Entre Fogo e Gelo escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 2
Feita de pedra




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Capítulo 1

por N.C Earnshaw

 

WENDY NÃO MOVEU NENHUM músculo do seu corpo. As costas eretas, os pés fincados no solo da floresta, os pulmões sem bombear ar, e sua atenção totalmente focada nos seus sentidos. Olhos atentos às árvores frondosas e ouvidos aguçados a qualquer som anormal. Se ela tivesse um coração que batesse, estaria palpitando descontroladamente em seu peito, no entanto, era “feita de pedra”, e as fraquezas que tinha quando era humana se extinguiram assim que havia se transformado — ela achava melhor desse jeito. 

Sua família estava ao seu redor da mesma forma. Compenetrados na tarefa que se dispuseram a cumprir. Fiéis à promessa que fizeram ao seu irmão, Edward. A promessa de que acabariam de uma vez por todas com a vampira de cabelos ruivos que há muito atentava contra a vida de Bella. 

Ela não era uma boa lutadora se equiparada aos seus irmãos e irmãs. Jasper a comparava sempre aos recém-criados. Dizia que ela não evoluiu da fase de não pensar antes de atacar. Wendy também não era a mais forte, sempre perdia quando lutava de brincadeira contra seus irmãos — principalmente com Emmett, o mais forte do clã. Numa batalha corpo a corpo, sabia que não aguentaria muito tempo antes de ser feita em pedaços. Em situações de perigo, sua família sempre a colocava mais atrás para ser protegida, o que a irritava imensamente, pois, apesar de não ter grandes habilidades de combate, sabia se defender muito bem, obrigada.

Wendy tinha uma bela vantagem. Era presenteada com um poder. Assim como Alice via o futuro, Jasper controlava emoções e Edward lia mentes, Wendy tinha algo muito mais poderoso. Com um toque, um mínimo toque, ela poderia controlar a mente de qualquer um, a fazer o que ela quisesse. 

Era um poder esplêndido, e muito perigoso se exposto ao mundo — especialmente se a realeza vampírica tomasse conta de sua existência. Eles não iriam precisar de Alice para ver o futuro, se pudessem controlar a todos e mudar os fatos ao seu bel-prazer. Não iriam necessitar de Edward para ler pensamentos, quando um ínfimo contato contra a pele poderia fazer a outra pessoa cuspir todos os seus sentimentos mais sombrios. E não iriam querer Jasper controlando emoções, enquanto possuíam a capacidade de dominar cada ação e cada pensamento de um indivíduo. E era isso que assombrava mais sua família, que os Volturi um dia aparecessem e a levassem sob custódia com qualquer desculpa. Então Wendy nunca usava seu poder. Deixava-o de lado até que aparecesse uma situação que considerassem uma emergência.

Matar Victoria era uma emergência, afirmou Edward em uma reunião de família. Sua decisão sendo apoiada com muito receio pelos outros membros do clã, principalmente por Rosalie. Já Wendy ficou em êxtase ao saber que poderia pôr seu poder em prática depois de tanto tempo. Saiu saltitando da mesa de jantar com um sorriso que parecia que iria rasgar-lhe as bochechas. Ansiosa pelo momento que pegaria aquela ruiva e a submeteria às suas vontades.

O momento chegou e, se Wendy fosse humana, estaria quase a caminho de um ataque de pânico. Medo de falhar a afligia. De decepcionar seu irmão e Bella continuar à mercê da ameaça de Victoria.

Com as mãos cerradas em punhos, Wendy afastou todos esses pensamentos e voltou a se focar. Próxima a Emmett e Rosalie, esperava o instante que Alice lhes daria o comando.

— Tem certeza de que a viu aqui? — perguntou Carlisle, quebrando o silêncio tenso de expectativa que os rondava e atraindo olhares para Alice.

Wendy viu pelo canto do olho Jasper se aproximando de sua companheira com olhar expectante.

Com a atenção vidrada à sua frente, Alice parecia estar com a mente em outro lugar — aparência que adquiria quando estava tendo uma visão. Algo que se tornou comum para Wendy depois de tantos anos de convivência com a vidente. 

— Ela está quase aqui — sussurrou Alice. 

Wendy flexionou os dedos das mãos, ansiosa, ouvindo Emmett tensionar os músculos ao seu lado enquanto se preparava. Ele estava claramente agitado em partir para a ação. 

Rosalie lançou para a garota um olhar preocupado por saber a pressão que ela estava colocando em si mesma, mas ela retribuiu com um sorriso maroto, que sempre lançava para a loira quando ela e Emmett eram pegos aprontando. Um sorriso cheio de covinhas que fazia a Hale se derreter. 

Rosalie sempre se surpreendia com o quanto Emmett e Wendy eram parecidos. Os cabelos cheios e negros com cachos grossos, as covinhas profundas que era apaixonada e, principalmente, a personalidade brincalhona e desinibida, até um tanto infantil dos dois. E era por isso que a loira, que até mesmo os outros membros de sua família achava fria, era apaixonada pela parceira de crime de seu marido. Wendy era para Rosalie sua melhor amiga e irmã. E faria tudo por ela.

A alguns quilômetros dali, uma ruiva corria entre os pinheiros e sobre a terra enlameada da floresta de Forks. Seus cabelos vermelhos se destacavam contra o verde e marrom tão proeminentes naquela região. Determinada, mais uma vez, a conseguir o que tanto aguardava, vingar-se daquele que matou seu companheiro, o amor da sua vida eterna, James.

Ao perceber que algo estava errado, Victoria parou repentinamente e puxou o ar com força. 

Ela soltou um grunhido feroz ao sentir o odor tão característico de outros vampiros, cheiro vindo daqueles que ela odiava com todo o seu ser, aqueles que a estavam impedindo de cumprir seu objetivo. 

Sabendo que estava em menor número, pôs-se a correr em outra direção, tendo em mente que mais uma vez não conseguiria se vingar do leitor de mentes idiota, despedaçando sua companheira humana.

— A sua esquerda! — vociferou Alice ao localizar Victoria.

Automaticamente todos os Cullen se puseram a correr, Wendy bem atrás de Emmett que estava na frente. Carlisle e Jasper indo pelos flancos para tentar impedi-la no meio do caminho. Esme, Rosalie e Alice atrás deles.

Wendy se esforçava cada vez mais. Ultrapassou Emmett várias vezes e recebeu olhares desaprovadores de seu irmão. O vampiro, para não deixá-la se arriscar — e a conhecendo bem o bastante para saber que ela não desaceleraria suas passadas se ele pedisse, correu o mais rápido que conseguiu. A determinação em deixar sua irmã caçula segura foi o motivo do seu sucesso em fazê-la comer poeira. 

Se eles não estivessem em um momento tão crítico, o grandalhão riria da expressão surpresa de Wendy. Ela era a segunda mais rápida da casa, vindo somente atrás do narcisista do Edward, e se encontrava em choque por ser deixada tão para trás. 

Apertando mais o passo e focando somente na ruiva imbecil, Wendy quase podia chegar perto o bastante para tocá-la.  

Bastava um toque e a ruiva já era. 

Um toque e todos ficariam bem. 

Só precisava chegar mais perto.

Ela tinha que deter aquela maldita. Tinha que acabar com ela. E iria. 

A vampira ruiva apesar de tensa, não demonstrava qualquer temor. Ela era talentosa em escapar. Passaria quase despercebida se não fosse por Alice. Era uma parasita irritante que incitava a raiva de Wendy com os olhares presunçosos que a ruiva lançava sobre os ombros.          

Emmett, parecendo ainda mais determinado, acelerou e agarrou o ombro da vampira. Mas sendo sorrateira como era, Victoria se abaixou rapidamente e lançou seu irmão para longe, continuando a correr com todos os outros Cullens em seu encalço. 

Wendy continuava a não apanhá-la por muito pouco. A ruiva parecia mais esquiva em relação a ela — evitando qualquer tipo de toque. Depois daquilo, ela teve mais certeza que Victoria tinha conhecimento dos seus poderes. Provavelmente Laurent, que passou um tempo com os Denali, tinha a informado.

Victoria se aproximou cada vez mais da fronteira que dava para as terras quileutes, onde nenhum Cullen poderia ultrapassar se não quisesse guerra… Então ela saltou. 

— Espera! — bradou Carlisle, enquanto impedia o avanço com o braço esticado à frente de Rosalie. Wendy e os outros pararam atrás. — Ela está no território deles. 

Wendy seguiu então Esme e Jasper que já corriam, encarando a vampira do outro lado da pequena depressão. De canto de olho, ela conseguiu ver que Rosalie, Alice e Carlisle também faziam o mesmo.

Insatisfação consumiu a vampira com covinhas. 

— Ela vai fugir! — gritou Esme. Entretanto, no momento em que as palavras saíram dos lábios da matriarca da família, lobos gigantes apareceram no rastro da ruiva.

— Não vai, não. — A certeza na voz de Jasper, o melhor guerreiro da família, acendeu novamente a esperança no coração morto de Wendy.

Ela viu Victoria sendo seguida por dois lobos da alcateia. E pôde perceber o olhar de desespero começando a se formar no rosto da inimiga quando ela olhava para trás, sobre seu ombro. Claramente se sentindo encurralada e angustiada por estarem chegando tão próximo. Agora, Wendy que dava um sorriso presunçoso. 

Emmett retornou a dianteira do grupo com Wendy ao seu lado. Jasper mais encoberto pelas árvores, e os outros mais atrás. Por um triz, os lobos não pegaram a ruiva. Ela mais uma vez sendo rápida e escorregadia, pulando para o lado dos Cullen. 

Victoria saltou por uma árvore para confundir, mas Jasper a seguiu e assim que pularam, ficaram a centímetros de se encontrar no ar. O Hale foi ao encontro do chão, enquanto a ruiva caía em pé como uma gata, e continuava a fugir. 

Wendy e Emmett seguiam determinados na cola dela, após a queda de Jasper. 

A vampira pareceu querer mudar de lado novamente, indo para as terras quileutes, entretanto, isso não os parou. 

— Emmett, Wendy, não! — esbravejou Rosalie, ordenando que eles parassem.

Trocando olhares, os considerados parceiros em crime seguiram em frente. Sabiam que não teriam outra oportunidade como aquela.

Saltaram juntos. 

Quando quase pisaram na terra, um lobo cinza-escuro pegou Emmett no ar com a boca enorme, e jogou o corpo musculoso do vampiro contra o pequeno de Wendy, fazendo com que se chocassem e caíssem dentro d’água.

Emmett num pulo, levantou-se furioso rosnando para o lobo cinza que os impediu de pegar Victoria. Vendo a ira reluzindo nos olhos do irmão, e ouvindo os grunhidos animalescos que saiam do lobo, Wendy se levantou olhando cautelosamente para o vampiro grandalhão, e se colocou entre os dois.

Logo que ela se virou para falar com o transmorfo, seus olhos se conectaram com os dele, e um turbilhão de sentimentos passaram a refletir nos olhos do animal. Novamente, se Wendy tivesse um coração que batesse, ele estaria palpitando com a estranheza da situação.

O lobo a estava olhando com uma espécie de… carinho?

Emmett, ao perceber a forma esquisita que o lobisomem parou a disputa deles para encarar sua irmã mais nova, segurou o braço dela e a puxou para trás, indicando com a cabeça que ela fosse se juntar a sua família.

Meio em dúvida e chateada ao se lembrar que não capturaram a ruiva mais uma vez, Wendy se encaminhou para sua família desejando poder olhar para trás sem chamar atenção — especialmente após ter ouvido um som semelhante a um ganido de cachorro.

— Vem, vamos pra casa. Carlisle vai resolver isso — sussurrou Alice, assim que se aproximou dela e entrelaçou seus braços para que caminhassem juntas.

Wendy pensou novamente em olhar sobre seu ombro para conferir o lobo. Mas, ao sentir a queimação de um olhar pesado em sua nuca vindo daquela direção, sabia que não era com o sentimento agradável de antes que ele estava fitando-a.

Decepcionada com os últimos acontecimentos, foi para casa para poder ficar emburrada na paz do seu quarto. 

 

 


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