Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 48
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Bruce estava repousando na ala médica do laboratório. Alfred, já cansado de alertar sobre os perigos que o estresse e sobrecarga poderiam causar ao coração dele – ainda fragilizado -, preferiu se certificar que ele ficaria em repouso deixando-o sobre os cuidados de duas pobres almas:

— Quer que eu fale com ele sobre o que combinamos? — Dick perguntou quase em um sussurro, tentando ser o mais discreto possível.

— Não, eu lido melhor com ele — Selina respondeu igualmente baixo.

— Se precisar de ajuda... — Sorriu e saiu do laboratório, estava pronto para ajudar ela como enteado ou qualquer um em Gotham como Asa Noturna.

Ela o acompanhou com o olhar, depois encarou Bruce – sabia que ele estava acordado – e então finalmente começou a conversa:

— Você é um idiota...

— Eu sou.

— Que eu amo feito uma idiota...

— Também amo você, gata.

— Eu sei... — Selina o encarou, estava séria — E também sei que tem coisas na minha frente.

— O que...?

— Justiça, Gotham, Batman, aquele juramento tolo que você fez quando era criança... — Ela suspirou — Bruce, por mais idiota que eu ache isso... — Ela deu uma pequena pausa antes de continuar, chegando a levantar as mãos em defesa própria — Idiota às vezes, porque eu sei todo o significado! O significado é bom, mesmo que você se arrisque por isso... — Sorriu e segurou uma das mãos dele cuidadosamente — ... Eu entendo. Porque eu amo você, morcego idiota.

— Também amo você, gata idiota — Ele acabou sorrindo.

— E quem não amaria?

Ele acenou negativamente, como se fosse uma repreensão silenciosa à uma criança. Depois de alguns segundos em silêncio, ele suspirou e comentou, como quem não quer nada:

— Se quiser, já pode ir direto ao assunto...

— Ótimo! — Ela respirou fundo e segurou a mão do namorado com um pouco mais de força antes de continuar: — Seu filho não sabe que você ama ele. Talvez antes o Damian até suspeitasse disso, mas agora...

— Eu já disse que não fiz por mal.

— Não importa, Bruce. Sabe por que não importa? Porque mesmo sem fazer por mal, você sempre faz a mesma coisa: você não diz o que sente, você não sabe lidar com o que sente e você não quer sentir nada, porque tem medo de perder.

— De onde você tirou isso?

— Alfred e eu conversamos bastante ultimamente — Ela finalmente largou o namorado e se levantou — Dick, Barbara, Tim... Jason.

— ... Conversou com o Jason sobre mim? — Bruce não conseguiu esconder o sorriso bobo.

— Sobre o quanto você é infantil! — Ela cruzou os braços — Bruce, o que custa conversar com o seu filho!? Se você não explicar o que sente, Damian vai continuar achando que você está triste com ele!

— Eu não...!

— Ele não sabe que você foi o culpado!

— ... Eu fui?

— Foi!

— ... Finalmente alguém teve coragem de...

— De falar o que você tanto queria ouvir! — Selina o interrompeu — Você foi o culpado pela morte do Damian da primeira vez, do que aconteceu com ele antes e até do lustre ter caído em cima dele! — Estava irritada — E quer saber? Você também é o culpado pelo Jason ter morrido! Culpado pelo que aconteceu de ruim com o Tim, com o Dick, com o Alfred, com qualquer um!

— Mas...

— Você é o culpado por todas as coisas erradas de Gotham, morcego! É o culpado até por existirem pessoas ruins como eu! Você não precisaria de ajuda para quebrar a coluna porque tem o peso do mundo nas costas!

— Já chega, Selina!

Os dois ficaram calados, encarando um ao outro.

Ela estava irritada, inquieta, andando de um lado para o outro esperando até que as engrenagens girassem. Já ele, o maior detetive do mundo, se esforçou para ficar sentado na maca encarando-a e esperando alguma outra dica – ela não começaria uma discussão por nada.

— Não faz sentido... — Bruce murmurou depois de alguns minutos — Você nunca me culpou por nada, o que foi tudo isso?

Ela sorriu, deixou os braços caírem ao lado do corpo e respirou aliviada. Se aproximou do morcego, o abraçou com força e o encarou – agora com doçura:

— Isso é uma tentativa desesperada de fazer você entender que ninguém culpa você por nada... — O beijou na testa — Você é o único que se culpa.

— Ainda não faz sentido.

— Faz... — Cuidadosamente, ela segurou a mão dele — Faz porque você sabe que eu nunca culpo você.

— E? — Ele entrelaçou os dedos aos dela.

— E você está ficando assim porque não sabe se o Damian culpa você ou não...

— ... Talvez seja isso.

— Morcego, sabemos que a culpa foi dele.

Impossível... — Ele apertou a mão dela instintivamente — Ele é uma criança! Ele só está assustado, não se culpando!

— Bruce, sabemos que a culpa foi dele! — Ela repetiu mais alto — Dele, não sua! Ele escolheu ir sozinho, ele escolheu o jeito mais difícil, ele cometeu erros e ele está pagando! A culpa de fazer ele chorar, esta sim é sua, mas a culpa por tudo o que aconteceu não. Ele está tendo pesadelos como consequência do que fez...

— ... Ele é só uma criança e... e eu...

— Ele é uma criança agora, morcego... — Selina disse baixo, obrigando o namorado a se deitar na maca mais uma vez — E você tem chance de ser o pai dele de um jeito diferente. Ficar se culpando só está te fazendo mal... — Sorriu, acariciando cuidadosamente o rosto dele com a mão livre — Esquece essa culpa toda, antes que deixe o meu filhote pior... por favor.

— Nosso, nosso filhote.

— Vai conversar com ele?

— Vou... — Segurou cuidadosamente a mão dela, entrelaçando os dedos novamente.

— Promete que não vai fazer ele chorar?

— ... Prometo.

— Finalmente! — Ela deixou algumas risadas escaparem.

— Está tudo bem aqui? — Dick os olhou da porta, curioso — Conseguiu?

— Sim! — Selina anunciou eufórica, enchendo o namorado de beijos pelo rosto.

— Ainda não acredito que vocês fazem um complô pelas minhas costas... — Apesar de tentar soar sério, Bruce não conseguia esconder o sorriso bobo.

— Às vezes é necessário, B — O rapaz sorriu — E meu apartamento está vazio mesmo, não tem problema nenhum se eles... — Quando notou o olhar nervoso de Selina, Dick parou de falar e pigarreou, olhando para um lado qualquer — Er...

— Seu apartamento...? — Bruce se sentou novamente. Estava sério, queria uma explicação sem rodeios dessa vez.

— ... É o plano caso você continue assim — Dick murmurou baixo, saindo novamente.

— Bruce, você não está nada bem — Selina o forçou a se deitar — Temos medo de que essa culpa toda possa fazer você piorar e...

— Onde o apartamento entra nisso? — ele a interrompeu.

— ... Talvez seja melhor Damian se afastar um pouco de você, pelo bem dos dois.

— Selina! — Bruce grunhiu como se tivesse recebido uma facada nas costas. Com esforço e se apoiando no que viu pela frente, dessa vez ele se levantou da maca e se afastou dela — Vocês querem tirar o meu filho de mim! — acusou.

— Queremos o melhor para vocês! — Ela se defendeu — Morcego, você não está conseguindo lidar com ele!

— Eu estou lidando perfeitamente com a situação!

— Você está se matando!

— Ele é meu filho! Meu! Ele não é nada seu! Você não tem o direito de levar ele! — Já estava na porta, pronto para sair e montar guarda no quarto de Damian para garantir que ele continuaria lá.

— Morcego... — Selina o chamou em um sussurro praticamente. Ela se aproximou lentamente – não tinha intenção de impedi-lo, mas mesmo assim ele ficou parado no mesmo lugar, imóvel — Vou fingir que não ouvi isso, ok? — Suspirou — Damian precisa de um lugar tranquilo e você de menos estresse. Dick e eu só vamos fazer algo se as coisas continuarem como estão...

— Por que o apartamento dele? Por que não continuam aqui e eu saio?

— Porque o apartamento dele está vazio, ninguém me reconheceria em Blüdhaven, principalmente com uma criança — Ela apoiou a cabeça no ombro do namorado — E você não sabe viver sem esse lugar...

— Selina...

— Eu estou a ponto de ficar louca aqui dentro, morcego — Ela o encarou deixando a tristeza e a ansiedade finalmente aparecerem — Eu preciso sair, fazer alguma coisa diferente, me sentir viva de novo... — O abraçou um pouco mais — Cuidar do nosso filhote me distrairia...

— Cuida dele aqui, comigo — Bruce pediu, a abraçando carinhosamente.

— ... Só se parar de fingir que está lidando bem com a situação.

— Eu estou lidando bem...

— Tão bem quanto eu...

Os dois se encararam e deixaram uma risada baixa e cumplice escapar. Ambos, como pais, estavam fazendo o melhor que conseguiam – por mais disfuncionais e autodestrutivos que estivessem se saindo.

Permaneceram abraçados por pouco menos de um minuto, em silêncio, até que o vigilante comentou algo que há dias vinha pensando:

— Eu não sabia que... — Buscou pelas palavras que poderia usar — que realmente gostava de cuidar do Damian. Eu achei que só se sentia obrigada pelo mal-entendido de ser “mãe” dele...

— Eu adoro ser a mãe dele, talvez não tanto quanto o Dick... — Soltou uma risada que logo conteve, afinal, o rapaz estava atrás da porta esperando a reconciliação dos dois, provavelmente ouvindo a conversa — ... Mas eu amo aquele pirralho ciumento.

— E quanto ele voltar ao normal? Como você acha que ele vai... reagir?

— Bem! — Sorriu — Ele tem medo de que eu roube a sua atenção ou que... — ela desviou o olhar — ... que nossos filhos roubem o lugar dele, então... — Pigarreou.

— ... Nossos filhos? — Ele ergueu uma sobrancelha.

— Então... — Já recuperada da timidez momentânea e pronta para mudar o rumo das conversas, Selina arqueou uma das sobrancelhas e colocou as mãos nos ombros dele, ronronando lentamente enquanto o trazia para perto de si: — Deveria estar na maca, Senhor Wayne... miau.

— Me acompanharia até lá, Senhorita Kyle?

— Claro! — Ela sorriu e o beijou antes que ele pudesse falar mais alguma coisa.

E em meio ao beijo caloroso, os dois caminharam em direção a maca. O esforço poderia ser prejudicial para o vigilante noturno naquele estado, mas os dois não ligavam para este pequeno detalhe naquele momento: o único estado que os dois poderiam ser descritos era o de euforia.

Quando tiveram que se separar em busca de ar, ambos já estavam em cima da maca. Ele deitado, apreciando a beleza da gata e ela, cobiçosa, estava começando a se irritar pela dificuldade em abrir o uniforme do parceiro – se ela estivesse com as garras, aquela roupa já teria sido rasgada.

Porém, antes que ela conseguisse tirar algo dele além do capuz, ambos foram interrompidos:

— Rápido, por aqui! — Dick pediu enquanto abria a porta daquele lugar, aflito, só notando o casal acalorado depois que já tinha entrado — O que vocês... deixa pra lá, não temos tempo!

— O que...? — Selina nem ao menos conseguiu terminar a pergunta antes de ser “gentilmente” expulsa da maca pelo namorado – que a essa altura já estava se levantando — Ei!

— Damian está se sentindo mal? Tim? O que houve!?

Bruce bombardeou Asa Noturna com perguntas, mas antes que o rapaz respondesse, Batgirl e Capuz vermelho cruzaram a porta – ele se apoiando nela como podia, mas estava quase sendo arrastado pela menina enquanto balbuciava murmúrios sem sentido.

— Rápido, coloca ele deitado! — Dick ordenou enquanto digitava comandos em um dos monitores daquele lugar.

— É fácil dar as ordens... — Barbara resmungou enquanto, com muito custo, tentava fazer Jason soltá-la — Preciso de ajuda aqui, ele agarrou o meu cabelo!

— Eu...! — Bruce nem ao menos terminou a frase, Selina o interrompeu e se meteu na frente dele.

— Eu ajudo! — Ela se aproximou da garota. Tentava entender o motivo de Jason se agarrar nela mesmo parecendo tão fraco, mas só fez perguntas quando o rapaz já estava deitado na maca – agora segurando uma das mãos de Barbara — ... Gás do riso?

— Gás do medo... — a ruiva a respondeu enquanto finalmente se permitia relaxar — A composição está muito alterada, os antídotos não funcionaram e... B? B, onde você está indo!? — Ela encarou o vigilante que, aproveitando da distração de todos, já tinha até mesmo colocado o capuz de Batman novamente — Você ir agora não vai resolver nada!

— Morcego! — Selina o repreendeu.

— Não infectariam só uma pessoa — Ele se aproximou de Jason com cuidado para que nenhum movimento brusco o assustasse, verificando que era preciso chamar Alfred para cuidar dele antes de sair — Eu preciso achar o Espantalho antes que...!

Antes que Batman conseguisse terminar, Jason conseguiu fazer o que as duas mulheres da sala não conseguiram: parar Batman, interromper as ações dele. Ele segurou a ponta da capa do Cavaleiro, balbuciando finalmente palavras que tinham nexo:

Bruce, fica... — disse em um murmúrio baixo, precisando respirar fundo algumas vezes antes de continuar o pedido: — Fica aqui... Eu... Eu tô com medo.

— Eu... — Batman encarou a porta, suspirou e deixou a justiça para depois — Eu estou aqui, filho... — disse baixo, segurando cuidadosamente as mãos de Jason e tentando o fazer soltar a capa.

— Bruce, não me deixa sozinho! — A voz já estava falhada, fazendo as palavras saírem arranhadas da garganta. Ele encarava o teto, ou melhor, ele encarava alguma alucinação enquanto se remexia na maca — Pai! Pai, eu não quero ficar sozinho de novo!

— Nunca vou deixar você sozinho, filho...

Apesar de toda a melancolia envolvendo aquele cenário, com Jason abatido pelos piores medos que tinha, todos encaravam a cena com ternura. Bruce até mesmo sorriu, um sorriso com olhar triste, porque ao menos dessa vez ele tinha chego a tempo de cuidar do rebelde.


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Notas finais do capítulo

Blüdhaven é uma cidade de Nova Jersey, com cerca de 30 minutos de distância de Gotham.
Era uma cidade baleeira, se tornou um centro industrial e depois decaiu por causa da crise. Atualmente, quando não está destruída, é uma cidade perigosa e com elevado índice de criminalidade. Dick Grayson morou lá por bastante tempo, servindo como policial – e lapidando a própria imagem de Asa Noturna, saindo da sombra do Batman e finalmente e se tornando o protetor de outra cidade.
Blüdhaven já foi cenário de fundo em várias sagas, séries e até mesmo em jogos do universo DC. E, como sempre, foi alterada em quase todas as ocasiões, repetindo apenas os elementos da alta criminalidade (incluindo mafiosos, policiais corruptos, monstros radioativos e partidários de Darkside) e, quase sempre, se tornar um lugar inabitável depois de algum evento de grande magnitude (como uma explosão nuclear).
Vamos combinar que aqui, nesta fanfic, Blüdhaven realmente tem um alto índice de criminalidade, mas que continua firme e forte no mapa!
Asa Noturna deixou a cidade aos cuidados de outros heróis para poder se dedicar ao irmãozinho, ficando afastado até mesmo da carreira de policial investigador (pontos que serão abordados mais na frente).
Apesar de parecer uma péssima ideia, Selina e Damian ficarem em Blüdhaven permitiria que o Asa Noturna voltasse a operar na cidade, além de deixar o trabalho de Batman bem mais fácil. Além disso, Selina teria um motivo ainda mais forte para se manter quieta dentro de casa se fingindo de morta: proteger Damian o tempo todo – além, claro, de se proteger (digamos que a parte de “ninguém me reconheceria em Bludhaven” foi uma mentirinha).



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