Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 8
Movida pela culpa


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior, Paul rejeitou o imprinting e Wendy ofereceu uma alternativa para o lobo: Ela sumiria de uma vez por todas da vida dele.
Bem, Wendy vai cumprir com o que prometeu, mas como será que os Cullen vão reagir ao saber que a caçula da família está indo embora?

Obrigada a todas (os) que comentaram e estão acompanhando a história! Estou muito encantada!



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Capítulo 7

por N.C Earnshaw

 

HÁ ALGUNS DIAS, Wendy não tinha ideia do rumo que sua vida tomaria. Ela achava que como já havia vivido por tantos anos, nada a surpreenderia mais. Nada mexeria com ela o bastante para que ela duvidasse de si mesma. Nada a deixaria tão perdida. Estava errada. Paul havia mudado tudo

Ela sempre foi aquele tipo de garota que achava que nunca mudaria nada em sua vida por causa de um homem. Mesmo quando era humana, repudiava as mulheres que ao entrar em um relacionamento viviam em prol do cônjuge, sem hobbies e sem vida — a não ser paparicar e observar cada movimento do marido. Ela sabia que estava sendo muito crítica para a época. As mulheres de seu tempo ainda eram criadas para o casamento, para servir o marido, para ser uma mulher perfeita, cuidar da casa e das crianças. 

Entretanto, após passar tantos anos de sua vida sem um ser do sexo aposto presente para ajudá-la, viu a força que uma mulher poderia ter. Sua avó, mesmo adoentada e já muito velha, cuidou dela como uma filha, e a ensinou a não aceitar nada menos do que ela merecia, assim como não colocar a vida de ninguém acima da sua.

Wendy pensava em se casar, claro. No entanto, repugnava a ideia de ter sua vida controlada por outra pessoa que não fosse ela. Que os sentimentos de outro, importassem mais do que os dela mesma. 

Ela se surpreendeu ao pular de cabeça na solução que achou para ajudar o lobo. Quando saiu de casa naquele dia, pretendia encontrá-lo e dar algum apoio moral. Talvez combinar de se evitar. Estava até mesmo esperançosa de que toda aquela história era falsa. Contudo, ao ver o estado em que ele estava, todas as dúvidas saíram da sua mente. 

Ele estava sofrendo. 

O coração de Wendy se quebrou ao perceber que o motivo de ele padecer daquela maneira, era ela. 

Desde que se transformou em vampira — diferente de Edward e Rosalie que pareciam se martirizar com o modo de vida deles, Wendy nunca havia se sentido mal por estar na própria pele. Já havia pensado em ter filhos, mas a ideia de não ser capaz de ter um bebê nunca a tinha deixado infeliz como a sua irmã. Ela também nunca se repreendia pela sede de sangue como Edward. Sentia-se orgulhosa por ter optado por não machucar humanos inocentes e levar aquela vida “vegetariana”. Gozava do fato de se controlar quase tão bem quanto Carlisle.

Ela era boa, droga! 

Entretanto, ao olhar nos olhos daquele jovem, sentiu-se uma vilã de contos de fada, que acabava com a felicidade de todos ao aparecer na história. Experimentou a sensação amarga de se sentir um monstro pela primeira vez. Lembrou de todas as vezes que sentiu vontade de matar. De todas as vezes que perdeu o controle e machucou outras pessoas, de todas as vidas que teve que tirar para continuar a sobreviver. No reflexo dos olhos dele, viu algo que não gostou. 

Movida pela culpa, Wendy selou o seu destino. Iria embora da vida dele para sempre. Havia prometido e cumpriria com sua palavra. Deixaria ele ser feliz.

No entanto, ao dar as costas e sentir o olhar dele queimando sua nuca, Wendy Cullen quase se arrependeu. 

   ☀

A floresta passava como vulto ao seu redor, uma vez que Wendy não prestava atenção a nada como geralmente fazia. Os planos da sua viagem queriam tomar sua mente, no entanto, a preocupação de como contaria para sua família que estava deixando-os por um tempo, controlava cada pensamento seu. Não era fácil chegar e dizer para eles, que estava indo embora porque um lobo havia tido alguma magia esquisita por ela, e queria dar uma chance a ele de ser feliz sem sua presença, agourando a vida dele. 

Ela tinha certeza que se falasse daquela forma, Rosalie arrancaria sua cabeça, e Emmett iria declarar guerra aos lobos por achar que estavam forçando-a a deixá-los. Seu irmão era superprotetor, e ela tinha receio que ele não fosse convencido dos seus motivos tão facilmente. 

Wendy observou a entrada da casa tentando buscar coragem dentro de si. Arrumou os cabelos com as mãos e subiu as escadas lentamente, buscando ganhar tempo. Pensou em dar a volta e depois ligar para dar alguma explicação, mas ela não seria tão covarde a esse ponto. Lembrava perfeitamente como Edward tinha os deixado sem aviso na época da primeira vez em que viu Bella, e sentiu na pele a decepção. Não poderia fazer o mesmo. 

Abriu a porta cautelosamente, e tentou localizar sua família pela casa. Rosalie e Emmett estavam no quarto, começando a fazer coisas que embrulhariam o estômago de qualquer um. Esme cantarolava uma música autoral de Edward enquanto o mesmo tocava piano. A matriarca ganhava o dia quando seu filho mais velho sentia-se inspirado o bastante para tocar. Carlisle, felizmente, estava em casa — e ela agradeceu por isso. Não precisaria ir até o hospital para se despedir dele. Alice e Jasper...

— Por que estou vendo você indo embora? — A acusação soou bem ao seu lado. Alice tinha aparecido num rompante com Jasper em seu encalço, e não parecia muito feliz. 

O vampiro loiro olhava-a repreensivo — a mesma expressão usada por ele quando Wendy e Emmett aprontavam. Se a garota não soubesse o quão manteiga-derretida ele era com sua família, teria sentido-se intimidada. No entanto, apenas sorriu amarelo.  

Assim que aquelas palavras saíram da boca da vampira com feições de fada, mais cinco vampiros apareceram na sala de estar com semblantes sérios. 

— Vai nos deixar? — indagou Edward, sendo o primeiro a se pronunciar. O rosto dele tinha adquirido uma carranca sombria, e se Wendy não estivesse se sentindo tão encrencada, teria feito alguma piada. 

A vampira os encarou com culpa. Seu coração apertava em pensar que estaria magoando alguma daquelas pessoas tão importantes para si. 

As reações à pergunta de Edward foram diversas. Um misto de surpresa com indignação tomou conta do ambiente — com Rosalie sendo a mais atingida. Ela franziu as sobrancelhas loiras e bem feitas, torceu os cantos dos lábios e adquiriu uma postura ameaçadora.    

— Como assim você vai embora? — A loira se aproximou de Wendy em passadas firmes, gritando sem se preocupar com a careta incomodada de Edward.

A Cullen pensou em recuar. Rosalie sempre tinha exercido certa autoridade sobre ela, pois era a vampira que colocava certos limites nas suas brincadeiras e nas de Emmett. A loira era assustadora quando estava furiosa, e Wendy adorava brincar, dizendo que ela parecia um fenômeno da natureza. Ela era como uma avalanche ou um tornado, levando tudo por onde passava. Emmett, seu marido, gostava de compará-la a um urso pardo quando ficava zangada, e vinha daí o apelido carinhoso “ursinha”.

Sua família a encarava sem piscar, esquecendo todos os trejeitos humanos que eles estavam tão acostumados a imitar.

— Eu… — titubeou. A incerteza a fez arrastar o pé esquerdo pelo carpete, buscando palavras que pareciam não querer aparecer.

— Ela vai para Nova York. — A interrupção de Alice chamou a atenção de todos. — Sem mim! 

— Como você ousa — provocou Jasper, ironicamente.

Alice não pareceu compreender o sarcasmo inserido na fala do seu marido. Ela arregalou os olhos e grudou a ele, fitando-o com um olhar apaixonado.

— Você me entende, por isso que eu te amo. 

— Foco, Alice! — Edward revirou os olhos para a irmã.

— Ah, minha menina, o que aconteceu? — A matriarca da família passou por Rosalie, ignorando o resmungo alto da loira. Ela se aproximou de Wendy, e acariciou os cabelos encaracolados da mais nova. O carinho que ela tinha pela outra vampira estava claro em seu olhar.

Emmett torceu o nariz. 

— Eu… — começou Wendy novamente. 

— Vocês estão sentindo esse fedor? — Emmett se pôs a farejar o ar de uma maneira bastante teatral, e fez uma careta. 

— Cheiro de cachorro molhado — ajudou Jasper, lançando para a irmã um olhar suspeito. Sua mente orquestrando milhares de teorias, e cada uma delas, tinha uma estratégia sendo formada para que conseguissem se livrar de qualquer problema, intactos.

Wendy se sentiu como uma criança pequena sendo pega em flagrante. Ela lembrou brevemente de quando pegava as coisas do seu irmão mais velho para brincar — antes de serem separados pela guerra, e tentava deixar os objetos no mesmo lugar em que havia os encontrado. No entanto, Trevor, seu irmão querido, parecia uma espécie de investigador digno de Sherlock Holmes, e sempre a descobria. Anos mais tarde, a garota apenas percebeu que não era tão sorrateira quanto imaginava, e seu irmão não era o espertalhão que ele se dizia ser.

Ainda nos braços de Esme, a vampira se deixou estremecer com a risada de Edward — que era o único a saber de todos os fatos.

— Cheiro de… lobisomem? — cuspiu Rosalie. Se a loira estivesse em um daqueles desenhos animados, fumaça já estaria saindo em grandes quantidades pelos seus ouvidos. — O que você estava fazendo com um daqueles cachorros fedorentos?

— Estava com o Paul? — perguntou Edward, no mesmo tom de voz que diria: “Bom dia, Wendy! Como vai?”. 

Wendy não se deixou levar pela postura inocente do leitor de mentes. Afastou-se de Esme e disparou para perto do irmão, decidida a golpeá-lo uma ou duas vezes por ser tão dedo-duro. 

Antes que ela conseguisse extravasar parte da sua irritação, sua mão foi segurada pelo vampiro, deixando-a ainda mais enraivecida.

— Crianças — pronunciou-se Carlisle pela primeira vez. 

Não querendo desobedecer sua figura paterna naquele momento de despedida, Wendy se afastou de Edward. No entanto, lançou-o um olhar de aviso que as coisas entre eles seriam resolvidas depois.

— Eles vão saber de qualquer forma. — Ele deu de ombros, não se importando muito com o fato de ter jogado merda no ventilador e a deixado largada aos tubarões.

 Ela semicerrou os olhos, sentindo uma imensa vontade de arrancar sua cabeça e queimar seus restos.

— Quem é Paul? — grunhiu Rosalie. Se a Cullen fosse humana, seus tímpanos teriam explodido com o quão aguda a voz da irmã tinha soado. Aquilo deveria ser uma nova onda sonora, com certeza.

— Contou algo para o Edward e não contou para mim? — Emmett enxugou lágrimas invisíveis com um lencinho invisível. Entretanto, sua mágoa não era falsa. O grandalhão tinha mesmo ficado sentido. Poxa, era o irmão favorito! Precisava ficar sabendo informações importantes. — Estou profundamente magoado. 

— Eu…

— Como eu não vi nada disso antes? — Alice fez uma careta para o nada, sem se importar se estava interrompendo Wendy novamente. Sua preocupação se concentrou no fato de que não tinha visto absolutamente nada daquilo em suas visões.

— É por causa desse Paul que você vai embora? — Ignorando os devaneios da vidente da casa, Esme se focou no tópico principal. O porquê de sua bebê estar indo embora.

— Desde quando temos segredos? — A indignação de Emmet teria parecido verdadeira, não fosse pelo sorrisinho irritante no canto de seus lábios.

Se Wendy fosse humana e pudesse ficar vermelha, já estaria na cor de um tomate maduro.

— Chega! — gritou. — Assim vocês vão me enlouquecer!

Ao ver Emmett e Alice segurarem a risada, ela soube imediatamente que tudo tinha sido de propósito. 

— Por que não nos acalmamos e vamos nos sentar na sala como pessoas civilizadas? — sugeriu Carlisle calmamente. — Assim Wendy pode nos contar o que aconteceu. 

Carlisle se dirigiu para sala, e ela o seguiu imediatamente. Com Esme se sentando no braço da poltrona que ficava em frente ao sofá, onde o patriarca havia se acomodado, Wendy optou por ficar em pé ao lado deles. 

— Por favor. — O médico gesticulou com as mãos para que os outros se sentassem também.

Wendy prendeu a respiração ao ver sua família à postos. Sentiu-se num museu de cera, sendo encarada por várias estátuas.

— Pode nos contar o que aconteceu? — A voz de Carlisle soou compreensiva, mas Wendy não se surpreendeu. O motivo de ele ser o chefe da família era o fato de sempre ser paciente e comedido em momentos de necessidade. Ouvindo todas as partes da história, e compreendendo as criaturas que chamava de filhos como apenas um pai de verdade o faria.

Ela assentiu, balançando a cabeça. 

— No dia que perseguimos Victoria, — começou Wendy. — aconteceu uma coisa…

— O quê? — Emmett não conseguiu conter sua ansiedade.

— Sem interrupções — repreendeu Carlisle, lançando a todos ali olhares de aviso. 

— Nós tivemos aquele encontro com os lobos, e vocês devem se lembrar que um deles me olhou de uma maneira esquisita. No dia, eu não soube de nada. Mas Jacob Black foi até a escola para falar com Bella, e Edward leu a mente dele. 

Ao ver o nome do leitor de mentes sendo citado, todos se viraram para Edward, que balançou a cabeça, concordando.

— Edward não quis me dizer a princípio, mas eu o forcei. Então ele me falou que um daqueles lobos teve um imprinting por mim. 

A confusão no rosto deles denunciou que, assim como ela antes, não sabiam o significado do termo “imprinting”.

— Imprinting é… — Wendy deu uma pausa, tentando escolher as palavras certas. Aquilo estava soando mais íntimo do que ela imaginava. — É a forma dos lobos de encontrarem um companheiro. 

Ela se encolheu ao ver os olhares de choque. 

— Está querendo dizer que seu companheiro é um cachorro? — Rosalie pareceu ficar nauseada. Esperava que o companheiro da sua irmã caçula fosse um gentleman, e da mesma espécie que a dela.

— Rosalie — chamou Carlisle, indicando que ela parasse e pensasse antes de falar alguma bobagem. Após isso, ele se virou para Wendy. — Querida, tem certeza? 

— Tenho. — Ela tentou esconder seu incômodo. — Mas não é como nenhum de vocês está pensando! Nós não estamos… juntos. 

— Então o quê? — perguntou Emmett, estupefato. 

Wendy pensou se conseguiria dizer aquilo ou não. Como contar a sua família que ela amava tanto, que foi rejeitada? E ainda mais por um lobisomem!

— Ele não me quer — cuspiu Wendy. — E de novo, não é nada disso que vocês estão pensando.

Ela ignorou os olhares de pena que Alice e Esme a lançaram, e percebeu as vampiras se aproximando mais de seus companheiros. Wendy sentiu uma pontada em seu coração. 

— Nós conversamos mais cedo e nos entendemos. Eu não sinto nada por ele, e o Paul também não me quer. Foi uma escolha de ambos. 

— Então por que você vai embora? — Edward já tinha visto a resposta em sua mente, mas desejava ouvi-la dos lábios da irmã.

— Ele não te obrigou, não é? Porque se ele te fez alguma coisa eu vou… — Emmett pulou do sofá, batendo os punhos um no outro.

— E eu vou junto — pronunciou-se Jasper pela primeira vez.

— Não! — gritou Wendy, alarmada. Ela não duvidava que eles cumprissem, de fato, as ameaças. — Ele não me obrigou a nada! Eu me ofereci para ir embora. 

A surpresa de Emmett, em outra hora, a faria rir. No entanto, a sala estava tão repleta de confusão e indignação, que ela temia que Jasper explodisse. 

 — Ele estava sofrendo — revelou ela. Aquele dia estava trazendo diversas das suas memórias humanas. Ela lembrava de dizer exatamente a mesma coisa para sua avó aos seis anos, quando encontrou um gatinho ferido e o levou para casa, ignorando completamente o detalhe de seu irmão mais velho ser alérgico ao pelo do animal. — Não posso ficar aqui sabendo que vou estar fazendo alguém sofrer. Ele não me quer, e eu não sinto nada por ele. É melhor desse jeito. 

— Então por que ele não vai embora? — Por mais que Rosalie tivesse soado rude, a garota a conhecia bem o bastante para saber que era apenas o amor que a outra sentia, falando mais alto.

Wendy suspirou. 

— Aqui é o lar dele. É onde sua família está. Não posso arrancar tudo isso de outra pessoa e seguir vivendo minha vida. 

— Aqui também é o seu lar — lembrou Esme carinhosamente. — E é onde sua família está.

Eu sei. — Wendy sorriu para assegurá-la de sua resposta. — Mas é diferente. Comparado a mim, ele é uma criança, e está sofrendo por algo que não teve controle. 

— Você também não. — A Cullen agradeceu seu irmão mentalmente. Sabia que Edward apenas a lembrou daquele detalhe porque não queria que ela ficasse se correndo pela culpa.

— Eu já decidi, e eu realmente espero que vocês entendam. 

— O que eu não estou entendendo é porque você precisa ir embora. — Os lábios de Emmett formaram um bico.

Wendy deu uma risadinha. 

— Não seja um bebê chorão, Emm. Não é a primeira vez que ficamos longe. Além disso, você não vai entender nem se eu explicar. 

O grandalhão a imitou para provocá-la.

— Então vai mesmo para Nova York? — indagou Alice, levantando-se.

— Vou. 

A vampira deu um pulinho e agarrou o braço de Wendy. 

— Então vou te ajudar a arrumar as malas. Não pode andar por lá feito uma maluca. 

Jasper olhou-a com pena ao vê-la sendo arrastada, e Wendy sorriu, melancólica. Ia ser difícil ficar longe deles.

  

 


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