Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 50
Crises




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— Jason... — Bruce tentava manter o sorriso amigável, mas o estado em que o filho se encontrava era preocupante — Como está se sentindo?

— O que aconteceu!? — Jason se encolheu ainda mais quando o pai se aproximou dele alguns passos – bastou isso para que o vigilante estagnasse no lugar e parasse com os movimentos bruscos. Já Damian, ainda preso naquele abraço, se esforçava para tentar ver o pai ou o mordomo e descobrir do que o irmão mais velho estava falando.

— Mestre Jason, conversamos depois que você soltar o seu irmão, ele precisa tomar os remédios — Alfred tentou negociar, aproximando-se apenas dois passos — Quer que ele fique bem, não quer?

— Primeiro as minhas respostas! — o rapaz exigiu e apertou o irmão contra si com ainda mais força — O que querem com ele? Que remédios ele ainda está tomando!? O que eu tomei!?

Os mais velhos se entreolharam, permaneceram em absoluto silêncio enquanto dividiam um olhar preocupado. O Gás do Medo por si só já era potencialmente fatal, mas a “nova versão” estendia os efeitos por muito mais tempo – podendo causar danos irreversíveis.

— Eu quero a porra das respostas! — Jason exigiu novamente. Se levantou do chão enquanto ainda prendia o irmão mais novo contra si.

— Filho, por favor... — Bruce suspirou.

— Mestre Jason, só queremos o melhor para vocês dois.

— Mentira!

— Jason...

— Eu sei que é mentira!

— Jay... — Damian o chamou quase em um sussurro. Continuava o abraçando, mas estava começando a ficar com medo de como terminaria aquela discussão — O Sr. Pennyworth não mente.

— Pirralho, você nem imagina do quanto todos aqui mentem! — Todd soltou uma risada debochada encarando os mais velhos, depois fungou e usou uma das mãos para tentar limpar as lágrimas — Eles estão mentindo agora, sabia? Mas eu posso falar a verdade pra você... é só uma alucinação, não vai ter problema mesmo.

— ... Estão mentindo? — O pequeno perguntou com a voz repleta de insegurança. Sentia o corpo começar a ficar rígido, a boca secar... — Sobre o que eles estão mentindo?

— Sobre nada, Mestre Damian. Seu irmão está passando por um momento difícil chamado “crise de pânico” — Alfred tentou explicar da melhor maneira possível — Por favor, desconsidere essas acusações, ele está nervoso demais e não sabe o que diz...

— Crise o caralho! Aposto que vocês me drogaram igual fazem com o pirralho... — De um estado de raiva o rebelde foi para a melancolia: — É tão fácil cuidar dele, mas vocês vivem dando esses comprimidos pra ele dormir!

— Os remédios são para eu dormir? — Damian se esforçou para tentar encarar os mais velhos, mas Jason ainda estava o imobilizando — Sr. Pennyworth, isso é verdade? Pai, é verdade!? — Conseguia sentir a desconfiança aumentando conforme sentia o corpo formigar.

— Você está assustando o seu irmão, Jason — Bruce disse no tom mais sério que conseguia. Se aproximou mais dos filhos, precisava parar Jason antes que fizesse algo irreparável.

— Mestre Jason, precisa manter a calma — Alfred pediu. Assim como o Patrão Wayne, ele desconsiderou as perguntas de Damian – estavam focados em eliminar o perigo primeiro.

— Calma porra nenhuma! — Jason gritou.

O rebelde conseguia sentir a sanidade que ainda tinha se esvaecendo. As figuras horrendas, os vultos e as sombras ameaçadoras estavam o encurralando cada vez mais...

— Filho...

NÃO ME CHAMA DE FILHO! — Ele finalmente soltou o caçula da casa, mas apenas para começar a puxar os próprios cabelos com a mão – como se aquilo fosse o acordar do pesadelo que estava vivendo. Quando viu que não daria certo, Jason apenas se afastou mais e se recostou na parede e ficou sentado no chão – ainda puxando os cabelos.

Damian aproveitou a libertação do abraço para caminhar até o mordomo e o abraçar com a força que ainda tinha – ele era mais confiável que o próprio pai. Sentia que a qualquer momento perderia o controle do próprio corpo e temia chegar no mesmo estado que o irmão... temia começar a ser tão neurótico quanto ele estava sendo agora, mas precisava saber:

— Sr. Pennyworth... os remédios, eles... — o pequeno encarou o mordomo com os olhos transbordando lágrimas — Eles me fazem dormir? — Alfred chegou a abrir a boca, mas não disse nada — Vocês querem se livrar de mim usando eles? Eu odeio dormir! Eu posso... — Soluçou engasgado com o próprio choro — Eu posso ficar quieto, não vou dar mais trabalho, eu prometo! Me desculpa por ter matado o Robin e de ter causado problemas, por favor! Eu vou ficar quietinho, por favor Sr. Pennyworth! — implorou — S-Só... não me faz dormir, por favor...

O idoso encarou Bruce em busca de algum apoio, qualquer coisa que servisse para acalmar minimamente aquela criança tão fragilizada, mas o outro adulto estava ocupado demais tentando se aproximar de Jason sem assustá-lo. Alfred mexeu cuidadosamente nos cabelos de Damian, respirou fundo e tentou explicar da forma mais sucinta que conseguiu:

— Os remédios são para epilepsia, Mestre Damian. Infelizmente, eles podem causar reações como a sonolência... — cuidadoso, ele usou os polegares para tentar limpar as lágrimas do pequeno — Mas por que você odeia dormir?

— ... S-Sonhos ruins... — respondeu entre os dentes, se obrigando a parar com o choro para poder explicar melhor: — Muito ru-uins... Eu morro toda vez, Sr. Pennyworth! Não importa o que eu faça, pra onde eu vá, eu sempre morro e não acordo depois disso! — Ele escondeu o rosto no mordomo tentando abafar a voz — Dói, arde, machuca... mas eu não acordo, é uma tortura! E-Eu fico revivendo tudo de errado que eu fiz pra tentar continuar vivo, mas eu continuo morto, Sr. Pennyworth!

Para a surpresa do mordomo, Bruce quem interviu para tentar acalmar o filho mais novo. Da forma mais carinhosa e zelosa possível, ele pegou Damian no colo e o abraçou – como se fosse uma criança pequena que precisasse de embalo para se aquietar.

Depois de ouvir o pequeno relato, o “pai inconsequente” só conseguia se sentir ainda mais culpado por ter negligenciado o pequeno. Agora entendia aquela relutância em dormir; aquela pergunta “se eu não acordar?”; entedia até mesmo os desenhos retratando os pesadelos – apenas quando se conhece o medo é possível deixar de tê-lo.

— Vamos tentar outros métodos, filho... só precisa ser paciente.

A promessa sem juramento bastou para que o pequeno Wayne se acalmasse um pouco e, finalmente, se abraçasse ao pai como costumava fazer. Na verdade, já tinha um bom tempo que essas ações não se repetiam, uma das últimas vezes foi quando ainda estavam naquela clinica neurológica.

— QUE OUTROS MÉTODOS!? — Jason se obrigou a levantar e encarou o pai — O que vai fazer com ele!?

— Existem outros remédios que... — Parou de explicar quando encarou o filho rebelde, que agora tinha um olhar de ódio, pronto para ataca-lo. Não havia muito o que fazer, Bruce estava machucado e com o filho no colo, restava tentar desviar daquele ataque ou, pelo menos, proteger Damian.

— SOLTA ELE!! — ordenou. Mesmo cambaleante, Jason conseguia ser ágil graças aos níveis altos de adrenalina.

— Mestre Jason, contenha-se! — Alfred exigiu se colocando entre ele e os Wayne.

Não foi necessário nada além disso.

Jason via uma figura horrenda de pele repuxada e pútrida no lugar do tão amado mordomo. Até mesmo a voz de Alfred parecia monstruosa... o rapaz apenas se encolheu e se deixou cair no chão novamente, chorando, já que não poderia salvar o irmão – mesmo que o encarasse como uma alucinação.

— ... Eu volto já! — Alfred disse baixo enquanto saia apressado do escritório. Não tinha tempo a perder. O efeito do Gás do Medo estava superando os do antidoto. Era preciso uma nova dose o mais rápido possível, caso contrário aquela crise se tornaria um problema bem maior – e talvez irreversível.

Bruce continuou estagnado no mesmo lugar. Não tirava os olhos de Jason, mas não se aproximava dele com medo de piorar a situação ou de ser atacado novamente – ele não se importava de ser ferido, mas não permitiria que algo acontecesse a Damian.

— Vai ficar tudo bem... — sussurrou, como se tentasse convencer a si mesmo de que tudo se resolveria logo.

— Pai... — Quando se tornou o foco de total atenção de Bruce, o pequeno continuou: — Posso falar com ele? — Já tinha parado de chorar, tinha sufocado todas as lagrimas com a preocupação que sentia pelo irmão mais velho – era Jason quem precisava ser salvo.

— Damian... — Bruce tentou argumentar um motivo válido para negar, mas não havia — Só tome cuidado — pediu enquanto o colocava no chão.

E assim, Damian se aproximou do irmão devagar, se sentou ao lado dele e esperou pacientemente até que Jason o abraçasse por vontade própria. Não prendeu o pirralho em um abraço de urso, nem ao menos tinha forças para conseguir fazer isso, mas o abraçou com um dos braços e tampou o próprio rosto com o outro – não queria ver aquelas coisas horríveis.

— Jay, é um pesadelo de novo? — Damian perguntou baixo, estava preocupado com o irmão. O rapaz não conseguiu responder, se engasgou com as próprias lágrimas - aquela tortura era muito pior do que qualquer pesadelo.

— Ele só precisa do remédio, filho. Ele vai ficar bem... — O pai tentou explicar.

— Ele precisa de remédios que nem eu? P-Pra dormir?

— Não... — o mais velho suspirou — Filho, você não toma remédios para dormir. Nem você e nem o Jason.

— ... Pra que eles servem então?

— Os seus são para epilepsia e os dele para crise de pânico... — Bruce passou as mãos pelo rosto. Já tinha passado por interrogatórios intermináveis, torturas, ameaças... mas Damian fazendo aquelas perguntas – provavelmente desconfiado dele – dava uma sensação horrível.

— Por que meu irmão tem crises de pânico?

— Porque... porque ele... — Desviou o olhar — Porque ele sofreu um acidente quando era mais novo.

— É, um acidente... — Jason se intrometeu na conversa — por culpa sua! — Encarou Bruce com a raiva superando o medo — Eu morri por sua culpa e você também é o culpado pelo pirralho ter morrido!

— Jason! — Bruce o repreendeu, mas o estrago já estava feito:

— ... E-Eu morri? — Damian encarou o pai e, com a falta de uma resposta, ele desviou o olhar para o irmão — Jay, eu já morri? — O rebelde também não tinha condições de responder aquela pergunta, continuava resmungando que “B foi o culpado”.

Com a falta de respostas, a mente de Damian aceitou aquilo como uma verdade.

Trabalhou para moldar a realidade tão viva daqueles pesadelos como algo concreto, uma lembrança dolorosa do que provavelmente foi a morte dele.

O pequeno, que já estava quase tão assustado quanto o irmão, se entregou à uma de suas crises de ausência. Encarava o nada, mantinha-se ocupado o suficiente com seus pensamentos embaralhados e confusos para não perceber mais a realidade à volta.

Quando finalmente notou o que fez, Jason juntou a culpa ao medo e ficou ainda pior. Soltou o irmão e tampou o rosto com as mãos, como se esconder o rosto bastasse para se esconder de tudo e todos que o faziam se sentir mal.

Bruce, que não podia fazer muito pelos filhos sem piorar ainda mais a situação, se contentou em ficar os observando e esperando qualquer sinal de melhora. Se sentia um completo inútil, uma mentira como “protetor de Gotham”, já que nem ao menos conseguia ser o protetor da própria família.

— Que fique tudo bem... — implorou em um sussurro para Deus, para o universo ou qualquer tipo de força que regesse aquela sequencia cruel de acontecimentos.

E assim os segundos... os minutos foram passando.

Depois do que pareceu uma eternidade, Alfred abriu a porta do escritório cuidadosamente e entrou, portava o antidoto para Jason. O rapaz, aliás, já estava estirado no chão balbuciando coisas completamente sem sentido – como quando havia chegado na Batcaverna -; Damian continuava inerte e Bruce incapaz de fazer algo pelos filhos – ele tentou, mas Jason gritava e esperneava ao mínimo movimento que ele fazia.

— Patrão Bruce, tome cuidado — o mordomo disse entregando as seringas para ele.

— Alfred, você precisa me ajudar, eu... — Bruce encarou o mordomo, mas nem mesmo ele sabia exatamente em como Alfred poderia ajudar agora — Por que duas?

— Perdoe-me, eu não quero assistir como você vai injetar as duas doses nele... — Disse deixando transparecer o quão cansado já estava.

— Mas Alfred... — O Wayne tentou novamente.

— Lamento, Patrão Bruce, mas meus honorários não cobrem esse tipo de situação — Até mesmo a tentativa de sarcasmo soava mais como uma lamuria do que algo venenoso — Se precisar de algo, Dick já está retornando... eu não consigo mais por hoje. Lamento, Patrão Bruce — disse baixo enquanto encarava o chão, sentia-se derrotado.

Alfred abandonou o escritório novamente, deixando Bruce ainda mais perdido do que antes. Se pudesse, o Wayne teria se agarrado aos pés do mordomo e implorado para ele ficar ao menos como apoio emocional, mas sabia que ele já estava indo além dos próprios limites há muito tempo.

O patriarca encarou os filhos, respirou fundo em busca de alguma estabilidade e se aproximou cautelosamente. Jason começou a gritar ameaças e coisas completamente sem sentido enquanto Damian continuava como uma estátua.

— Jason, você sabe que eu não vou te machucar... — Tentou manter a voz o mais suave que conseguia — Isso é só um antidoto pro gás do medo. Você quer parar de ver essas alucinações, não quer?

Jason Todd se calou, encarou o pai enquanto se forçava a se sentar no chão e esperou alguns segundos antes de finalmente responder:

— Quero...

— Então só precisa confiar em mim dessa vez, filho — pediu. Já estava suficientemente perto dele preparando a agulha da seringa – bastava aplicar.

— Tá, tá... — o rapaz murmurou desviando o olhar para o irmão mais novo — E o Damian? O que vai fazer com ele?

— Não tem muito o que se possa fazer além de esperar — Suspirou e segurou o antebraço de Jason com cuidado e firmeza, pronto para aplicar o soro e surpreso pela momentânea estabilidade da situação.

— Ei! Não chega perto de mim com essa coisa! Eu preciso de alguns segundos até... até estar pronto... — Ele puxou o braço para si e ficou encarando o pai — Eu quero um abraço antes.

— ... Um abraço?

— B, eu estou vendo você de um jeito tão horrível... — Se encolheu — Eu estou com medo, porra! Eu só estou pedindo a droga de um abraço e nem isso você quer me dar! Você é uma porcaria de veterano de guerra que nem ao menos quer acalmar um soldado perante a morte!

— ... Jason, sabe que isso não vai matar você, não sabe?

— Eu só queria um abraço... mas você não gosta de mim, não é? — disse baixo, encarando Bruce com os olhos transbordando de lágrimas — Claro que não gosta, ninguém gosta...

O mais velho revirou os olhos, suspirou novamente, deixou a agulha de lado e abraçou Jason. Não era um pedido exorbitante e, se Bruce realmente iria se empenhar para ser um bom pai, precisava se acostumar com abraços e coisas do tipo.

Jason parecia tão assustado e indefeso... apenas parecia, porque na primeira oportunidade que teve, pegou a agulha e injetou todo o conteúdo em uma região qualquer do dorso do pai – que não conseguiu se defender, não esperava esse tipo de coisa, não estava preparado.

Entretanto, Bruce conseguiu o imobilizar antes que algum outro ataque fosse feito. A segunda seringa estava próxima, uma dose extra daquele coquetel para diminuir a adrenalina seria fatal – levando em conta a quantidade de calmantes que o morcego já havia tomado.

Agora restava esperar, pois o ganhador daquela batalha seria o que resistisse por mais tempo.

E assim foi feito.

Bruce esperou pelo que pareceram horas, apesar do relógio mostrar a diferença de apenas quatro minutos.

Sentia-se completamente perdido, um fracasso como pai ou qualquer coisa próxima disso... Até mesmo tinha dúvidas se ainda era um herói – foi enganado tão facilmente, os reflexos estavam lentos...

— Pai? — Damian o chamou baixinho, passando as mãos sobre os olhos — O que aconteceu?

— Nada... — mentiu — Vai pro seu quarto, filho... vai ficar tudo bem.

— ... Onde está o Sr. Pennyworth? — o pequeno olhou em volta — Por que o Jason está assim ainda? Ele não tomou o remédio?

— Ainda não filho... — Bruce prendeu um pouco mais o filho mais velho, Jason continuava se retorcendo e murmurando coisas completamente sem sentido — Melhor esperar no seu quarto.

— Quer que eu procure pelo Sr. Pennyworth? Ele pode ajudar e...

— Damian, vá para o seu quarto — Foi preciso muito controle para que Bruce não gritasse essa ordem — Filho, só tenta ir dormir... tá? Vai ficar tudo bem.

De fato, não era uma mentira. Jason estava cada vez mais perdido no medo, a qualquer momento perderia o controle por si mesmo e dar uma dose do antidoto se tornaria algo bem mais fácil – porém, esperar tanto poderia resultar em sequelas.

— Eu posso ajudar! — o pequeno teimou, se aproximando deles.

— Me ajuda a fugir! — Jason gritou em um pequeno lampejo de sanidade.

— Damian, presta atenção em mim — Bruce mandou, estava bem mais sério do que o normal – estava como Batman — Você vai ir para o seu quarto e ficar lá. Não tem como me ajudar com o seu irmão e o Alfred precisa de um tempo... entendeu?

Posso ajudar sim! — repetiu, parecendo até que era o antigo Damian teimando por algo — É só uma injeção, não é? — Pegou a segunda seringa e preparou  agulha — E-eu... Eu acho que sei fazer isso...

— Você sabe, mas não precisa fazer se não quiser...

— Não faz! — Jason gritou, se debatendo com ainda mais força — Não faz isso comigo, nanico! — Tentava se soltar do pai — Não faz... não faz, não faz...

— Jason, se acalma! — o mais velho pediu enquanto tentava o imobilizar com mais firmeza — Damian, se quer mesmo ajudar, você vai precisar injetar esse líquido no seu irmão... — Ele precisou fazer uma pausa para conseguir prender Jason de novo, os próprios músculos já estavam começando a apresentar rigidez devido ao medicamento — Vai precisar ser rápido, antes que o seu irmão se machuque!

Damian acenou positivamente, aproximando as mãos trêmulas com a seringa do braço de Jason. Ele não entendia como, mas sabia onde precisava enfiar a agulha... colocou primeiro um dedo no local para ter certeza de que atingiria o alvo, mas antes que pudesse furar a pele, o irmão colocou uma das mãos por cima da dele – Bruce mal conseguia o prender agora.

— E-Ele... Você sempre é enganado por ele... — Sussurrou — Não faz isso comigo, ele não se importa de verdade, Dami! Ele está mentindo! — insistiu olhando para o mais novo, agora tentando alcançar o rosto dele com a mão livre — Ele nunca vai amar a gente, ele não liga... — sussurrou, mexendo nos cabelos de Damian — Podemos fugir... dele...

— Damian, seu irmão só está tendo alucinações, está confuso...

— Ele nunca vai ser um bom pai pra nós dois! Ele nunca quis a gente, Dami! — Jason gritou, fazendo questão de se livrar de uma vez do pai — É tudo mentira! Ele quer se livrar da gente, Dami... Somos os dois maiores erros dele! — Se agarrou ao irmão em uma tentativa de se levantar – estava tão zonzo que quase acabou derrubando os dois.

— ... E-Eu sou um erro? — Damian encarou o irmão e depois o pai. Nenhum dos dois respondeu como da outra vez, o que tornou a mente do pequeno tão embaralhada quanto antes, ocupada para tornar aquilo uma verdade irrevogável.

Ele teria continuado naquela pequena confusão se não fosse o mordomo abrir a porta do escritório com um pontapé, roubando a atenção de todos por portar um rifle antigo.

— O único erro aqui, Mestre Damian... — Fez uma pequena pausa e mirou em Jason — ... é eu achar que vocês conseguiriam sobreviver mais de dez minutos sem mim — Atirou. Jason sossegou instantaneamente, enquanto Damian e Bruce o encaravam com pânico estampado nos rostos — Oh, não precisam se preocupar, é apenas um tranquilizante de médio porte — Sorriu — Creio que sou mais adepto aos métodos não ortodoxos.

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EPILOGO

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— Daí o Sr. Pennyworth apareceu com uma espingarda e resolveu tudo! — Damian contava o sonho recente para os pais, contente por ter sido um pesadelo com final feliz. Estavam os três tomando o café-da-manhã juntos na grande mesa do salão de festas.

— E como sempre, Alfred resolve os problemas de todo mundo nessa casa! — Selina comentou entre uma risada e outra, arrancando um sorriso até mesmo do namorado.

— Filho... — Bruce tentou soar ameno, mas estava claramente preocupado — Você nunca foi um erro, nem nunca vai ser. E seu irmão tem crises as vezes, mas não precisa ficar com medo dele e muito menos levar a sério as insanidades que ele fala...

— Eu sei, foi só um sonho — Damian sorriu, mas logo depois pareceu ficar pensativo e encarou os mais velhos um tanto mais sério — Foi um sonho, né?

— Claro que sim — Selina sorriu.

— Apenas mais um sonho... — Bruce murmurou e tomou um gole de café.

O pequeno os encarou desconfiado por alguns segundos, mas logo depois desviou a atenção para outro lugar: Dick e Jason estavam chegando para se juntar a eles, Jay apoiado nos ombros do mais velho.

— ... O que houve com o meu irmão? — O caçula encarou os dois desconfiado, depois olhou para os pais, como se esperasse alguma explicação convincente o suficiente para aquilo.

— Chegou bêbado de madrugada, escorregou nas escadas e caiu sentado em cima das chaves... uma verdadeira tragédia, não é, Mestre Jason? — o mordomo da casa sorriu de canto, colocando uma jarra de suco sobre a mesa.

— É... — O rapaz desviou o rosto para os próprios pés, não arriscaria responder algo que fizesse a desconfiança do irmãozinho aumentar ainda mais. Haviam combinado que tudo não passaria de um pesadelo – o que era mais uma mentira no meio de tantas outras?

Dick, já sem conseguir controlar as risadas, acabou comentando como quem não quer nada:

— Eu já levei um tombo desses entrando na cozinha, sei como dói! — Ele ajudou o irmão a se sentar em uma das cadeiras, mais especificamente, ao lado de Bruce — Hun... Não, isso não me parece certo. Selina, você poderia...?

— Claro! — Entendendo nas entrelinhas, a gata se levantou e terminou de tomar o copo de leite morno de pé, ao lado de Damian, aproveitando para mexer no cabelo dele.

— Não acredito que você fez isso... — o rebelde murmurou olhando Dick se sentar do outro lado de Bruce.

— ... Fez o que? — Damian, que ainda não entendia direito o que estava acontecendo, encarou os irmãos e depois a mãe em busca de uma resposta – estavam no lado oposto da mesa.

— Dick está com ciúmes de mim... — Jason respondeu e revirou os olhos.

— Claro! Sabe como é raro o Bruce aparecer por aqui em um horário aceitável para tomar o café-da-manhã?

— Então por que não pega o B e enfia ele no seu...

— Linguagem! — o pai interrompeu antes que mais alguma insanidade fosse dita — Ninguém precisa ter ciúmes, eu trato vocês exatamente igual.

— ... Com indiferença? — Jason o encarou emburrado.

— ... Com falta de diálogos, aproximações ou momentos em família? — Dick tentou fazer graça, aproveitando para irritar Bruce um pouco.

— Estão se esquecendo da decepção! — Tim avisou enquanto se aproximava deles junto à Barbara.

— Vocês falam como se eu realmente fosse tão ruim assim... — Bruce murmurou tomando mais um pouco do café.

— As vezes você consegue ser pior, B! — Barbara disse risonha. Ela e Tim ficaram atrás da cadeira onde Bruce estava sentado, conseguiam sentir o “olhar de julgamento” mesmo com ele de costas para os dois.

— Falam como se fossem anjinhos comportados e obedientes — o pai murmurou ranzinza, pegando o jornal.

— É o dever de todo Rob... — Jason repensou e corrigiu: — ... de todo filho desobedecer o pai! — rebateu — Não é? — Encarou os outros.

— Você é o rebelde da família, Jay, não conta! — Dick disse entre os risos — Todos sabem que eu sou o mais comportado e obediente daqui.

— Com licença? — Barbara se meteu na discussão.

— Errado os dois: o único que ainda escuta o B sou eu — Timmy disse convicto.

Damian ficou encarando os irmãos, o pai... a garota ruiva que ele ainda não conhecia, mas que Alfred tinha dito ser uma afilhada de Bruce chamada Barbara Gordon, ou Babs. Todos pareciam tão bem juntos, como se fossem uma família dos comerciais de margarina da televisão.

— Dami, por que não vai lá perto deles para eu tirar uma foto, heim? — Selina perguntou baixo, não queria chamar a atenção dos outros – ainda estavam falando sobre os “atributos paternos”.

— Acho que eu não me encaixo direito... — Ele olhou para a mãe — Como se eu não fizesse parte... disso.

— Foi só um sonho, querido... — Cuidadosa, ela tentou afastar o cabelo de Damian da frente dos olhos, colocá-lo para trás como costumava ser, mas os fios lisos apenas escorreram e voltaram para o mesmo lugar — Vai lá e dá um sorriso bem bonito.

— Mas mãe, não tem problema tirar uma foto deles distraídos? — o pequeno perguntou enquanto se levantava.

— E tem jeito melhor de se tirar uma foto de alguém? — Sorriu de canto, arrancando também um sorriso do pequeno. Pegou o celular e se preparou para tirar o maior número de fotos possível antes que alguém percebesse ou antes que começassem a brigar como de costume. Damian, que nas primeiras parecia mais um garoto tímido, nas últimas já estava agarrado aos irmãos, rindo, se divertindo...

— Um excelente jeito de dar fim a uma crise familiar, Senhorita Kyle — Alfred comentou otimista, servindo-a mais uma xícara com leite morno.


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Notas finais do capítulo

Finalmente chegamos ao final da segunda fase. Confesso que ficou bem diferente do que eu pretendia, já que a ideia para estes últimos vinte e cinco capítulos era acrescentar mais pessoas. Porém, elas aparecerão nos próximos! Ainda teremos muitos e muitos capítulos pela frente, fiquem despreocupados! XD
Como nota final, já que não tenho nada de muito importante ou interessante para falar, vou matar uma possível curiosidade de vocês. Lembrando: alterei algumas coisas para se encaixar melhor na fanfic.
.
Selina Kyle:
Idade: aproximadamente 33 anos.
Altura: 1,70 m (segundo a DC Comics, jogo Arkham)
Peso: 60 kg (arredondei já que ela está “menos ativa”)
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Alfred Pennyworth:
Idade: 72 (segundo a DC Comics)
Nota da nota: o tempo passa, mas Alfred é eterno.



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