I Doubt The Stars Are Fine escrita por cherrybombshell


Capítulo 14
Treze




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Harry não tinha certeza se ele ouviu bem.

O silêncio se estendeu pelo que pareciam longas, tortuosas horas, mas que dificilmente foram mais de um minuto. Harry, porém, não conseguia abrir sua boca mais. Ele conseguia ouvir cada pequeno som que ele imaginava estar percorrendo pelo setor naquele momento, cada Auror andando de um lado pelo outro, cada ficha sendo catalogada, cada pena percorrendo cada pergaminho.

Ele não conseguia ter certeza do que ouviu, porém,

“Diga algo,” pediu Narcisa.

Ela ainda estava encarando Harry muito intensamente. Ele ainda não tinha respirado desde o momento em que ouviu a confissão dela. Ao redor deles, o ar parecia mais pesado, se infiltrado em seus ossos. Harry sentia como se ele estivesse sufocando, e ele ainda nem tinha conseguido raciocinar o que Narcisa falou direito.

Ele sentia como se aquela frase dela, pequena e simples como era, tivesse sido demais para seu cérebro.

Narcisa se encolheu, olhando para o lado como se para evitar ter que olhar o rosto retorcido e cheio de perguntas de Harry. Era seu trabalho dizer algo. Como um Auror, ele tinha que conseguir uma confissão, tinha que dizer algo muito profissional e bem articulado que iria poder explicar o que estava acontecendo.

“O que?” Foi o que ele soltou.

Narcisa piscou.

“Eu o matei,” ela repetiu, e havia uma frieza em sua voz, uma força, de certa maneira. Através da culpa, através da vergonha e do arrependimento. “Eu lancei um Avada Kedrava em direção a Billy Todd e eu o matei. É por isso que ela sequestrou Scorpius. É tudo culpa minha.”

Os olhos dela se encheram de lágrimas, naquele momento, mas ela piscou, se recusando a deixá-las cair. Harry, engolindo em seco, tentou pensar em tudo que ele sabia sobre Billy Todd.

Ele era um grifinorio, um apanhador e um Auror, muito como Harry. Ele e Jodie se conheceram em Hogwarts, começaram a namorar quase que imediatamente, amor a primeira vista, e se casaram assim que se formaram. Ele era um ano mais novo do que ela e Narcisa. Ele esteve na primeira e segunda Ordem, provavelmente foi amigo de Lily e James, provavelmente esteve em algumas das poucas reuniões que Harry participou, apesar de já não estar vivo quando eles foram o tirar da casa de seus tios.

Ah.

Ele foi morto durante a Segunda Guerra.

Atingiu Harry que nenhum dos documentos que ele tinha lido contavam a história inteira. Nunca que ele viu o motivo da morte de Billy. Apenas a época em que isso aconteceu, apenas um dos muitos pegos em meio ao fogo cruzado cujos detalhes da morte nunca foram descobertos.

Harry xingou, colocando sua cabeça entre suas mãos.

“Eu sei,” disse Narcisa. “Acredite em mim, eu sei.”

Harry levantou seus olhos.

“Por que?” ele perguntou roucamente, desesperado por um sentindo, uma razão para tudo aquilo. “Você não– você nunca nem foi um Comensal. Por que teria matado alguém?”

Narcisa fechou os olhos, os cílios tremendo. Parecia estar presa em uma memória, a mundos de distância. Parecia mais velha do que jamais tinha parecido.

“Você se lembra,” ela perguntou lentamente, “de quando nosso Lord estava morando na Mansão?”

Harry não conseguia dizer sim a não ser silenciosamente concordando com a cabeça, as palavras presas em sua boca de maneira quase que dolorosa. Não parecia certo falar. Não parecia ser certo quebrar as lembranças que pareciam voar no ar entre eles, apenas em suas cabeças, mas tão físicas quanto se eles tivessem as conjurado através de magia.

“Era ruim.” Narcisa estremeceu. “Era tão ruim. Eu disse para Lucius que era uma ideia estúpida, e eu acho que ele concordava, mas você não diz não para o Lord das Trevas, sabe? Você simplesmente não diz. E então ele veio, e tudo era tão escuro, e não era uma casa mais. Havia tanto medo. Não havia uma hora do dia em que você não podia ouvir os gritos saindo do porão, seja de manhã ou de tarde ou de noite. Eles estavam sempre lá.

“E,” ela continuou, “os grupos de resgate também estavam quase sempre tentando entrar. Você se lembra da sua amiga lá, não é? Do duende. Bem, sempre tinha algo gritando no porão, e sempre tinha alguém tentando os salvar. De vez em quando eles conseguiam.

“Aquele dia, estava chovendo tanto. A gente não ouviu quando eles conseguiram entrar escondidos. Um bando de Aurores que tinham saído do Ministério quando o Lord tomou controle, então você sabe que eles eram os melhores dos melhores. Quando a gente viu, eles já estavam dentro. E você sabe minha irmã. Bella, ela estava tão animada. Mais pessoas que ela poderia machucar. Lucius não queria que eu visse aquilo. Ele tomava conta de mim e Draco, tanto quanto podia na situação. Tentava nos manter fora de perigo. Pediu para a gente ficar nos nossos quartos e a gente foi, eu juro que a gente foi. Mas eu não conseguia ficar parada.”

Narcisa levou uma mão até a sua boca, sufocando um soluço. Seus ombros estavam tremendo.

“Quando eu pus minha cabeça para fora, eu vi ele.” Ela balançou a cabeça. “A porta de Draco estava protegida por um feitiço, mas eu reconheci Todd da escola. Eu sabia que ele era brilhante em Charmes. Mesmo sendo um ano mais nova do que ele e uma puro sangue, ele era brilhante o suficiente para eu ter ouvido sobre o quão bom ele era. Ele arrombou a porta tão facilmente e quando eu vi ele levantando a varinha e a apontando para dentro do quarto de Draco...”

Narcisa levantou seu rosto, os olhos como ferro enquanto se encontravam com os olhos de Harry. “Eu tinha que parar ele,” ela acabou. “Não importa como, eu não o podia deixar machucar Draco. E você sabe que eu iria matar pelo meu filho, Sr. Potter.”

Harry concordou com a cabeça, trêmulo.

“Eu sei,” ele sussurrou, se lembrando da mulher mentindo na cara de Voldemort sem nunca tremer, sem nunca falhar. Ele sempre a respeitou por isso. Narcisa tinha a coragem de uma centena de grifinorios quando se tratava de Draco, mas ela era uma sonserina, afinal de contas. Ele podia ver isso agora.

Ele podia ver, enquanto ela o encarava intensamente.

“Sem nem pensar duas vezes,” ela prometeu.

E Harry não duvidou nem por um segundo.

Ele suspirou de novo, porém, passando suas mãos trêmulas pelos seus cabelos, tentando se livrar da enxaqueca que estava de repente o dando vontade de vomitar. Bem, muito provavelmente era a história de Narcisa, mas ele preferia pôr a culpa na enxaqueca. Era mais fácil. Lentamente, ele olhou para ela de novo.

“Eu não posso te prender,” ele comentou. Algo como surpresa e confusão cresceu nos olhos dela, e ela fez um “que” com seus lábios sem soltar nenhum som. Harry explicou: “Você foi perdoada por todos os crimes que cometeu durante a guerra anos atrás. Se você merece ser presa ou não é contestável – mas legalmente, você já foi perdoada. Mas você vai ter que contar sobre isso para Draco.” Ela abriu a boca para falar algo, mas Harry a interrompeu antes que ela pudesse. “É o filho dele. Ele merece saber porque ele passou tantos anos separado de seu filho. Você sabe que ele merece.”

Narcisa engoliu em seco.

“Eu sei,” ela concordou. “Mas eu não quero.”

Harry encolheu os ombros.

“Eu não estava exatamente louco para ouvir uma confissão de assassinato quando eu acordei hoje, mas eu acho que a gente não recebe só o que a gente quer na vida, não é?”

Narcisa franziu os lábios. “Justo, Sr. Potter. Mas– posso fazer isso amanhã? Posso ao menos pensar em como vou fazer isso, ou não?”

“É claro,” disse Harry. “É claro.”

Narcisa balançou a cabeça, se levantando.

“Bom. Eu vou resolver isso com ele. Eu prometo.” Antes que ela saísse de uma vez do escritório de Harry, ela virou sua cabeça um pouquinho, o lançando um sorriso molhado. “Obrigada por me ouvir. Acredite ou não, eu nunca quis que nada disse acontecesse. Sempre foi um grande peso que eu tive que esconder.”

Talvez fosse bom que ela pudesse finalmente se livrar de tal peso, Harry não tinha certeza, mas ele com certeza não estava muito feliz com o peso que agora se encontrava em seu próprio peito.

 

 

Quando chegou em casa, ele foi surpreendido por encontrar Draco. Não porque Draco estava ali exatamente, afinal Draco tinha o avisado que iria estar em seu apartamento, mas mais exatamente pela maneira como Draco estava – ele tinha se sentado na frente do quarto fechado de Scorpius, a cabeça entre a pernas e os cabelos uma bagunça.

Ele ouviu Harry fechar a porta de casa e ele levantou o rosto. Parecia absolutamente exausto e derrotado. Levou um dedo até seus lábios, para avisar para Harry não falar nada, então Harry se aproximou, se sentando do lado dele. Ele podia ouvir, abafadamente e com um peso no coração, Scorpius chorando dentro de seu quarto.

“Ele não levou a morte de Todd muito bem,” Draco sussurrou contra o ouvido de Harry. “Se fechou no quarto, disse que não queria falar comigo. Gritou, na verdade.” Draco soltou uma risada amarga, abaixando seus olhos. De repente, parecia que ele ia chorar. “Ele tinha acabado de começar a me chamar de pai.”

Harry colocou uma mão no ombro dele, tão reconfortante quando sabia ser. Draco se inclinou em direção a seu toque, mas nenhum deles comentou nada sobre isso. Ao invés, Harry pousou sua mão livre em cima da porta.

“Você tentou entrar?” sussurrou de volta.

Draco negou com a cabeça.

“Ele não trancou. Eu posso entrar se eu realmente quiser. Mas ele quer o espaço dele, e eu não quero ir contra o que ele quer.”

“É claro.” Harry o mandou um sorrisinho triste. “Viu? Você é um ótimo pai.”

Draco puxou as mangas de seu casaco, parecendo querer descordar, mas mordendo o lado interior de sua bochecha para se segurar. Havia um certo rosado em seu rosto, o que fez o sorriso de Harry crescer um pouco mais, não feliz ainda, mas menos triste pelo menos. Draco o lançou uma olhada.

“Você me quer fora da sua casa?” ele perguntou de repente.

Harry nunca fez que não com a cabeça tão rapidamente.

“Você pode esperar aqui por tanto tempo quanto quiser,” disse.

Draco o lançou um sorriso tenso.

“Obrigado.” Quando Harry se levantou, Draco continuou sentado na porta. Harry levantou uma sobrancelha. “Eu vou continuar aqui,” sussurrou para Scorpius não ouvir. “Eu não sei quando ele vai precisar de mim, sabe? Então eu vou esperar. Mesmo se for a noite inteira.”

Harry concordou com a cabeça, não podendo de xingar, mentalmente, os Malfoys e aquele amor tão incrivelmente forte e protetor que eles tinham pelos seus filhos. Era lindo, de um jeito que trazia lágrimas aos olhos de Harry.

Ele foi para cozinha, preparando dois copos de chá de camomila o mais rápido possível, e então para seu quarto pegar um travesseiro e um cobertor, usando sua varinha para conseguir carregar tudo. Ele se sentou do lado de Draco, então, o dando um travesseiro e um copo.

“Eu vou esperar com você,” ele disse, apesar de ser óbvio.

No final, Scorpius não chamou por eles, mas os dois ainda esperaram na frente de sua porta a noite inteira, tomando chá em silêncio, seus ombros se tocando. Quando olhava para Draco–

Ele conseguia entender.

Ele entendia porque Narcisa iria matar alguém por Draco.

 

 

Harry não sabia que horas eles tinham caído no sono, mas ele acordou com sua cabeça no ombro de Draco e o cobertor cobrindo os dois. O braço de Draco estava ao redor de seus ombros, a cabeça dele apoiada na sua e, depois de um segundo em que ele não sabia muito bem o que fazer, Harry tentou se levantar sem acordar o menino.

Surpreendentemente, ele conseguiu.

Estava escuro, antes do sol nascer, mas quase lá, e frio, porque eles tinham se esquecido de fechar as janelas, então foi exatamente isso que Harry fez, antes de ir para cozinha com os copos de chá vazios de ontem, os jogando na pia sem vontade de os lavar agora.

Ao invés disso, ele preparou mais chá, o cheiro acordando Draco.

Ele não falou nada enquanto ia pro lado de Harry, começando a preparar o café da manhã do lado dele. Sua bochecha estava vermelha e seu cabelo estava todo amaçado de um lado e levantado do outro. Harry queria tanto apenas o puxar pelo quadril e o beijar até Draco estar todo vermelho e bagunçado por uma razão completamente diferente.

Por esses exatos pensamentos, Harry mordeu sua língua até ele sentir sangue. Não, ele pensou. Harry malvado! O que Hermione ia pensar?

De qualquer maneira, Harry nem pôde ele próprio pensar nesses novos devaneios que estava tendo, a porta de Scorpius se abrindo não muito depois deles terem acordado. Draco parou o que estava fazendo imediatamente, e Harry também, os dois olhando o menino entrar. Ele estava com a cara toda inchada de tanto chorar, um pouco de meleca escorrendo por seu nariz e os olhos ainda cheios de lágrimas.

Quando ele os viu, ele se tacou em direção aos braços de Draco imediatamente, e Draco o pegou como se aquilo fosse um instinto já, se ajoelhando no chão para poder o abraçar enquanto Scorpius soluçava contra a blusa dele.

“Eu realmente amava mamãe,” Scorpius soltou, abafado e trêmulo. “Eu não vou poder ver ela nunca mais? De verdade?”

Harry não podia ver a expressão de Draco, ele estando escondido entre os cabelos de Scorpius, mas de repente ele estava feliz por isso. Ele não podia imaginar o que o rosto dele estava fazendo, apesar dele saber em quem Draco estava pensando. A mesma pessoa que Harry, certamente. Astoria.

Draco deu um beijo nos cabelos de Scorpius.

“Não,” ele disse. “Eu sinto muito mesmo, mas você não vai mais poder.”

Scorpius soluçou, o abraçando ainda mais forte. Harry abaixou os olhos. Ele nunca mais queria ver Scorpius chorando. Merlin, gostando ou não de Todd, ele teria feito Magia Negra para a ressuscitar sem se importar com consequência nenhuma, desde que isso ao menos fizesse Scorpius sorrir de novo.

Scorpius deu um passo para trás, encarando Draco com as bochechas cheias de lágrimas que não paravam de cair.

“Você vai me deixar também?” ele perguntou, baixinho, com medo.

Draco apertou os ombros dele com mais força.

“É claro que não,” disse imediatamente. “Eu nunca mais vou sair de perto de você.”

Scorpius concordou com a cabeça lentamente, hesitantemente, ainda chorando. Até então, Harry apenas tinha observado a cena. Então Scorpius o viu no canto e, ao se virar para ele, fez exatamente o que tinha feito com Draco – se jogou em seus braços, acreditando com cem por cento de certeza que Harry iria o pegar. E é claro que Harry o pegou, o levantando em seu colo. Scorpius prendeu as pernas ao redor dele, abraçando seu pescoço.

Demorou mais um tempo para ele se acalmar e parar de soluçar, só depois de Harry muito prometer que nem ele e nem Draco tinham planos de morrer e, enquanto Harry colocava Scorpius em uma das cadeiras na bancada, ele ainda estava fungando e coçando seus olhos vermelhos, cutucando sua comida ao invés de realmente a comer.

Ninguém falou nada durante todo o café da manhã, um pouco como na primeira vez que eles tinham comido juntos, só que muito pior.

Harry sabia que seu coração nunca ia ser o mesmo depois daquela cena.


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