Renascença escrita por Nunuzes


Capítulo 6
Capítulo VI


Notas iniciais do capítulo

Já aviso que esse capítulo tá um pouco diferentinho, não fiquem de mal comigo, plz. ;-;



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Eloise acordou quando ainda havia sol. Tinha a sensação de ter hibernado. Procurou o celular para conferir o horário e constatou que ele estava sem bateria. Ultimamente o aparelho tinha apenas essa função: mostrar as horas. Sem internet e sem sinal, não podia fazer muita coisa. Tampouco estava interessada. No momento tinha outras prioridades.

Saiu da cama e olhou pela janela, concluindo que, pela posição do sol, devia ser por volta de meio dia. Como a esse horário estaria sozinha, não se preocupou em trocar de roupa e foi procurar uma tomada pela casa, já que não havia uma em seu quarto. Deixou o aparelho carregando na cozinha e encheu uma tigela com cereais e leite. Comeu admirando o jardim a partir da janela, organizando mentalmente o que precisava fazer.

As cenas da noite anterior passeavam na sua cabeça. Estava tão intrigada com seu vampiro... Ele havia ficado triste ao lhe falar que abandonou a música após a cegueira e isso a deixava sentida. Queria saber mais, mas precisava ter cautela. Certamente ele era bem sensível ao assunto. Por fim, decidiu ir ao centro da cidade e voltar a tempo de limpar a cozinha e preparar algo decente para jantar.

Dessa vez ela foi de carro, pois a luz do dia a incomodava mais que o normal. Resolveu que a primeira loja em que iria passar seria uma ótica. Após garantir seus óculos de sol, Eloise também fez algumas compras cotidianas na farmácia e papelaria, acrescentando uma loja de sapatos ao final do passeio.

“Essa festa que irá acontecer pede um pelo par de saltos!”

Na mansão, a tarde passou rápido. Eloise tirou o excesso de sujeira e tralhas velhas da cozinha, deixando o ambiente muito mais tolerável. Quando a fome apertou, trocou a vassoura por uma panela. Não era grande cozinheira, mas sabia se virar. Precisava de comida de verdade e preparou uma macarronada com brócolis.

Ao servir o prato, a noite já havia caído. Ela puxou uma banqueta e começou a comer ali mesmo, na ilha da cozinha. Se deliciava como se estivesse em um banquete, deixando algumas gotas do molho branco sujarem seu rosto. Alguém abriu a porta da cozinha, chamando sua atenção.

— Oh, olá, doçura. – Beliath adentrou o ambiente, reparando que este estava mais limpo do que de costume. – Vejo que você já começou os preparativos para a festa.

— Como?

— Haha, a limpeza da cozinha. Certamente foi você quem começou.

— É, eu preciso usar a cozinha, então...  – Beliath pegou um guardanapo em um dos armários e ofereceu à garota.

— Aqui. Você está parecendo uma criança pequena. – Ela corou na hora, entendendo que sua boca estava suja. Pegou o guardanapo e prontamente limpou os lábios.

“Ai meu Deus... Que vergonha.”

— Obrigada... Eu não via comida há muito tempo, acabei me empolgando. – O comentário arrancou uma risada do vampiro.

— É verdade que já faz alguns dias que você chegou e até agora não havíamos feito muito por você... Mas não se preocupe, eu irei terminar a limpeza e de agora em diante deixarei alguns pratos para você na geladeira.

— Mesmo? Você sabe cozinhar?

— Sim, mesmo que não seja o tipo de alimento que aprecio... É um hobby.

— Comida humana faz mal a vocês?

— É indiferente, na verdade. Não nos é apetitoso, mas também não nos faz mal se comermos. A diferença é que tudo que entra sai, então...

— Vocês teriam que usar o banheiro com frequência.

— Exatamente! – Os dois riram, embalados nessa conversa descontraída. Eloise conheceu um lado mais amigável de Beliath e estava contente com isso. Levantou, tomando o prato vazio em mãos. – Não, senhora. Hoje a louça é comigo. Vá descansar.

— Obrigada, Beliath!

A garota correu até o banheiro para verificar se ainda havia molho em seu rosto e escovou os dentes.  Pensou em ir até a biblioteca procurar por mais partituras. Ao descer as escadas, encontrou Ethan e Aaron conversando no hall de entrada.

— Se deixar aqui as pessoas vão entrando e se servindo, é super útil.

— Você quer que os convidados se embebedem sem nem entrar na festa direito, Ethan.

— O que facilita pra gente! Mas é sério, estou falando da-

— Eloise! Boa noite.

— Da logística da coisa...

— Boa noite, rapazes. O que estão discutindo?

— Sobre a festa. O Ethan insiste em deixar um aparador com copos cheios ao lado da porta. Eu acho que os convidados poderiam pelo menos entrar, se cumprimentarem e só então começar a beber.

— Ah, Aaron, para! Desde quando o objetivo dessa festa é socializar? – O jovem vampiro estava frustrado, principalmente com a presença daquela garota ali.

— Qual é o objetivo da festa para você, Ethan? – Ela lhe dirigiu a palavra.

— Comer, ué. Ou então ser comido, como no seu caso... Ou no do Beliath.

— Ethan!

— Que foi? Estou puto com ele. E a qualquer momento ela iria descobrir que o Beliath curte levar por trás. – Eloise inicialmente estava desconfortável com o rumo da conversa, mas logo uma peça se encaixou na sua cabeça.

— Ah! Foi por isso que ontem eu te vi saindo do...

— OLHA AQUILO! – Eloise olhou para trás de si, aonde o vampiro havia apontado e logo sentiu sua presença bem próxima ao seu rosto. - Cale a boca e não comente mais nada sobre isso. Me fiz entender? – Com o tom ameaçador que o vampiro lhe dirigiu, Eloise se calou. Não por ter medo de Ethan, mas por respeito à sua privacidade. No meio dos dois, Aaron estava sem entender.

— Ethan, deixe a Eloise em paz. Venha, vamos organizar a sala. – O vampiro mais novo saiu arrastado pelo braço, lançando um olhar para Eloise que ela não soube interpretar. Sem perder mais tempo, a garota foi até a biblioteca.

 

—--xxx---

 

— Olá, senhorita.

— Oh, oi, Vladimir. Estou atrapalhando?

— Não, estou apenas selecionando alguns livros. Entre, fique à vontade.

— Obrigada. Ainda não conheci bem a biblioteca. Quando o Raphael citou as partituras eu não quis saber de mais nada.

— Eu entendo. Percebi sua paixão pela música quando tocava ontem. Me alegra saber que agora o piano será bem cuidado. – Eloise corou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. – Mas se tiver interesse em literatura, posso lhe fazer algumas recomendações.

— Ah, claro. Eu adoraria.

— Pois bem, em que gênero tem interesse?

— Estou com vontade de ler um romance bem clichê.

— Haha, tudo bem. Tenho alguns exemplares, vou procurar. – Eloise já havia se dirigido até o baú e o vasculhava com olhos atentos.

— Obrigada... Aqui tem muita coisa, tem até alguns compositores mais modernos...

— Nenhum de nós tem ligação com esse material. Devem ter pertencido aos últimos donos. Ah, aqui está. Já ouviu falar? – Vladimir levou o livro para perto dos olhos da garota, que sorriu ao ler o título.

— Eu adoro “Orgulho e Preconceito”! Já li uma vez.

— Há alguma razão em particular para desejar ler esse gênero? – O vampiro perguntou com um sorriso. Antes que pudesse pensar em uma resposta, a porta se abriu com brutalidade.

— Vladimir, estão te chamando pra resolver o negócio da janela.

— Ah, sim, já estou indo. Obrigado, Ethan. Com licença, Eloise. – Ao passo que o loiro saia da biblioteca, Ethan fechou a porta e se aproximou da garota.

— Você tem a língua bem solta, menina... Por que foi falar aquilo? Se o Aaron entender ele vai me encher o saco pra sempre.

— Escapou. Foi sem querer, eu juro. Só estava pensando no tipo de relação que você e Beliath poderiam ter- Ela foi interrompida pelo dedo do vampiro que selou seus lábios.

— Shiii... Não tem relação nenhuma. Eu prefiro pessoas mais... Femininas – Disse a última palavra arrastando o indicador pela bochecha da garota, fazendo-a se arrepiar. Eloise recuou até encostar-se à escrivaninha. – Ou será que você queria dizer que também gosta disso, hein? Ou então... Seria inexperiente? – O vampiro sussurrava de modo sedutor, perto do rosto de Eloise.

— Não é um assunto que eu queira abordar com você, Ethan.

— Ah, me diz, estamos só os dois aqui. Você pelo menos já beijou alguém?

— Claro que já. Não sou nenhuma inocente.

— Sei... Então você também não é virgem, não é?

— Isso não te diz respeito! – Eloise tentou parecer dura na resposta, mas sua voz saiu tremida. O vampiro sorriu e repousou os lábios no pescoço da jovem, que estremeceu e não fez nada para contê-lo.

— Sabe... Eu não posso te morder nem tomar seu sangue. – Interrompeu sua frase com um beijo na pele pálida. – Mas nada impede de... Fazermos outras coisas.

Aquele maldito estava a atiçando, dando-lhe vontade de se entregar mais. Enquanto Ethan beijava seu pescoço, ela sem perceber se agarrou em seus ombros. O rapaz a levantou pelas coxas, fazendo-a se sentar sobre a mesa. De olhos fechados, Eloise suspirou quando a língua quente do outro percorreu sua orelha. As mãos dele acariciavam sua pele por baixo do vestido.

Ela imaginava que aqueles toques delicados vinham de outra pessoa. Mas ao abrir os olhos e ver o cabelo branco de Ethan ela voltou a si. Não eram aqueles cabelos que ela queria ver. Não eram aqueles lábios que ela queria beijar.

— Ethan, pare. Já chega. – Ordenou, afastando o corpo do vampiro. – Você sabe que não vai rolar.

Ele se afastou, confuso, mas logo lhe dirigiu um sorriso.

— Você é inocente demais pra fazer qualquer coisa. – Eloise desceu da mesa e colocou no lugar a alça de seu vestido, que nem havia percebido quando Ethan a abaixou. – Ou será... Que tem outro motivo? – Eloise gelou. Estava gostando dos toques de Ethan e queria sentir mais daquele fogo. Por que não se deixou levar?

— Eu não te quero. É apenas isso.

— Sei... Mas se mudar de ideia – Ele se aproximou novamente e sussurrou rente aos lábios da garota. – Se o ceguinho não der conta... Você pode me procurar.

Ethan saiu do cômodo deixando Eloise paralisada. O que foi aquilo, o que havia acontecido? Como ela deixou com que Ethan se aproximasse tanto? E por que Raphael não saia da sua mente?

Eloise havia pensado nele durante todo o momento. Imaginou as suas mãos, seus lábios. Seu coração sempre acelerava perto daquele homem que a salvara. Não queria admitir a si mesma, mas até os outros já haviam percebido. Ela estava apaixonada por Raphael.


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