I Doubt The Stars Are Fine escrita por cherrybombshell


Capítulo 5
Quatro




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Não caiu a ficha do que Harry realmente tinha concordado em fazer até o dia seguinte.

Eram seis da manhã. Harry estava no quarto dele relendo os documentos que ele tinha sobre Todd, iluminado por um Nox e uma lareira. Ele não conseguia dormir. Toda vez que fechava seus olhos, ele via Draco chorando enquanto abraçava Scorpius, ou a cara absolutamente devastada de Draco quando ele eventualmente precisou dar tchau para Scorpius e ir para casa. Eram imagens horríveis de se ter na sua cabeça, então Harry estava se afogando em seu trabalho para as esquecer.

Ele achava bem responsável de sua parte, se você o perguntasse.

Estava frio pra caramba, também. Umas duas horas atrás, ele tinha ligado a lareira no quarto de Scorpius, e então feito a mesma com a sua. Mais tarde, ele iria dizer que era por isso que não ouviu o barulho de alguém arrombando a sua casa. Para si mesmo, ele ia admitir que provavelmente era culpa da exaustão que tinha deixado sua guarda abaixada. Mas só para si mesmo. Para todo o resto, ele iria ficar com a desculpa da lareira estar fazendo muito barulho. Era menos vergonhoso.

Sentado com os olhos quase se fechando, Harry estava esboçando uma linha do tempo com os poucos fatos que eles já tinham. Foi quando ele ouviu.

Harry finalmente se tocou que algo estava acontecendo quando ouviu o barulho da porta de sua geladeira sendo batida com força. Ele pulou para fora de sua escrivaninha na mesma hora, levantando sua varinha e indo correndo em direção ao barulho.

Parado no meio da sua cozinha, usando um avental e segurando uma espátula que não eram de Harry, em frente a uma bancada cheia de comida, Draco Malfoy encarou Harry com uma expressão irritada.

Como se fosse Harry quem estivesse, sabe, invadindo a casa dele.

“Eu vim fazer café da manhã pro Scorpius,” Draco explicou.

E foi aí que Harry se tocou.

Ele tinha concordado em cuidar de uma criança – uma criança de verdade, em carne e osso e emoções e tudo – junto com ninguém mais ninguém menos do que Draco Malfoy.

Merda.

 

 

Harry tinha que admitir – ao menos Draco era um bom cozinheiro. Harry sabia como fazer refeições dignas de reis britânicos sem graça, por causa dos Dursleys, mas ele nunca se sentiria confortável e no lugar certo enquanto estivesse numa cozinha. Nunca se livraria dos flashbacks e trauma que vinha com estar em uma, e com certeza nunca seria capaz de cozinhar por diversão e não necessidade.

Draco era um Malfoy, então ele nunca tinha feito nada por necessidade, inclusive cozinhar. Era obvio que, apesar da ansiedade bem presente em seu rosto, ele gostava do que estava fazendo.

Quando ele colocou um segundo prato cheio de ovos na mesa, porém, Harry decidiu que talvez ele tivesse feito comida demais e já fosse a hora de pôr um fim nisso tudo.

“Ei,” Harry tentou nervosamente, ainda um pouco incerto de como falar com Draco. Ele achava que o seu antigo método de escola, gritar com Draco até ele sair de perto, não seria tão satisfatório agora que Draco não era mais tão panaca. “Você não acha que já tá bom?”

Draco piscou.

“Ah,” ele soltou baixinho, olhando pra mesa. “Talvez? Eu não sei o que Scorpius gosta, então eu queria ter certeza de que tem um monte de tudo. Melhor ter de mais do que de menos. Sabe?”

“Tá ok. Scorpius gosta de ovos mexidos e torrada, pra café da manhã.”

Draco franziu o cenho.

“Bem, obrigado por me lembrar como você sabe mais do meu filho do que eu, Potter. Muito obrigado mesmo.”

E, sério, como Harry deveria responder a isso? No caso, ele não disse nada, encarando a mesa para não precisar olhar pro rosto irritado/desolado de Draco. Seu estômago estava se revirando, de novo, então ele enfiou uma torrada na sua boca, esperando que comer a comida de Draco ajudasse as coisas a ficarem um pouco menos tensas entre eles.

Não ajudou.

Quando ele finalmente engoliu, Draco já tinha sentado na bancada, e estava olhando, cabisbaixo, para as suas mãos.

“Eu só passei um café da manhã com ele,” Harry disse, porque, realmente, ele não conhecia Scorpius tão bem assim.

Só melhor do que Draco.

Só melhor do que o pai dele.

Draco levantou o rosto com tudo.

“É bom, na verdade,” ele disse, sua voz de repente soando muito como a voz do adolescente valentão que ele um dia foi,” que a gente possa ter essa conversa enquanto Scorpius tá dormindo.”

“Que conversa?” perguntou Harry, engolindo seu medo em seco.

Draco, como sempre, foi direto ao ponto.

“Como você tá tratando o meu filho?”

“O melhor o possível.”

A resposta era fácil, principalmente porque Harry sabia que a verdade era exatamente o que Draco queria – e precisava – ouvir. Nunca tinha passado pela sua cabeça tratar Scorpius de qualquer maneira a não ser perfeitamente bem, mesmo quando ele descobriu que a criança era um Malfoy. Isso nunca tinha feito nenhuma diferença para Harry.

Ele sabia, porém, que esse não seria o caso para todo mundo.

Harry queria deixar claro para Draco que ele nunca faria parte do grupo que culpava Scorpius pelos crimes dos avós dele – sequer eram aqueles crimes os crimes de Draco? Harry nunca podia se decidir. Sua opinião dependia do dia. Ela também não importava agora. Tudo que importava era Scorpius, e o bem estar de Scorpius.

Harry, porém, não precisou falar isso em voz alta, ou deixar as suas intenções claras. Ele achava que suas emoções simplesmente refletiam em seu rosto, porque enquanto Draco não disse nada, um pouco da tensão dos ombros dele desapareceu, e ele concordou com a cabeça bem minimamente.

“Eu quero que você saiba,” ele disse devagar, sombrio, “que se você machucar um fio de cabelo de Scorpius, ou sequer perder ele de vista enquanto ele está nos seus cuidados, suas palavras não vão importar mais. Eu vou acabar com a sua vida e o seu legado de todas as maneiras possíveis, Potter, e eu não vou hesitar nem por um segundo.”

Em outras circunstancias, um ex-Comensal ameaçando o Menino Que Sobreviveu seria preocupante. Com o contexto, Harry apenas concordou com a cabeça.

“Ok,” ele disse. “Isso é justo.”

Draco o encarou. Ele não estava brincando. Harry também não estava.

“Bom,” disse Draco, concordando com a cabeça sem tirar os olhos dos olhos de Harry, o encarando no fundo de sua alma. “Bom.”

Harry enfiou outro pão na boca.

 

 

Demorou um tempinho para Scorpius acordar ainda, então Harry e Draco ainda ficaram um tempão em absoluto silêncio, apenas encarando um ao outro e esperando o tempo no relógio passar mais rápido.

Quando ele saiu do quarto, por volta das oito horas, ele estava usando uma blusa de Harry que ia até os seus joelhos, e enrolado ao redor de um cobertor. O cabelo estava uma completa bagunça, os olhos estavam quase que fechados, ele não parava de bocejar e coçar seu narizinho – era uma cena absolutamente adorável.

Draco estava olhando para ele como se fosse Scorpius quem tivesse colocado o sol no céu, então Harry tinha certeza que ele não era o único pensando isso.

Scorpius tropeçou um pouco no cobertor que se arrastava no chão, mas não chegou a sair. “Tá frio,” reclamou, a voz fina e sonolenta. Harry sorriu para ele, rindo um pouquinho.

Então Scorpius viu Draco.

Ele se endireitou, arregalando os olhos um pouquinho e engolindo em seco.

“Ah, oi, senhor Malfoy!” ele exclamou alto demais, surpreso. “Bom dia!”

Draco o lançou um sorriso meio sincero, meio forçado. Estava ansioso pra caramba, Harry percebeu, brincando com seus dedos e olhando para baixo um pouco mais do que seria normal.

“Oi, Scorpius.” Ele fez um gesto para a mesa. “Eu vim te fazer café da manhã.”

Os olhos de Scorpius cresceram ainda mais. Eles eram do mesmo exato tom que os olhos de Draco.

“Tudo isso é pra gente?” ele perguntou, a boca meio que se abrindo em um O perfeito enquanto a criança se remexia um pouco em seu lugar.

“Tudo é pra você,” Draco lançou um olhar feio para Harry, apesar de que isso só fosse o olhar natural que ele tinha para lançar para Harry. “É claro, Potter pode pegar o que quiser, mas eu fiz pra você. E se tem alguma coisa que você quer que não tem aqui, eu posso fazer. É só pedir.”

Scorpius concordou com a cabeça, a boca ainda aberta.

Harry riu. Deus, Scorpius iria ser uma criança mimada, com Draco como pai. Mas isso era ok. Depois de tudo que aconteceu, Scorpius merecia ser mimado pelo pai dele, e Draco merecia poder mimar o filho dele.

Scorpius era muito baixinho, então ele precisava de ajuda para subir na cadeira. Harry chegou nele primeiro, já que ele foi se sentar do seu lado, mas Draco o empurrou pro lado – bem bruscamente, Harry gostaria de adicionar – para poder ajudar a criança. Harry revirou os olhos, enquanto Scorpius sorriu timidamente para Draco.

“Obrigado,” ele sussurrou, pegando um prato e começando a se servir.

Draco estava olhando para ele muito ansiosamente, então Harry resolveu pegar um pouco de café para si. Ele viu seu reflexo na porta do micro-ondas – haviam olheiras embaixo de seus olhos, escuras o suficiente para aparecerem apesar de seu tom de pele. Merlin, ele precisava dormir. Não parecia certo, porém. Não enquanto Todd estava livre, em algum lugar do mundo.

Por enquanto, a cafeína iria ter que servir.

“É bom,” ele ouviu Scorpius dizendo, e se virou a tempo de ver o sorriso absolutamente reluzente que Draco estava lançando para criança.

“Bom!” exclamou Draco. “Que bom que você acha isso!”

Havia espaço de sobra para os três na mesa de Harry, apesar de que ficava um pouco mais difícil com a quantidade extrema de comida que Draco tinha feito. Harry decidiu que iria mandar o que eles não comessem para A Toca – desperdiçar as sobras daquilo tudo estava fora de questão. A comida de Draco era super boa também, então ele sabia que iria arranjar alguém que as apreciaria. De alguma forma, Draco tinha feito coisas que Harry nem sabia que tinha em sua cozinha.

Se não fosse pela quantidade de tensão no ar, poderia ter sido uma experiência agradável, embora estranha. Naquele momento, porém, Harry estava um pouco envergonhado. Draco ainda estava olhando para Scorpius como se ele fosse um príncipe e coisa do tipo, e Scorpius ainda estava olhando bem intensamente para sua comida, parecendo prestes a cair no sono. Quando Draco olhava para Harry, era para o lançar olhares de desgosto.

Ele não podia deixar de pensar que não deveria estar ali.

Harry deu um gole em seu café, e então ele coçou sua garganta para chamar atenção das outras duas pessoas a mesa.

“Então,” disse devagar, “eu tenho que trabalhar hoje. Scorpius, você pode ficar sozinho com Draco?”

Draco tentou fingir que ele estava calmo tomando seu chá, mas no momento em que ele ouviu a frase de Harry, o corpo inteiro dele tinha tensionado e, talvez inconscientemente até, se aproximado de Scorpius. A ansiedade era óbvia e pesada emanando dele. Alguém iria achar que um não de Scorpius naquele momento significaria uma sentença de morte para Draco. Ele provavelmente não iria se importar tanto, se fosse só isso.

Scorpius deu de ombros.

“Não tem problema, é claro.”

Draco sorriu ainda mais. Parecia doer nele, de tão grande que era.

“A gente pode ir comprar umas roupas,” ele sugeriu. Parecia estar explodindo de felicidade por dentro, apesar de estar obviamente tentando manter uma fachada para não assustar Scorpius. “Sabe, para você continuar usando as de Potter para sempre.”

Scorpius o encarou com os olhos arregalados, seus olhos cheios de apreensão e surpresa enquanto iam de Draco para Harry para Draco de novo, e repetindo várias vezes.

“Você me deixaria sair de casa?” ele perguntou, mal conseguindo esconder a surpresa em seu tom de voz.

Draco fez uma careta.

“É claro,” disse delicadamente, forçando um sorriso. “Sempre que você quiser.”

Scorpius se esticou na sua cadeira, olhos brilhando.

“Até sozinho?”

Não!

Isso Harry e Draco gritaram juntos, e eles trocaram um olhar envergonhado. A mensagem no rosto de Draco era óbvia – nunca vamos falar isso para ninguém, entendeu? Harry concordou com a cabeça. Quando eles viram que Scorpius tinha encolhido, eles voltaram sua atenção toda para criança.

“Você é muito jovem para sair sozinho por enquanto,” comentou Draco delicadamente. “Mas sempre que você estiver cansado da cara feia de Potter e precisar dar uma respirada e ver novos arredores, é só me chamar.”

Scorpius soltou uma risadinha, apesar dele ainda estar um pouco encolhido.

“E se você estiver ocupado?”

“Eu nunca vou estar ocupado demais para você,” respondeu Draco na hora.

Ele era um bom pai. Ele era um dos melhores pais que Harry já tinha visto, e que tipo de monstro teria o feito passar tantos anos sem poder agir como um? Harry rangeu os dentes, olhando para baixo. Não iria servir em nada, ele se lembrou, ficar irritado. Não enquanto eles não sabiam onde Todd estava.

Tudo que ele fez foi dar outro gole em seu café.

“E se você não quiser sair sair,” Harry comentou, fazendo Draco e Scorpius se virarem na sua direção, “você sempre pode dar uma volta na minha varanda. Ela é protegida magicamente, completamente segura, então você nem ia precisar de supervisão.” Ele adicionou a parte da segurança mais para Draco do que qualquer coisa. “Se você quiser um pouco de paz da gente, é só ir lá.”

Scorpius concordou com a cabeça, sorrindo. Ele estava pulando um pouco onde estava sentado, e balançando os pés rapidamente, mas isso era normal. Scorpius era uma criança meio hiperativa – ele nunca conseguia ficar tempo demais parado.

 “Obrigado, senhor Potter!” ele exclamou.

“De nada.”

Draco revirou os olhos, obviamente irritado com a atenção de seu filho estar toda em Harry e não nele. Ele sorriu para Scorpius, porém.

“Eu adoraria te levar para algum outro lugar depois de comprar roupas. Talvez comer alguma coisa, fazer algo para você se divertir.” Draco engoliu em seco, muito ansioso de novo. “O que você gosta de fazer, Scorpius?”

“Ah, bem…” Scorpius piscou, surpreso. Obviamente não estava esperando essa pergunta, e muito menos sabia como a responder. No final, ele simplesmente encolheu seus ombros, olhando um pouco para baixo em vergonha enquanto falava: “Eu acho que eu gosto de ler? Eu não sei, eu não sou tão interessante assim.”

“Eu acho isso super interessante,” disse Draco. “Eu amo livros, na verdade. A gente pode ir na biblioteca, se você quiser. O que você gosta de ler?”

Eles começaram uma conversa sobre literatura. Harry não era nenhuma Hermione, mas ele também não era analfabeto, e até tinha alguns momentos em que ele se viu tendo o que comentar. Ele, porém, não queria atrapalhar o que provavelmente era a primeira conversação de verdade que pai e filho tinham. Harry, por isso, manteve seus comentários apenas em sua cabeça.

Ele estava em seu quinto copo de café quando seu relógio tocou.

“Eu tenho que ir,” avisou, apesar de que ele não achava que Draco se importava muito, e nem Scorpius agora que ele estava tão mais confortável conversando com Draco. Tinha saído da sua casca, um pouco. Harry estava feliz com isso.

Scorpius se virou para ele, de qualquer maneira, e sorriu.

“Bom trabalho!” ele exclamou, parecendo bem sincero.

Harry deu um beijo estralado de despedida na testa dele, ignorando o olhar ciumento de Draco. Scorpius tinha rido, de qualquer maneira, e era um som tão inocente e precioso.

Harry faria qualquer coisa para o ouvir mais vezes.

 

 

Vicki Vain era a melhor amiga de Todd, uma bruxa ruiva que se parecia um montão com Molly Weasley lá na época que Harry tinha a conhecido. Era uma Medimaga como Todd, porém. Gordon queria que Harry a entrevistasse porque ele achava que ela poderia os dar mais informações sobre Todd e, se eles tivessem sorte, algo que poderia servir como mais uma importante peça para o quebra cabeça que aquele caso tinha se tornado.

Vain, porém, só repetiu as mesmas coisas que todo o resto.

“Ela é tão doce!” disse Vain, parecendo desolada. “Vocês tem que ter pego a pessoa errado. Eu juro, Jo nunca ia fazer algo do tipo.”

Ela tinha sido informada que a amiga dela era suspeita de um crime muito grave de sequestro, mas mais nada sobre a vítima. Eles queriam manter a volta de Scorpius escondida por tanto tempo quanto possível, apesar de saberem que a paz não iria durar muito – por enquanto, eles não precisavam de abutres como Rita Skeeter indo atrás de Draco e Scorpius.

Harry suspirou. Para ser sincero, estava cansado de ouvir sobre o quão boa Todd era.

“Sra. Vain,” ele disse delicadamente, “eu sei que é difícil, mas eu preciso que você se concentre. Você se lembra se houve algo estranho no comportamento de Todd ao redor dos últimos sete anos? Ela mudou muito do nada, ou parou de sair tanto quanto antes, ou algo do tipo?”

Vain fechou os olhos, pensando.

“Eu não sei,” finalmente soltou. “Ela começou a ficar doente mais vezes? Quer dizer, a saúde dela sempre foi mais frágil, depois da morte de Billy, mas foi só alguns anos depois disso que ela começou a faltar várias vezes no mês por causa de gripes. Eu não sei como isso teria a ver com esse caso, porém. Todos nós temos as nossas fraquezas! Só porque uma pessoa falta no trabalho não quer dizer que ela é uma sequestradora!”

“Ela não é culpada só por causa disso, relaxe.” A voz dele não saiu tão reconfortante quanto ele queria, porém, então Harry coçou a garganta e continuou, mais delicadamente: “Desculpe, eu não me expressei bem. O que eu quero dizer é que, a gente está indo atrás de várias pistas, não só isso. Se ela for inocente, vai aparecer.”

Vain abaixou o rosto um pouco.

“Ela é inocente,” afirmou, cem por cento certa de si.

Todd, Harry pensou, se lembrando de Scorpius, tinha uma coisa em si que simplesmente atraia a lealdade de todos ao seu redor. Ele só esperava que isso fosse um verdadeiro testamento em direção à como ela tratava essas pessoas, e não uma demonstração do quão boa ela era em manipulação.

O que quer que fosse, Harry não culpava Vain. Ela era uma mulher protegendo a sua amiga, inocente em sua cabeça, com unhas e dentes. Ele podia se imaginar no lugar dela.

Ele tinha que continuar o interrogatório, de qualquer maneira.

“Havia algo estranho na casa dela quando você foi lá?”

“Não!” Vain hesitou. “Bem, ela nunca deixava a gente entrar no corredor que ia em direção aos quartos, e a gente nunca podia dormir lá. Mas, ah, veja. É tão triste. Ela nunca conseguiu se desfazer das coisas de Billy, entende? Ela era bem territorial do que sobrou dele, também. Não deixava a gente nem tocar nas fotos que tinha dele. É claro. Depois de o perder tão subitamente, e de maneira tão violenta. Nós não podemos julgar as pessoas em como elas lidam com seu luto, podemos?”

“Não,” concordou Harry, tentando a apaziguar. “É claro que não.”

Eles podiam, porém, julgar como o luto dessas pessoas afetava e machucava quem estava ao redor delas. Principalmente quando quem estava ao redor era uma criança.

Ele escreveu algo em suas notas.

“Me conte um pouco mais sobre como você conheceu Todd, que tal?”

Os olhos de Vain brilharam, antes dela começar uma história muito longa e muito entediante sobre como Todd tinha estado no mesmo treinamento de primeiro socorros que ela. Por dentro, Harry grunhiu.

 

 

Aquele ia ser um dia muito longo.

Várias horas e sete cafés depois, Harry tinha, com a ajuda de Vain, uma linha do tempo bem extensa da vida de Todd até depois da segunda guerra bruxa – dois pais puro-sangues e um irmão mais novo, ela tinha estudado em Hogwarts e sido uma lufana e uma Batedora. A família dela era super próxima e amorosa, e ela ainda se encontrava com sua mãe duas vezes no mês para comer um brunch e conversar. Harry teria que ir atrás deles, depois.

Ela tinha conhecido Billy Todd quando tinha dezesseis anos. Ele era um grifinório um ano mais velho que queria ser um Auror. Ela pisou no pé dele sem querer, ele a chamou de desastrada, ela o chamou de idiota. Foi amor à primeira vista. Eles foram morar juntos assim que ela se formou, e começaram suas carreiras juntos. Ambos eram trabalhadores duros, que subiram em seus cargos rapidamente e se tornaram favoritos de seus chefes sem nem precisarem ser puxa-sacos.

Em todas as guerras, Todd esteve do lado da luz.

Ela provavelmente tinha conhecido Lily e James.

Provavelmente tinha lutado do lado deles.

Em algum momento, ela sequestrou uma criança. Essa era a parte mais confusa em toda a sua vida, uma mancha em meio a um histórico perfeito. Harry suspirou, olhando para as suas anotações.

Nada fazia sentido.

Longo.

Hoje ia ser longo.

 

 

Harry voltou para casa horas depois do sol já ter se posto, praticamente dormindo em pé.

Quando ele chegou, Scorpius estava deitado encolhidinho no sofá dele, roncando baixinho. Draco, sentado do lado dele, estava o olhando como se Scorpius babando um pouco no sofá fosse a coisa mais incrível que Draco já tinha visto alguém fazer. Ele tinha coberto Scorpius, e estava tirando um livro de suas mãos bem lentamente, para não o acordar.

Ele viu Harry, e ele suspirou.

“Acho que é hora de eu ir,” murmurou amargamente.

Harry teria dito para ele dormir lá, mas ele não tinha espaço.

“Eu posso levar Scorpius para cama,” foi o que ele falou então.

Draco engoliu em seco, parecendo se segurar para não ir dar um soco em Harry. Harry não levou na pessoal – ele só podia imaginar o quão difícil era para Draco dizer tchau para Scorpius e ir para casa, aonde não podia checar se ele tinha sido sequestrado de novo a cada dez segundos.

Quando Draco estava colocando o casaco e, muito mais devagar do que necessário, se preparando para sair, Harry fez uma decisão rápida e não muito bem pensada. Ele se aproximou de Draco.

“Toma,” disse, colocando algo na palma da mão de Draco. “Pode ficar.”

Draco encarou sua mão com a boca um pouco aberta.

Lá, estava uma chave extra para a casa de Harry.

Ele olhou para Harry.

Ele não agradeceu.

Em vez disso…

“Eu fiz macarrão de almoço pra mim e pro Scorpius,” comentou, já abrindo a porta. “O que sobrou eu coloquei na geladeira.”

E então, com um último olhar desesperado em direção a Scorpius, ele saiu.

 

 

Harry esquentou o macarrão no micro-ondas depois de carregar Scorpius pra cama.

Era o melhor macarrão que ele já tinha comido a sua vida inteira, o filho da puta.


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