Capítulo 34

                            *****ELIZABETH*****

Naquela noite, Feliks desce as escadas com um sorriso.

- Boas noticias. – ele diz.

- O que? – eu pergunto.

- Levilian saiu do estado de perigo, e agora está dormindo.

Respiro mais aliviada, e aparentemente (mesmo que não admita) Alessa também.

- Que bom. – eu sorrio.

- Querem chá? Já são seis horas. – Feliks diz, olhando no relógio em seu bolso.

- Feliks, acho que você mora no lugar errado. – Alessa suspira.

- Talvez. – Feliks ri, discretamente.

Feliks sai da sala e vai em direção ao corredor. Assim que ele sai, eu me viro a Alessa, cruzo os braços e digo:

- Por que você não admite que gosta do Liv? Vocês são amigos, não são? Amigos que ficam se irritando mutuamente, mas amigos ainda assim.

- Mas que insistência! Eu já disse que não gosto dele... Mas eu o conheço muito bem, sei que ele não exatamente o que parece... Mesmo assim eu não posso ser amigo dele, ele não é o tipo de pessoa em quem se pode confiar, o trabalho dele não permite.

- Alessa... Quando você o viu matar alguém pela primeira vez... O que você pensou? – eu digo, me lembrando da experiência anterior.

Alessa parecia estar puxando a resposta da memória, olhando para o chão e em seguida para mim.

- No começo eu fiquei com muito medo, ele não parecia se importar nenhum pouco com aquilo... Mas... Quando nós voltamos pra casa naquele dia, eu pude ver um lado dele que ele não gosta de mostrar...

- Como assim?

- Levilian não gosta de ser um assassino, não gosta de ter que matar as pessoas, e se culpa muito por isso, justamente por que ele pode ver o que se passa dentro da mente das pessoas, ele sabe quem são, o que acreditam, é como se ele matasse alguém com quem viveu a vida toda.

- Como ele sabe de tudo isso?

- Se ele toca em você, ele pode ver a sua mente como um livro aberto.

- Nossa...

- Pois é, ele quase se matou por causa disso uma vez... Foi tão repreendido, o mestre dele disse que a vida dele não pertencia a ele, mas a Orumiê, ele só poderia morrer se fosse o desejo de Orumiê.

- Qual a história dele?

- Eu não sei, ele nunca me deixou chegar tão perto... – Alessa respira fundo.

Ele gosta dele sim! É obvio, é só ver o jeito que ele fala! Hump, eles deviam ser amigos como qualquer outra pessoa! Elemental problemático?

- Vou lá vê-lo. – eu digo.

- Certo. – Alessa diz.

Subo as escadas e caminho até a porta correspondente.

- Liv?... – eu digo, abrindo a porta vagarosamente.

Ele olha na direção da janela, abraçado aos joelhos, eu vejo os pontos costurados em seu peito.

- Se ficar nessa posição os pontos vão abrir. – eu digo.

Ele olha os pontos e depois pra mim.

- Nada de grave. – ele sorri.

- Você podia estar morto. – eu digo, sentando-me ao lado da cama, numa cadeira azul.

- Você também. – ele responde.

Engulo a seco.

- Foi o que pensei. – ele sorri. – E ai? Alessa está lá embaixo dizendo ao Feliks como me detesta?

- Quase, acho que Feliks não acredita nele.

- Hum...

Levilian levanta, fechando a camisa branca e colocando a gargantilha, caminhando até a porta, eu vou com ele.

Descendo as escadas, Feliks é o primeiro a se levantar.

- Que bom que acordou Liv, está doendo muito?

- Não, estou bem. – ele diz, sentando-se na cadeira à frente.

- Vê se não tenta se matar de novo. – Alessa diz.

- Certo, da próxima vez deixo ela morrer. – ele diz, puxando uma xícara de chá.

Alessa olha pra ele com uma cara de: “Você sempre tem que dar a última palavra, né?”.