Renascença escrita por Nunuzes


Capítulo 3
Capítulo III




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Raphael pediu ajuda de Vladimir quando o encontrou no corredor da mansão.

— Por favor, abra a porta do quarto da Eloise e chame o Ethan. Depois lhe explico o que houve. – Seu amigo prontamente atendeu ao pedido.

O corpo quente da garota foi delicadamente repousado na cama.

“Me desculpe... Eu não podia te dar informações pela metade... Desculpe se foi muito para você”

— Eu tento ficar longe dos problemas, mas vocês sempre arranjam alguns pra mim.

— Ethan, por favor... Ela é uma de nós agora. Se esforce para, pelo menos, respeitá-la.

— Não sei se consigo te fazer esse favor. O que aconteceu?

— Contei-lhe sobre nós, sobre a ligação... Ela certamente teria saído durante o dia, se tivesse acordado. E estaríamos com problemas.

— Mantenha ela sob controle ou então coloque uma coleira. – Ethan colocou um termômetro embaixo do braço do “problema” e voltou-se para sua maleta de primeiros socorros.

— Dispenso seus métodos, Ethan.

— Dá a mão. – Raphael a estendeu para o garoto. – Segure aqui, perto do nariz. Ela vai acordar rapidinho. – Ethan também colocou alguns travesseiros embaixo das pernas de Eloise, para elevá-las.

Poucos instantes depois, a moça começou a tossir e recobrar a consciência. Raphael afastou o vidro de álcool de perto dela.

— Mas o que?... O que aconteceu?

— Você desmaiou após-

— Após saber que virou marmita de vampiro.

— Ethan!

— Senhorita, é um desprazer conhecê-la. Mas caso quiser prazer, meu quarto não está longe. – Disse sorrindo e mostrando as presas.

Quem é esse rapaz? Ou melhor, quem ele pensa que é?

— Será um prazer se você sair do meu quarto. - Raphael, constrangido, permanecia em silêncio.

— Nossa, eu cuido da pessoa e recebo isso. Adestra ela direito, Rapha.

— Dispenso seus comentários, Ethan.

— Com licença. – Tirou o termômetro que até então Eloise não havia percebido. – Aliás, um agravante para o desmaio pode ter sido pressão baixa... Qual foi a última vez que você comeu?

— Ah... Acho que ontem... Ao meio-dia.

— Então coma. Você não está com febre, mas quase. Beliath comprou algumas coisas pra você e deixou na cozinha.

— Obrigado, Ethan.

— Não conte comigo sempre, meu caro espadachim. – Ao finalizar a frase, Ethan fechou a porta, deixando vampiro e cálice a sós.

— Bom... Você deve comer algo agora. Eu busco pra você.

— Espere! Eu tenho muitas perguntas pra te fazer. Sobre essa história de... Vampiros.

— Responderei tudo o que quiser saber. Mas depois que você comer e descansar.

Eloise esperou então que Raphael voltasse ao quarto conforme prometido. Em instantes ele se fez novamente presente no cômodo. Bateu na porta e a entreabriu.

— Eloise? Sou eu.

— Pode entrar.

— Você não está na cama?

— Não, estou sentada na frente da janela.

— Eles trouxeram apenas algumas coisas industrializadas. Espero que sirva por agora. – Raphael arrastou seus pés cautelosamente até a direção em que vinha a voz da moça. Não conhecia o caminho e não queria se espatifar no chão na frente de seu cálice, que nem o conhecia direito.

— Está ótimo. Eu não estou com fome, na verdade. – Ele a localizou e sentou ao seu lado, oferecendo vários pacotes de bolachas, chocolates e barras de proteína. Eloise pegou uma dessas barrinhas e colocou o restante no chão ao seu lado enquanto Raphael se sentava.

Com o barulho do plástico e o volume em seu glúteo, o vampiro percebeu que estava sentando nos alimentos da moça.

— Oh, mil perdões... Espero que não tenha danificado.

Engraçado como esse moço de tanta classe e elegância agia de forma engraçada. Eloise riu baixinho e logo se culpou por caçoar de algo causado pela deficiência do outro.

— Não tem problema. Já os tirei, pode se sentar.

Após um breve silêncio constrangedor em que ambos se culpavam mentalmente – uma por rir, o outro por sentar na comida – Raphael se antecipou:

— Isso é comum, nem sempre eu “vejo” tudo. Pode rir, sei que é engraçado. – Seu sorriso ao fim da frase arrancou mais uma risada de Eloise. Que risada gostosa de escutar, ainda mais porque era a primeira vez que a ouviu.

— Você é bem peculiar, devo confessar. Mas é uma presença agradável. – Rapha corou. Essa garota era mais interessante do que imaginou.

— Devo dizer que também gosto de sua companhia... Mas bom, vou deixar você fazer as perguntas que quiser. – Era melhor trocar de assunto antes que ela percebesse seu nervosismo.

Ah, ela queria saber tanto. Sobre os vampiros, sobre sua condição de “cálice”, sobre os moradores na casa... Queria conhecer aquele homem gentil que a salvara. Queria entender a sua roupa de época, a espada pendurada na cintura, o motivo da venda nos olhos...

“Será que ele tem alguma cicatriz ou não tem os olhos? Acho melhor não perguntar agora... Não sei a que ponto isso o afeta.”

— Então... Apenas para garantir... Essa história toda é verdade? Todos vocês são... Vampiros? – Começou com as perguntas enquanto dava a primeira na barrinha.

— Sim, somos vampiros, bebemos sangue, não saímos no sol... Assim como dizem por aí.

— Certo... É difícil se acostumar com essa ideia, mas depois de tudo o que aconteceu... Eu não tenho dúvidas que seja real, apesar de estranho.

— Imagino como se sente. Também não acreditava quando me transformei. É duro aceitar.

— Faz muito tempo?

— Faz. Acho que te assustaria.

— Eu nunca vi roupas como as suas. Imagino que faça... Mais de um século?

— Bom... Alguns séculos.

— Uau... Você é... Vampiros são imortais mesmo?

— Somos imortais ao tempo e resistente a ferimentos. Mas não precisa de uma adaga de prata no coração para nos matar... Existem meios mais fáceis, mas... Espero que a senhorita não queira saber, muito menos os praticar. – Eloise riu novamente.

— Não, eu nem havia pensado nisso... Mas se eu me livrar de vocês todos, terei finalmente a minha mansão só pra mim!

— Ah, que audaciosa! – Os dois sorriam juntos embalados nessa gostosa conversa. Falaram de tudo: do passado, embora Raphael poupasse muitos detalhes; da mansão, da sociedade vampírica, das condições de cálice. Eloise também descobriu que na verdade vampiros queimam no sol e não brilham. Soube da existência de outros seres sobrenaturais e até algumas histórias sobre os rapazes da mansão.

— Sobre essa ligação... Confesso que a minha função me assusta.

— A senhorita não precisa temer. Na verdade, as mordidas podem ser... Boas. Para os humanos.

— Como que isso seria bom?

— A sensação. Se me permitir, poderia demonstrar. – Raphael sentia vergonha ao tentar pedir para morder Eloise e não conseguia dizer isso claramente.

— Você quer me morder? Bom, é a minha obrigação deixar, não é?

— Caso se oponha, eu vou entender. Não vou a forçar.

— Me morda. Eu quero ver como é. – Completou a garota, em tom de desafio, aproximando o rosto do vampiro. Ele engoliu em seco, ainda tímido pelo ato tão íntimo que estava prestes a acontecer. Estavam sentados tão próximos que seus ombros se encostavam. Raphael deslizou a mão no chão até encontrar a de Eloise. Ele a pegou e levou até a boca, cravando suas presas afiadas na pele fina do pulso de seu cálice.

Eloise segurou um grito, trancando a respiração. No entanto a dor das perfurações passou rapidamente. Os lábios do vampiro sugavam o sangue que saia de seu corpo. Quando mais o tempo passava, mais seu corpo relaxava. Ela sentia um prazer como se tivesse acabado de acordar de uma soneca da tarde ou o de tomar um chá quente no inverno. Era agradável.

Quando o homem afastou sua boca, dando uma última lambida nos furos, ela voltou a si. Percebeu que estava com a boca aberta, com as costas encostadas na cama, suspirando de prazer. Morreu de vergonha ao pensar que ele poderia ter visto-a assim. Olhou para o rosto de Raphael, que enxugava o canto dos lábios com o polegar. Um silêncio constrangedor se seguiu, sendo quebrado por Eloise.

— Vem cá... Você se transforma em morcego também?

O vampiro começou a rir, seguido pela menina. Após alguns minutos ele a respondeu.

— Infelizmente não. Seria divertido, com certeza. Enfim, lamento ter que encerrar essa conversa, mas logo o sol vai nascer. Preciso me recolher.

— E você vai se esconder no seu caixão?

— Hahaha, realmente a fantasia humana vai bem longe quando se trata do desconhecido. Vou te decepcionar novamente, mas não. Dormimos normalmente em camas como a sua.

— É, me decepcionou. Vocês são mais sem graça do que eu pensava! – Raphael escutou a risada dela pela última vez aquela noite.

— Boa noite, Eloise. Durma bem e se cuide. Não deixe de se alimentar.

— Boa noite, Raphael.


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Notas finais do capítulo

Aiai, eu amo essa cena do Rapha no quarto...



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