra mão na nuca da garota. Sentiu sua pele arrepiar com o toque que dera. Seus rostos estavam terrivelmente próximos. Eloise virou a cabeça levemente para o lado e enfim selaram seus lábios.

Um se lançou contra o outro, buscando ainda mais contato. Raphael enlaçou a cintura de Eloise, que agarrou seus ombros com avidez. Entreabriram os lábios, acariciando-se com a língua e se separando apenas para tomar ar.

Raphael beijou a bochecha da garota, trilhando um caminho até a curva de seu pescoço. Ele sentia cada folículo daquela pele macia arrepiar sob sua língua. Beijou aquela área enquanto Eloise se agarrava em seus cabelos.

Logo veio a mordida. Aquela prazerosa mordida que fazia o sangue de Eloise borbulhar. Não entendia como esse ato podia ser tão prazeroso, mas não se importava mais. Ela estava em êxtase, revirava os olhos enquanto Raphael lambia sua pele e se alimentava de seu sangue.

Ansiavam tanto um pelo outro que somente pararam de se beijar quando o sol ameaçava nascer. No momento em que se separaram, nenhum dos dois sabia o que dizer.

— Eloise, eu... Preciso ir. O sol já vai nascer, e- As bochechas coradas e a voz envergonhada do vampiro lhe davam um ar doce.

— Claro. Vá logo. Boa noite. – Raphael deu um último beijo na mão da menina.

— Durma bem.


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Notas finais do capítulo

Eaí, que cena é? Ganha trecho antecipado do próximo capítulo quem acertar aí nos comentários XD



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