Antes de Betty adentrar a Presidência, Armando falou baixinho;

—O molenga disse que seu pai vai mais cedo hoje para casa, de modo... -comentou Armando, animado

—Vamos ver o que vai acontecer, seu Armando!

—Por que está assim, Betty? A reunião foi melhor que esperávamos!

—É foi sim! 

Armando sentou-se na cadeira em frente à sua amada, contemplando-na. Hermes saiu de sua sala e tossiu.

—Não tem trabalho em sua sala, Sr. Mendoza?

—Sim, já estava entregando o relatório da reunião com Betty e ia para lá.

Durante a tarde, Betty não conseguia se concentrar no trabalho e precisou refazer várias vezes cálculos bobos. Decidiu, então, pedir ajuda a Nicolás.

—Nicolás, preciso de sua ajuda...

—Fala, Betty! -Ele aproveitou a porta aberta para observar Patrícia ao longe

—Você não desiste desta oxigenada!

—Ai, Betty! Ainda tenho esperanças! Quem sabe, ela pode perceber!

—Você precisa entender, Nicolas...

—Não é fácil, Betty! Não é fácil, você não vê como tentou de tudo e não conseguiu esquecer o Sr. Mendoza?

—São casos diferentes, Nicolas!

—Então, queria que Patty também ficasse apaixonada por mim. Você sabe tivemos um...

—Sei muito bem o que tiveram! Mas você tem que entender que a oxigenada só tem caso com o cartão de crédito!

Nicolas faz bico.

—Diga o que precisa de mim!

—Precisa que me ajude nestes cálculos.

—Você? Você sempre foi melhor que eu nisso?

—Mas é que envolve outras coisas, franquias e quanto entrou e quanto foi gasto...

—Ah sobre isso... o cabeção pode lhe explicar melhor!

—Você não tem acesso ao relatório?

—Bem... mas por quê não fala com ele e pede? É por causa da vigilância do Seu Hermes? Olha, para trabalhar vocês podem se encontrar...

—Eu prefiro não, Nicolás!

—O que foi, Betty? o que o cabeção fez? Você estava tão feliz antes da reunião.

—Estou feliz, a empresa está indo bem, bem até demais! Acho que em breve estaremos livres de tudo isso. E voltaremos a ser nós mesmos.

—E não era o que você queria? Não é melhor para todos?

—Era o que queria, mas foi antes...

—Não estou te entendendo, Betty...

—E se quando isto tudo acabar e tiverem a empresa de volta...ai, Nicolás! Não quero nem pensar!

—Tem medo que o cabeção te largue depois de devolver-lhe a empresa?

—Não, lógico que não.  Bem.sim....e se está  me namorando, só para isso?

—Que isso, Betty? Vejo que apesar de ter mudado de look ainda continua a mesma por dentro.

—Ai, Nicolás!

—Sabe que eu e o cabeção não somos os melhores amigos, mas não há o que negar, aquele ali te ama.

—Não sei, Nicolás! Não quero me enganar de novo! Não aguentaria desta vez!

—Por que não conversa com ele?

—Não. Ele vai negar, nunca vai admitir!

—Ele não vai admitir, pois não tem nada para admitir! Você mesma não disse que até a Dra.  Marcela disse que ele te ama.

—Sim, ela disse, mas também precisava que eu ficasse na empresa.

—Betty, Betty!

Ao saber que Betty estava na sala de Nicolás, Seu Hermes que procurava por ele, tranquilizou-se, ao menos não estava com Armando.

—Com licença!-Hermes abriu a porta da sala do Nicolás

Betty ainda estava chorando em seu ombro, perdida em suas próprias inseguranças.

—Betty! -rapidamente ela enxugou suas lágrimas

—O que está acontecendo aqui?

—Ah oi papai!

—O que está fazendo aqui agarrada com o Nicolás?

—Estávamos comemorando o resultado da reunião de hoje! Resultados muito positivos, Sr. Hermes!

—Pois é! Mas e se fosse o Sr. Armando que abrisse esta porta, o que iria pensar de ver Betty agarrada com você? O que ele ia pensar, hein?

Nicolás e Betty lembraram-se do dia em que Armando e Nicolás saíram nos tapas por conta dos ciúmes do namorado de Betty

—Ai, papai! Dr. Armando sabe que Nicolás é como se fosse meu irmão!

—...o diabo é porco, já disse! Aquele senhor anda se comportando tão bem, fazendo tudo tão direitinho de acordo com o comportamento dos Pinzón.  

Betty surpreendeu-se com o elogio de Hermes a Armando.

—Bem... eu sabia que estava aqui falando com Nicolás, por isto vim.  Vim deixar a planilha. E dizer que estou indo para casa, peço Nicolás que acompanhe Betty e não a deixe sozinha com aquele senhor!

—Pode deixar, seu Hermes!

Sandra liga para a sala de Nicolás:

—Dr. Nicolás!

—Pois não?

—O Sr, Armando quer falar com Betty.

—Ok, pode transferir!

É o Dr. Mendoza para você, Betty!

—Oi, doutor!

—Betty! Seu pai está aí?

—Sim.

—Então, quero pedir-lhe que permita que eu te leve para casa hoje... Gostaria que fôssemos jantar com meus pais.

—Hoje?

—Sim! Amanhã eles voltarão para Londres!

—O que foi, filha?

—Doutor Armando quer lhe falar!

—Pois não, Dr. Mendoza?

—Sr.  Hermes! Meus pais estão aqui e gostaria que Betty jantasse conosco. O senhor poderia permitir? Será um jantar familiar!

—Bem, conhecendo a integridade dos seus pais sim. Permito. Vai oficializar o namoro de vocês?

—Esta é a minha intenção, Senhor Hermes!

—Neste caso, eu permito.

Senhor Hermes vai para casa com seu carro. Pouco depois, Marcela vai embora. Sentindo não estar sendo vigiado, Armando dirige-se à sala de Betty.

—Oi, mi amor! Que bom que seu pai já foi!

—Sim. Hoje então temos um jantar?

—Sim! No Lenoir! Quero contar para eles!

—O quê?

—Que estamos namorando firme!

—Você acha uma boa ideia? Eles gostam da Dona Marcela...

—Betty, Betty! A Marcela e todo mundo da empresa sabe que estamos namorando...  Só vamos comunicar e oficializar aquilo que eles já devem saber em revistas e colunas sociais! O que preocupa?

—Você sabe! A Dona Margarina sempre preferiu que namorasse a Dona Marcela!

—Betty! Eu que tenho que decidir minha vida! Sei o que é melhor para mim!  -Armando a levanta da cadeira e abraça-a, segurando seu rosto com uma das mãos. -E você é quem eu quero! O que preciso fazer para te provar isto?

—Nada! Só me abraça forte!

—Assim? -Armando a aperta contra o corpo

—Sim!

—Se eu fizer mais que isso, não respondo por mim! Seu cheiro!

—Doutor! Aqui no escritório não convém, alguém pode vir!

—O.K.! (ele lhe dá uma piscada)mas beijar-lhe, posso. 

Pouco tempo depois, Inesita entra para conversar com Betty.

—Ai, desculpe-me!

—Tudo bem, Inesita. Já terminamos.

Inesita havia ido conversar sobre o balanço, as férias de Hugo e os tecidos para nova coleção. No entanto, percebendo que Betty parecia preocupada, perguntou-lhe a respeito. 

—Além de tudo, estou arrumada apenas para a reunião do escritório, não para um jantar com os pais do namorado no Lenoir!

—Isto é fácil de resolver, filha! Estamos em uma empresa de moda e no ateliê temos várias peças disponíveis.

—Não, Inesita!

—Ora, Betty! Você agora é nossa presidente e tem que estar adequadamente vestida para cada ocasião... não é parte de nossa estratégia de marketing vestir bem os próprios funcionários? Imagina nossa querida amiga presidente?

—Inesita, vejo que estão aprendendo direitinho!

—Sim. Estamos todos integrados nisso. Vamos lá experimentar algumas peças!

Após experimentarem umas três peças, Betty seleciona um belo tubinho de veludo preto com bolero e detalhes em strass.

—Ficou perfeito, Betty!

Prendeu os longos cabelos em uma trança e fez um coque inspirado em Audrey Hepburn no filme “Bonequinha de Luxo”. Betty amava aquele filme romântico antigo que sempre passava na televisão e julgou que uma referência elefante e clássica de moda iria conferir sofisticação, sem perder sua simplicidade e naturalidade. 

Para a maquiagem usou tendências mais atuais e sóbrias misturando tom pastel ao perolado, conferindo luminosidade no olhar, para isso, teve ajuda de Aura Maria.

—Ah, querida! Se eu fosse você iria colocar um vestido mais curto, prendia um rabo-de-cavalo, colocava um batom vermelho. Seu Armando ia ficar doido!

—Acontece, Aura Maria, que esta não é a intenção deste jantar....

—Ah esqueci que irão estar presentes Sr. Roberto e Dona Margarida! Ele vai mesmo te assumir perante os pais?

—Não sei! Não posso afirmar nada! De repente, o jantar será de negócios, falar coisas da empresa, do embargo!

—Não creio!

Betty dá uma outra passagem de pó no rosto e se vê bela.

—Espero que ele goste!