Renascença escrita por Nunuzes


Capítulo 5
Capítulo V




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Eloise se deliciava com um pacote de cookies enquanto, sentada na beira da cama, observava as roupas novas penduradas no armário. Depois de já ter organizado tudo, lembrou que deveria comprar também alguns sapatos e acessórios. Pensou que deveria descer logo, estava ansiosa para conversar com os outros e rever aquele que mais ocupava sua mente.

“Raphel...”

— Olá!

— Ah! Que susto... Estava distraída. – Eloise prontamente olhou para a direção daquela voz e encontrou a cabeça de Raphael enfiada na fresta da porta, com as bochechas levemente amassadas pela madeira.

— Haha, queria ter visto a sua reação. Perdoe-me pelo susto. O que está fazendo?

— Estive na cidade hoje e comprei algumas roupas novas que acabei de guardar.

— E pelo cheiro estava comendo besteiras, não? – Eloise corou. Aquele rapaz podia “ver” quase tudo...

— É... Mas também comprei comida de verdade, em breve estarei me alimentando melhor.

— Que bom... Escuta, pensei que você gostaria de conhecer a biblioteca e pensei em ser seu guia. O que acha?

— Claro! Ainda não tive tempo de conhecer tudo na mansão, na verdade. Será um prazer fazer esse tour com você. – Eles não conseguiam mais esconder a alegria de ter a companhia um do outro. Raphael queria lhe contar tantas histórias, mostrar todas as coisas maravilhosas que conheceu e Eloise queria saber tudo sobre ele e seu mundo. Um sentimento estranho brotava no coração de ambos. Como se precisassem um do outro, mais do que a ligação de vampiro e cálice.

— Senhorita? – Falou o homem, oferecendo o braço para que ela pegasse.

Mon seigneur. — Eloise fez uma pequena reverência puxando o vestido, lembrando-se em seguida que ele não veria o gesto. Pegou no braço do seu guia, pensando que ainda precisava se acostumar com a deficiência do seu vampiro.

Os dois saíram a passos lentos pelo corredor, conversando alegremente.

— Você pode até estudar uma nova língua, se desejar. Temos muitos livros de diferentes nações. –

Nesse instante, ambos ouviram uma porta se abrir à sua frente. Eloise parou estática no corredor. Aquele rapaz que a ajudara em seu desmaio, Ethan, havia saído de um dos quartos nu, segurando apenas uma trouxa de roupas em frente a sua intimidade. Seus olhos arregalados se encontraram com os da nova moradora da mansão. Ele se virou, deixando as nádegas branquinhas à vista da garota e entrou no quarto ao lado.

— Eloise? O que houve? – Perguntou Raphael preocupado, após instantes de silêncio.

— Sabe... Às vezes não ver algumas coisas é uma dádiva. – Ele riu de seu comentário e ambos recomeçaram a caminhar, ainda de braços dados.

— Eu não tenho dúvidas disso.

Ao chegar à biblioteca, Eloise ficou encantada com a quantidade de livros e, principalmente, pela luz da lua que atravessava os enormes vitrais. A mansão não parava de surpreendê-la...

— É maravilhosa! Nem sei por onde começar.

— Bom, eu posso ser seu bibliotecário também. Vejamos... Temos muitos livros didáticos sobre biologia, jardinagem, música, história antiga...

— Espera, vocês tem material de música?

— Temos sim. Vários livros de história da música, biografias... Também há um piano na sala, que nenhum de nós sabe tocar então as partituras estão guardadas aqui há anos.

— Aonde elas estão? – Disse Eloise com certa urgência na voz. Se Raphael pudesse ver o brilho em seus olhos...

— No baú perto da última janela... Posso saber por que isso a interessa? – Nem mesmo havia terminado a frase e a garota já havia pulado em direção ao baú.

— Ai meu Deus, livros de Chopin, Beethoven... Que maravilha! – Ela estava ajoelhada vasculhando os papéis, encantadíssima com o que via. Sua alegria contagiou o vampiro, que se aproximou e agachou perto dela.

— Imagino que tenham um grande significado para você.

— Muito! Eu estudo piano há anos e ter tanto material assim... Ainda mais nessa qualidade.

— Oh, é mesmo? Eu adoraria a ouvir tocar.

— Eu toco sim. Quero aprender todas essas sonatas de Beethoven logo!

— Hum, chegamos a um assunto polêmico... Você prefere Beethoven ou Mozart?

— Beethoven, óbvio! Ele é o deus da música e o Mozart... Tem músicas boas, mas é muito superestimado. Suas composições não têm muito sentimento.

— Concordo com você. As composições de Beethoven ficaram ainda mais sentimentais quando ele começou a perder a audição.

— É verdade... Em algumas de suas últimas composições posso ouvir a revolta em cada nota.

— Eu o entendo. – Raphael falou em um tom de tristeza. Eloise ficou sem ação. Não sabia como o consolar. Nem sabia se ele havia perdido a visão ou nascido cego...

— Eu lamento... – Disse colocando a mão sobre a dele, que a pegou e beijou seus dedos.

— Eu vi o piano nascer, sabe. Ou melhor, eu soube quando nasceu. No tempo em que eu enxergava tocava cravo. Era um instrumento muito parecido.

— E você não tentou mais... Depois?

— Como poderia tocar um instrumento se não posso ver as teclas nem as partituras?  - Ele logo se levantou, querendo deixar o assunto para trás. – No entanto posso apreciar sua execução, ao contrário dos dois que estão lá brincando de músicos. Já escolheu o que tocar?

— Já sim. – Eloise se levantou com o caderno de seu compositor favorito em mãos. Se Raphael não queria tocar no assunto, ela não o forçaria. – Vamos lá, preciso retomar a posse do meu piano. – Completou com um sorriso. Os dois caminharam em silêncio até o grande salão.

— Oh, olá! Vieram participar do nosso ensaio? – Eloise logo reconheceu Beliath encostado no piano enquanto o homem alto de cabelos vermelhos martelava as teclas.

— Aaron, o que vocês estão fazendo?

— Estamos ensaiando, Rapha.

— Vamos dar um show na minha festa! – Os dois estavam tão animados que pareciam até bêbados.

— Festa?

— Ah, olá, minha linda. É claro que você está convidada. Sua beleza engrandecerá esse salão.

— Eloise, olá. Me chamo Aaron. Ainda não tivemos a oportunidade de nos conhecer. – Falou ao se levantar e dirigir um aperto de mão à garota, que retribuiu.

— Bom te conhecer, Aaron.

“Nossa, que mãos fortes. Esse cara é enorme...”.

— Senhores, lhes apresento a proprietária desse piano. Eloise sabe tocar e fará bom uso do instrumento agora.

— Olha só... – Disse Beliath com uma expressão surpresa encarando Eloise. – Fantástico! Talvez teremos música ao vivo na festa? Essa beleza realmente esconde seus segredos... Você achou um bom gole, hein, Rapha?!

— Beliath! – Repreenderam Aaron e Raphael em uníssono.

“Um bom gole? Esse sujeito é vulgar, mas até que é divertido...”.

— Bom, você ainda não me falou sobre essa tal festa.

— Ah, sim. De tempos em tempos eu, o melhor anfitrião dessa cidade, organizo uma festa aqui para podermos nos divertir e.. Você sabe, facilitar a alimentação. Mas o foco principal é a diversão, é sério! – Aaron revirou os olhos, Raphael suspirava.

— Desculpe, mas achei que vocês tentavam se esconder do resto do mundo.

— Ah, sim, é verdade. Mas as festas dão certo. Podemos fazer com que as pessoas não se lembrem.

— Oh... Bizarro. – Eloise achou bem estranha a ideia dessa festa, mas imaginou várias árvores dançando enquanto os vampiros colhiam seus “frutos”. Ela estava aceitando bem aquele mundo. Riu sozinha com o pensamento.

— Então, doçura, a sua presença é mais que requisitada. – Completou Beliath, beijando a mão da moça. Raphael, percebendo que ele estava muito próximo dela interferiu, impulsionado por ciúmes.

— Certo, Beliath. Obrigado pelas informações. Podemos agora deixar a Eloise tocar em paz?

— Vá em frente, minha linda. – Ela andou até o banco do piano, percebendo olhares sob si. Virou-se para trás e viu que seu vampiro e Aaron estavam sentados enquanto Beliath, de pé, também a observava.

— Vocês vão ficar aí?

— Eu gostaria de ouvir, se não te incomodar. – Disse o de cabelos vermelhos. Eloise respirou e sentou-se ao piano. Folheou o livro até encontrar uma música que dominava. Estava tímida e não queria passar vergonha na frente deles.

— Certo... Vou tocar “Tempest” de Beethoven. Mas já aviso que não estou muito aquecida então pode sair um pouco errado.

— Não se preocupe, Eloise. Só queremos te ouvir. – A voz de Raphael acalmou seu nervosismo. Posicionou os dedos nas teclas e começou a executar a sonata.

Seus dedos ágeis atingiam com precisão cada nota, fazendo o belo som do piano de cauda ressoar pelo salão. Nos momentos mais rápidos da música Beliath arregalou os olhos, impressionado com o talento da menina. Tocou aproximadamente três minutos da música, finalizando com uma improvisação. Aplausos se seguiram.

— Você manda bem, garota!

— Foi muito bonito, Eloise.

— Não sabia que tínhamos uma pianista tão talentosa nessa casa. – Disse o homem loiro que chegara sem que Eloise percebesse. Ele a ouviu e foi admirar pessoalmente.

Ela gostou dos comentários de seus espectadores, mas estava ansiosa para ouvir o que o último iria falar.

— Foi exuberante, Eloise. Sua interpretação ficou belíssima. Espero ter a oportunidade de ouvir novamente em breve. – O vampiro de cabelos azuis se aproximou dela. – Talvez amanhã, neste horário, neste lugar? – Sussurrou a última frase.

— Claro. – A garota havia percebido sua voz levemente trêmula e agora com a proximidade pôde ver que faixa em seus olhos parecia um pouco... Molhada.

— Eloise, ainda não nos conhecemos propriamente. Sou o Vladimir.

— Olá, Vladimir. Fico feliz em te conhecer. Os outros já falaram muito seu nome.

— É que ele é tipo o nosso pai!

— Beliath!

— Eles dois são sempre assim. – Disse Aaron, sussurrando ao ouvido de Eloise. – Convenhamos que é como se o Beliath fosse a mãe. – Os dois riram enquanto Beliath e Vladimir continuavam com discussões fúteis. Esses vampiros eram realmente umas figuras.

— Bom, eu adorei passar esse momento com vocês. Espero ter mais oportunidades de conversar com você, Aaron. Mas agora estou precisando me recolher. Mal dormi hoje.

— Tudo bem, teremos outras oportunidades. Boa noite, Eloise.

— Boa noite, Elô! Pensa com carinho sobre a festa!

— Beliath, olhe pra mim quando eu falo com você. Aliás, boa noite, senhorita.

— Te acompanho até o quarto. – Propôs Raphael. Os dois deixaram o salão e logo chegara à porta do quarto rosa.

— Raphael... Foi uma experiência incrível. Finalmente toquei o meu piano na minha casa nova... Obrigada por ter me proporcionado esse momento. – Eloise estava tão contente que abraçou o vampiro no final da frase, como agradecimento. Ele, envergonhado, colocou os braços em volta dela de forma desajeitada.

— N-não há de quê.

— Nos vemos amanhã. – Eloise entrou no quarto deixando um vampiro bobo do lado de fora. Aquela noite, mesmo que curta, também havia proporcionado fortes emoções a ele.


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Notas finais do capítulo

Presta atenção nessa cena do Ethan, ela tem sua importância. XD
Finalmente cheguei no ponto que mais ansiava: Eloise no piano!
Me digam o que estão achando, por favorzinho. Com toda a sinceridade!

Beijinhos, até o próximo.



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