Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 39
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Gotham, Mountain Drive, 1007 – 16 horas e 15 minutos para o fim:

— Por que vai avisar a ele que está indo? Afinal, onde você está indo? — Bruce perguntou impaciente, perseguindo a namorada pelo corredor.

— Metrópole, eu já disse antes! — Selina respondeu de forma ríspida, já em frente à porta do quarto de Damian — E é melhor eu me despedir dele e avisar que volto em alguns dias do que simplesmente sumir, como todos vocês fazem!

O morcego ficou em silêncio, encarando um ponto qualquer – como se o rubor não denunciasse a vergonha que sentia.

A gata, sorrateira como sempre, se infiltrou no quarto do filhote no mais absoluto silêncio. Ficou alguns segundos observando ele brincar com o irmão mais velho antes de finalmente alertar sobre a própria presença:

— Não Dami, você tem que virar para a esquerda... — Dick apontou para a tela — Rápido, para a esquerda! ... A outra esquerda!

— É melhor eu desistir, esse jogo é difícil demais... — Damian murmurou passando o controle para o mais velho. A verdade é que Richard era alvoroçado demais para explicar as coisas corretamente.

— A outra esquerda chama-se direita, Dick — Selina sorriu, se aproximando deles e sentando-se ao lado do filhote — Damian, eu vou te contar uma coisa, mas preciso que você fique mais feliz por mim do que triste, está bem?

— ... Vou tentar — A criança sorriu, dando toda a atenção que tinha para ela.

— Eu preciso viajar para um trabalho importante como modelo... — Ela fez uma pequena pausa quando viu o sorriso dele se desmanchar completamente — ... Vai ser rápido, prometo voltar antes que sinta falta de mim.

— ... Promete mesmo que vai voltar, mãe?

— Pedindo assim, eu prometo qualquer coisa! — A gata o abraçou, praticamente puxando a criança para o colo, e ficaram um longo tempo em um abraço apertado, um abraço diferente de qualquer outro que Selina já tinha dado... um abraço que deixaria parte dela presa ali.

Era óbvio que Damian sentiria saudades dela, assim como ela sentiria saudades dele.

.

Metrópole, Planeta Diário, sala de Lois Lane – 12 horas e 43 minutos para o fim

— Então você tem uma sala... — Selina caminhou pelo cômodo, largando a bolsa e o casaco em cima da mesa enquanto bisbilhotava a decoração.

— Digamos que eu sou persuasiva o suficiente para ter uma — a jornalista sorriu e ergueu os ombros — Mas não chamei você aqui só para ver a minha sala nova.

— Oh, não? Eu já ia mandar umas fotos para o morcego... ele vai adorar saber que o Clark ainda não tem uma sala!

— Também não chamei para implicar com o meu marido! — Lois deixou uma risada escapar, se ajeitando na cadeira — Lembra do Dr. Garner? Eu sei que lembra! Então: ... — Ela buscou por algo nas pilhas de papéis sobre a mesa, pegando uma pasta — ... aqui está!

— ... Espero que todos esses papéis sejam fotos — Selina murmurou, finalmente sentando-se de frente à amiga e disposta a tomar o tom sério que precisavam — Descobriu algo sobre ele?

— Tirando que ele adotou o nome de um médico falecido há anos, que aquele lugar não tem as licenças adequadas para operar como clínica neurológica e que ele compra lotes de substancias contrabandeadas... nada! Ah, já ia me esquecendo: ... — a jornalista disparou e, como se já não fosse o bastante aquele amontoado de informações, ela puxou uma das folhas de dentro da pasta — ... aqui, reconhece? Não, não reconhece! Sabe por quê? Por que não estão usando só as docas de Gotham para tráfico, estão começando a usar as de Metrópole também! E sabe quem é um dos clientes? Sabe?

— ... Talvez o...! — ela foi interrompida antes de completar.

— Coringa! — Lois sorriu, um sorriso de quem está prestes a terminar um quebra-cabeças — Você disse que o médico estava falando com alguém no celular, só pode ter sido o Coringa!

Selina suspirou pesadamente, analisou aquele mapa borrado com uma área marcada e depois murmurou uma pergunta simples, mas que colocava tudo a perder:

— Por que estariam juntos?

— ... Porque eles odeiam o Batman?

— Lois, eu adoro as suas teorias... Todas elas! Talvez a de que a Mulher Maravilha possa estar envolvida eu não tenha gostado muito, apesar de ser ótima — Ela segurou as mãos da amiga, tentando pensar em um jeito prático de terminar aquilo — Mas o Dr. Garner ou seja lá qual for o nome dele, esse médico não sabe sobre o Batman. Até eu imaginei que ele tivesse suspeitado, mas ele já teria dito alguma coisa se soubesse. Além do mais, Coringa já teria ido atrás do Bruce...

— E o tráfico de compostos químicos? — A repórter queria se agarrar à uma pontada de esperança, qualquer que fosse, para fingir que tudo já estava terminado – que já tinham a quem culpar.

— Eu vou dar uma olhada nisso sozinha, o morcego anda ocupado demais... — Selina comentou enquanto pegava a pasta.

— ... Nós vamos dar uma olhada nisso sozinhas.

— Lois...!

— Eu posso ajudar!

— E o Super?

— Clark está ocupado em uma daquelas reuniões espaciais.

— Seu filho?

— Dorme às dez.

Lois Lane continuava com o olhar determinado, convicta de que poderia ajudar muito mais do que com uma simples investigação infrutífera e suas teorias sem base.

— ... Certo! — a gata finalmente concordou.

Lois Lane é realmente persuasiva.

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Metrópole, docas da costa leste – 27 minutos para o fim:

— Eu esperava algo mais interessante que isso...

— Estamos em Metrópole — Mulher Gato ergueu os ombros.

— Ainda bem que eu não vim de saltos... odiaria reviver a Stilletto atoa!

— Se tivesse me adiantado algo pelo telefone, eu poderia trazer uma das minhas roupas para você... — A gata ergueu uma das pernas e mostrou o salto — Ortopédicos.

— Você poderia, por gentileza, não ser tão fabulosa? — Lois deixou uma risada escapar — Droga... eu estou prestes a ter minha matéria de capa e olha só para mim: jeans, tênis de corrida e um moletom surrado do meu marido...

— E uma manopla... do Batman.

As duas se entreolharam e começaram a rir.

Não havia perigo de alguém ouvir, afinal, aquela nova área portuária contava com uma segurança praticamente nula: câmeras desativadas, sem guardas, sem funcionários – excerto um porteiro dorminhoco, o qual não notou as duas mulheres se infiltrando ali.

Em suma, um ótimo lugar para receptação de mercadorias em quantidade.

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Metrópole, docas da costa leste, galpão 21 – 23 minutos para o fim:

— A porta se trancar por fora não é um bom sinal, é? — a jornalista perguntou enquanto tentava abrir a entrada mais uma vez.

— É só um mecanismo de segurança... — Mulher Gato a respondeu analisando ao redor, já tinha acendido as luzes. Haviam poucas caixas empilhadas num canto do galpão e, no outro extremo, havia um notebook entreaberto — Pelo visto é aqui onde organizam os pedidos.

— Não sei não, está vazio demais... — Lois começou a andar pelo lugar praticamente vazio — ... Pelas informações que eu consegui, a mercadoria chegou hoje! Era pra estar cheio!

— Então ele já buscou — Selina respondeu calmamente. Ela observava com atenção as caixas, as paredes, o teto, principalmente onde pisava – e seguiu assim, caminhando lentamente até o tal computador portátil — Onde mesmo você conseguiu as informações?

— Membro da gangue, foi pego de madrugada... — respondeu e tentou arrastar uma das caixas, surpreendendo-se por ser bem mais leve do que esperava — Acho que essas coisas estão vazias! — Se preparou e, usando o punho com a manopla do traje de Morcego Infernal, ela acertou um soco contra as tábuas da caixa para conseguir abrir — Eu não acredito nisso... — a voz agora era de descontentamento e incredulidade.

— O que tem aí? — Selina perguntou sem tirar os olhos do computador, onde havia apenas um descanso de tela com o relógio marcando “00:21”. Ela julgou ser apenas a hora errada, só até ouvir a resposta da amiga:

—  Um papel amassado escrito “HaHaHa”! — A repórter o pegou e mostrou, ainda irritada — Acredita nisso!?

— ... Mas que droga! — praguejou.

— Pois é! Que tipo de louco coloca isso dentro de uma caixa!? — A pergunta retórica, feita com um tom ríspido, deixava claro o quão descontente ela estava com aquela brincadeira – sua matéria tinha ido por água abaixo.

É uma armadilha, Lois! — Selina a alertou, tentando conseguir algum acesso pelo computador. A única coisa que ela conseguiu além do “descanso de tela”, porém, foi visualizar as imagens de uma câmera de segurança que mostrava Coringa e Batman lutando em uma área não reconhecida por ela — Por isso foi tudo tão fácil até agora, ele queria que achássemos isso! Me queria longe do Batman!

— Ótimo! Já até imagino o assunto de amanhã: “Coringa esteve em Metrópole e fez da célebre repórter do Planeta Diário uma de suas vítimas”! — Lois mantinha o tom irritado, aproveitando para descontar a raiva quebrando a outra caixa. Acabou dando uma risada discreta depois, um pouco mais relaxada — Mais papéis amassados, esse cara adora rabiscar...

— Esses papéis podem não significar nada, estamos lidando com uma pessoa imprevisível e... — Ela se calou. A luta entre palhaço e morcego acabou mal, muito mal.

— E louca! — A amiga completou por ela, rindo mais uma vez antes de continuar: — ... Cadê o meu marido quando eu preciso dele?

A gata não respondeu nada, nem ao menos tinha prestado atenção. Estava absorvida com as imagens que a tela mostrava: Batman caindo no chão, nocauteado, com Coringa enfiando ganchos nas costas dele e parecendo falar e rir... Quando o piadista terminou, apreciou o que tinha feito e, como se já não fosse o bastante, acionou algo que começou a puxar os ganchos para cima.

— Batman precisa de mim!

Dessa vez, tudo o que Lois Lane conseguiu fazer foi rir. Riu com gargalhadas altas até perder o fôlego, daí se recuperou e começou a rir mais uma vez, em um ciclo. Selina, que já conhecia aqueles sintomas muito bem, puxou a amiga para o mais longe possível das caixas.

— Usa a manopla! — mandou, segurando o braço da jornalista mirando na porta — Usa logo essa coisa! — Lois não fez mais do que obedecer e liberar uma forte rajada de poder em tom laranja na porta. Ela ainda estava aos risos. Chegava a ser cômico não terem pensado em algo tão simples antes — Eu vou deixar você na portaria e voltar, preciso arrumar um jeito de ajudar ele...

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Metrópole, docas da costa leste, portaria – 11 minutos para o fim:

Selina levou a amiga praticamente arrastada até a cabine– sorte a dela não ter se exposto tanto ao gás, caso contrário, estaria no mesmo estado que Lois. Assim que as duas entraram, a jornalista tentou se desprender dos braços da amiga e fugir, falhando miseravelmente no processo. A justificativa saiu em um grito histérico:

— Ele está morto! — Lois disse entre as risadas, apesar do pânico no olhar: o porteiro dorminhoco que tinham visto antes, único funcionário que viram por lá, não iria mais acordar.

— Como não notamos antes!? Droga! — Selina tinha vontade de acertar alguns tapas na própria cara por causa da desatenção. Entretanto, preferiu fazer algo mais útil e usar o telefone da cabine — Sem sinal, que ótimo! O que mais falta!?

— ... Ácido? — a jornalista perguntou coma a voz falha, já não estava mais em condições de falar.

Mulher Gato ficou em silêncio.

Aquele mostrador do computador não indicava a liberação de gás do riso na sala... estava indicando o horário em que Batman seria morto. Coringa estava brincando com ela, uma brincadeira cruel, onde ela não poderia fazer mais nada pelo morcego além de assistir.

— Você vai ficar bem — Tentou soar otimista, por mais sem esperanças que estivesse — Tem esse tipo de antidoto aqui, ele vai funcionar para a falta de ar — Sorriu, fazendo a amiga se sentar no chão e pegando uma espécie de seringa desmontada em um compartimento muito bem escondido no traje. Sem cerimônias, ela espetou a agulha em Lois e injetou o líquido.

— E... E você? — perguntou a outra, se descontrolando e rindo mais uma vez.

Eu preciso ajudar o Batman — Sorriu de canto, tomando a manopla de Lane e saindo apressada.

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Metrópole, docas da costa leste, galpão 21 – 6 minutos para o fim:

Selina entrou no galpão evitando respirar – o veneno do Coringa costumava ter uma cor esverdeada, mas dessa vez ele estava praticamente imperceptível, entretanto ela sabia que aquele gás se dissipava rápido.

Ela pegou o notebook, permitindo-se sentar próxima da saída antes de fazer o que queria. Coringa estava tão ocupado em um de seus discursos que nem mesmo notou aquelas ações; evitou olhar para o morcego pendurado, não queria imaginar o desfecho daquela luta. Astuta, ela conseguiu conectar a manopla naquele computador – afinal, o que seria a armadura do morcego sem um toque de tecnologia – e, por meio disso, conseguiu penetrar nos locais privados da máquina e iniciar o download dos arquivos.

Haviam vários e vários dados ali, provavelmente úteis, e ela tentava se manter focada na transferência de tais dados ao invés de assistir Coringa torturando Batman. Porém, em dado momento, chegou o reforço para o morcego no Batmóvel – que ela julgou ser Tim ou Dick. Ela acompanhou a curta perseguição infrutífera; depois voltou a prestar atenção unicamente na transferência de dados quando o palhaço assassino se pendurou no morcego, o escalando e machucando mais ainda.

A transferência já estava em 97%

O mostrador de tempo indicava apenas um minuto.

Não daria tempo de ajudar Batman.

Selina olhou para o morcego mais uma vez pelas câmeras, ele continuava imóvel, com o Príncipe do Crime agarrado a ele e rindo. Ela não queria que aquela fosse a última vez a ver o namorado, mas precisava admitir: ele morreria como um herói.

Ela sempre imaginou que o fim daquela luta seria com outro perdedor, porém, não tem como perder quando se está do lado certo... e ela invejava isso, porque Batman sempre esteve do lado certo – lado este o quão ela já não faria mais parte, porque não havia nada que a prendesse lá além do morcego.

A transferência de dados finalmente terminou.

Ela enviou tudo o que tinha coletado para o Batcomputador – sua última boa ação, porque as próximas seriam tão sujas quanto fossem necessárias para derrotar o Coringa de uma vez por todas.

Falando nele, o maldito estava pegando algo no bolço, provavelmente um de seus brinquedos mortais.

Ele pressionou aquilo contra a bochecha de Batman, no fim de um sorriso.

Foi literalmente o fim.

O computador mostrou “00:00”, indicando que tudo acabou, e então explodiu.

Entre as poucas coisas que Selina conseguiu pensar antes de perder completamente a consciência, foi o quão imprevisível aquele maníaco maldito conseguia ser... e que, mesmo distantes, ela e o morcego teriam o mesmo fim, ao mesmo tempo.

.

Metrópole, docas da costa leste, portaria – alguns segundos após o fim:

Lois estava encolhida no chão. Conseguia respirar, mas não conseguia controlar os músculos do próprio rosto, continuava com aquele sorriso patético e forçado, o que tornava as bochechas dormentes.

Quando ouviu o barulho de uma explosão, julgou ser apenas mais uma das alucinações causadas por aquela droga – céus, ela teria sorte se conseguisse escrever uma matéria digna até a manhã seguinte.

— Mãe...

Ela riu.

Reconheceu a voz inconfundível do filho, julgando ser uma alucinação também. Até mesmo o porteiro morto ela preferiu acreditar ser uma ilusão.

— Mãe, eu juro que não desobedeci por mal!

A jornalista finalmente focou a visão na direção da porta e lá estava seu filho, trajando a “fantasia” de Superboy, com a capa enrolando parte de Selina, que estava nos braços dele... aquilo parecia um mal sinal.

— ... Está... — Lois precisou interromper a pergunta para dar uma risada baixa e enfim continuar: — ... Viva?

Os lábios dele se encolheram em uma linha fina. O olhar caiu sobre a moça que segurava nos braços, com a capa que cobria o que já não podia mais ser reconhecido como um corpo. A jornalista teve uma crise de risos enquanto algumas lágrimas fugiram dos olhos, só tornando aquele momento ainda pior.

— E-Eu só vou tentar consertar as coisas e volto pra cá, eu juro! — Foi tudo o que o garoto conseguiu falar antes dos soluços de choro aparecerem – não haviam mais dúvidas, era Jonathan — Vai dar tudo certo!

Lois Lane apenas deixou mais uma das risadas escaparem, longa e angustiante. Ela não fazia ideia do que tinha acontecido, mas quando Coringa estava envolvido em algo, só se podia esperar pelo pior.


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Notas finais do capítulo

Poucas pessoas sabem, mas a única vez em que o endereço físico da Mansão Wayne foi mencionado aconteceu durante a série Batman: The Animated Series (aquele desenho do Batman que passava na TV). Na animação Batman: Beyond (Batman do Futuro, meu preferido), a Mansão Wayne continua no mesmo lugar e bem semelhante à como era antes, excerto por umas “modernidades” adicionadas.
Lois disse algo sobre “reviver a Stilletto” e eis aqui a explicação: na série de TV Smallville, Lois Lane se torna uma combatente ao crime com uma fantasia, com máscara e tudo, chamada Stilletto. Tudo isso aconteceu quando ela foi salvar a prima dela de um assalto – trajando uma belíssima roupa de gala com saltos-altos – e o bandido achou que ela era “mais uma desses heróis fantasiados”.
Ainda falando da Lois, em Superman (Renascimento) n. 5, ela usa muito bem a manopla do traje de Morcego Infernal. Até hoje não sei se ela devolveu isso para o Batman – já que ela considera um souvenir – e nem sei se o Superman ajudou a reconstruir a BatCaverna Lunar...



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