Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 38
Extra




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— Eu volto em duas horas... no máximo. — Dick disse baixo, terminando de colocar a máscara sobre os olhos.

— Um encontro de apenas duas horas não faz seu feitio, Mestre Dick — o mordomo comentou desinteressado, estava mais preocupado em tirar o livro das mãos de uma criança adormecida — De qualquer maneira, volte logo — pediu, desistindo do livro.

— Acha que ele acorda antes de amanhecer?

— Os hábitos noturnos dele continuam tão imprevisíveis quanto sempre, mesmo com calmantes.

Richard, agora com o traje completo de Asa Noturna, concordou com a cabeça. Os dois deixaram o quarto de Damian em silêncio, caminharam juntos até a Batcaverna sem mais nenhuma palavra até a despedida:

— Se precisar de ajuda é só avisar.

— Se o Patrão Bruce retornar primeiro e descobrir que saiu com o jato dele, não sou eu que vou precisar de ajuda... — Alfred alertou.

O jovem herói apenas deu um de seus sorrisos e depois partiu com o jato. Seja qual for o motivo daquela partida, deveria ser um assunto importante.

Já o Sr. Pennyworth, como não tinha nada de importante ou até mesmo interessante para fazer, dedicou seu tempo livre em alguns ajustes do novo protótipo “pássaro espião”, parando poucas vezes para checar se Damian continuava dormindo. O passatempo só foi interrompido, de fato, quando a voz de Timothy Drake bramiu com certo desespero do computador central:

— Alfred, temos um problema!

— Realmente temos: a penugem artificial do pássaro é o que está causando o superaquecimento dos componentes internos... — respondeu o mordomo, sem tirar os olhos do protótipo novo.

— É sério: Bruce está em perigo!

O idoso largou tudo o que estava fazendo e correu para o computador, pois apenas algo verdadeiramente perigoso poderia permitir um descuido como falar o nome real de Batman. Chegando lá, ele conseguia ver o jovem Tim tentando se prender dentro do Batmóvel com o cinto de segurança –descabido, parecia mais que ele estava tentando se amarrar.

— O que houve!?

— Coringa! — ele gritou em um misto de irritação e medo, logo depois dando uma risada contida — Ele está usando o gás, mas é diferente...! — Ele riu, longas risadas que o fez perder o fôlego — É diferente, Alfred... age aos poucos, imperceptível... E o Bruce está lá com ele... — Riu mais uma vez, uma risada macabra na qual os lábios se curvaram em um sorriso ameaçador enquanto ele continuava rindo, apesar de mal ter fôlego.

Alfred ficou em silêncio e começou a apertar algumas teclas. Logo depois, foi possível ouvir os seguintes avisos vindos do sistema do automóvel: “Privilégios de controle manual cancelados”; “Ignição iniciada”; “Permissão para inicializar armas e escuto concedida”. E assim, com o Batmóvel sob seu controle, Alfred conseguiu conduzi-lo pelo terreno abandonado de um matadouro – local cheio de capangas do palhaço, alguns ainda de pé como mortos vivos e outros já estirados no chão, simplesmente mortos.

Ele colocou abaixo a porta de um dos frigoríficos, onde era apontado como localização do Batman. Realmente, lá estava o morcego: inerte, pendurado pelas costas nos ganchos, frente a frente com uma grande tela que mostrava a Mulher Gato; ao lado dele estava o Coringa, rindo e batendo palmas.

— Oh, sem lágrimas de despedida? — O palhaço fingiu tristeza, logo depois soltando uma risada e segurando uma das mãos do vigilante e levantando em uma tentativa tosca de aceno — Vamos, Selina, dê adeusinho também! Ei, Selina! Alô! — Ele largou a mão do Batman, coçando a nuca e o queixo — Ué, eu coloquei os fios errados? — Ficou irritado e batendo um dos pés — Ótimo, todo o meu discurso por água abaixo! Não que você não seja um bom ouvinte, Batman, mas eu queria lágrimas ao invés desse sorriso idiota...

Alfred aproveitou daquela distração do Coringa para aproximar o Batmóvel. Quando ele já tinha o palhaço na mira, numa posição que garantia atingir apenas ele, o desgraçado se afastou e começou a ziguezaguear pela sala. Ele ria, corria, pulava e ria ainda mais – aquela risada medonha ressoava em cada canto do frigorífico.

Ele estava brincando, pois sabia que a mobilidade do carro dentro daquele lugar era prejudicada – as esteiras continuavam lá, abandonadas e cobertas de poeira e manchas de sangue. Em dado momento daquele jogo de gato e rato, quando o veículo blindado já tinha conseguido derrubar parte dos obstáculos, Coringa se viu mediante uma alternativa sádica e divertida para encerrar aquela noite:

O palhaço correu e, com uma agilidade invejável, pulou para cima de Batman e o escalou. Não fez questão de ser delicado, muito pelo contrário, fez de tudo para que os puxões em busca de estabilidade contribuíssem para dilacerar ainda mais as costas do morcego. O maníaco só se aquietou quando estava suficientemente seguro, abraçado ao inimigo com as pernas e um dos braços, enquanto usava o outro para acenar para o Batmóvel.

— Carros ainda não voam, sorte a minha! — Ele riu — Sabe, Batman... eu gosto de você. Não, de verdade! Eu gosto de você e toda essa coisa que fazemos de você me bater, me prender, eu fugir e matar pessoas... e é por isso que eu NÃO GOSTO dela... — Ele apontou para a tela, Selina continuava tão focada quanto antes — Não me olhe assim, você sabe que ela vai estragar toda essa coisa especial que nós temos...

Batman continuava inerte, para o desespero de Alfred. O máximo que o mordomo pode fazer naquela situação foi começar a aproximar lentamente o Batmóvel deles – se não poderia atingir o Coringa, ao menos serviria de apoio para o morcego.

Não é você, é ela...! — Coringa sorriu e pegou algo no bolço do terno, um detonador — Sabe o que dizem: a curiosidade matou a gata! — Ele riu, um riso escarnico e incontrolável que ecoou por todo o lugar. Ele pressionou o detonador contra uma das bochechas de Batman, que estava imobilizada em um sorriso forçado.

A tela, que antes mostrava Selina, foi preenchida por uma luz forte e laranja antes de perder o sinal.

Havia acabado.

Coringa, sorrindo de orelha a orelha com seu desempenho naquela pequena batalha, resolveu que já era hora de uma saída triunfal: ele se desprendeu do morcego e desceu para o chão mais uma vez – estavam a uma altura pequena de pouco mais de um metro – e, como cortesia, resolveu ajudar Batman a descer também, o puxando pelos pés para que caísse no chão depois de cortar a pele que o prendia nos ganchos.

— Não precisa me agradecer, Batman! — ele disse batendo as mãos uma na outra, como se acabasse de fazer um trabalho árduo — Essas suas lágrimas são mais do que o suficiente... — E, depois disso, o palhaço virou de costas e saiu calmamente, rindo – pois tinha a certeza absoluta de que não seria seguido por ninguém, não depois de acionar as saídas de gás do riso dentro daquele prédio abandonado.

Tim Drake, Robin vermelho, que acompanhou tudo aquilo de camarote; ele ria e chorava ao mesmo tempo, um choro de nervoso, enquanto se abraçava e tentava conter a tremedeira pelo corpo. O pouco de ar que ele conseguia juntar nos pulmões só servia para ele rir ainda mais, por mais que estivesse desolado – nunca imaginou que o motivo daquilo tudo era a Mulher Gato.

Uma das poucas coisas que o rapaz viu antes de perder completamente a esperança foi Batman tentando mexer os pés, coisa que poderia ser algo bom, se as risadas dele – graves e altas – não tivessem começado a ressoar por todo o lugar. Isso fez com que Tim entrasse em desespero, deixando a cabeça cair sobre o volante travado do veículo enquanto o corpo tremia a cada risada que ele próprio dava.

Alfred, que observava tudo de longe pelos monitores, sentia ânsia de ir ajuda-los. Porém, antes que ele pudesse pegar um veículo qualquer e simplesmente partir, o computador alertou-o sobre algo:

— Receptação de dados permitida por privilégios da manopla, iniciando download.

— Computador, mostrar localização! — o mordomo ordenou.

— Localização: costa leste de Metrópole. Docas. Galpão 21.

— Computador, localização de Selina Kyle!

— Não encontrada.

— Ultima localização de Selian Kyle!

— Localização: costa leste de Metrópole. Docas. Galpão 21.

— Há quanto tempo!?

— ... 19 segundos atrás, 20 segundos atrás, 21 segundos atrás...

O mordomo se afastou do computador, derrotado antes mesmo de ir realizar o resgate.


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Notas finais do capítulo

Todos conhecem o Coringa, mas nem todos conhecem o famigerado gás do riso que ele usa. Na verdade, esse composto é uma mistura de alucinógenos e asfixiantes, cujo um dos efeitos que causa – além da morte rápida – é o riso. O composto químico dessa mistura chegou a aparecer nos quadrinhos (Detective Comics, Impostors Among Us – onde aparecem várias pessoas infectadas que se tornam Coringas, n. 867 se não me engano), a mistura leva: metanfetamina e ecstasy como drogas alucinógenas; óxido nitroso (gás do riso, propriamente dito); cianeto e estricnina (como asfixiantes). É uma mistura cara demais, logo, está aí um dos motivos do Coringa viver assaltando...
Eu consultei o vídeo chamado “Conheça a Fórmula Secreta do Gás do Riso” do Detona Química no YouTube - meus dias de amor à química acabaram faz tempo.



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