Sete Dias de Terror escrita por Wyvern


Capítulo 4
Dia Três; Fuga Fracassada




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            Pesadelos são terríveis, mas às vezes a realidade pode ser pior. Mesmo após o tempo de cativeiro com o Torturador terminar, os pesadelos seguirão Sam pelo resto da vida. Não haverá uma só noite onde não acordará gritando, as lembranças desses dias assombrando seu subconsciente, e olhará para suas cicatrizes, a prova de que aquele pesadelo já fora real. Os pesadelos começaram naquela noite.

            Sam acordou arfando e tremendo, instintivamente abraçando os ombros. Seu corpo pareceu rasgar com o movimento, ainda muito sensível após a última tortura do homem, mas ignorou. A escuridão da cela parecia ainda mais opressora, como se as paredes estivessem se fechando a sua volta. Era o início de uma claustrofobia que também o seguiria pela vida toda. Arrastou-se e se sentou em um dos cantos, olhando frenético a sua volta. Repetia a cena do primeiro dia, esperando que algo terrível lhe acontecesse, sem poder fazer nada.

            Não se entregue ao desespero, reprimiu-se mentalmente. Dobrou os joelhos e passou os braços em volta deles, abaixando o rosto. Eu tenho que sair daqui, pensou em seguida. Esperaria o homem voltar e fugiria. A pergunta que remoeu sua mente foi: Como fugir? O Torturador era pelo menos quatro vezes maior do que ele, e provavelmente estaria armado, sem falar que a velha também podia estar ali. Mas não podia simplesmente continuar preso e sendo torturado por aquele louco, e estava disposto a tentar.

            O tempo que passou enquanto pensava nisso foi muito, mas para ele pareceu passar num piscar de olhos. Sem que tivesse nada em mente, ouviu a porta se abrir. Vislumbrou o conhecido vulto entrar, iluminando o lugar com a lanterna, e se aproximar devagar. Sam não precisava fingir estar assustado com sua chegada, uma vez que a idéia do que iria fazer era apavorante. Esperou o Torturador chegar o mais próximo possível. O homem logo pegou sua faca, tocando a ponta de leve em sua pele ferida.

            Era agora.

            Sem pensar, Sam se jogou para frente, agarrando a arma com as duas mãos. Chocado, o homem largou a faca, e ele cravou apressadamente a lâmina, esperando acertar sua garganta, derrubando-o para trás. O grito de fúria do homem fez uma nova onda da adrenalina quebrar em seu corpo, e ele levantou-se e saltou por cima do Torturador, indo para a porta. Estava aberta, o homem era pretensioso, achava que um garoto como ele nunca se revoltaria. Sam também não achava.

            Não olhou para trás enquanto atravessava o corredor escuro e subia os degraus velhos de quatro em quatro, temendo que a visão do homem furioso o fizesse estancar. Parou ofegante, olhando a volta. De um lado, o corredor que levava ao frigorífico e as outras salas desconhecidas, e do outro, o corredor que levava à cozinha da velha louca. Disparou para frente, contornando entre máquinas e esteiras, na esperança de confundir seu perseguidor.

            Infelizmente essa tática foi a sua ruína. Sem prestar atenção, entrou em mais um corredor, reparando tarde demais que não havia saída. Os passos pesados e enraivecidos estavam logo atrás. Em pânico, abriu a última porta do caminho. Mas não entrou, cobrindo a boca com a mão para não gritar ao ver o que havia lá dentro, se afastando alguns passos.

            A sala era um depósito, e parecia ser grande, mas estava quase abarrotada. De corpos. Rapazes e moças, todos bem mais velhos do que Sam, espalhados. Nenhum possuía roupas, mas exibiam cortes, queimaduras, costuras e até membros faltando. Por Deus, alguns estavam de decompondo. Outras vítimas do Torturador, que haviam sofrido o mesmo que ele ou mais. Seus joelhos começaram a tremer, lágrimas caindo em seu rosto. Um dia o homem exageraria em uma tortura, o matando, e ele acabaria largado ali, sem importância?

            O pavor daquela cena o fez esquecer de que ainda estava em perigo. Mas uma mão segurou seus cabelos por trás e o jogou com força no chão, lembrando-o disso. Sam apoiou-se nos cotovelos e virou-se, erguendo o rosto confuso. A mão desceu mais uma vez, e com uma bofetada, o devolveu ao chão. A marca vermelha em sua face logo ficaria arroxeada, tal a força e fúria imposta no tapa.

 

            - Eu seria gentil com você hoje. – rosnou o Torturador. – Mas acabou com meu bom humor!

 

            Ao gritar isso, o homem deu-lhe um chute no estômago. Sam se retraiu, e o Torturador aproveitou a chance para agarrar seus cabelos novamente. Puxou-o para cima sem nenhuma delicadeza, e o forçou a ficar de joelhos. Ele voltou a cair, apoiando-se nas mãos, ainda tendo dificuldade em respirar. Ainda o puxando pelos cabelos, fez o menino virar o rosto para os corpos guardados na sala. Sam tentou soltar-se, arranhando e puxando seus dedos, mas a mão era dura como ferro.

 

            - Acha isso terrível? ACHA?! – o homem o fez levantar o rosto e a encarar seus olhos furiosos. Sangue escorria de um pequeno corte na face. Onde ele cravara a faca. – Eles tiveram sorte, comparado ao que eu vou fazer com você!!

 

            O grito ecoou pelo corredor, aumentando, exatamente como as palavras do Torturador aumentaram seu pânico. Ele estava brincando com Sam nas últimas torturas, mas agora o faria pagar pela fuga. Para alguém que achava graça em arrancar a carne de pessoas com vermes, o que deveria ser uma punição? Amputaria alguma parte de seu corpo como fizera com a maioria dos mortos no depósito? Parecia bem o tipo de coisa que aquele louco faria.

            O que ele fez foi completamente diferente. Largou seus cabelos, mas somente para agarrar seu pescoço e o pressionar contra a parede fria às suas costas. Sua respiração ficou rasa, a pressão em sua garganta aumentando cada vez mais. Com a outra mão, habilmente, afastou suas pernas e sentou-se no espaço. Aproximou seu rosto, quase tocando-o, e o tão conhecido sorriso cruel vincou sua face antes furiosa. Apertou ainda mais seu pescoço quando Sam ameaçou gritar de choque, e começou a abrir a calça.

            Foi a noite mais longa da vida de Sam.

 


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