Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 52
Almoço




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Os ânimos já estavam mais tranquilos.

Bruce continuava sentado exatamente no mesmo lugar. Observou os filhos tentando ajudar Alfred com a bagunça, observou Dick, Tim e Barbara levarem Jason para o quarto, observou a mesa para o almoço ser posta. Já estava mais calmo, mas ainda se sentia debilitado o suficiente para não arriscar movimentos desnecessários – guardaria qualquer energia que tivesse para suas rondas noturnas.

— Pai? — Damian o chamou colocando a mão no ombro dele — Está tudo bem?

— Só estou distraído... — Colocou a mão sobre a do filho — Aconteceu alguma coisa?

— ... Acho que sim. — respondeu mais baixo — Minha mãe está no telefone há um tempão, ela parece nervosa... Quem é Lois?

— Lois é uma amiga. — Bruce deu um pequeno sorriso, sabia perfeitamente o motivo daquele nervosismo — Filho, anda ouvindo as conversas alheias?

— Não! — Damian tentou puxar a mão para si — Eu juro que não! Eu só ouvi um pedacinho porque estava desligando o videogame, eu juro! — Os olhos chegavam a ter algumas lagrimas presas.

— Tudo bem, tudo bem... — Cuidadosamente, Bruce o puxou e fez com que o filho se sentasse sobre suas pernas. Ele parecia uma criança com medo de ficar de castigo... uma criança pequena, uma versão dele mesmo que, infelizmente, Bruce nunca teve a chance de conhecer – talvez nem mesmo Talia tivesse conhecido esse Damian tão indefeso e medroso — Eu só perguntei porque antes você tinha esse hábito.

— Às vezes dá vontade... — Damian disse baixinho — eu fico com vontade de escutar o que você fala com o Sr. Pennyworth ou com os meus irmãos, mas eu juro que não faço isso!

— O que o meu adorável filhote não faz? — Selina perguntou se aproximando deles.

— Nada... — O Wayne mais velho respondeu pelo mais novo.

— Nada além de ajudar com o almoço! — Alfred comentou sorridente, terminando de colocar as travessas sobre a mesa — Devo colocar um prato para a senhora Lane?

— Na verdade, Alfred, deve retirar o meu. — Ela mexeu suavemente nos cabelos de Damian, fazendo o pequeno a encarar — Eu vou ir até Metrópole visitar uma amiga, devo voltar amanhã de manhã... com uma surpresa para você!

— Surpresa? Qual surpresa?

— Se eu contar, não vai ser mais uma surpresa! — Deixou uma pequena risada escapar.

— Vai deixar ele ansioso... — Bruce advertiu.

— Se ele ficar muito ansioso pode contar o que é — Ela deu mais uma risada e depois beijou a testa do filho.

Damian se levantou e a abraçou. Era uma pequena tentativa de prolongar a presença dela ali e, por mais ineficaz que soasse, funcionou: Selina ficou o abraçando por alguns minutos. Ela esperou pacientemente até que ele finalmente a soltasse e então deu mais um beijo na testa dele.

— Prometo voltar amanhã de manhã... talvez até antes de você acordar — Sorriu, o segurando pelas bochechas.

Bruce estava prestes a falar algo contra aquela partida: sabia exatamente o que Selina faria e, principalmente, quem traria com ela. Não achava uma boa ideia, não ainda. Porém, antes que ele pudesse dizer o que fosse, Richard o desconcentrou colocando a mão no ombro dele:

— Vou me encontrar com o Wally — Avisou com um sorriso no rosto, sinal de que era apenas um encontro de amigos.

— Vai voltar logo? — Damian olhou para ele, estava visivelmente triste com tantas partidas ao mesmo tempo.

— Prometo voltar antes de jantar — O irmão mais velho sorriu e foi até o pequeno, bagunçando o cabelo dele o máximo que pode — Com balas! — Olhou para Selina, ainda com o sorriso no rosto, e então perguntou: — Vamos?

Bruce encarou a namorada e ela afirmou com um aceno de cabeça.

Estava perplexo com aquele nível suspeito de cumplicidade entre os dois – principalmente sabendo dos pontos de vista do filho mais velho. Selina costumava agir pelas costas dele, pelas costas de qualquer um, mas ele não estava em condições de suportar mais golpes.

— Gata...!

— É só uma carona até o porto — Selina o respondeu antes mesmo que ele perguntasse mais alguma coisa — Confia em mim, morcego — pediu em um sussurro quando já estava suficientemente próxima dele para dar um beijo no canto da boca. Damian observava os pais atentamente, gostava de ver eles juntos – apesar de ficar com as bochechas vermelhas com as demonstrações de carinho entre os dois.

Bruce continuou a encarando em silêncio, até que ela e Dick saíram – o filho abriu a porta para ela como o bom cavalheiro que é.

O detetive estava perdido em suspeitas e pensamentos que derrubavam todas essas suspeitas, já que ele não queria desconfiar de duas pessoas que tinha como base...

— Pai... — Quando ganhou o olhar e atenção do mais velho, Damian continuou: — O que eu gosto de comer?

Bruce finalmente olhou para algo além da porta agora fechada. Estava tão compenetrado naquela briga interna que não se deu conta que Timothy, Barbara e Damian estavam sentados perto dele.

— Pai...? — Damian o chamou novamente, ansioso pela resposta.

— Tudo.

— Tudo mesmo?

— Que eu me lembre, sim. — Bruce olhou para o fiel mordomo — Ele sempre comeu qualquer coisa, certo?

 — Felizmente apenas as coisas comestíveis, mas já o peguei vez ou outra tentando fazer chá com as flores da entrada — o mordomo confirmou.

— Então por que eu sempre como coisas diferentes? É por causa dos remédios?

Alfred e Bruce se calaram sem saber ao certo como explicar. Queriam que Dick estivesse ali, ele levava bem mais jeito nestes assuntos, ou até mesmo Jason. Tim, que se manteve em silêncio até aquele ponto, sorriu de canto e cortou um pedaço generoso do assado que estava comendo, depois estendeu à Damian com um garfo.

— Prova.

— Posso mesmo? — O garoto sorriu. Estava acostumado com as gentilezas dos irmãos mais velhos e do Sr. Pennywood, até mesmo o pai que vivia ocupado era mais amável com ele do que Timothy.

— Claro, prova.

— Não acho que seja uma boa ideia, filho... — Bruce murmurou um tanto sério, desaprovando totalmente as ações de Drake.

— Por quê? — Damian perguntou já segurando o garfo e pronto para experimentar o assado.

— Porque você é vegetariano.

Era vegetariano — Tim ressaltou, arrancando um olhar repreensivo de Bruce.

— Tim, eu não sei qual é a finalidade de tudo isso, mas espero que você não incomode o Damian de novo — começou o pai, logo sendo interrompido:

— Não tem finalidade nenhuma, eu só aceitei de vez que o Damian perdeu a memória e precisamos ajudar ele nisso de recomeçar a vida de um jeito diferente... Claro, sem tentar dar uma resposta ao que aconteceu! — Ele voltou a comer tranquilamente.

— Não gosto do seu tom.

— Ah, B! — O rapaz se apressou e engoliu a comida — Ele esquece tudo perto dos ataques de pinscher-gremlin ou seja lá o que for, ele não lembra de nada além dos pesadelos e ainda tem crises de dor dependendo do que ele escuta! Obvio que não precisamos nos preocupar com o que aconteceu, não é!? — Timothy estava visivelmente irritado por não ter sido levado a sério — É melhor eu aceitar logo que essa vai ser a nova versão do Damian, ela é até menos chata!

— Timothy! — Bruce se exaltou — Um pouco mais de respeito com as condições dele!

— Que condições!? Ele está ótimo, só está sem a memória! — Mesmo se defendendo, o rapaz não perderia a chance de extravasar de uma vez: — Ele só não quer continuar levando a vida que levava antes. É melhor ele terminar assim, só perdendo a memória, do que ser descartado quando outro chegar ou acabar morrendo, não é?

E assim começou uma discussão, onde os dois – Bruce e Timothy - estavam terrivelmente errados.

Enquanto praticamente gritavam para ver quem teria a razão, Alfred se aproximou silenciosamente da criança da casa e o ajudou a fugir com passos lentos e tortuosos. Damian não disse absolutamente nada no meio de tudo aquilo, mas bastou que chegassem na escada para ele começar a chorar e se culpar:

— Eu juro que não queria que eles brigassem, eu juro que não perguntei por mal, senhor Pennyworth!

— E ninguém está culpando você, jovenzinho... — da forma mais dócil possível, o mordomo bagunçou os cabelos dele em uma tentativa de reconfortar o pequeno. Entretanto, aquele carinho só serviu para que Damian se desatasse a chorar ainda mais, chegando a soluçar.

— E-eu não que-ero ser descarta-ado!

Alfred continuou ali, não poderia fazer muita coisa no momento além de mexer nos cabelos escuros e espetados tentando acalmar o garoto. Até mesmo havia cogitado a ideia de pegar Damian no colo, como fazia com o pequeno Bruce ainda criança, mas não tinha certeza se era a melhor opção – afinal de contas, bastava estresse para desencadear uma crise epiléptica, e nessas crises era melhor que a pessoa ficasse no chão.

Para a sorte do mordomo, Barbara já havia terminado o almoço em meio à discussão. Ela se aproximou deles o mais rápido que conseguiu quando notou que o pequeno Damian estava chorando. Sem dar explicações, ela agarrou o garoto como Dick costumava fazer e o levou escadas acima... estava preocupada.


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Notas finais do capítulo

Sei que já falei sobre a Barbara em uma nota anterior (naquele Extra antes de Limbo), mas vou aproveitar a presença dela estar se tornando mais rotineira para algumas informações extras:
Idade: próximo aos 22 anos.
Altura: 1,80 m aproximadamente.
Peso: 61 kg.
Diferencial: sempre anda com balas de morango.
Em breve, teremos um acréscimo nessas informações de todos os personagens. Mas só quando o Damian descobrir em que cada um dos membros dessa família “trabalha”.
Nota da nota: sei que em outros países o almoço não é a refeição principal, mas que outro momento melhor para “lavar a roupa suja”, não é mesmo?



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