Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 53
Extra




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Richard Grayson sentia o suor se acumulando na testa; as mãos trêmulas; garganta arranhando...

— Faz bastante tempo que eu não me encontro com o Wally! — comentou e abriu um sorriso largo.

— Uma pena que você não vai se encontrar com ele hoje. — Selina murmurou e guardou o celular dentro da bolsa.

O rapaz aproveitou estarem em uma pista limpa para colocar o carro no acostamento. Respirou fundo duas ou três vezes até conseguir olhar para ela sorrindo mais uma vez e comentar, com a voz levemente estridente:

— De onde tirou isso!?

— Ouvi você marcando com a sua namoradinha alienígena... — Ela suspirou e encarou o rapaz — Na verdade eu nem precisaria ter ouvido algo, basta pensar um pouco: você iria convidar o seu amigo para ir até a mansão, você não iria me oferecer uma carona se não quisesse ter certezas de que eu estaria longe...

— Eu sei que isso pode parecer errado, mas...!

— É loucura! — Selina o interrompeu — Eu sou grata à Rachel por ter me salvado daquela morte horrível, mas ela viu mais do que deveria... Dick, deixe ela fora disso. Damian já está se lembrando de coisas recentes, logo ele vai voltar ao normal.

— E se ele não voltar!? — O rapaz apoiou o rosto no volante. Estava se remoendo de raiva por ter sido descuidado, mas ainda mais porque Selina representava uma ameaça gigantesca aos seus planos. Também sentia medo de nunca mais ter o Damian que tanto amava de volta.

A mais velha retirou o cinto de segurança, se aproximou um pouco mais dele e começou a passar uma das mãos sobre as costas em uma tentativa de acalmá-lo. Não havia nenhuma outra intenção ali, algo relativamente novo para ela: agir sem interesse futuro.

— Ele vai voltar sim — sussurrou.

— Não! Você não entende! — Dick se encolheu ainda mais tentando conter o início de um choro — Quanto mais demorar pra ajudar ele, pior vai ser! Ele está começando a achar que as memórias são só sonhos, ele não vai aceitar a verdade depois! Ele não vai querer ser um Robin porque vai ficar com medo! — Ambos ficaram em silêncio por quase um minuto, até que o rapaz se incomodou com a falta de discordância: — Não vai tentar me convencer que eu estou errado? — Ele encarou a “madrasta” e se surpreendeu quando notou que ela estava sorrindo – talvez até mesmo prendendo as gargalhadas — Você só pode ser insana...

— Insana!? — Ela acabou se descontrolando e rindo — É, talvez eu tenha ficado assim depois de tantos... incidentes. Mas tente me convencer, eu não sou o seu pai, vou deixar você argumentar antes de eu provar que é uma péssima ideia.

O rapaz passou as mãos pelo rosto, depois respirou fundo. Por mais que tentasse esconder o quão frustrado estava, a voz já denunciava:

— Não vai ser a primeira vez que ela vai curar ele...

— Mas é a primeira vez depois daquele acidente. Não sabemos ainda o que aconteceu lá... só podemos imaginar o quão ruim foi.

Richard desviou o olhar.

As lágrimas já estavam brotando só por se lembrar de Damian naquele dia: ferimentos, fraturas expostas... a perna pendurada apenas pela pele. Isso sem contar no rosto num pânico congelado com parte do crânio quebrado e dilacerado. O pior de tudo era saber que Damian continuava vivo, sofrendo com aquela dor excruciante.

— Ele vai se lembrar cedo ou tarde!

— Nesse caso: quanto mais tarde, melhor.

— Quer que ele continue com medo?

— Eu só quero poupar o meu filho... — Selina respirou fundo e olhou pela janela — Já tentou se imaginar em outra vida?

— ... Como assim?

— Simplesmente outra vida. Começar do zero, sem se lembrar de nada e nem de ninguém que te prenda... talvez você pudesse se tornar um comissário, um governador... um motorista de taxi daqueles bem ranzinzas que fazem piadas sem graça — Sorriu — Você teria a sua vida normal, seus amigos normais, uma namorada... — Acabou soltando uma risada — ... ou várias!

— E o Batman? E a minha vida? E... E tudo!?

— Você não sentiria falta.

— Claro que sentiria, é a minha vida!

— Você não saberia dela.

Richard rangeu os dentes e se debateu no banco, fazendo com que a companheira de viagem se afastasse dele. Tinha vontade – talvez pela primeira vez na vida – de estrangular uma pessoa: Selina Kyle. Os argumentos dela eram válidos, polidos, embasados... mas não carregavam o fator emocional: ela não sentia tanta falta do Damian quanto ele.

— Seu irmão está com muito medo agora, Dick — Suspirou — Tente entender o quão aterrorizante vai ser para ele saber que os pesadelos são reais. — Ela encarou a janela frontal e continuou: — Além disso, não sabemos se as crises epiléticas passaram, qualquer estresse pode fazer elas voltarem...

— Rachel pode curar ele disso também — O rapaz murmurou ranzinza, se endireitando no acento mais uma vez.

— E se ela não puder? — Selina o encarou — E se não adiantar? E se você só machucar o seu irmão ao invés de ajudar ele?

— O que está querendo dizer!? — Dick gritou e encarou a “madrasta” — O que você sabe que eu não sei!?

— Eu sei dos riscos! — Ela o encarou — Você acha que a sua amiga vai conseguir curar ele, mas está se esquecendo das consequências! Das chances que ela tem de falhar! Do que pode acontecer se ela não conseguir!

Ele cruzou os braços e abaixou a cabeça.

Estava sentindo tanta raiva... tanto medo.

Aceitar que talvez não pudesse fazer nada para adiantar o retorno de Damian, além de esperar, era doloroso.

Queria Damian de volta, custasse o que custasse.

Custasse qualquer coisa, menos o pouco de Damian que ainda estava vivo.

— Talvez ele sempre sentisse medo de ser um Robin... — Selina disse baixo, abrindo a porta do carro — Por um momento eu achei que você entendesse isso, quando me disse sobre o apartamento. Mas agora eu entendo que era só uma forma de deixar o seu irmão mais acessível para aquela garota...

— Não precisa ser ela, o Caçador de Marte também poderia...!

Sempre há riscos, Richard. — o interrompeu — É isso o que seu pai e eu queremos que você entenda.

Dick chegou a abrir a boca para tentar argumentar, mas não conseguiu. Não tem argumentos contra a verdade e Selina Kyle, infelizmente, usava das verdades mais dolorosas quando queria ser ouvida.

Ela, sentindo que tinha cumprido seu dever, saiu do carro e entrou em um outro estacionado mais em frente. O veículo parecia ter surgido lá como mágica, mas foi apenas o calor da discussão que o impediu de ser notado – Lois chegou na hora certa, como sempre.

O rapaz ficou para trás, sozinho no carro - derrotado e frustrado.

Restava agora tomar algumas medidas contra os próprios planos: sempre haveriam riscos e, por menores que fossem, não deixavam de significar uma ameaça para Damian. Ele pegou o celular no bolso e discou a ordem de números que mais vinha digitando nos últimos dias.

— Kori, sou eu... — Passou uma das mãos pelo rosto — Eu estou bem, é só impressão sua. Eu... eu liguei porque preciso conversar com você. Eu... — Suspirou — Eu mudei de ideia sobre o plano.


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Notas finais do capítulo

Eu já tinha dito anteriormente, na nota final de Irmãos (cap. 6), que Dick Grayson perdeu a memória e que, segundo o Batman, se ele quer recomeçar sem nenhum vínculo com o passado, sobre ter sido um Robin, talvez seja o melhor para ele – aliás, desejou um bom recomeço.
Ele acabou perdendo a memória porque levou um tiro na cabeça. Normalmente, quando o cérebro é afetado, a personalidade da vítima em questão muda, mesmo que minimamente. De um rapaz ajuizado, companheiro e divertido, Dick virou um inconsequente, encrenqueiro, que enche a cara e se junta com as pessoas “menos indicadas” de propósito, porque quer confusão e sempre quer demonstrar que não se importa com os problemas dos outros (ele não liga para as suplicas de Barbara para ele voltar ou não ser tão “extremo”, muito menos para os problemas de Bludhaven...)
Apesar de ter se tornado uma versão mais problemática de Jason Todd, o senso de justo e injusto continua no lugar já que ele invadiu uma casa para ter onde dormir, mas ressarciu os donos do imóvel.
Ele também sofre de alguns apagões, que o fazem perder a noção de tempo e chegar a esquecer onde estava... provavelmente isso só piore com o estresse de ser um motorista de taxi em Bludhaven (ele foi advertido sobre o perigo, mas ele queria confusão).
Spoiller: no fim do capítulo 50 de Asa Noturna, ele incendeia uma base de operações que tinha como ato final para se esquecer de vez do passado. Entretanto, uma equipe de policiais acha o lugar e, aceitando que Bludhaven precisava de um herói, resolvem vestir os trajes e sair contra o crime. A equipe de Asas Noturnas chama a atenção de Dick devido à completa falta de preparo que possuem e o força a ajudar. Acredito que será um retorno forçado!
Nota da Nota: Dick Grayson, sem as memórias, se sente um fantasma. Ele quer tanto deixar sua versão antiga “morta” que nem mesmo se importa pelo nome com o qual é chamado (cada um no bar o chama de um jeito – e como motorista, ele é o Burl).



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