Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 51
Reunião




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— O motivo da reunião de hoje é discutir sobre...

— ... O quanto você está péssimo! — Jason interrompeu o pai com um sorriso maldoso no rosto.

— Preocupado comigo, filho? — Bruce sorriu de canto, adorando rebater aquela implicância. Os outros que estavam sentados à grande mesa de jantar prenderam os risos com o rubor do “rebelde da família”, principalmente porque ele ficou calado — Retomando: decidiremos hoje o que fazer quanto ao irmão de vocês.

Barbara imediatamente levantou a mão e, sem nem mesmo esperar a atenção de todos, ela começou a falar:

— Não estou tentando tirar a seriedade de tudo, mas aqui é o lugar certo para esse tipo de conversa? — Ela olhou em volta, todos sentados à mesa como se esperassem uma sobremesa ou algo do tipo — Quero dizer... — Passou a mão pelo cabelo — ... lá embaixo temos mais... — Encarou as janelas, enormes, que davam para o jardim da mansão — ... privacidade — Acenou para Damian. O pequeno estava brincando com os cães do lado de fora.

— Exatamente — Alfred deu um sorriso singelo, colocando uma bandeja com biscoitos no centro da mesa e, logo depois, começando a servir o chá — Vocês terão toda a privacidade do mundo, mas Damian vai ficar desconfiado.

— O pirralho pode até ser uma criancinha agora, mas dá trabalho esconder tudo dele — Jason explicou enquanto enfiava dois biscoitos na boca de uma vez só — Alfie, por que a um copo de plástico só pra mim? Eu não sou o bebê da casa! — Talvez a fala um pouco arrastada ou o olhar perdido já denunciasse tudo, mas Alfred fez questão de responder:

— Porque você está proibido de portar objetos potencialmente perigosos enquanto estiver em observação — O mordomo explicou docemente — Aliás, espero que não tenhamos nenhum tipo de discussão acalorada com o jogo de chá sendo usado como artilharia.

Todos se entreolharam.

Em uma reunião com tantas opiniões diferentes, o mínimo que se poderia esperar dos participantes era uma briga... mas não naquele momento. Bruce e Selina estavam olhando o filho brincar do lado de fora; Jason estava sob efeito de calmantes; Barbara, Tim e Dick não começariam uma briga com o estado fragilizado dos outros.

— Acho que já podemos começar... — Richard comentou com um sorriso esperançoso, queria propor métodos alternativos para lidar com o irmãozinho mais novo.

— Caso precisem de algo, estarei com o Mestre Damian — Alfred avisou enquanto caminhava em direção a porta.

— Alfred, você é tão necessário aqui quanto qualquer outro...

— Todos já sabem minha opinião, Patrão Bruce — o mordomo o interrompeu — Por via das dúvidas, faça das palavras da Senhorita Kyle as minhas também.

E assim o mordomo se retirou da reunião.

No fim das contas, todo aquele alvoroço só serviria como uma pequena dose de tranquilizante para o ânimo de todos. Ninguém queria encarar a verdade assustadora de que nada e nem ninguém conseguiria ajudar Damian.

A resposta não era uma reunião, tão pouco votar no “próximo passo”.

A única coisa que poderiam fazer, independente do meio, era esperar.

— Mestre Damian... — O mordomo chamou e, quando a criança da casa o encarou com aqueles belíssimos olhos verdes, continuou: — ... trouxe biscoitos! — anunciou, ganhando um sorriso enorme do pequeno Wayne.

Alfred, que já lidou com pautas bem mais cruéis do que aquela, estava resignado. Esperaria Damian voltar a ser como antes aproveitando a companhia daquele adorável rapaz, coisa que acreditava ser o mais correto.

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1ª Proposta

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Fora de questão! — Bruce apoiou as mãos sobre a mesa e se levantou, encarava o filho mais velho como se tivesse recebido uma ofensa.

— Por quê!? — Dick repetiu as ações do pai — Os poderes da Ravena podem curar ele em segundos, o que custa tentar!?

— Pode custar o pouco de sanidade que o meu filho ainda tem! — o mais velho acusou e apertou as têmporas. Respirou fundo e finalmente deu por encerrada aquele pequeno desentendimento: — Eu não quero essa garota perto dele! Da mente dele!

— Mas Bruce...! — Dick respirou fundo, encarou Selina e apontou para ela com as duas mãos — Olha pra ela: nem parece aquele monte de carne queimada e retorcida! Sabe por quê? — Olhou para o pai novamente, estava irritado — Ravena curou ela! Curou sem exigir nada!

Jason, que até o momento estava completamente lucido – apesar da letargia -, sentiu o estômago revirar. Só de imaginar aquela cena ele sentiu calafrios, precisou se controlar para não colocar os biscoitos para fora...

— Já chega, Richard! — Selina também se levantou.

— A única coisa que vocês deveriam ter é um pouco de gratidão e confiança nela! Eu tenho certeza que se tivesse deixado ela fazer algo quando acharam o Dami no dia do acidente, ela...!

— Chega dessa porra! — Jason exigiu, se levantando e forçando Richard a voltar para a cadeira.

Bruce e Selina se sentaram também.

Todos ficaram em silêncio.

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— Sr. Pennyworth... — Damian o encarou — Posso pedir uma coisa?

— O que quiser, Mestre Damian — Sorriu.

— ... Pode me ensinar a fazer biscoitos? — sussurrou o pedido como se fosse um grande segredo.

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2ª Proposta

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— Estão mantendo ele escondido de tudo e todos, talvez quando ele ver outras pessoas comece a se lembrar... — Barbara encarava o “padrinho”. Estava sentada ao lado dele e de frente para os irmãos.

— Ele lembra de algumas coisas quando dorme, pesadelos... — Bruce virou o rosto — Ele fica tão assustado...

— Talvez seja melhor esperar um pouco mais antes de apresentar mais pessoas, Damian está muito mais inquieto desde que acordou — Selina concluiu o descarte daquela ideia. Segurou cuidadosamente a mão do namorado, tentando dar algum tipo de apoio.

— Ele reagiu muito bem à Barbara — Dick resmungou um pouco enciumado. A ruiva soltou uma risada, pegou algo na bolsa a tira colo e desvendou o enigma:

— Balas de morango! — Mostrou algumas para o rapaz — Damian adora morangos.

— Frutas no geral... — Jason completou, bocejando logo em seguida.

— De qualquer jeito, ele parece gostar de conhecer pessoas novas — Tim comentou e ergueu os ombros. Apesar das primeiras impressões ruins, Damian parecia mais do que disposto a tentar agradar qualquer um.

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— Daí só assá-los em forno médio. Acredito que não tenha me esquecido de nada, mas por via das dúvidas o caderno de receitas está na dispensa — Alfred sorriu. Sentia vontade de apertar as bochechas de Damian. O pequeno estava com os olhos brilhando tanto, parecia uma criança quando recebe os presentes de Natal.

— ... Que... incrível... — sussurrou — É tão incrível!

— Fico feliz que tenha apreciado. Algumas gotas de essência de baunilha fazem toda a diferença, realmente.

— Não os biscoitos, Sr. Pennyworth... mas eles estão maravilhosos! — Se corrigiu, pegando mais um — É incrível você transformar farinha em biscoitos! Parece até mágica...

— Oras...! — Alfred deixou uma risada escapar, abraçando aquela criança como se não quisesse que aquele momento terminasse — E você transforma grafite e um pedaço de papel em uma obra de arte, Mestre Damian.

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3ª Proposta

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— ... E é por isso que eu acho que as duas coisas estão relacionadas — Tim terminou sua explicação e encarou os outros participantes. Estava com um sorriso singelo, eufórico por feedbacks.

— ... Eu ainda acho uma boa ideia deixar a Ravena vir aqui.

Não é uma boa ideia — Bruce retrucou.

— ... Ok, alguém tem alguma pergunta sobre as linhas temporais divergentes? Eu posso pegar o computador e mostrar o resultado das simulações — o nerd sugeriu, ainda com esperanças de ter sido ouvido por alguém.

Jason levantou a mão.

— Não precisa levantar a mão, Jay, é só perguntar — Timothy estava sorrindo de orelha a orelha. Todos os outros encararam rebelde com certa apreensão sobre a pergunta.

— O que tinha no meu chá?

— ... O que isso tem a ver?

— A ver com o que?

— ... Jason, eu fiquei os últimos cinco minutos resumindo o meu trabalho dos últimos três meses. Você pelo menos ouviu?

— Claro que não, eu estava distraído! — Ergueu os ombros e bocejou — B, o que tinha no meu chá?

— Alguém me ouviu? — Timothy se levantou — Será que alguém pode ao menos repetir uma parte do que eu disse!?

— O que tinha na porra do meu copo!? — Jason se levantou também.

— Calmantes! — Bruce respondeu finalmente, apertando as têmporas — São apenas calmantes, Jason... Tim, apesar de admirar toda a sua dedicação com o estudo dessas linhas divergentes, é improvável ser a causa. Damian está assim por culpa do acidente e...

POR SUA CULPA! — Jason interrompeu o pai, só não avançou em cima dele porque Timothy o prendeu — A culpa é sua! Sua!!! — Estava descontrolado, com o olhar de um verdadeiro maníaco.

Bruce apenas virou o rosto, não queria encarar aquelas acusações. Já estava tão cansado de tudo que tentaria ignorar e relevar o que o atingisse ali. Precisava fazer isso, porque sentia que não aguentaria mais, não aguentaria se mais alguma coisa acontecesse com aquela família... precisava de todos juntos.

— CALA A BOCA! — Selina exigiu, se levantando e apoiando as mãos sobre a mesa — A culpa é sua por só tomar decisões ruins, Jason. Sua! — disparou friamente — A última foi a brilhante ideia de explodir um galpão cheio de produtos químicos! O que queria? Se matar!?

— ... Não, eu... — O rebelde repensou as ações. Agora estava confuso, como se nem ao menos lembrasse o que acabou de fazer — ... Eu... Eu não queria me matar. B, eu não queria me matar...

— Então por que foi sozinho!? — A gata continuou.

— ... Porque... Porque eu... — Jason se sentou de novo. Selina parecia aterrorizante para ele: um monstro falando verdades cruéis, um monstro com a carne queimada e distorcida... conseguia sentir o cheiro da fumaça — ... Eu tô com medo de novo...

— Logo os remédios fazem efeito, filho — Bruce murmurou, passando as mãos pelo rosto – já tinha algumas gotas de suor brotando.

Selina notou o estado do namorado e se sentou ao lado dele de novo, passando uma das mãos nas costas em uma tentativa de confortá-lo. Por mais que Bruce não gostasse de demonstrações de carinho em público, era o que ele estava precisando.

Timothy sentou-se também, ressentido com a falta de atenção.

— ... Então, próximo? — Barbara sugeriu, colocando uma das mãos sobre o ombro do Wayne.

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— Não vou atrapalhar, Sr. Pennyworh? — Damian perguntou pela terceira ou quarta vez a mesma coisa. Levava a bandeja para ajudar Alfred.

— Claro que não! — o mordomo respondeu com o mesmo sorriso que das outras vezes — Que mal teria em me ajudar com o almoço?

— ... Eu já ajudei antes?

— Não, não que eu me lembre — Abriu a porta da cozinha e deu passagem para Damian — Mas gastronomia nunca foi algo de interesse para os Wayne em geral — Sorriu — Quem sabe é mais um talento seu escondido, esperando para ser lapidado.

Damian deixou a bandeja vazia sobre a pia, sorriu e encarou o mordomo com um ar de curiosidade infantil, então perguntou:

— Sr. Pennyworth, meu pai já tentou aprender a cozinhar?

— ... Ele faz um excelente trabalho usando o micro-ondas, algo além disso vai além da capacidade que ele conseguiu desenvolver.

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4ª Proposta...

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— Podemos continuar outro dia... — Barbara sugeriu, estava realmente preocupada.

— Não, eu só preciso de mais um minuto — Bruce disse tão baixo quanto em um sussurro, apertando a têmpora novamente — Já está passando, é só um mal-estar.

— É só a sua pressão alta subindo ainda mais — Selina o corrigiu — Morcego, você precisa se cuidar...

— Eu só preciso de menos aborrecimentos.

— Realmente ajudaria... — a gata concordou.

— O Jay também não está muito bem... — Dick comentou passando uma das mãos nas costas do irmão, Jason estava debruçado sobre a mesa.

— Ainda é efeito do Gás do Medo, vai demorar alguns dias até passar — Tim explicou, tinha passado por algo parecido com o Gás do Riso.

Todos se mantiveram quietos, conversando em sussurros até que o patriarca finalmente estivesse melhor para prosseguirem a reunião. Porém, antes que isso acontecesse, Jason resolveu fazer mais uma participação:

— E se levarmos o Dami pro circo? — Encarou os outros.

— Jason, isso não é uma reunião de passeios com o Damian — Bruce respondeu, descartando a ideia de imediato.

— ... O pirralho está muito preso, certeza que ele vai melhorar mais se ver a vida lá fora — Limpou o pigarro, tentando ignorar a figura horrível de Selina sentada na frente dele — Quando eu estava trazendo ele da clínica, consegui distrair ele com a lua em uma crise de dor de ouvido ou algo assim. Ele precisa se distrair mais, ficar só aqui dentro está fazendo mal a ele... — Bocejou.

O pai passou as mãos pelo rosto murmurando algo como “dai-me paciência”. Selina, que continuava com aquela forma horrenda aos olhos de Jason, fez o namorado repousar a cabeça no ombro dela... Todd via uma cena horrível, com aquela coisa querendo machucar Bruce. Ele preferiu se debruçar sobre a mesa de novo e esconder o rosto.

— Até que faz sentido... — a Gordon comentou com um sorriso encorajador — Damian vai gostar de sair um pouco com o Jason. Ele obedece ao que você diz, não é? Que mal teria?

— É, eu entendo dessas coisas de criança... Eu cuido do Bizarro! — Ele levantou a cabeça de novo, sorrindo, orgulhoso com o próprio potencial.

Bruce ia rebater aquela justificativa completamente sem sentido, mas Selina tomou a voz dele:

— Jason, você não vai levar o meu filho pra passear junto com aquele seu amigo alienígena de laboratório! Ele é perigoso, não tanto quanto você, mas é!

— Olhando por esse lado, retiro o que eu disse — Barbara desviou o olhar. Haviam inúmeros motivos para que Jason não se encarregasse de cuidar de uma criança, ela estava se lembrando deles.

— Não, não... Só eu e o Bizarro não — Jason tentou falar rápido, mas a língua estava começando a enrolar — A Artemis estaria lá também! — Sorriu, como se aquilo fosse um ótimo motivo.

— Você quer se mostrar para os seus amigos usando o seu irmão mais novo? — Bruce finalmente disse algo. Encarava Jason descrente de que aquele tipo de sugestão realmente fizesse sentido na mente conturbada do filho rebelde.

— Pior... — Tim suspirou — Ele quer se mostrar para o Damian usando os amigos.

— Certeza que ele vai entrar com a moto em chamas no picadeiro! — o irmão mais velho comentou tentando não rir.

— Se ele fosse com você, aposto que ia ficar dando aquelas piruetas no alto com fogo na bun...!

— Já chega os dois! — Bruce colocou um fim na pequena briga dos filhos mais velhos que nem ao menos tinha começado — Vocês só podem estar querendo me matar... Damian não vai colocar os pés fora dessa mansão!

— Mas...!

— Sem “mas”! Coringa está solto, Espantalho está solto! Eu não quero nem pensar no meu filho suscetível a... — Ele não conseguiu terminar, a cabeça estava latejando.

Timothy olhou para os irmãos mais velhos e disse, pouco antes de abaixar a cabeça sobre a mesa:

— Não acredito que acordei cedo para isso...

Dick acabou virando o rosto. Não queria admitir, mas levar Damian para fora poderia ser uma ótima ideia, em algum momento ele poderia se lembrar de algo – ou esbarrar em uma amiga com poderes mágicos de cura...

Jason só se debruçou sobre a mesa de novo. Odiava calmantes... ainda mais quando faziam efeito rápido.

— Pessoal... — Barbara se levantou — Olha só o estado do Bruce... de vocês. Não é pedir muito que todos levem isso aqui mais a sério, estamos falando do Damian — Ela olhou para todos os presentes, suspirou e se direcionou para o irmão mais problemático: — Jason, acorda! Ao menos tenta defender a sua proposta com algum motivo válido!

— Hun...?— o rapaz murmurou e ergueu o rosto de novo — É por isso que a gente tem que levar ele pro circo.

— ... Por isso o que, Jay?

— Todo mundo gosta de circo!

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— Seu talento com facas é realmente surpreendente, Mestre Damian! — O mordomo sorriu, recolhendo os vários legumes cortados em cubículos perfeitamente simétricos — Poderia cortar aquelas maçãs também? Vou preparar uma torta para a sobremesa.

— Claro!

— Vamos terminar o almoço bem adiantados... que tal aproveitar o tempo livre em uma partida de Dirt Ralle? — Alfred olhou a criança de soslaio enquanto mexia uma das panelas.

— ... Mesmo!? — Damian deixou as maçãs de lado — Pode me ensinar a jogar, Sr. Pennyworth!?

— Não é para me gabar... — O mais velho deu um sorriso, pegando uma colherada do molho e levando para o pequeno experimentar — ... mas quem ensinou todos os atalhos deste jogo ao seu pai, fui eu.

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5ª Proposta

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— Melhor levarem o Jay para o quarto, antes que ele babe a toalha da mesa... — a gata comentou enquanto ajudava o namorado a se levantar.

— Ainda falta você, Selina... — Barbara constatou, ajudando ela com Bruce.

— A minha opinião sobre isso acho que todos já sabem. Alfred pensa como eu...

— Eu ainda não sei... — A ruiva a encarou.

— Ela quer que o gremlin continue sem se lembrar de nada — Tim respondeu no lugar dela.

— Não, não é isso — Selina encarou Timothy tão séria que até mesmo Jason – mais dormindo do que acordado – ficou com medo dela — Eu só quero que o meu filho não surte. Os ataques, eles pararam desde que o Damian acordou, mas ainda tem a possibilidade dele continuar sendo... — ela não conseguiu concluir.

— Epilético? — Barbara perguntou baixo — Mas ele se lembrar ou não, não iria mudar isso... iria?

— Ele está começando a ter algumas lembranças e isso já basta para ele ter pesadelos, eu não quero ele se lembrando de tudo de uma vez só... a mente dele não iria suportar — Ela foi abraçada por Bruce, prova de que aquele assunto era bem mais delicado do que parecia — O melhor é deixar ele se lembrar sozinho, aos poucos, sem forçar...

— E o melhor é continuar mentindo pra ele? Mentir sobre tudo? — Dick disse deixando transparecer o quão errado achava aquilo — Eu odeio mentir pra ele! Ele... ele confia em tudo o que falamos, é tão errado usar isso para fazer ele acreditar que só está com medo! Se falarmos a verdade de uma vez, ele entenderia! Ele poderia até melhorar... permitir que outras pessoas o ajudem!

— Dick, o seu irmão está com medo — Bruce encarou o filho mais velho — Medo das próprias lembranças.

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Enquanto caminhavam para a sala de jogos, Damian olhou rapidamente para dentro do salão. Todos estavam lá, se divertindo ao que parecia.

— Sr. Pennyworth... — O pequeno encarou o mordomo — ... o que eles estão fazendo?

Alfred pigarreou e tentou pensar em alguma explicação suficientemente boa para convencer o jovem Wayne de que ele não foi deixado por fora de nada divertido, mas sim de algo importante.

— Resolveram fazer uma pequena reunião da empresa na mansão, para que ninguém fique muito tempo longe de você — Sorriu — Não é ótimo?

— É sim! — Sorriu também — Gosto quando todos ficam juntos... é... é bom, dá uma sensação quentinha — Ficou pensativo, como se estivesse realmente se esforçando para tentar se lembrar de algo — ... Sr. Pennyworth, todos trabalham na mesma empresa?

— Não é exatamente isso, seu pai gosta de manter todos informados.

— E eu participava dessas reuniões? Antes de... — Damian desviou o olhar — ... de ficar assim? — Não encontrava outro jeito de explicar o quão insignificante se sentia na maioria das vezes. Tinha medo de só estar atrapalhando todos, de não ser mais necessário... de não quererem mais ele por perto – como agora.

— Sim, mas apenas por obrigação — Alfred mexeu nos cabelos escuros de Damian, tão lisos e pesados... já estava passando da hora de cortar — Você sempre achou essas reuniões uma chatice — Sorriu, tentando colocar os fios para trás — Tenho para mim, Mestre Damian, que isso se devia à exigência de um traje mais... — Procurou uma palavra simples que se encaixasse ali — ... mais formal! Se pijamas fossem permitidos, seria algo mais divertido, não acha?

— É, acho que sim — O pequeno tentou sorrir, mas ainda estava desanimado.

— Felizmente, agora você pode fugir das reuniões e se divertir jogando videogame enquanto eles falam sobre assuntos chatos — Segurou as bochechas do garoto — E o melhor de tudo: usando um belíssimo pijama de dinossauro.

Damian acabou rindo, uma risada adoravelmente contagiante.

Por mais que quisesse que o pequeno Wayne voltasse ao normal, Alfred adorava aquele som espuntâneo de alegria. Sentiria falta daquelas risadas...

— Sabe... — Pigarreou — Seu pai gosta tanto de dinossauros que se pudesse, teria um na sala de estar — Ele se aproximou mais de Damian, como se fosse contar um grande segredo: — Ele já tentou colocar um T-Rex lá, mas não teve altura o suficiente!

Damian, dessa vez, explodiu em risadas. Chegou a ficar com as bochechas avermelhadas quando conseguiu parar de rir.

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6ª Prop... 4ª Desentendimento.

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— Pelo menos eu tento fazer ele se lembrar mostrando o quarto antigo dele! — Richard se levantou — E você, que tentou matar o Damian duas vezes! — apontou para o mais novo ali presente, acusando-o.

— Vai à merda, Dick! Eu já disse que não explodi aquele passarinho idiota, ele que se explodiu sozinho! — Timothy estava exigindo ao máximo de si mesmo para não arremessar a xícara de chá contra ele.

— E POR QUE DEU ALGO PERIGOSO PARA UMA CRIANÇA BRINCAR!? — O mais velho acertou um soco na mesa.

— E POR QUE VOCÊ NÃO TOMOU CONTA DELE!? — Infelizmente, Tim perdeu o autocontrole e desobedeceu a Alfred: usou o conjunto de xá, caríssimo, como artilharia.

— Já chega! — Bruce tentou impor alguma autoridade sobre os dois, mas a única coisa que impedia um de pular no pescoço do outro era Jason, dormindo sentado entre os dois irmãos — Parem de jogar coisas um no outro, vão acabar acertando...! — Antes que ele pudesse sequer terminar de falar, Dick já tinha jogado um pires em Barbara por acidente.

— SEU...!

Normalmente, a filha do comissário iria respirar fundo e tentar manter a compostura. Porém, passar horas na companhia de todos, suportando os nervos à flor da pele e o comportamento infantil dos “irmãos” a tornaram até mesmo pior que eles: em segundos já tinha subido em cima da mesa e estava jogando tudo o que via pela frente em cima deles.

Dick e Tim agarraram-se um ao outro e tentavam desviar da louça de porcelana enquanto desferiam ofensas e golpes. Em dado momento da briga acalorada, foram parar no chão – derrubaram até mesmo a cadeira em que Jason estava, por sorte o rebelde continuou dormindo.

— Ei! Já chega! — Bruce tentou novamente, gerando absolutamente nenhum resultado.

Bruce Wayne, Batman ou qualquer outra figura de respeito que aquele homem cansado, acabado e com a barba por fazer pudesse ser; ele se desvencilhou da namorada, acertou os punhos cerrados contra a mesa e gritou a ordem para os filhos:

— PAREM AGORA MESMO!

Funcionou perfeitamente... nos primeiros cinco segundos.

Depois disso, Richard jogou Timmy em cima de Jason – o mais novo estava pendurado nele tentando dar uma chave de braço -; daí Barbara acertou o irmão mais velho com uma das cadeiras; Dick tentou pegar um dos acentos para acertá-la também, mas Timothy o derrubou no chão antes disso.

Enfim, a briga retomou com ainda mais força.

O patriarca se acomodou na cadeira mais uma vez, assistindo aquele espetáculo sem sentido. A pressão já estava alta, a visão já estava turva, o coração já estava descompassado... realmente, ele não sabia lidar com os próprios filhos sem Alfred por mais de dez minutos.

A única coisa que ele fez foi repousar uma das mãos sobre o próprio peito e começar uma espécie de caricia, uma massagem relaxante para aliviar um pouco do estresse. Era o pouco que podia fazer ali, além de ignorar os filhos – apesar de sentir um pouco de pena de Jason, que mais parecia um corpo morto no campo de batalha.

— Morcego, eu vou ir ver o nosso filhote — Selina avisou no tom mais baixo possível, saindo furtivamente logo depois. Não queria nem imaginar o que aquelas “crianças” poderiam fazer se a briga continuasse nos outros cômodos da casa.

Ela procurou pelo filho no jardim, na cozinha, no quarto dele... já estaria nervosa se não tivesse a certeza absoluta que Alfred estaria com ele. Encontrou os dois na sala de jogos, rindo, pareciam duas crianças...

— Eu ganhei! — O mais novo ergueu os braços, comemorando — Não acredito que eu ganhei!

— Empate, Mestre Damian! Empate! — o mordomo reforçou — Mas foi uma ótima vitória — sorriu.

— Então o meu filhote ganhou uma partida? — perguntou se acomodando ao lado do filho.

— Siiim! — Damian fez questão de prolongar os “is” enquanto se abraçava a mãe — Sr. Pennyworth me ensinou a jogar!

— Pelo visto ensinou muito bem! — Selina acabou se entregando às vontades e abraçou o pequeno, o enchendo de beijinhos pelo rosto. Adorava ver ele tão feliz... se sentia feliz também.

— Tão bem que vou deixa-lo jogar contra uma ótima competidora — o mordomo anunciou estendendo o controle para Selina — Imagino que Patrão Bruce esteja precisando de mais chá... — Suspirou, imaginando o quão mal a reunião poderia ter acabado.

— De camomila, Alfred... — Ela segurou o controle e encarou o mordomo, estava visivelmente cansada.

— Meu pai está nervoso? — Damian olhou para a mãe desconfiado, depois para o mordomo e esperou alguma explicação. Os dois mais velhos se entreolharam e responderam em uníssono:

— Ele sempre fica nervoso nessas reuniões...


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Notas finais do capítulo

Na verdade, aproveitarei estas notas finais para dar dois avisos importantes!
O primeiro é que em breve as linhas temporais divergentes finalmente serão explicadas. Pois é, justo a proposta mais importante foi descartada, deixada de fora... Pobre Timbo.
O segundo aviso é que postarei a fanfic Reviver: Resumo. Literalmente, será apenas um resumo dessa fanfic para que todos possam acompanhar sem que, de fato, tenham lido algo. Avisa isso praquele seu amigo preguiçoso, que você pediu pra ler a fanfic e ele não quis porque tinham muitas palavras, kkkks. Também é bom para matar a saudade, já que estou demorando um pouquinho mais para lançar as atualizações



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