Renascença escrita por Nunuzes


Capítulo 8
Capítulo VIII




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 “Meu Deus, o que foi isso? O que foi que... Aaaaa!”

Deitada em sua cama, com o rosto sorridente amassando o travesseiro, Eloise tinha vontade de gritar. Sentia-se como uma adolescente apaixonada de um filme clichê norte-americano. Havia trocado beijos e carícias com Raphael, aquele vampiro com quem estava tão ligada, com quem passava tanto tempo.

Revirava-se nos lençóis, recordando as cenas que acabara de viver. Seu corpo queimava de desejo por aquele homem. Pensou em como seria dali em diante.

“Como vai ser agora? Vamos continuar, vamos esquecer?...”.

Essas dúvidas deixavam-na apreensiva. Sua maior vontade era encontra-lo para ter logo suas respostas, mas sabia que iria pular no pescoço do outro assim que o visse.

Eloise respirou fundo algumas vezes, concentrando-se para pegar no sono. Naquela noite aconteceria a festa que ela tanto desejava ir. Precisava dormir para estar em boa forma e após contar alguns carneirinhos finalmente adormeceu.

Em um outro quarto daquela grandiosa mansão, Raphael pensou, antes de dormir, se aquele tipo de relação entre vampiro e cálice não seria errado, mas não gastou muito tempo pensando nisso. Fechou os olhos se concentrando no sabor que ainda sentia do beijo da garota e logo adormeceu, sonhando que a encontrava tocando piano em meio a um jardim ensolarado. No sonho ele a via. Observou seu belo sorriso, seus olhos quase brancos, sua feição concentrada... Acordou ainda mais encantado.

 

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Eloise, ainda sem se trocar, saiu do quarto e andou de fininho pelo corredor, ouvindo as conversas paralelas. Espiou através do mezanino e pôde constatar a movimentação no hall. Aaron preparava uma mesa enquanto Beliath e Ethan caminhavam freneticamente entre a cozinha e o grande salão, levanto aperitivos que cheiravam por toda a mansão.

— Mesa de drinks na entrada, então? – Aaron, que no momento da pergunta estava sozinho no hall, olhou de um lado ao outro procurando de onde vinha aquela voz.

— Mas cadê você?

— Aqui em cima. – Eloise acenou, pensando que se fosse Raphael, já a teria localizado rapidamente.

— Ah! – O rapaz olhou em sua direção. – Pois é, no fim o Beliath concordou com essa mesa. Vamos testar. E você, vai vir ao baile?

— Vou sim, daqui a pouco vou me arrumar.

— Você devia ir logo. Os convidados não demorarão a chegar e acredito que você não quer os receber de camisola.

— Haha, está certo! Até logo, Aaron.

Eloise correu até o banheiro, aonde tomou um banho breve e depilou algumas partes do corpo. Para aquela ocasião especial, decidiu vestir o conjunto de lingerie que havia ganhado de suas antigas companheiras do orfanato. Com um pente e alguns grampos, prendeu o cabelo em um coque baixo, com a franja solta e algumas mechas desfiadas para dar um ar mais despojado. Enrolou-se na toalha e foi ao quarto para terminar de se arrumar.

No espelho do quarto pôde ver seu corpo inteiro. A pele pálida contrastava com o conjunto de renda de cor escura. O cabelo preso lhe dava um ar elegante. Colocou o vestido azul marinho que nunca havia usado. Seus recortes valorizavam sua cintura e a transparência no decote deixava aparecer a ponta do bralette, dando um toque sexy na sua vestimenta.

Passou pouca maquiagem, apenas marcou o côncavo com sombra marrom e aplicou máscara nos cílios. Um hidratante labial com um leve brilho avermelhado nos lábios completou o visual, deixando Eloise belíssima e contente. Calçou os saltos simples que lhe alongavam a silhueta, colocou pequenos brincos dourados que possuía desde pequena usou o perfume de costume. Enfim estava pronta.

Ao sair do cômodo percebeu os burburinhos que vinham do térreo. Caminhou até o fim do corretor, constatando que já haviam muitas pessoas ali. Estava estática no alto da escada, claramente tímida.

— A Cinderela já pode fazer a sua entrada.

— Ethan?... Boa noite.

— Está tímida, princesa?

— Nem um pouco.

— Então por que não desceu ainda? - Droga. Não queria dar o braço a torcer para Ethan, principalmente por não terem se falado depois do que aconteceu, mas a insegurança estava claramente estampada em seu rosto. – Vem, eu te acompanho. – Ethan ofereceu o braço para Eloise.

— Até parece...

— Qual é, Eloise. Eu tô me esforçando, você podia fazer o mesmo. – Encarando o seu olhar, ela percebeu sinceridade. Abdicou seu orgulho, pegou no braço do vampiro e começaram a descer os degraus. – Viu? Não é tão difícil.

— Seria mais fácil se eu não suspeitasse que você daria em cima de mim a qualquer momento.

— Nossa, é isso que você pensa isso de mim?

— Foi isso que você fez.

— Não posso? – Ele a pegou novamente. Ethan estava certo, podia dar em cima de quem ele quisesse. Além do mais, ele não a forçou. Ela bem que estava gostando de suas insinuações. – Eu não vou tentar mais nada, pode ficar tranquila. Quero apenas manter uma amizade com você.

Eloise o encarou. Gostou de ouvir tais palavras. Não queria sustentar o climão por muito mais tempo.

— Obrigada, Ethan.

— Pelo quê? É o mínimo a se fazer quando uma garota não quer. Eu sou safado, mas não sou escroto a esse ponto. – Os dois riram com seu último comentário e enfim desceram o último degrau.

— Você está se achando. Eu agradeci por ter descido comigo! Até logo. – Eloise deu um breve abraço no vampiro e logo sumiu na multidão, deixando Ethan observar seu rebolado enquanto caminhava elegantemente. O pescoço exposto a deixava ainda mais atraente.

— Ethan, tá escorrendo aqui ó. – Disse Beliath, apontando para o canto da boca do amigo. O coitado estava caidinho pela humana. Pena que ela havia escolhido a outro.

Eloise estava encantada em ver sua mansão cheia de gente animada, conversando e se divertindo no antigo salão. Aproximou-se da mesa de quitutes e provou alguns pratos preparados por Beliath. Ele realmente cozinhava bem e isso a impressionava.

— Uau, você está linda.

— Aaron! – Eloise virou-se na direção da voz que a elogiou e encontrou o ruivo com as mãos nos bolsos. – Obrigada...

— Você parece tristinha aí sozinha. Vim saber se gostaria de dançar. – Ele estendeu a mão para a garota. Com um sorriso Eloise aceitou o convite e pegou na mão do homem, que parecia ter lido seus pensamentos. Foram até a área reservada para danças. Uma música animada ressoava pelo ambiente. – Já dançou salsa alguma vez?

— Não que eu me lembre, haha. Tenha paciência comigo.

— Tudo bem, tente me seguir. – De frente a ela, Aaron começou a fazer movimentos combinados com as pernas e os braços. A garota começou a imitar, soltando o corpo aos poucos. Logo ele se aproximou, colocando uma mão nas costas de Eloise e segurando a mão direita dela. Começaram com movimentos mais lentos, porém animados. – Ei, ei, olhe pra mim. Não olhe para baixo.

— Eu vou acabar pisando nos seus pés.

— Não tem problema, o importante é você se deixar ser conduzida. – Com isso, o rapaz a rodopiou com agilidade, arrancando uma risada da garota.

— Socorro, haha!

— Viu? É só não pensar. Se deixe levar.

Aaron guiou Eloise pelo salão, apostando cada vez mais em passos mais complexos. Em alguns momentos ousou levanta-la pela cintura. A garota sorria como nunca, entregue àquela experiência tão divertida. Ao final da terceira música a jovem já respirava com dificuldade.

— Não aguento mais, Aaron!

— Tudo bem, vá descansar. Parece que mais alguém vai querer dançar com você daqui a pouco. – Ele acenou com a cabeça em direção ao portal do salão, para onde Eloise olhou imediatamente, vendo a figura de seu vampiro adentrar o cômodo.

Ele estava diferente, vestido com um traje social moderno, inteiramente preto. A tradicional faixa de tecido pousava em seus olhos. Os punhos de sua camisa estavam levantados até o cotovelo e o último botão aberto, dando um toque casual à vestimenta. Eloise sorriu ao vê-lo tão encantador.

— Obrigada pela dança, Aaron.

Eloise não sabia bem como chegar em Raphael, mas caminhou em sua direção. O vampiro percebeu sua presença e também foi em direção à garota.

— Boa noite. – Disse Raphael, em frente a seu cálice.

— Boa noite, Raphael...

— Posso lhe oferecer um copo d’água? Estou ouvindo sua respiração ofegante. – Ofereceu com um sorriso. Eloise já estava se acostumando com o jeito do homem de perceber tudo à sua volta. Ela aceitou e foram juntos até uma mesa com bebidas.

— Você... Está muito bonito, Raphael. Essas roupas combinaram contigo.

— Oh, obrigado. Às vezes faço esse esforço para parecer... Jovem. – Ela riu de seu comentário e levou o copo até os lábios. – E você certamente está deslumbrante.

— Não tem vontade de... Ver como estou? – Perguntou em tom de desafio. A proposta inocente escondia a vontade que Eloise tinha de sentir as mãos do homem percorrerem seu corpo.

— Adoraria. Mas antes, que tal aproveitar essa música?

O estilo de dança havia mudado no salão. Beliath colocou para tocar a valsa número dois de Shostakovich, conforme Raphael solicitara minutos antes. Com a mão estendida, ele esperava a resposta da moça, que sorriu e aceitou seu pedido, voltando para a pista de dança.

Seus corpos estavam próximos, Raphael segurava a cintura de Eloise com firmeza a conduzindo pelo salão.

— Você parece ter experiência com esse estilo.

— Depois de tantos séculos acabei aprendendo. – Com um movimento rápido, Raphael largou a cintura da garota e a fez rodopiar, segurando-a apenas pela mão. Ao se juntarem novamente acabaram aproximando seus corpos ainda mais. Eloise não desprendia o olhar de seu vampiro, admirando a feição concentrada e o sorriso habitual que ele mantinha.

Uma música lenta começou em seguida. Eloise repousou as duas mãos nos ombros do rapaz e então dançaram lentamente, já escondidos pela pouca luz do canto do salão. Raphael tocou o rosto da garota com a palma da mão em um gesto carinhoso que a fez fechar os olhos. Sua mão então desceu até o pescoço, sentindo a gola redonda que o contornava. Escorregou até sentir os ombros nus de seu cálice.

— É um modelo muito elegante. – Ele continuou explorando o vestido de Eloise, passando levemente a falange do indicador pelo colo da moça, sentindo o contorno de seu seio. Encostou com a palma na cintura e fez um breve carinho com o polegar antes de descer com as pontas dos dedos até a barra da saia. – Hum... É bem curto. No meu tempo não havia isso.

A jovem riu e Raphael retornou a mão na sua cintura, tocando toda a parte de suas costas. Estavam tão colados que Eloise tinha certeza de que o vampiro podia sentir seu coração acelerar. Ela encaixou o maxilar na curva do pescoço do homem, tocando-lhe a orelha com os lábios.

— Tire sua venda... Eu também quero te ver. – Sussurrou e depositou um beijo na pele pálida do outro. Ele tremeu com o toque e a apertou ainda mais em seu corpo.

— Estou com as mãos ocupadas. Tire você. – Prontamente ela começou a desfazer o nó da faixa, sem separar um centímetro sequer daquele abraço tão caloroso. O tecido escorregou e ela virou o rosto, vendo os olhos brancos do rapaz piscarem algumas vezes.

O silêncio que se seguiu deixou Raphael desconfortável.

— Espantada? É por isso que eu não tiro a- Os lábios de Eloise o calaram antes que pudesse terminar a frase. Ela pegou seu rosto com as duas mãos e admirou por mais um breve instante aquele rosto antes de beijar-lhe novamente.

— Você é lindo, Raphael. – O coração do vampiro palpitou. Era a última coisa que esperava ouvir quando Eloise descobrisse seus olhos. Ele escondia esse defeito, pois as pessoas ficavam assustadas ou desconfortáveis, mas nunca havia visto uma reação tão...

Apaixonada.


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