Renascença escrita por Nunuzes


Capítulo 4
Capítulo IV




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Então sua nova casa era um covil de morcegos sanguessugas, hein? Por que isso não a deixava apavorada? Eloise sorria, cobria o rosto com as mãos enquanto o sol nascia. Raphael era um rapaz tão estranho, tão gentil e lhe causava esse sentimento de... Ter se encontrado. Alguém a entendia com tanta facilidade. Minutos atrás estavam tão próximos que podia sentir o calor do seu corpo, quebrando mais um mito sobre os vampiros.

Ele era... Tão humano quanto ela.

Eloise vestiu um pijama, fechou as cortinas e foi dormir. Podia se levantar e usufruir de sua mansão vazia. Praticar piano na grande sala ou ler em meio às flores do jardim... Mas curiosamente ela apenas esperava pela próxima noite.

Mergulhou em um sono agitado, cheio de sonhos bagunçados. Acordou algumas vezes e por fim desistiu de tentar dormir mais. Ela resolveu aproveitar as últimas horas de sol para aproveitar a casa e talvez ir até a cidade resolver algumas questões. Tomar um pouco de sol iria ajudar na sua saúde.

Pulou da cama, escolheu uma roupa confortável para caminhar, calçou seus tênis e amarrou o cabelo em um rabo de cavalo com algumas mechas soltas. Pegou a carteira e saiu do cômodo em silêncio.

Do outro lado do corredor havia mais quatro portas que ela não sabia o que escondiam. Talvez quatro vampiros estejam ali dormindo como bebês. À noite, sairiam para beber o sangue de pessoas inocentes.

A conversa da noite anterior havia acalmado Eloise, pois, segundo seus conhecimentos humanos sobre vampiros, qualquer pessoa mordida morria ou se transformava. Raphael a tranquilizou explicando que não é assim. Eles compelem as vítimas, mas tomam apenas um pouco de seu sangue, deixando apenas duas pequenas cicatrizes que saram logo graças à saliva do vampiro que acelera esse processo. Nem mesmo dor elas sentiam. Era como tirar um fruto de uma árvore: sem permissão da dona do fruto, porém sem lhe trazer danos.

Eloise sorriu com esse pensamento, concluindo que vampiros são mais veganos do que parecem. Logo saiu da mansão.

Ela resolveu ir a pé. Atravessar o bosque não era a melhor parte do passeio, mas aproveitou mesmo assim. Ouviu o canto dos pássaros e até correu parte do trecho, para se exercitar. Há dias não praticava nada, estava ficando enferrujada.

Ah, a alegria de ir ao centro da cidade. Tantas lojas, tanta gente... Faltavam ainda algumas coisas para a casa, como um micro-ondas e um computador. Provavelmente instalar internet lá seria um problema... Deveria discutir com os outros antes de qualquer decisão.

O sol, apesar de baixo, começou a incomodar a garota. Ela entrou no primeiro mercado que encontrou e comprou produtos fáceis de cozinhar e muitos industrializados. Na verdade, ela havia levado um fogão de mesa para lá, mas esqueceu de instalar o gás... Mais uma questão para resolver com os outros moradores da mansão.

“Que saco, não posso nem viver normalmente como uma pessoa que não bebe sangue...”

Eloise estendeu o passeio a uma loja de roupas. Finalmente ela tinha acesso a 100% da sua herança, queria aproveitar para fazer coisas que nunca fez em toda sua adolescência. Comprou roupas básicas, esportivas, maquiagens e um vestido de festa. Viu no espelho do provador, pela primeira vez, uma mulher sexy, adulta, dona de si. Não era mais uma pobre órfã.

O tanto de sacolas pesava demais para levar sozinha bosque adentro. Ainda havia aquele sol irritante que queimava seus olhos. Arrependeu-se por não ter ido de carro, mas também não imaginava comprar tantas coisas...

Já dentro do bosque a luz do dia começava a escurecer. Eloise ficou tensa ao pensar que poderia ficar sozinha no escuro. Para piorar seus sentimentos, escutou barulhos de passos apressados não longe de si.

“Oh meu Deus... Devo voltar? Continuar o caminho? Talvez perguntar se há alguém aqui?”

Não, provavelmente não era nada. Decidiu apressar o passo, até que uma sombra preta passou na sua frente e se escondeu novamente entre as árvores. Ela gritou e por instinto largou as sacolas e se encolheu no chão, cobrindo o rosto com os braços.

— Eloise? – Ela reconheceu aquela voz. Com o coração acelerado levantou os olhos e encontrou os orbes laranja daquele rapaz... O seu agressor. Não sabia se ficava aliviada por ser uma presença conhecida ou ainda mais amedrontada, sabendo que aquele jovem vampiro era sedento por sangue. Mas... O que ele estava fazendo ali se ainda havia sol?

— Eloise, está tudo bem. Eu não vou te atacar. Você é o cálice do Raphael e eu já me alimentei hoje. Confie em mim. - Ivan estendeu a mão para a garota amedrontada. Ela a pegou e levantou.

— Eu me assustei. Achei que vampiros não saiam de dia.

— Não devemos, mas, desculpe, não é da sua conta. Eu te ajudo com as sacolas. – Ivan pegou todas do chão e começou a caminhar, passando da frente de Eloise. – Escuta... Não tivemos a oportunidade de conversar. Eu realmente sinto muito. Minha condição é recente e se eu não me alimentar com frequência eu viro esse... Monstro. – Falou com raiva a última palavra. Ela percebeu que havia ressentimento na sua voz. – Como você estava indo à mansão durante alguns dias, Vladimir orientou que todos ficassem trancados. Com isso eu fiquei faminto e quando te vi, eu... Eu sinto muito.

— Oh, Ivan... Eu lamento. De certa forma entendo como é ter uma nova condição que bagunça completamente a sua vida. Fico feliz que você esteja controlado agora e que possamos ter essa conversa.

— Bom, isso é porque você não está mais menstruada, caso contrário eu não conseguiria aguentar tão bem.

— Como?

“Ih... falei merda.”

— Aah, eu... Q-quer dizer... É que por causa do cheiro do sangue, eu... – Eloise arregalava os olhos e enrubescia mais a cada palavra que o loiro dizia. – NÃO! Quer dizer... Não é como se você estivesse fede-... É-é que nós temos os sentido bem apurados, então- Ivan atropelava as palavras, tentando não constranger a menina. Mas ele estava mais constrangido que ela.

— Tudo bem! Eu entendi, não precisa... Explicar mais. – Ambos se calaram e não abriram a boca pelo resto do percurso. Ao chegarem à frente da mansão, aonde a mata não cobria mais os raios de sol, Ivan parou.

— Abra a porta, por favor. Eu vou entrar correndo. – Eloise fez como solicitado e logo o vulto da capa preta do jovem vampiro atravessou o batente. Ele colocou as sacolas de compras no chão, deixando os braços à mostra por um breve instante. Tempo suficiente para Eloise ver queimaduras em sua pele branca. Por que ele saia de dia diante desse risco?

— Eu preciso te deixar agora. Mas foi bom conversar com você.

— Digo o mesmo. Fico contente em te conhecer melhor. – Dito isso Ivan subiu as escadas de dois em dois degraus. Eloise separou as compras do supermercado e levou para a cozinha.

“Eu deveria fazer uma faxina aqui antes de qualquer coisa... Bom, vou só deixar aqui e subir, preciso de um banho.”

A noite caiu enquanto Eloise aproveitada o calor da água da banheira. Sentia-se feliz, apesar de tudo. Seu coração fez questão de esquecer todos os maus acontecimentos recentes e focava apenas na nova mudança de vida. Indesejada, inesperada, mas que veio. Ela queria ver o lado bom disso.

Os sons da mansão já se faziam presente enquanto Eloise secava e admirava seu corpo no espelho. As marcas do acidente haviam sumido completamente. Sua pele parecia mais pálida que o normal... Ela admirou suas curvas, a cintura fina, a clavícula marcada... Sempre fora magra, mas agora estava desenvolvida. Apertou os seios com as mãos e pensou no que iria vestir. Provavelmente provaria todas as suas roupas novas antes de decidir.

“É uma pena que Raphael não vai ver... Eu bem que gostaria que ele me visse como uma mulher.”

Saiu de fininho do banheiro, apenas enrolada em uma toalha. Por sorte, não havia ninguém no corredor. Risadas altas vinham do térreo, junto de um coro masculino e barulhos feitos no piano.

“Ah, esses homens... Espero que não desafinem o meu piano!”

A moça desfilou para si mesma as diversas roupas, admirando especialmente o vestido de renda azul marinho. Ainda iria encontrar uma festa para usar ele. Mas no momento, escolheu um vestido mais simples, de tom nude e com um decote que valorizava seu colo sem deixar de ser elegante. Colocou um lenço de voal sobre os ombros.

Estava ansiosa para conhecer os outros rapazes da mansão e, principalmente, reencontrar-se com Raphael.


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Notas finais do capítulo

Oláá
Foi um capítulo mais chatinho, eu sei, mas quis focar nesse desenvolvimento pessoal da Eloise. E também tivemos uma conversa legal com o Ivan e uma coisa básica da vida humana que não acontece no jogo: ela comprou comida!



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