Sete Dias de Terror escrita por Wyvern


Capítulo 3
Dia Dois; Castigo




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Se Sam achava que as coisas não poderiam ficar piores, estava errado. O Torturador rumou para a porta, o arrastando pelos pulsos consigo. As costuras mal feitas em seu tronco estavam quase arrebentando, esticando sua pele, enquanto as costas batiam contra o metal frio do corredor. Não voltaram para sua cela no andar abaixo, indo para outro corredor, completamente desprovido de janelas. Será que arrastá-lo por aquele caminho comprido era parte de seu “castigo”? Não queria saber.
O homem parou na entrada, olhando pensativo para cada uma das muitas portas de cada lado. Aqueles loucos tinham transformado aquela fábrica abandonada em uma casa dos horrores. Pensar no que havia atrás delas quase o deixava louco. Depois de torturantes minutos, o Torturador escolheu uma porta mais ao meio do corredor, rumando para ela em seguida. Quando ele abriu a porta, Sam levou algum tempo para entender o que havia lá.
A sala era fria, um frigorífico provavelmente. Havia ganchos de metal pendendo no teto, do tipo usado em fábricas ligadas a abatedouros. Porém o mais estranho era o centro da sala, onde havia uma mesa enferrujada. Fora arrastada até ali, pois as marcas nas pernas pesadas eram claras no chão enevoado. Rodeando a mesa, armários de ferro, parecendo um pouco mais recentes, com potes cheios de coisas que não conseguia definir.
O homem o arrastou até a mesa, e pôde ver que nela havia quatro correias tosca e fortemente pregadas, antes que fosse levantado e jogado ali. Sem perder tempo, o Torturador amarrou seus pulsos e tornozelos nas correias, apertando até o limite. Sem dizer palavra, deu-lhe as costas e acendeu um interruptor na parede. Uma luz forte se acendeu acima de seu rosto, o cegando completamente por instantes.
Virou o rosto para escapar da claridade, e viu o Torturador procurando algo em um dos armários. Segundos depois, voltou com um alicate velho e pontiagudo. Abrindo um sorrisinho cruel, aproximou lentamente o alicate de um de seus cortes costurados e começou a arrancar os pontos.
Sam gritou ao sentir a carne ser puxada e se abrir novamente, recomeçando a sangrar. O riso do homem ecoou na sala, enquanto os pontos caíam e passava para outro corte. Seu sangue começou a escorrer com mais força, reabertas as feridas, pingando no resto de seu corpo e caindo não chão. Quando ele enfim parou, Sam arquejava, o peito e os braços quase em frangalhos. Apenas gritar já lhe causava dor.
Sem perder o sorriso de escárnio, o Torturador largou o alicate de volta no armário e rumou para outro, mais atrás. Sam não conseguiu ver o que ele fazia, tentando não forçar o corpo a se esticar. Dessa vez o homem voltou com um dos potes, contendo alguma coisa clara. Apertou os olhos, mas uma névoa de dor parecia toldá-los. Talvez fosse a névoa causada pelo frio. Sua mente estava à beira da inconsciência.
O Torturador abriu a vidro, e pegou alguma coisa de dentro dele. Uma coisa pequena e amarelada, que se contorcia. Ao reconhecer aquilo, o choque o acordou de sua letargia. Aquilo era um verme. E havia centenas iguais a ele dentro do vidro. O homem sorriu ao ver seu pavor e largou a criatura no primeiro corte. O verme pareceu confuso, mas então cravou os pequenos dentes em sua carne. Não satisfeito, ele tirou uma mão cheia dos seres nojentos e os espalhou por seu peito.
Sam uivou de dor quando as centenas de pequenas presas se cravaram em suas feridas, arrancando novos pedaços. Preferia ser cortado e costurado mais uma vez a suportar aquilo. Tentou levantar as mãos e afastar os vermes, mas as correias, apesar de velhas, eram fortes. As criaturas agora rastejavam paras os cortes em seus braços e seu pescoço, famintas. Rindo baixo, o Torturador pegou mais alguns vermes e os deixou cair.

- Eles são uma espécie rara aqui. – disse, quase com orgulho. – Atacam qualquer coisa, desde que sangre.
- P-por f-favor... – não sabia porque estava implorando, mas a dor era excruciante.
- Você quer que eu os tire?

O menino não entendia porque o Torturador se dispunha a terminar a tortura logo no começo, mas acenou sem pensar, concordando. O homem deu outra risada maldosa e segurou um dos vermes, o puxando com força. Ele gritou de novo, uma boa parte de carne sendo arrancada com a criatura, que tentou se esticar e voltar a morder seu corpo, mas outro já havia tomado seu lugar. Enquanto Sam tentava controlar os arquejos, estendeu a mão e tirou outro verme.
Não soube dizer quanto tempo se passou, os minutos arrastando-se penosamente. O homem tirava as dezenas de vermes lenta e furiosamente, deixando-o em carne viva, literalmente. O chão cinzento se tornou carmesim com seu sangue. Todas as suas forças concentravam-se em respirar, escassas como estavam. Tentava se entregar à escuridão da inconsciência, mas as pontadas de dor o puxavam para a realidade.
Com um guincho, a última criatura foi largada de volta no vidro, que foi fechado. Recostou a face no ferro frio, que parecia atenuar um pouco a dor. Pela fina névoa criada a cada respiração pesada, divisou o Torturador. O que era aquilo em seus olhos? Arrependimento? Claro, ele o queria vivo por muito mais tempo, entretanto quase o matara. Ele virou o rosto, saindo pela porta e o deixando sozinho.
Sam agradeceu pelo homem ter saído. Sem a presença dele, conseguia pensar um pouco melhor em sua situação. Estava lá a pelo menos dois dias, e não iria suportar muito mais. Teria que esperar a oportunidade certa e fugir. Antes que pudesse pensar nisso, a porta voltou a se abrir e o Torturador entrou, trazendo um embrulho preto nas mãos. Largou-o em um armário e voltou para ele, carregando uma agulha e linha de costura.
O menino não lutou, mesmo quando sentiu a dor da agulha atravessar suas feridas e as mesmas serem costuradas de modo desajeitado. Infelizmente ele só atara os rasgos mais longos, deixando uma boa parte dos outros abertos. Depois o libertou das cintas, pegou o embrulho escuro, que na verdade era uma jaqueta grande demais e o fez vesti-lo. Não sabia porque o homem se dera ao trabalho de fazer isso, mas não perguntou.
Sentou-se muito devagar, seu corpo gemendo em protesto, e olhou para o Torturador. Não havia nenhum sentimento em seus olhos. Como seus braços também estavam esfolados, o homem o segurou pelas costas do casaco e o arrastou para fora. Desta vez desceram as escadas, indo para a cela no fim do corredor. O homem abriu a porta e, sem nenhuma delicadeza, o jogou para dentro e voltou a trancá-la.
Sam encolheu-se contra a parede, sentindo muito mais frio do que no frigorífico, o corpo ardendo. Onde estariam seus pais agora? Desesperados à sua procura? Ou será que Jack tinha mentido e dito que ele estava com eles? De que adiantava, ele vira pelas janelas que aquela fábrica ficava num lugar completamente diferente do camping onde fora. Ninguém o acharia. Com esses pensamentos assombrando-o, o sono custou a vir.


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