I Doubt The Stars Are Fine escrita por cherrybombshell


Capítulo 23
Bônus


Notas iniciais do capítulo

avisos: referências a aborto instantâneo



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Jodie nunca o viu tão feliz quanto naquele dia.

Ela sempre tinha amado simplesmente olhar pro rosto dele – para seu cabelo ruivo e suas sardas e, principalmente, para seus olhos, tão verdes e tão intensos, tão cheios de amor e felicidade e brilho enquanto ele a beijava e colocava uma mão delicadamente em sua barriga, como se eles pudessem sentir o bebê já, apesar dele nem aparecer ainda.

Ela se lembrava dos lábios dele se pousando em sua testa por alguns segundos, suas mãos passando pelos seus cabelos.

Ela se lembrava do polegar dele acariciando seu maxilar delicadamente.

Ela se lembrava dele dar um passo para trás e, com o coração pesado, de pensar que tinha sido meio ruim que ela tivesse descoberto a gravidez logo antes dele ter que ir para uma missão da Ordem, mas que, enquanto ele sorria para ela, ela não conseguia ficar triste por muito tempo.

“Eu te vejo mais tarde,” ela se lembrava dele ter dito, a dando um último aperto em sua mão. “Aí a gente pode contar as boas notícias para todo mundo.”

Ela se lembrava dele a dando um último beijo.

Ela se lembrava de se sentar no sofá e cair no sono enquanto esperava para ele chegar.

Ela se lembrava do que tinha sentido quando ele nunca chegou.

 

 

“Eu sinto tanto, Jo,” o colega dele estava falando. “Os Malfoy acharam ele... Eu não consegui pegar o corpo... Foi tudo tão rápido...”

 

 

Ela não pensava sobre isso em dias normais, quando ela acordava e tudo estava o mesmo do que quando ela tinha ido dormir, mas a verdade é–

A verdade é, a vida de todos eles podia mudar completamente em apenas um único segundo.

Alguém levantou uma varinha, alguém lançou um feitiço e alguém caiu no chão de uma mansão, imóvel e frio, e, do outro lado da cidade, uma mulher recebeu uma notícia e uma mulher foi arruinada. Uma mulher fechou os olhos e fincou as unhas nas suas palmas e gritou em fúria completa, e, em apenas um único segundo, tudo pelo qual ela já tinha lutado foi destruído. O trabalho e amor de sua vida, tão frágil e tão facilmente quebrado.

Tudo que ela já tinha sido, alterado por uma decisão impulsiva de outra pessoa, uma decisão tão fora de seu controle.

 

 

Enquanto o mundo inteiro comemorava a morte de Voldemort, Jodie estava em St. Mungus, correndo de quarto para quarto tentando lidar com todos os feridos, tão coberta de sangue que ela nem conseguia ver mais a sua pele por trás do vermelho.

Haviam gritos e gemidos de dor para todo o lado, e ela não conseguia pensar. Ela não conseguia respirar.

E então ela sentiu algo como um puxão na ponta da sua barriga.

Ela estava tão cheia do sangue de outras pessoas que ela nem teria percebido o seu próprio caindo pelas suas coxas se não fosse pela dor que veio com ele.

E aí a realização.

 

 

Um segundo, e ela não era nem uma esposa nem uma futura mãe, não mais.

 

 

Os amigos e a família dela estavam preocupados com ela, então eles a fizeram ir para um grupo de apoio para pessoas que perderam alguém na guerra. Jodie não gostava de lá, porém. Ele não gostava daquelas pessoas, chorando e segurando mãos e agindo como se elas entendessem.

A fazia se sentir tão irritada.

“Nós todos perdemos algo,” Vicki a disse uma vez, olhando para baixo com tristeza, e Jodie sabia que a mãe dela tinha morrido durante a guerra, mas–

“Não é a mesma coisa.”

Para mim é pior.

Era muito egoísta para ela dizer em voz alta, mas havia algo tão mais real e sincero em suas próprias emoções, na cabeça de Jodie. Talvez porque ela só pudesse as sentir. Ela simplesmente não sentia como se o resto deles tivesse passando por tanta dor quanto ela, e ela não queria ter que os ouvir reclamando.

Ao menos eles ainda tinham alguém, qualquer pessoa.

 

 

E então–

E então, os Malfoy foram soltos.

Ela estava no julgamento, escondida e observando em meio à multidão enquanto Harry Potter explicava que Draco e Narcisa tinham o salvado e mereciam, por sua “coragem”, sentenças menores. Eles nem comentaram, nem de passagem, o nome de Billy. Ela não se importava com nenhuma das outras pessoas que eles tinham machucado – ela só queria justiça para ele.

Anos depois, a chance dela apareceu.

Astoria Malfoy era fraca. Não era uma coisa malvada de se dizer, porque era a verdade. O corpo dela era fraco, a saúde dela, a magia dela. Ela não deveria ter filhos, mas ela teve um de qualquer maneira, e enquanto o bebê estava bem, a mulher estava na cama do hospital sem responder aos Medimagos. Jodie não deveria estar lá para o parto de Scorpius, mas quando o coração de Astoria começou a cair, eles chamaram todos que estavam próximos para ajudar. Na bagunça, alguém, sem olhar para o seu rosto, a mandou ir cuidar do bebê enquanto eles olhavam a mãe.

Ela foi correndo o pegar porque era seu trabalho, e ela o colocou em seu colo e começou a acalmar os gritos dele por causa disso também, o vendo como qualquer outro bebê que ela já tinha cuidado.

Então a cria Malfoy gritou algo para o médico, desesperado pelo quão fria Astoria estava ficando e o quanto de sangue estava saindo dela e, quando os olhos de Jodie se encontraram com os cabelos dele, tão branco, tão Malfoys, algo dentro de seu estômago puxou.

Um segundo.

Ela apertou Scorpius contra seu peito e, enquanto ninguém olhava, ela saiu correndo.

 

 

Parteiras corriam com bebês o tempo todo, para os alimentar e os curar e os limpar. Ninguém olhou duas vezes para ela e, quando ela se enfiou no banheiro e Aparatou, ninguém estava lá para a ver.

Ninguém a parou.

E com o clic da varinha dela, com um segundo de uma decisão espontânea–

Quatro vidas mudaram para sempre.

 

 

Ela esperou que a culpa caísse.

Ela esperou começar a chorar e não conseguir parar, e voltar correndo para o hospital, incapaz de viver com o que tinha feito.

Ao invés disso, ela colocou seu dedo perto da cara de Scorpius e ele a segurou, soltando uma risadinha quando ela fez cosquinha no pescoço dele. Era angelical e puro e era dela, e Jodie decidiu que ninguém nunca iria poder o tirar de si.

Ela merecia um filho muito mais do que aqueles assassinos, ela decidiu, e ela iria o criar com muito mais compaixão do que eles jamais seriam capazes.

Ela iria o amar.

E os Malfoy iriam pagar.

 

 

Os anos se passaram. Scorpius começou a crescer. Seu apartamento, a única coisa que ele jamais conheceu, ficou do mesmo tamanho.

O fazia querer sair. Você sabia que fazia. Talvez ele tivesse uma alma aventurara, lá dentro. Talvez ele apenas tivesse cansado de ficar sozinho. Quando ela não estava em casa, ele não tinha nada.

De certa maneira, isso a acalmava, mesmo que tornasse tudo tão ruim para ele. O mundo dele acabava atrás das portas que ela fechava e abria, e era quase como se ele estivesse num mundo que ela própria tinha criado, onde ela podia o manter seguro e longe de pessoas que iriam o machucar, como os pais dele.

Era um pensamento tranquilizante, para ela.

Nem tanto para ele.

Scorpius tentava sair, de vez em quando, enfiando seu olho pelas menores frestas na janela e brincando com as maçanetas. Ele achava que estava sendo silencioso, mas ela podia ouvir tudo. Ela deixava, na maior parte do tempo. Ela sabia que ele nunca iria conseguir abrir nada, não sem sua ajuda, não sem sua permissão.

Ele tinha cinco anos quando conseguiu, na verdade.

Jodie nunca iria saber como, mas ela iria chutar que foi magia acidental. De qualquer maneira, ela estava lavando loucas quando ouviu o som da porta de abrindo, e então ela estava derrubando os pratos e correndo em direção ao Scorpius, sendo guiado mais por adrenalina e pânico do por realmente saber o que estava fazendo.

Ela puxou Scorpius pelo braço, o arrastando de volta para dentro do apartamento desesperada, suas unhas se ficando na pele dele.

“Não!” ela gritou, e ela estava ciente de que ele estava tremendo e ele provavelmente estava assustado, mas ela sentia como se estivesse tendo um ataque cardíaco, então ela apenas apertou o braço dele ainda mais. “Não,” ela repetiu. “Você não pode sair. Promete que você não vai tentar mais.”

Scorpius a olhou, os olhos cheios de lágrimas, e concordou com a cabeça.

“Em voz alta,” ela mandou.

“Eu prometo que eu não vou tentar nunca mais, mamãe,” ele sussurrou, e Jodie soltou um suspiro aliviado, o puxando para um abraço. Scorpius jogou os braços pelos ombros dela, escondendo o rosto em seu pescoço, e Jodie beijou o cabelo dele.

“Desculpa filho,” disse, passando uma mão por onde ela podia ver as marcas de sua unha no braço de Scorpius com remorso, “mas você não sabe o quanto me assustou.”

Scorpius concordou com a cabeça.

“Desculpa, mamãe.”

Mamãe. Exatamente. Não importava se eles dissessem que ela tinha o sequestrado no jornal, e que ele seria tirado dela se qualquer pessoa descobrisse que ele estava ali. Ela tinha o criado.

Os Malfoy nunca conseguiriam ter feito um trabalho tão bom quanto o dela.


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