Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 7
Coração doentio




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Capítulo 6

por N.C Earnshaw

 

PAUL HAVIA ENCONTRADO ELA novamente. Estranhou a urgência que sentiu no meio da ronda a sair da sua rota e se encaminhar para aquele lugar. Assim que foi se aproximando, sentiu o cheiro adocicado do seu imprinting. Ele poderia ter parado, dado a volta e saído de lá sem que ela se desse conta. Estava longe o bastante e ela não o veria, não achava que distinguiria o cheiro dele do cheiro do resto da sua matilha. No entanto, foi em frente. A força do imprinting puxando-o para ao menos olhá-la ou sentir seu perfume mais de perto. 

Quando seus olhos pousaram nela, não pôde evitar ficar surpreso. Ela era esplêndida, tinha que admitir. Os longos cabelos negros, que chegavam à cintura com cachos grossos, faziam-no pensar como seria se enroscar neles e sentir sua essência. A pele pálida do pescoço instigava um desejo de acariciá-la com as mãos… com a boca… com a língua. 

Ela separou os lábios rosados, parecendo querer falar algo, e Paul sentiu seu corpo estremecer. Ele mal podia respirar, e seu coração parecia que iria pular do peito. Ele pegou-se pensando em se transformar de volta em humano, ir até lá e agarrá-la. Beijar aquela boca vorazmente. Beijá-la até ficar sem ar, e não parar até ambos ficarem inconscientes.

E foi então que ele lembrou que ela era uma vampira. 

Uma sanguessuga que matava para sobreviver não desmaiava, muito menos com beijos. 

Paul ficou enojado consigo mesmo ao pensar em beijar aquela boca novamente. Os lábios dela agora sujos de sangue tocando os deles em sua imaginação. 

Ele rosnou alto, desnorteado com as imagens que passavam por sua mente. Então virou-se para fugir dali. Mas, antes que desse as costas, lançou um olhar irado para a — ele não podia mais esquecer, vampira.

Paul correu durante toda a noite, percorrendo sua rota sem desviar dessa vez. Ignorando os pensamentos de Jared — que também estava em ronda, e agradecendo mentalmente ao seu amigo por ele não ter feito nenhum comentário sobre o que havia acontecido mais cedo. O quileute já sentia nojo o bastante por si só. Não precisava de mais ajuda para se odiar e odiar aquela garota. 

A única coisa que o deixava aliviado, era saber que ela não tinha ideia do que estava passando. Ele morreria antes de se humilhar para uma sanguessuga. Entretanto, uma desconfiança de que ela já sabia o cutucava. A familiaridade que ela o encarou, quando ele parou para avaliar o encontro, deixou-o meio cismado.  

Paul balançou a cabeça, ignorando esses pensamentos. 

Não tinha possibilidade de ela ter conhecimento sobre o imprinting. Era um dos segredos da tribo. E, pela lei, somente o lobo poderia contar ao seu alvo sobre a magia. Além disso, ele decidia quando e como seria. Sendo assim — por Paul, ela nunca saberia nem quem ele era. Tinha certeza que ninguém da sua matilha se atreveria a se impor e contar algo. 

   ☀

Paul iria cometer um assassinato. Ele não se importava nem um pouco com as consequências. O depois, para ele, não interessava. Ele somente pensava na satisfação que teria quando enfiasse suas garras naquele maldito, e transformasse sua carne em tiras. 

“Eu vou te matar, Black”. A intimação saiu pelos seus lábios seguida de um rosnado, espantando o lobo de pelagem avermelhada que tinha se tornado seu objeto de vingança. 

“Eu pedi para a Bella não falar nada, Paul”, grunhiu Jacob quando saiu do estupor. “Ela não vai trair minha confiança”. 

Paul começou a andar em círculos em volta do outro lobo, sem conseguir conter sua ira. 

Embry era o único a presenciar a cena, e olhava para os dois com cautela. Conhecia-os bem o bastante para saber que nada de bom resultaria em uma discussão entre eles. Ambos eram teimosos e cabeças-duras e ele sabia que se, por um acaso, fosse se envolver no meio daquela disputa, seria rasgado ao meio. 

“Rá! Você é uma grande piada, Black! Acha mesmo que aquela adoradora de sanguessugas vai guardar esse segredo?”. Paul bufou alto logo que terminou a pergunta pingando deboche. Era muita inocência achar que Bella Swan, tão devota aos seus vampiros quanto uma freira era a Jesus, guardaria uma informação daquelas. “Você é mesmo patético”.

Eu sou patético?”, retrucou o garoto Black sarcasticamente. “Quem é mesmo o idiota que teve um imprinting por uma sanguessuga? Ah, é mesmo! Foi você!”.

Paul se lançou sobre ele sem pensar, jogando-o contra uma árvore. Ele podia não ser muito bom com as palavras, mas era incrível em usar os próprios punhos. 

“Não fale o que você não sabe!”. Ele se aproximou do outro — que já havia se levantado, advertindo-o. 

“O que eu não sei? Ah, Lahote! Eu sei muito bem! O que eu sei é você virou um maldito cachorro de madame! E essa madame é nada mais que um monstro sugador de sangue que precisa matar gente para sobreviver. Ainda não achando suficiente, quer levar mais alguém com ela!”. 

Paul deu uma risada seca. 

“Então tudo isso é sobre a amante de sanguessuga? Porque eu acho que você está esquecendo um detalhe muito importante. Ela quer isso. Ela quer se tornar… Como foi que você disse mesmo? Um monstro sugador de sangue? Ela quer ser um deles, Jacob. E quer ficar com aquele vampiro topetudo para sempre. Ela não te quer, seu imbecil. Aceite isso. Deve ser difícil, não é? Não ser bom o suficiente nem para superar um maldito cadáver?”. 

“Seu infeliz”. O grito de Jacob, mesmo que em pensamento, fez o cérebro de Paul doer. Ele pulou sobre o Lahote para atacá-lo, e os dois rolaram no chão, trocando golpes. 

As garras se cravavam na carne um do outro, e as bocas procuravam desesperadamente algum lugar para fincar suas presas. Os corpos gigantes, transformados em lobos, batiam nas árvores da floresta, e enquanto investiam um contra o outro, não estavam muito preocupados com a fauna ou a flora do lugar. 

Sons de osso estalando ecoavam na pequena clareira, assustando Embry — que esperava ansioso para Jared chegar com o alfa. O Cameron, apesar de não estar presente, encontrava-se transformado a quilômetros dali, e tinha se oferecido para buscar Sam. 

Terra era espalhada para todo lado todas as vezes que um era atirado contra o chão duro. E xingamentos e grunhidos eram proferidos, deixando o Call horrorizado — mesmo que no fundo admitisse para si que estava achando a situação animadora. 

“Mas que droga é essa!”. O berro de Sam se destacou entre os outros pensamentos. O alfa estava mais que furioso. “Os dois, parem AGORA!”. 

Sam se enfiou entre os lobos, agarrando Paul com a boca, jogando-o para longe de Jacob e se pondo entre os dois. Os dois lobos, surpresos com o surgimento do alfa, não se moveram. Afinal, não se podia desobedecer uma ordem direta vinda dele. 

“Agora que já pararam de se atacar como dois otários, podem me explicar que droga aconteceu aqui?”. Sam fuzilou os dois com os olhos. Antes de ser chamado por Jared, estava relaxando com seu imprinting nos braços. 

Paul se adiantou em falar. 

“Esse imbecil contou a Bella Swan tudo sobre a droga do imprinting!”. Lembrando do motivo que o tinha deixado tão irado, tentou se aproximar novamente de Jacob. 

“Paul!”, repreendeu o alfa. Vendo que ele parou de se mover, Sam voltou seu olhar para o outro lobo. “Jacob, isso é verdade?”. 

Jacob pareceu hesitar. 

“É, é sim”. 

“Seu idiota!”, vociferou Paul, tremendo de raiva. 

Sam censurou-o com o olhar, mesmo que achasse compreensível a reação do Lahote. No entanto, era o alfa, e tinha que guardar sua opinião para si mesmo até recolher todas as versões dos fatos. Ele balançou a cabeça na direção de Jacob dando a chance para ele se explicar melhor. 

“Eu não ia falar nada sobre o Paul, juro. Mas eu tinha que conversar com ela sobre o imprinting. Ela tinha o direito de saber. Eu não queria que qualquer dia desses, quando eu olhasse nos olhos de uma estranha e mudasse, ela fosse pega de surpresa!”, relatou Jacob, exasperado. 

Sam assentiu com a cabeça, e a lembrança de Leah pairou em sua mente. 

“Quando eu contei sobre o imprinting, ela soube na hora o que havia acontecido entre Paul e a vampira. O leitor de mentes entregou tudo quando fui dar aquele aviso, ela apenas juntou as peças”.

“Você não tinha o direito", argumentou Paul.

“Eu sei, cara! Eu sei, tá legal? Eu pisei na bola. Não imaginava que a Bella fosse descobrir tão rápido. Mas, de qualquer forma, a vampira já devia estar sabendo. O sanguessuga deve ter lido tudo na minha mente”. 

Paul ficou sem palavras. A raiva tinha se dissipado aos poucos e a vontade de brigar, ido embora. Ele assentiu à contragosto, sabendo que, mesmo se quisesse continuar a bater em Jacob, Sam iria impedi-lo. 

“Agora que o problema já foi resolvido, Jacob e Embry, podem ir para a ronda", ordenou o alfa. Depois disso, ele se virou para o Lahote. “Paul, você e Jared podem ir descansar”. 

“Não”. Somente de pensar em ir para casa o dava ânsia. Precisava pensar. 

Sua negação acabou chamando a atenção dos outros, que pouco antes já tinham começado a se afastar. 

“Jacob, vou ficar com o seu lugar na ronda”. 

Jacob hesitou. Não era comum que alguém oferecesse para cobrir a ronda de outra pessoa.  

“Faça o que ele pediu”. O apoio de Sam fez a decisão ser definitiva, então o Black acatou.

Paul fugiu dali o mais rápido possível. Quando ouviu todos os outros mudarem de forma, e apenas Embry na sua mente, começou a correr com um propósito. Voltar ao lugar que a tinha encontrado. 

   ☀

Paul esperou ela por horas. A expectativa de se livrar de uma vez por todas daquela situação, estava quase o matando de ansiedade. Para se acalmar, ele caminhou de um lado para o outro perto da linha da fronteira, e ele podia jurar que vários buracos tinham se formado em alguns pontos. A demora o irritava; uma vez que odiava esperar, e ele resolveu voltar a forma humana para evitar que seus companheiros ouvissem seus pensamentos. 

A determinação de encarar os seus problemas de frente enviava ondas de energia necessárias para que ele se mantivesse acordado em meio ao tédio. Apesar de não ter marcado encontro algum com a vampira, sentia que ela voltaria até lá, sendo levada pela curiosidade. 

Seu corpo tremia em antecipação. Se Jacob estivesse correto, e ela soubesse sobre o imprinting, ele seria obrigado a fazer a coisa mais ridícula que já tinha imaginado. Terminar um relacionamento que nunca existiu. 

Ele não a queria. Não precisava dela, e sentia nojo de tudo que a envolvia. A ideia deles juntos embrulhava seu estômago, e pensar em tocar nela piorava a situação, levando-o a quase vomitar.  

Ele estava determinado a falar aquelas coisas para ela, antes mesmo que ela abrisse a boca. Não se importava com nada que ela tivesse a dizer, pois ela não importava nem um pouco para ele. Que se danasse aquela conversa de honrar os espíritos e blá blá blá! Paul apostava que nenhum dos seus antepassados iria estar muito satisfeito em ter como escolhida, uma sanguessuga. 

O lobo apaixonado e totalmente devotado por ela, rugia dentro do seu peito. A dor de pensar em dizer aquelas coisas tão horríveis chegava a machucá-lo fisicamente. Pensar em ficar longe e renegar o seu amor deixava-o desesperado. 

No entanto, Paul ignorava estas emoções. 

Que fosse ao diabo seu coração doente! Seria fiel ao seu cérebro e aos seus valores. Odiava vampiros e nunca teria qualquer contato com um deles — a não ser para arrancar suas cabeças. 

Estava decidido! Iria rejeitá-la de uma vez e acabar com toda aquela espera.

Paul ouviu o barulho de passos se aproximando, e arrumou sua postura. Separou as pernas, cruzou os braços e colocou o olhar mais ameaçador que possuía.

Quando ela chegou mais perto, sua firmeza se foi. Suas pernas pareciam geleias, sua boca ficou seca e seu coração acelerou. Somente conseguiu encarar aquela figura esguia, de cabelos macios, calça jeans bem apertada — que Paul apostava que deixava seu traseiro lindo, blusa colada marcando sua cintura fina, e olhar de sensual de predadora que o fitava com tanta atenção. Ela era estonteante — ele tinha que admitir. A beleza dela ofuscava a de todas as outras mulheres que o Lahote já tinha se relacionado. 

Eles ficaram em silêncio olhando um para o outro. E as palavras que Paul tanto havia planejado, fugiram da sua boca. Ele apenas conseguiu ficar parado feito um idiota, pensando em como queria tocá-la, repreendendo-se, e se lembrando que ela era uma vampira. Depois disso, o desejo de tocá-la voltava. 

Paul pensou em agarrá-la e fazer coisas inimagináveis com ela. Poderia dizer que não a queria depois. Talvez ela topasse uma aventura de uma noite, quem sabe?

“Você é um lixo”, pensou ele, batendo-se mentalmente. 

— Você deve ser o Paul. — Ela havia se cansado do silêncio. — Meu nome é Wendy.

O quileute foi pego de surpresa ao ouvi-la falar, a voz de fada ecoando pela floresta até ele, somente o lembrava que poucos metros separavam os dois. O seu corpo ficou todo arrepiado, e ele tentou disfarçar apertando os braços que ainda estavam cruzados.

— Eu não sei como falar sobre isso, eu… — A confusão estava clara no rosto perfeito. Um pequeno franzir de cenho foi o suficiente para que ele soubesse que ela não tinha ideia do que dizer. 

Paul se manteve em silêncio. 

— Eu soube do imprinting — desabafou ela; mesmo sabendo seu nome, ele se recusava a sequer pensar nele. 

— Aposto que soube. — O comentário soou sarcástico até para os seus próprios ouvidos, e Paul sentiu vontade de sorrir ao ver que tinha deixado-a desconfortável.

— E aposto que foi a namoradinha do seu… Como é mesmo que vocês fingem ser? Ah, sim! Do seu irmão

Wendy — que até ali aparentava estar bem nervosa, irritou-se e se aproximou mais. 

— Nós somos irmãos! — revoltou-se a vampira, zangada. — Não é porque não temos o mesmo sangue, que não possamos ser irmãos. Nós nos amamos como família, cuidamos uns dos outros e nos protegemos. Se isso não for o significado de família, eu não sei o que é. 

Paul ergueu uma sobrancelha diante do seu rompante, e para provocá-la, lançou um olhar de desdém. 

A garota bateu o pé com força, criando uma leve rachadura na terra.

— Olha aqui, seu lobinho idiota, eu apenas vim até aqui porque estava preocupada com a sua situação, e queria saber como ficamos…

Paul grunhiu. 

— Primeiro, eu não preciso da merda da sua preocupação. Segundo, não existe nós. Entendeu bem? Não sei quem te deu essas informações, mas ouça com atenção. Estão. Erradas! 

Wendy olhou-o com confusão. 

— Mas a Bella…

— Bella Swan é uma intrometida — interrompeu Paul, descruzando os braços. — Ela não tinha nada que se meter no que não lhe cabia, e muito menos espalhar informações falsas.

— Então está dizendo que não teve um imprinting por mim? É isso? — Os olhos de Wendy brilharam em expectativa. Ela cruzou as mãos na frente do corpo e mexeu a cabeça para o lado, quase encostando-a no próprio ombro. 

Paul pensou em mentir. Cogitou negar tudo e fingir que aquela era a história mais doida que ele já tinha ouvido. Que ela era maluca por acreditar naquela baboseira. 

Mas ele não podia. Na verdade, não conseguiu fazer com que aquelas palavras saíssem por sua boca. Não conseguiu mentir para ela. 

“Droga”, pensou ele ao se ver encurralado. 

— Não importa. — Sua calma soou falsa até mesmo para si. 

— Importa sim! — retrucou ela. Wendy deu uns passos para mais perto quando o viu se virando para ir embora.

— Importa por quê? Se eu tive um imprinting por você ou não, não te afeta em nada! Você vai continuar sua vida de morta-viva sem nenhuma mudança e vai esquecer disso logo. As consequências e as escolhas disso tudo, são minhas! — berrou Paul. Ele apertou os punhos, tentando controlar sua respiração ofegante. A ira era tanta que ele sentia dificuldade de mantê-la em cheque. 

Wendy o encarou atordoada. Uma onda de culpa — ao ver o quanto ele estava perturbado, fez o veneno em seu corpo irritar seus olhos. Era uma típica reação que os vampiros tinham quando sentiam uma vontade imensa de chorar. Seu corpo não possuía as lágrimas salgadas que a ajudariam a tirar a angústia do seu peito, e aquele choro silencioso apenas aumentou sua tristeza. 

Ela somente enxergava ali, um pobre rapaz humano com problemas de raiva, novo demais para aquela vida perigosa, e fadado a ter as escolhas arrancadas de si. Condenado a amar alguém que na realidade, odiava. 

Ela sentiu urgência em ajudá-lo.

— Espera! — O grito saiu pelos seus lábios antes que percebesse. Seu corpo reagiu mais rápido que o seu cérebro assim que se deu conta que ele tinha dado as costas e estava caminhando para ir embora. — Eu posso te ajudar!

Paul congelou no lugar. Na dúvida se devia ignorá-la ou ficar para ouvir. 

— Acho melhor você não se aproximar mais — avisou ele, virando para encará-la. 

Wendy parou de andar ao ouvir o aviso. Confusa, procurou ao redor algo que poderia estar fazendo de errado. 

— Se der mais alguns passos, estará em terra quileute. — A explicação veio a contragosto. — Não vai querer quebrar o tratado. 

Wendy assentiu. 

— Eu posso te ajudar — repetiu ela. 

— Como você pensa que pode me ajudar? — A ironia estava marcada em cada palavra verbalizada. — Por acaso tem algum poder que possa apagar da minha memória toda essa história?

Wendy hesitou. Ela poderia sim, usar seu poder para controlar as memórias dele. Poderia apagar qualquer resquício dela que ele tinha guardado. Ela poderia, sim. Mas não sabia se daria certo. Ela já havia testado em vampiros e humanos, sabia que funcionava. Entretanto, Paul era um homem que se transformava em lobo, e ela não controlava animais. 

Ao vê-la sem resposta, Paul bufou com escárnio, e se colocou a andar em direção à uma árvore.

— Eu posso fazer qualquer coisa que você quiser! — Mesmo que as palavras tivessem soado piegas até para os seus ouvidos, ela não se arrependeu de tê-las dito. Resolveu não revelar o que estava pensando — não se arriscaria a usar seus poderes. A Cullen não tinha ideia sobre o quão forte o imprinting era, e não queria piorar a situação. 

Paul deu uma risada irônica e virou-se para olhá-la. 

— Qualquer coisa? — perguntou o lobo sarcasticamente. — Então por que você não desaparece, hein? 

— Posso fazer isso. — A resposta dela o surpreendeu, percebeu Wendy. Na verdade, oferecer uma alternativa para ele era a única maneira de deixar sua consciência tranquila. Não seria uma tortura viajar para outros lugares e fazer a vida de alguém mais fácil. — Se isso vai te fazer se sentir melhor sobre essa coisa toda, então posso fazer. 

Paul estreitou os olhos, desnorteado. 

— O que está querendo dizer? 

— Você quer que eu suma, então vou sumir. Simples assim. — E, de fato, era bastante simples. A Cullen era imortal, alguns meses não a matariam. Sua família mudaria para outra cidade muito em breve, então não tinha porque ficar torturando-o com sua presença. 

— Você não está falando coisa com coisa, sangu-vampira. — A ofensa saiu deliberadamente; ele estava acostumado a usá-la para identificar a espécie dela. No entanto, optou no meio da palavra por um sinônimo menos ofensivo. Afinal, ela estava se oferecendo para fazer exatamente o que ele esperava que ela fizesse quando foi até lá rejeitá-la. Para encerrar aquele ciclo, apenas precisava ouvir com todas as palavras. 

— Vou sumir. — Wendy se inspirou na voz afetada do seu irmão, lembrando como Alice descreveu a cena de Edward se despedindo de Bella alguns meses antes. O lobo à sua frente não precisava saber que ela não estava sendo original. — Essa é a última vez que você vai me ver. Prometo que vai ser como se eu nunca tivesse existido.

Paul encarou-a, incrédulo. Suas pernas queriam ceder, e ele desejava ficar de joelhos e implorar para que ela nunca mais falasse aquilo novamente. Entretanto, a única coisa que conseguiu fazer, foi observá-la com os olhos levemente arregalados. 

Ela estava ali parada, ereta e destemida. Dando o que ele queria desde que a havia visto pela primeira vez, mas não o que ele precisava.

— Prometo que eu nunca vou pisar os pés em Forks novamente enquanto você estiver vivo. Você vai poder viver sua vida sem que eu esteja por perto para atrapalhar. Com o tempo, pouco a pouco, aposto que essa magia vai se extinguir e você vai encontrar alguém que você ame. Alguém que você escolheu. 

Paul ficou sem palavras. Ele queria gritar, desejava desaparecer e almejava acreditar nas palavras dela. Gostaria de acreditar que, no momento que ela saísse da sua vida, ele esqueceria e seguiria em frente. 

Ele agarrou-se às palavras dela com tudo que tinha. 

— E a sua família? — perguntou Paul com a voz rouca. 

Wendy sorriu minimamente, e ele quis guardar aquela imagem para sempre. 

— Não se preocupe. Não é a primeira vez que ficamos longe. 

Paul assentiu. Ela assentiu de volta, deu as costas e foi embora sem olhar para trás, deixando ali um jovem despedaçado, que se segurava à sua promessa com todas as forças. 

A promessa que ele seria feliz. 

Feliz sem ela. 

 


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