I Doubt The Stars Are Fine escrita por cherrybombshell


Capítulo 6
Cinco




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“Ah, é, eu sempre achei ela meio malvada.”

Harry olhou para Joey, os olhos arregalados. Joey olhou de volta para ele, sorrindo de lado. Era a primeira vez que alguém falava algo remotamente ruim sobre Todd, e talvez era porque eram quatro da tarde e ele estava trabalhando desde as seis da manhã, mas Harry jurava que poderia chorar de alívio.

Uma pista. Talvez. Alguma coisa, de qualquer maneira.

Ele engoliu em seco.

“Por que você sempre achou isso?”

Joey deu de ombros, ainda muito relaxado. Ele era diferente de sua irmã, em mais jeitos do que Harry poderia explicar. Era um sonserino numa família de lufanos, para começo de conversa. Tinha os mesmos olhos azuis, mas os cabelos dele era castanho ao invés de loiros, e ninguém nunca o descreveria como pequeno. Ele era uns sete anos mais novo do que Todd, porém. Atualmente, estava desempregado. Tinha um histórico de pequenos furtos aqui e ali, a ovelha negra de sua família. Gordon mandou Harry ouvir o que ele dizia, mas não acreditar muito. Harry não pôde deixar de ter esperanças.

“Ela tem esse código de moral estranho.... você foi criado por Trouxas, né? Sabe Os Miseráveis? Ela é como Javert, só que mais estranha.”

Harry franziu o rosto.

“Eu não conheço isso.”

Joey deu de ombros.

“Bem, que pena. É uma ótima comparação.”

Harry passou a mão por seu rosto, cansado. Muito, muito cansado de ter lidar com aquele homem já, e com toda a família de Todd em geral. Antes de Joey, a mãe da mulher, Lucinda, tinha passado duas horas mostrando todas as fotos que tinha de Todd, e todas as medalhas que a filha dela tinha ganhado enquanto em Hogwarts e no St. Mungus. O pai dela, então, passou umas cinco horas falando sobre o quão brilhante Todd era. “Igualzinho a mim”, de acordo com o próprio homem.

“Você pode me dar um exemplo de quando ela foi malvada?” tentou Harry.

Joey encolheu os ombros, pensando. De repente, ele arregalou os olhos, se aproximando de Harry.

“Ah!” exclamou como se tivesse acabado de se lembrar de algo. “Teve essa vez, eu tinha uns cinco anos e ela uns doze, e eu comi uns biscoitos escondido da nossa mãe antes do jantar, eu não sei como ela descobriu, mas ela descobriu, e ela ficou muito, muito puta, porque era ‘contra as regras’ e isso era muito, muito ruim, aparentemente, e ela só ficou gritando comigo até eu começar a chorar, porque como eu podia ousar quebrar uma regra? Depois ela me fez contar pros nossa mãe. Foi muito traumático.

“E sabe o que me irrita mesmo sobre ela?” ele continuou, ficando mais energizado enquanto percebia que Harry estava realmente prestando atenção nele. “Todo mundo puxava tanto saco dela. Ah, a grande, incrível Josie. Você falou com meus pais né? Aposto que eles mostraram as medalhas. Aposto que você nem sabia que eles tinham dois filhos.”

“Eu li nos documentos providos pelo Ministério.”

“Bem, é claro. Só por causa disso. Se fosse por eles, ninguém iria saber de nada a não ser sobre a incrível, brilhante filha pródigia deles.”

Harry sorriu, concordando com a cabeça, e quando Joey saiu de seu escritório, ele colocou o nome do menino na sua lista de suspeitos. Na opinião dele, ele achava bem difícil que sequestrar uma criança e colocar a culpa nela teria sido o plano A de Joey em resposta a ter vivido na sombra de sua irmã, além do fato de Scorpius se lembrar vividamente de ser criado por Todd, sua “mãe”, e não ter pensado em nenhum homem.

Ainda assim.

Ele estava desesperado demais para deixar qualquer pista ou teoria de fora. Ele teve certeza de pôr Joey no final de sua lista, de qualquer maneira – apesar de que, com sua lista tendo apenas o nome de Jodie e Joey, estar no final da lista ainda era estar bem em cima nela também.

 

 

Como no dia anterior, quando Harry chegou do trabalho, Scorpius já estava dormindo. Dessa vez, felizmente, ele estava na cama. Draco estava do lado dele, com um livro fechado nas mãos, e quando ele ouviu Harry, ele deu um beijo de despedida na testa de Scorpius e saiu.

Como no dia anterior, ele não o deu tchau ou falou qualquer coisa com Harry, antes de Aparatar para sua própria, horrivelmente vazia casa.

Como no dia anterior, ele havia deixado os restos do jantar – yakisoba – embrulhados para Harry na geladeira. Como no dia anterior, a comida era enfuriantemente boa. 

Diferente do dia anterior, eram umas duas da manhã, e Harry estava se virando na sua cama tentando desesperadamente cair no sono, quando ouviu uma batida hesitante na sua porta, mais algo que parecia muito com uma criança fungando.

Ele levantou correndo.

Scorpius estava enrolado no cobertor dele com um dedo na boca e os olhos todos molhados, o rosto super vermelho. Ele fungou mais uma vez, olhando para cima e para Harry com seus olhos grande demais. O lábio dele estava tremendo.

“Eu tive um pesadelo,” ele disse, as palavras só soando ainda mais pequenas e infantis enquanto saiam através de seu dedo. “Posso ficar com você?”

“É claro,” respondeu Harry na mesma hora, porque que tipo de monstro iria dizer não para aquela criança num momento como esse?

Ainda havia algo se revirando no seu estômago e dizendo que Draco iria querer estar ali para Scorpius, e teria todo o direito de estar.

Harry engoliu em seco, se ajoelhando na frente de Scorpius.

“O que aconteceu?” ele perguntou delicadamente, secando as bochechas molhadas de Scorpius. 

Scorpius fungou de novo. Ele não respondeu. Não parecia querer, então Harry desistiu, sem a mínima vontade de pressionar a criança.

“Você não precisa me dizer.”

Scorpius tirou o dedo da boca, o que teria sido um bom sinal, se ele não tivesse encolhido seus ombros ainda mais.

“Tem muitas paredes,” foi o que ele disse, a voz tremendo, as respirações ficando mais lentas e forçadas, mais ofegos desesperados do que qualquer coisa. “Só... muitas paredes. Eu estou sufocando.”

Harry fechou os olhos. Ele parecia tão assustado, tão em pânico. Harry queria o abraçar e o proteger de todo o mundo, mas ele não achava que isso ia o ajudar a parar de se sentir preso.

“Você precisa dar uma volta lá fora?” tentou Harry.

“Sério? Você sairia comigo agora?”

Os olhos de Scorpius estavam ainda mais arregalados, algo como esperança brilhando neles. Harry sorriu um pouquinho pra ele.

“A gente pode dormir juntos no terraço hoje, o que você acha? Como uma festa do pijama misturado com um acampamento.”

Scorpius concordou com a cabeça rapidamente, quase que desesperado.

O terraço de Harry era mágico, então não apenas não havia como ninguém cair lá de cima, como o clima nunca ficava frio lá, sempre agradavelmente morno. Eles levaram seus cobertores e travesseiros, de qualquer maneira, e então se deitaram, Scorpius ainda se recuperando.

Ele parecia muito mais feliz imediatamente, porém, olhando para as estrelas lá em cima com um olhar maravilhado.

“Mamãe nunca me deixava olhar pelas cortinas de casa,” ele contou para Harry, a voz baixinha. “Disse que não queria que nenhum desconhecido perigoso me visse. Mas de vez em quando... tinha vezes em que eu dava uma espiada pela janela escondido, só um pouquinhozinho.”

Havia um pouco de culpa e vergonha na voz dele, e Scorpius corou. Ele lançou um olhar temeroso para Harry, como se achasse que Harry fosse brigar com ele por não seguir uma regra tão estupida.

Harry se lembrava de olhar para as estrelas por um buraco que havia em seu armário, quando era muito, muito pequeninho mesmo. Ele lançou um sorriso duro para Scorpius.

“Tá ok,” disse sinceramente. “Eu entendo.”

Scorpius suspirou aliviado, se voltando para as estrelas.

“Elas são tão lindas,” sussurrou.

“A gente tá no meio de Londres,” comentou Harry, triste. “No interior elas costumam ser ainda mais brilhantes.”

Eles estavam bem pálidas, até, hoje, mas Harry não queria cortar a diversão de Scorpius ainda mais. A criança arregalou os olhos.

“Ainda mais?” ele perguntou cheio de descrença. “Isso não é possível!”

Harry riu, apesar de sua leve pena.

O chão estava bem duro embaixo de si, mas – mas Scorpius estava sorrindo, e não chorando e se encolhendo.

Qualquer coisa valeria a pena por isso.

 

 

Eles caíram no sono juntos, mas Harry acordou às seis, enquanto o sol começava a nascer bem lá no horizonte, e ele decidiu carregar Scorpius até o quarto dele.

Dez minutos depois, Draco chegou.

Ele encarou Harry, os olhos cerrados em suspeita. Harry o encarou, um sorriso amarelo.

“O que você está fazendo acordado?” perguntou. Harry engoliu em seco. Ele decidiu que Draco definitivamente precisava saber desse tipo de coisa. Era o mínimo.

“Scorpius teve um pesadelo.”

Os olhos de Draco se arregalaram, preocupação tão grande que quase machucou Harry. Ele parecia prestes a ir correndo até o quarto de Scorpius, mas aí a criança soltou um ronquinho mais alto e Draco deu um passo para trás, provavelmente não querendo o acordar quando não sabia por quanto tempo ele tinha conseguido dormir por causa daquele pesadelo.

“Com o que?” perguntou, a voz tremendo. Diferente de seu filho, a causa parecia ser absoluta e incontrolável fúria.

Harry se sentou na sua bancada, cansado demais para lidar com Draco em pé.

“Eu não sei, ele não queria falar e eu não queria pressionar. Mas eu acho que tem algo a ver com ele estar se sentindo preso, passando tanto tempo em casa. Se você pudesse sair com ele hoje...”

“É claro,” cortou Draco imediatamente. “É claro que eu vou sair com ele. Tem um zoológico Trouxa aqui perto que ele estava interessado em ir, eu já estava planejando...”

“Eu vou junto.”

Os olhos de Draco se arregalaram.

“O que?” ele cuspiu, tão chocado quanto estava irritado, o que era uma reação que um monte de gente tinha a Harry.

Harry encolheu os ombros.

“Meu chefe tá me pressionando para fazer uma pausa,” ele explicou. “E com o pesadelo de Scorpius... sei lá, eu não quero deixar o lado dele.”

Ele esperou que Draco gritasse com ele por não o confiar sozinho com seu filho. Ao invés disso, ele encarou Harry cauculadoramente, o analisando de cima para baixo lentamente. Passou tempo demais fazendo isso, até Harry estar muito desconfortável e querendo sair correndo.

“Você realmente se importa com ele,” Draco finalmente falou. Pelo menos agora não havia nenhuma raiva em seus olhos, apenas uma expressão neutra e quase que vazia.

Delicadamente escondida.

“É claro que eu me importo,” bufou Harry.

Draco hesitou por mais um segundo, mordendo o lado inferior de sua bochecha enquanto pensava.

“Tudo bem então,” ele disse. “Scorpius gosta de você. Eu chegaria a dizer... ele confia em você. Isso diz um monte. Você pode vir com a gente.”

Harry nunca se sentiu tão animado e ao mesmo tempo tão assustado com uma simples ida ao zoológico.

E olha que ele uma vez soltou uma cobra perigosa na direção de seu primo.


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