I Doubt The Stars Are Fine escrita por cherrybombshell


Capítulo 13
Doze




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Apesar de seu trabalho, fazia anos desde a última vez que Harry viu um cadáver. Não desde a guerra. Aquilo foi um tempão atrás, mas ele achou que nada jamais iria poder o assustar tanto quanto o primeiro corpo que ele viu; Cedrico. Não poderia haver nada pior do que ter que arrastar um cadáver e o segurar enquanto o pai dele o abraçava do outro lado, chorando e gritando em pânico.

Bem, Harry não estava preparado para isso.

A coisa sobre Cedrico e todos os outros cadáveres que Harry já tinha visto era que eles não apenas tinham sido matados por magia, como eles ainda estavam, horrível como fosse falar isso, frescos. Cedrico ainda estava quente quando o Harry estava o tocando.

O corpo de Todd já estava bem decomposto.

Harry correu, ele e o outro Auror arrancando a corda para poder pôr o corpo no chão apesar de que, logicamente, estivesse bem na cara que ela já estava morta fazia dias, no mínimo, e não havia o que eles pudessem fazer. Eles tentaram a colocar deitada no chão com tanta delicadeza quanto era possível, mas era tão nojento que eles não puderam deixar de acelerar para poder parar de a tocar.

Não havia nenhum machucado nela além do seu pescoço obviamente quebrado, mas a pele dela já estava caindo aos pedaços, podre. Para o horror de Harry, além das moscas e vermes que ele tinha visto em sua carne antes, também havia um rato em meio ao cabelo de Todd, um que saiu correndo guinchando assim que eles mexeram nela.

“Puta merda,” Harry murmurou.

Ela estava tão fria.

A cara dela estava tão roxa.

Ele nunca tinha visto nada assim.

Gordon colocou uma mão em seu ombro.

“Potter,” ele disse baixinho, delicadamente, “você precisa de algum segundos?”

Harry não respondeu, ao invés disso se levantando e saindo correndo da cabana. Apoiando sua mão em uma das árvores mais perto que ele encontrou, mal conseguindo segurar o peso de seu corpo, Harry vomitou tudo que tinha dentro de si – os biscoitos que eles tinham feito com Scorpius e o chocolate quente e tudo que tinha o feito se sentir tão cheio e quente.

Toda vez que ele piscava, ofegando desesperado por ar, ele via flashs do corpo de Todd.

Toda vez que ele respirava, ele sentia o cheiro.

Aquele cheiro.

Harry nunca ia conseguir se livrar dele, se agarrando a cada parte de seu corpo, como seu nariz e suas orelhas e seus olhos e as pontas de seu dedo, se infiltrando em sua pele, ficando cada vez mais e mais forte. Ele vomitou ainda mais, mas não ajudou a aplacar seu enjoo nem um pouco.

Ele apoiou sua cabeça na árvore.

Harry estava tremendo, e ele não conseguia se imaginar parando tão cedo.

Os olhos de Todd, ele pensou.

Os olhos dela ainda estavam abertos.

 

 

Quando ele não voltou para cabana, ninguém foi atrás dele. Ao invés disso, quase que uma hora depois, Gordon saiu e caminhou na sua direção, o avisando que eles tinham Aparatado com o corpo até o legista no Ministério. Ele estendeu um lenço em direção a Harry.

“Obrigado,” Harry resmungou, limpando seu queixo apesar de que isso não ajudava em nada com o gosto de bile e catarro em sua garganta. Gordon deu uma batidinha nas costas deles.

“O primeira corpo é o mais difícil,” ele disse.

“Não é o meu primeiro,” corrigiu Harry.

Gordon balançou a cabeça.

“É diferente na guerra.”

Harry não podia concordar mais, mas ele não falou nada. Gordon procurou por outra coisa em suas roubes. Quando ele entregou um pergaminho para Harry, Harry franziu o cenho, o pegando com confusão, mas cuidado.

“Bilhete de suicídio,” Gordon explicou, “e carta de confissão. Eu estava pensando em te mandar avisar pros Malfoys, é claro, você é o mais próximo deles, mas qual de nós vai falar com a família dela?”

“Eu vou,” falou Harry. “Eu falei com eles antes. Tem que ser eu.”

Gordon o lançou um olhar.

“Eu não vou te parar,” ele disse, “mas se lembra de não fazer coisas demais. Precisa tomar conta da sua saúde mental. Não transforme esse caso em algo pessoal. É assim que mais da metade dos Aurores acabam como alcoólatras.”

Harry balançou a cabeça.

Ele ainda sentia o cheiro.

Ele ainda via o corpo dela em sua mente.

“Não,” ele disse. “Eu realmente preciso fazer isso.”

Ele abaixou os olhos.

O pergaminho parecia queimar em suas mãos.

 

 

 

Querida Vi,

Eu espero que seja mesmo você lendo isso. É só o que eu posso fazer, realmente – ter esperanças de que você me achou antes dos Aurores. Verdadeiras desculpas por colocar esse peso em seus ombros, mas eu sei que você iria se importar. Eu sei que você não iria achar que eu mereço isso. Você é a única pessoa que eu confio com o meu corpo e a minha história.

Eu realmente não sei o que aconteceu depois que eu saí de casa. Talvez eles te contaram tudo que eu fiz. Talvez não. De qualquer jeito, eu sei que o que eles falaram não foi a história toda.

Eu sequestrei Scorpius Malfoy. Isso é verdade. Mas você não entende, Vi. Nenhum de vocês jamais entenderia. Quando eu vi ele pela primeira vez aquele dia no hospital, tão, tão pequeno, eu sabia que eu não podia o deixar com os pais dele. Eu não podia os deixar transformar algo tão pequeno e inocente em um assassino.

Eu não sinto que o que eu fiz foi errado. Eles não mereciam Scorpius. Eles não iriam ser bons pais. Ele é uma criança doce e que respeita Trouxas por minha causa. Se eles tivessem o criado, não ia ser assim.

O problema, Vi, é que só porque o que eu fiz não foi errado, não quer dizer que não houveram consequências. Eu achei que eu iria conseguir lidar com elas. Eu achei que o bom que eu ia fazer iria ser grande o suficiente para abafar a culpa. Eu estava errada.

Eu salvei uma criança, mas o que aconteceu com Astoria, a dor nos olhos de Malfoy quando ele estava no jornal.

Eu não consigo lidar com isso mais.

Não dá.

Eu sinto muito, Vi, mas eu não consigo mais. O futuro me assusta tanto, porque toda vez que eu tento pensar no que eu vou fazer com Scorpius, eu sou acertada pela incerteza, mas se eu tentar pensar no passado, eu sou atingida pela dor e arrependimento. Eu não posso nem viver no presente mais.

Eu não sei o que fazer.

Pergunte para os Malfoys o que eles fizeram. Pergunte, porque eles sabem. Eu só quero justiça. Esse é o meu último pedido para você, irmã.

Eu sinto muito.

 

 

 

Talvez ele fosse um covarde. Ele com certeza se sentia como um.

Harry não conseguiu olhar nos olhos dos pais de Todd enquanto os contava sobre a morte da filha deles. Ele não olhou quando a mãe dela, Lucinda, ofegou alto, não como se estivesse surpresa, mas como se de repente não pudesse respirar. Ele não olhou quando Lucinda se levantou e então colapsou de volta na cadeira imediatamente, soluçando e tremendo e murmurando “não pode ser” para si mesma. Ele não olhou quando o pai de Todd começou a chorar também, e o xingar e xingar o Ministério, soando como um dos homens mais quebrados que Harry já tinha ouvido.

Ele olhou para Joey, que estava abraçando seus pais como se ele estivesse tentando manter todos os pedaços daquela família juntos e obviamente falhando. Joey olhou para Harry de volta, os olhos vermelhos, e sussurrou, a voz rouca:

“Você pode nos dar um segundo?”

Harry saiu andando, se sentindo aliviado porque ele era um covarde e não conseguia mais ficar naquela sala com eles.

Ele estava do lado de fora da sala, parado em um corredor apoiado na parede, e apesar da porta fechada e da dita parede ter um feitiço de silenciamento, ele podia jurar que ainda podia ouvir o choro da família de Todd. Eventualmente, até isso parou.

Eventualmente, até isso o deixou apenas com aquele cheiro no qual pensar.

Foi aí que Hermione o encontrou.

Ela era a Ministra, uma mulher respeitava e a bruxa mais politicamente poderosa em toda Inglaterra. Isso não impediu Harry de se jogar nos braços dela, chorando em seu ombro, e isso não a impediu de o abraçar com força, mexendo no seu cabelo e sussurrando em seu ouvido como se eles fossem as crianças sem responsabilidades em Hogwarts que eles nunca tiveram muito direito de ser.

Depois de um segundo, Hermione secou as lágrimas na bochecha de Harry.

“Vamos,” ela disse. “Eu preciso ouvir o que você tem feito nessas últimas semanas da sua boca. Ainda não consigo acreditar que tudo que eu ouvi é verdade.”

Harry soltou algo entre um soluço e uma risada, deixando Hermione o puxar em direção ao refeitório do Ministério.

Ele não conseguiu comer nada, porém.

 

 

Quando ele foi para seu escritório usar a lareira para chamar Draco, o homem já estava lá, sentado na cadeira em frente à sua mesa com a cara mais ansiosa e temerosa que Harry já tinha visto em um Malfoy.

“Eu deixei Scorpius com a minha mãe,” ele comentou quando Harry entrou. Ele viu o olhar confuso de Harry e, agora um pouco mais como o Draco que Harry tinha aprendido a adorar, ele bufou, revirando os olhos. “Seu chefe me mandou um Patrono, também. Disse que você tinha algo importante para me dizer o que era.”

Harry respirou fundo – não havia ponto em tentar fazer uma introdução delicada ao assunto.

“A gente encontrou Todd,” ele falou de uma vez.

Draco se endireitou, empalidecendo ainda mais, se isso sequer era possível para alguém tão naturalmente branco como ele. Suas mãos se fecharam em punhos, e Harry duvidava que ele sequer tinha percebido isso.

“Ela tá aqui?” ele perguntou, baixinho e pronto para começar uma briga.

Harry respirou fundo. “Ela tá morta.”

Os olhos de Draco se arregalaram.

“O que?” ele perguntou, a voz aumentando. Sua sobrancelha tremeu.

Harry se sentou na mesa em frente a ele.

“Suicídio,” explicou devagar.

“Você tem certeza?”

“Eu acabei de sair do legista,” ele acenou com as pastas em sua mão. “Tudo no teste dele aponta para suicídio, e ele é um dos maiores profissionais na areia. A gente fez testes na cabana onde achamos ela, de acordo com os traços de magia, o único bruxo que entrou ali faz mais de uma década foi ela. Eu tenho 100% de certeza de que foi suicídio. E se nossa teoria tiver certa, ela esteve morta desde o dia em que saiu de sua casa. Ela enviou uma carta para amiga dela para ser encontrada, mas ela enviou pelo correio Trouxa, a gente supõe que para que os Aurores não pudessem a intermediar. O que ela não contava era que houvesse uma greve que parou todos os correios por um mês. Por isso ela não dá nenhum sinal de vida faz tanto tempo. Ela não estava viva para dar o sinal."

Por um segundo, Draco não reagiu.

Então, com os cotovelos apoiados em suas coxas, ele escondeu seu rosto entre suas mãos, respirando fundo e trêmulo. Harry não tinha muita certeza se ele estava chorando ou não, até que um soluço sufocado deixou claro que ele estava sim. Harry colocou uma mão em suas costas, fazendo movimentos em círculos para ao menos deixar claro para Draco que ele estava ali, e ele iria o ouvir e o apoiar, se ele precisasse.

Draco levantou seu rosto, com os cílios tremendo por causa das lágrimas e as bochechas vermelhas.

“Eu sou uma pessoa horrível?” ele perguntou. “Porque no momento, tudo que eu consigo sentir é alivio.”

Harry deu um aperto no ombro dele.

“Ela te tirou seu filho,” ele disse. “Eu não posso te culpar, e ninguém com o mínimo de empatia poderia também.”

Draco concordou com a cabeça frouxamente. “O Mundo Bruxo não é conhecido por ter muita empatia quando se trata da minha família, não é?”

Harry apenas aumentou o seu aperto. A cabeça de Draco caiu um pouco para o lado, se apoiando no braço dele. Harry não se moveu. Ele nunca mais queria se mover daquela exata posição.

Depois de um segundo, porém, ele se lembrou de algo que o obrigava a se mover.

“Draco,” ele disse baixinho, já se sentindo culpado, “saiba que eu realmente não estou te acusando de nada.” Draco se endireitou, congelado. Medo brilhou nos olhos dele, conforme Harry tirava o bilhete de suicídio de Todd de uma das pastas, entregando para ele com pesa. “O que você acha que ela quer dizer no final? Quando ela diz para a gente te perguntar o que vocês fizeram?”

Draco leu a carta, os cenhos franzidos e as mãos tremendo. Finalmente, ele chegou ao final e levantou o rosto. Os olhos dele ainda estavam cheios de tanto medo que fazia Harry querer o abraçar mais uma vez.

“Por favor,” Draco disse, “acredite em mim, eu não tenho a mínima ideia do que ela está fazendo.”

Ele não parecia achar que Harry iria fazer isso, olhando para baixo novamente com a cara mais derrotada e magoada que Harry já tinha visto em alguém. Harry colocou a mão na bochecha dele, seu polegar a acariciando.

“Draco,” ele chamou baixinho, “eu acredito em você, é claro.”

Draco olhou para cima, os olhos arregalados.

Era igual aquele momento no sofá dele.

Dessa vez, Harry foi um pouco para frente. Ele nem sabia o que estava fazendo, mas ele sabia o que queria fazer, o quanto queria beijar Draco até que o menino acreditasse no quanto Harry se importava com ele.

Antes que ele pudesse fazer isso, alguém bateu na porta.

Pulando para se endireitar, Harry gritou: “Pode entrar.”

Ele ainda sentia o olhar de Draco queimando o lado de seu rosto.

O secretario de Gordon, Shawn, entrou.

“Os pais de Todd acabaram de sair. Eu achei que você iria querer saber.”

Harry o lançou um sorriso amarelo.

“É claro. Obrigado.”

Ele concordou com a cabeça, saindo apressado. Suspirando, Harry manteve seus olhos na porta, sem coragem de olhar pro rosto de Draco e pro quanto ele deveria estar enojado com o que Harry quase fez. Um covarde, era o que Harry era.

Draco coçou a garganta.

“Eu tenho que falar com Scorpius,” ele disse, e, nesse momento, Harry virou sua cabeça com tudo, porque Scorpius era mais importante do que sua vergonha. “Ele tem que saber. Você sabe… você sabe que ele ainda chama Todd de mãe. Eu não posso esconder isso dele.”

Harry concordou com a cabeça.

“É a coisa certa a se fazer.”

“A gente vai voltar para Inglaterra, também.” Draco passou uma mão pelos seus cabelos, e Harry não pôde deixar de perceber como os dedos dele tremiam um pouco. “Não há mais razão para nos escondermos.”

“Certo.”

Draco se levantou, tirando sua varinha.

Antes de Aparatar, ele olhou para Harry.

“Eu vou estar na sua casa,” avisou. “Quando você voltar.”

E Harry não sorriu, não conseguia depois de tudo que tinha acontecido aquele dia, mas algo em seu peito se encheu de calor. Ele se sentiu um pouco mais leve, enquanto ia se sentar na sua cadeira.

 

 

Ele estava escrevendo seu relatório quando a última pessoa que ele esperava entrar em seu escritório entrou – Narcisa Malfoy, com os ombros para trás e o queixo empinado, mas os olhos cheios de medo. Medo não tinha espaço na expressão de Narcisa Malfoy. Não quando a mulher já tinha mentido na cara do próprio Voldemort sem tremer. Fez Harry se levantar, preocupação e pânico crescendo em seu peito de tal forma que ele nem conseguia respirar direito mais.

“Draco e Scorpius estão bem?” ele perguntou.

Narcisa fechou a porta atrás de si.

“Sim,” ela disse, indo se sentar na frente de Harry. Ela cruzou as pernas, mãos apoiadas em seu joelho como se ela fosse uma donzela em um filme de época, apesar de que nenhuma dessas donzelas jamais teria uma expressão tão cheia de culpa. “Eu vim falar de outra coisa para você. Tenho uma confissão.”

Lentamente, sem tirar os olhos dela, Harry se sentou.

“Pode falar,” ele a convidou.

“Eu sei porque Jô sequestrou o meu neto,” Narcisa sussurrou.

Ele tinha um mal pressentimento. Harry tinha um horrível pressentimento e ele respirou fundo, sabendo que nada de bom iria vir. Havia um gosto ruim em sua garganta. Havia uma pressão em seus pulmões.

“Por que?” ele perguntou baixinho, temeroso.

Narcisa o encarou.

“Porque eu matei o marido dela.”


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