Quebrada escrita por MarcosFLuder


Capítulo 10
Segredos de sangue


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo postado. Já posso dizer que estamos chegando na reta final da história. Neste capítulo teremos referências principalmente da terceira temporada, mais precisamente da fase em que a Daisy esteve sob a influência do Hive. Espero que quem está acompanhando continue gostando da história. Aproveitem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/790052/chapter/10

BASE SECRETA NO ÁRTICO

24° MÊS

 

O sujeito, agora monstruoso, veio direto para cima de Daisy, no rosto deformado, um claro sinal de reconhecimento de quem ele queria atacar. A jovem inumana usou seu poder, jogando-o longe, para junto dos outros seres monstruosos que já foram humanos um dia. Daisy se volta para Joey.

 

— As paredes de metal, Joey. Tente juntá-las e criar uma barreira – ela viu seu colega inumano concentrar-se. O barulho de metal retorcido toma conta do lugar quando as paredes metálicas do corredor se dobram, criando uma barreira entre o grupo de Daisy e as cinco criaturas monstruosas. Tudo o que se ouve agora é o barulho de punhos contra metal. A barreira improvisada sendo forçada violentamente.

 

— Isso não vai segurá-los por muito tempo – o sotaque inglês de Hunter não esconde o temor na voz dele.

 

— Fique preparado Mike – a voz de Daisy soando bem firme, levando o cyborg a engatilhar a arma em seu braço.

 

A barreira de metal é derrubada e Mike nem precisa de uma ordem para fazer o necessário. Ele aponta na direção de um dos alvos e atira. Era um feixe de energia que deveria atravessar qualquer forma orgânica, mas que se choca com o metal usado como barreira, e que agora serve como escudo para os seres monstruosos que já foram soldados aprimorados. Estes seguem avançando, na mesma medida que o grupo liderado por Daisy recua.

 

— Zumbis inteligentes, que maravilha – a tentativa de humor de Bobbi não conseguia ocultar o temor em sua voz.

 

— Não dá para enfrentá-los nesses corredores estreitos – Daisy conclui, enquanto usa o seu poder para retardar o avanço das criaturas – precisamos levá-los para uma área mais aberta.

 

— A área mais aberta daqui é onde as naves chegam e decolam – é Hunter quem fala.

 

— Vamos levá-los para lá então – Daisy decide – Hunter, Bobbi e Ioiô, conduzam as pessoas para outro local. Eu, Joey e Mike vamos atraí-los para a área das naves.

 

Cada um tratou de fazer a sua parte. Enquanto os civis são levados para longe das criaturas, Daisy, Mike e Joey, usando seus poderes, as atraíram até uma área mais aberta. Ali sim, a luta poderia se dar da melhor forma. Os seres monstruosos que já foram os soldados aprimorados ainda usavam os pedaços de metal, agora não só para se defender, mas como armas de ataque, atirando-as na direção de Daisy, Mike e Joey. Os três, cada um do seu jeito, tratam de deter a trajetória dos objetos. Uma das criaturas fica mais exposta e Daisy chama Mike para agir. Este acerta um tiro preciso no que antes já havia sido um soldado aprimorado, explodindo a cabeça dele. A jovem inumana sabe que ainda não é hora de comemorar.

As criaturas que sobraram continuam avançando e Daisy olha para Joey. Este parecia enfraquecido depois de usar seus poderes, mas dá um sinal de que recuperara parte de suas forças. Com a orientação de Daisy, Joey transforma um pedaço de metal em algo parecido com uma lança. A jovem inumana aproveita o fato da mesma criatura que tentou atacá-la antes fazer nova tentativa. Com muita agilidade, ela se desvia do ataque da criatura, acertando-a com o metal transformado em lança, atingindo-o em cheio, a arma improvida atravessando-lhe a cabeça. Os três que sobraram, ainda usando metal como escudos, avançam em direção ao trio liderado por Daisy. Um confronto físico parecia inevitável, mas os seres monstruosos são atingidos por trás, com violentos feixes de energia explodindo suas cabeças. Daisy, Mike e Joey olham na direção de onde vieram os outros feixes de energia e veem as figuras de Ioiô, Bobbi e Hunter, todos portando as armas mais monstruosas que já tinham visto.

*************************************

 

As conversas à sua volta são apenas murmúrios inaudíveis para ela. Toda a atenção de Daisy está voltada para a criatura cuja cabeça fora atravessada por uma lança de metal, improvisada pelo poder de Joey. A jovem inumana o reconheceu como um dos soldados aprimorados que a perseguiram na mesma base onde fora torturada. Ela também reconhecera o homem que a torturou. Todos deviam estar mortos, mas de alguma forma ressuscitaram, deformados e monstruosos, com a mesma sede de sangue que antes. Daisy também reconhecera esse aspecto deles, era praticamente a mesma aparência grotesca dos humanos que foram expostos aos experimentos de Hive. Experimentos esses que só foram possíveis graças ao sangue dela. A jovem inumana vê Nick Fury conversando com alguém num celular e vai em direção a ele.

 

— O que vão fazer com essas criaturas?

 

— Conversei agora mesmo com o Stark – Fury responde, desligando o celular logo a seguir – vamos colocá-las em caixas de êxtase. Amanhã mesmo virá um transporte da Fundação Stark. Serão levados para um laboratório com mais recursos.

 

— Você está de brincadeira, Fury? Fazer o que com essas criaturas num laboratório? – Daisy está praticamente gritando, toda a atenção voltada para ela – estudá-las? Quem sabe tentar extrair outro soro? Tem que queimar essas coisas, incinerá-las até não sobrar nada delas.

 

— Essa decisão não cabe a você, agente Johnson – Nick Fury tenta ser bem enfático, o que só irrita Daisy ainda mais.

 

— E a quem cabe? Às mesmas pessoas que continuam nessa obsessão de criar outro Capitão América? As mesmas que vão participar do leilão de um soro que poderá criar um exército dessas coisas? – ela aponta para as criaturas.

 

— Você quer impedir que surjam mais criaturas como aquelas, agente Johnson? Estão pegue o seu pessoal e cumpra a missão que lhe foi dada – Fury e Daisy ficam se encarando – discutir comigo não irá impedir que novas criaturas surjam, cumprir a missão sim – Nick Fury deixa o local. Daisy faz o mesmo, só que indo numa direção oposta.

 

Ela caminha a esmo, ignorando a todos. Daisy tem lágrimas em seus olhos, sente-se tonta e com dificuldade de respirar. Após caminhar sem uma direção definida, encontra um banheiro e entra. Tenta jogar um pouco de água no rosto, mas de nada adianta. Sente seu coração acelerado e uma vontade enorme de gritar. A jovem inumana tentou ignorar a informação quando esta lhe foi dada, mas agora não tinha mais como fazê-lo. Ela era a origem do terceiro elemento, o seu sangue resultara nas criaturas monstruosas que tiveram de matar. Aquilo era obra sua, e milhares de outros poderiam vir ao mundo, graças a ela, graças ao seu sangue. Tudo feito para a satisfação de Hive, oferecido por ela a partir de sua vontade, com toda a alegria e felicidade da sua parte.

Ter de reconhecer isso é demais para ela. Daisy se encolhe num canto, abraçando seus joelhos. Lágrimas deslizam por seu rosto, o desespero tomando conta, à medida que as lembranças retornam com força em seus pensamentos. Todas as pessoas que poderiam ter morrido hoje, teria sido culpa dela. Por mais que se esforce, ela não consegue se livrar desta sensação. Por mais que tente, as lembranças do passado jorram por sua mente, como numa torrente. Daisy ainda se lembra do orgulho que sentiu ao oferecer seu sangue para que Hive continuasse suas experiências. Ele talvez nunca pensasse nisso, se ela não tivesse feito a oferta, não o sugerisse vasculhar as lembranças de Ward que herdara. O olhar dele, o orgulho e a felicidade estampado na face morta, nos olhos vazios, a felicidade que Daisy sentiu com aquilo, tudo ficara no passado. No momento presente, tudo é apenas motivo de pura culpa, vergonha e desespero para ela.

 

***********************************

 

— O que houve? – Bobbi se dirige a Ioiô – por que ela reagiu daquele jeito?

 

— A aparência das criaturas – Ioiô responde – é muito semelhante a aparência dos humanos que foram submetidos às experiências que o tal Hive fez. Daisy se sente culpada por isso.

 

— Por que ela se sentiria culpada? – é Hunter que pergunta agora. Ioiô e Joey olham um para o outro, o que fica evidente para seus colegas.

 

— O que vocês sabem que não estão nos contando? – é a vez de Mike perguntar.

 

— Acho que eles têm o direito de saber, Ioiô – Joey se dirige a sua colega inumana. Esta dá um suspiro resignado.

 

— Tudo bem, eu conto.

 

*************************************

 

Daisy ainda permanecia encolhida naquele canto do banheiro, o rosto banhado em lágrimas, o corpo tremendo, murmurando palavras desconexas. Ela tinha o olhar perdido, enquanto permanecia abraçada a seus joelhos. A jovem inumana não consegue parar de pensar nos milhões que poderiam ter tido um destino semelhante ao daqueles soldados. Não conseguia parar de pensar nas pessoas que amava, que poderiam ter tido esse destino. Tudo seria culpa dela, da devoção que sentia por Hive naquele momento. Mesmo agora, com ele morto, Daisy ainda era obrigada a enfrentar as consequências de tudo o que fez quando esteve sob sua influência. Ela permanecia mergulhada nesses pensamentos, ainda abraçada aos seus joelhos, quando ouviu o barulho de passos.

 

— Você está bem, Daisy? – é Hunter que se aproxima com calma, enquanto pergunta – ficamos preocupados pelo jeito como saiu após a sua discussão com o Fury – ele tenta tocar nela gentilmente, provocando uma reação que não esperava, e que o deixou bem assustado.

 

— Não me toca, não me toca – Daisy grita. O desespero em sua voz, a maneira como encolheu ainda mais o seu corpo, tudo isso faz com que Hunter recue.

 

Os demais chegam no momento seguinte. Todos olham espantados, ao ver o estado em que Daisy se encontrava. Ioiô, Bobbi e Maria Hill se entreolham. Há uma comunicação muda entre elas, todas percebendo claramente o que está acontecendo. A inumana velocista é a primeira a falar.

 

— Todos os homens daqui, fora – ela diz – agora – sua voz aumentando o tom. Bobbi se dirige a Hunter.

 

— É melhor você ir, querido, e leve os outros rapazes – Maria Hill também se dirige a Nick Fury.

 

— Por favor, senhor, tire todo mundo daqui – ela diz – eu, Bobbi e Ioiô cuidamos disso.

 

Um a um, todos os homens presentes saem, até que Ioiô, Bobbi e Maria Hill ficam apenas elas com Daisy no banheiro. A jovem inumana continua chorando, sua cabeça enterrada junto aos joelhos. Nenhuma das mulheres diz nada. Silenciosamente, tratam apenas de se sentar, todas próximas de Daisy, mas sem falar nada, sem tocá-la, apenas sentadas, em silêncio, bem próximas dela. Aos poucos o choro foi diminuindo, substituído por um suspiro suave, até que ela levanta sua cabeça. Os olhos ainda lacrimejantes veem as figuras um tanto embaçadas, sentadas perto dela. O silêncio de todas é um alívio, mas a presença é reconfortante.

 

— É tudo culpa minha – ela se dirige às três mulheres presentes – o que aqueles homens se tornaram, aquelas criaturas monstruosas – Daisy diz isso com a voz em agonia – é o meu sangue que fez aquilo. O sangue que eu ofereci ao Hive para as suas experiências.

 

— Não é sua culpa, você estava sob o dom... – Maria Hill tenta falar, mas é interrompida por Ioiô.

 

— A deixe falar tudo o que precisa. Depois nós falamos – Maria Hill se cala.

 

— Ele talvez nem pensasse nisso se eu não falasse. Tudo o que eu queria era ajudá-lo, não importava o quanto isso colocasse em risco a vida das pessoas que eu amava – Daisy continuou a falar – Ainda era eu, vocês entendem? Nunca fui forçada a nada. Não teve nenhuma possessão, controle mental, nada. Eu me sentia tão feliz em fazer o que ele mandava. Em fazer tudo o que ele precisava para atingir seus objetivos. Era tão bom quando ele olhava para mim com satisfação e orgulho. Quando ele sorria para mim, eu me sentia tão feliz, como nunca tinha me sentido antes.

 

Daisy volta a chorar, um choro ainda mais doloroso que antes. As outras mulheres permanecem em silêncio, mas agora se aproximam mais da jovem inumana, suas mãos tocando-a suavemente, sentindo o tremor no corpo dela, mas não recuando. A mão de Ioiô no ombro direito de Daisy, a de Bobbi no ombro esquerdo, enquanto Maria Hill toca nos joelhos dela.

 

— Não tem nada que você possa fazer para mudar o que foi feito e vivido, Daisy – Bobbi aperta um pouco mais o ombro dela – é parte de você agora. Parte de quem você é. A questão é o que você fará com isso.

 

— Todos já te perdoaram, Daisy – é Ioiô quem fala agora – todos estão de braços abertos para te receber de volta. Só falta você se perdoar.

 

— Eu quase matei o Fitz – a voz de Daisy ainda está embargada de choro ao responder – eu teria matado o Mack se a May não tivesse me impedido. Como podem perdoar isso? Como eu posso me perdoar por isso?

 

— Nenhuma de nós tem a mínima condição de imaginar como tudo deve ser difícil para você, Daisy – era Maria Hill a falar agora – o que todos que te amam podem fazer é o que a Ioiô já disse que fizeram. O restante é só com você.

 

— Vocês não entendem, nenhum deles entende, eu... eu... – Daisy continua com a voz embargada pelo choro enquanto fala – eles acham que eu estava sob o controle do Hive, que não sabia o que estava fazendo, que não queria fazer nada daquilo; quase matar o Fitz, tentar matar o Mack, mas eu queria sim. Eu quis fazer aquilo, por ele, pela felicidade que ele me fazia sentir – ela faz uma pausa, como se tivesse dificuldade em falar – eu... eu... nunca me senti tão feliz quanto naquela época... tão completa. Uma parte de mim sente... tanta falta daquela felicidade. Isso me faz sentir tanta raiva de mim mesma. Doí muito. Eu me sinto tão culpada por isso. É como um parasita me comendo por dentro.

 

— É horrível que você se sinta assim, Daisy – Bobbi mantém o toque suave no ombro dela – mas é perfeitamente compreensível.

 

— Você é a única que pode lidar com tudo de horrível que fez e viveu, Daisy – Ioiô também mantém o seu toque suave no outro ombro da sua companheira inumana – tudo o que as pessoas que te amam e se importam com você podem fazer, é deixar claro que te perdoam e que te apoiam.

 

— Eu não consigo olhar para eles. Por isso que fui embora, não conseguia olhar para nenhum deles – Daisy responde, a voz ainda embargada de choro – e agora isso, alguém por ai usando o meu sangue nessas coisas. Sabe-se lá quantas pessoas já morreram, quantas ainda podem morrer, por algo que só existe por minha causa.

 

— É compreensível o seu temor, sobre as consequências de ter doado o seu sangue para as experiências do tal Hive, Daisy – Maria Hill mantinha suas mãos nos joelhos de Daisy – eu não vou te ofender, dizendo que imagino como deve ser difícil para você lidar com a responsabilidade pelo que aconteceu agora a pouco; e pelo que pode acontecer com talvez milhares de outras pessoas.

 

— Esse soro precisa ser destruído, Maria – a voz de Daisy ainda está embargada de choro, mas também tem um tom de feroz determinação.

 

— Eu sei – Maria Hill faz uma pausa antes de voltar a falar – olha eu... eu sei que você desconfia do Nick, e um pouco de mim também, mas eu te garanto que estamos sendo sinceros, ao dizer que o objetivo desta operação é realmente destruir aquele soro. Só que para isso nós precisamos de você – ela faz uma nova pausa, agora para olhar de Bobbi para Ioiô, e novamente para Daisy – de você e do seu grupo.

 

FRONTEIRA RÚSSIA/OSSÉTIA DO SUL

DIA SEGUINTE

 

Apesar do seu jeito sarcástico de dizer as coisas, Hunter tinha razão. Os planos originais de se infiltrarem na base russa desativada tinham ido para o lixo. Diante isso, Daisy teve que chamar a nave de volta, agora que a presença deles tinha sido notada. Estavam seguros por enquanto, sob o sistema de camuflagem. De um ponto alto eles observam a base. O tempo estava bastante frio, com uma neve constante caindo agora. Daisy podia ver alguns soldados russos, ao mesmo tempo que a área externa da base comportava um grande jato. Com certeza foi desta nave que saíram tipos diferentes de homens e mulheres que Ioiô vira em seu reconhecimento. Eram desde os que pareciam executivos de grandes empresas, além de outros, cuja aparência não ocultava o quão perigosos eram. A nata do crime internacional estava ali, junto com alguns dos representantes de países com os piores governantes do mundo. Ainda não havia sinal de quem representaria os Estados Unidos.

 

— O que você conseguiu ver dentro da base, Ioiô? – Daisy perguntou, ainda olhando os monitores que mostravam a parte externa da base.

 

— Alguns soldados russos, junto com um pequeno número de mercenários em volta de um container fechado – ela respondeu – eu não tive como entrar no container, mas é certo que o soro esteja lá dentro.

 

— Deu para notar como estava o clima entre todos lá dentro? – Bobbi perguntou.

 

— Eu diria que dá para cortar a tensão no ar com uma faca – ela responde – era o esperado com tantas pessoas “gentis” e “confiáveis” juntas num mesmo local.

 

— Se vieram todos naquele jato enorme, significa que só faltam os americanos – Hunter complementa – a que horas vamos agir, Daisy?

 

— Temos que esperar a chegada da delegação americana – Daisy olhava ainda os monitores, até apontar para um local na área externa da base – a nave deles deve pousar ali. É o único local com espaço suficiente. Faremos nossa infiltração assim que desembarcarem.

 

— Esse é um plano muito arriscado, Daisy – é Joey quem pondera – tem certeza de que é mesmo uma boa ideia?

 

— É a nossa melhor chance, não podemos entrar lá sem nenhuma ideia do que encontrar – Daisy olha em direção a todos, quando Mike se dirige a ela.

 

— O que acha que encontraremos lá embaixo, Daisy?

 

— Temos que estar preparados para o pior, Mike – fez-se um breve momento de silêncio, antes dela voltar a falar – todos nós estamos bem cientes do que cada um tem que fazer. Eu confio plenamente em cada um de vocês, e espero que vocês confiem em mim também, e uns nos outros. Tudo é uma questão de manter o controle, de mente e de corpo. Fazendo isso e cada um cumprindo a sua parte, tudo dará certo.

 

PRÉDIO DO CONGRESSO

ESCRITÓRIO DA SENADORA ELLEN NADEER

23° MÊS

 

O homem que todos conheciam como Desmond Norton apreciava a vista da janela enquanto esperava. A senadora Nadeer estava numa reunião política e o fez esperar por mais de uma hora. Nada com que ele já não estivesse acostumado. Tudo o que vivera em sua vida o tornou muito paciente sobre esperar a sua vez. A porta do escritório da senadora abriu e ele viu um grupo de pessoas engravatadas saindo. Os cumprimentos de praxe foram feitos, com os engravatados sendo conduzidos à saída por assessores sorridentes. A senadora Nadeer esperou que sumissem de vista, antes de fazer um sinal para que o homem que a esperava a acompanhasse em seu escritório.

 

— A sua visita é muito irregular, meu caro – ela tem uma expressão nada satisfeita no rosto, ainda que isso não a impedisse de fazer um gesto, indicado que Desmond se sentasse – é melhor que aja um bom motivo para isso.

 

— Eu garanto que esse motivo existe, senadora – é o que Desmond responde – o Senhor H me encarregou de solicitar a sua ajuda para obter informações sobre uma determinada audiência que foi classificada como ultra secreta.

 

— Eu já dei as informações que podia – a senadora respondeu – isso correndo um grande risco pessoal.

 

— O Senhor H entende que foi uma troca justa senadora – Desmond retruca – de qualquer forma, uma das informações se revelou falsa e precisamos da informação verdadeira.

 

— Do que está falando? – a senadora Nadeer se mostra realmente indignada – todas as informações que eu repassei são fidedignas com que o foi dito na comissão

 

— O senhor H não tem razão para duvidar disso – responde Desmond – restando apenas acreditar que o depoente passou uma informação falsa. O Senhor H quer saber quem é esse depoente.

 

— Eu não sei se você sabe, mas as coisas por aqui são muito compartimentadas – respondeu a senadora – ainda mais quando se trata de questões envolvendo a segurança nacional.

 

— A senhora quer dizer que não pode nos franquear o acesso à informação sobre a identidade do depoente? – Desmond pergunta – o Senhor H ficará muito desapontado ao ouvir isso.

 

— Todos nós temos que lidar com algum tipo de desapontamento, meu caro – a senadora Nadeer retruca – o meu é não saber quem é esse Senhor H, e ter de falar apenas com um mero lacaio dele – se Desmond Norton se sentiu ofendido, soube disfarçar muito bem.

 

— É para isso que servem os lacaios, senadora – ele não sorri, mas mantêm-se bem calmo – foi a minha função também fazer a intermediação entre a senhora e o seu sócio russo. Garantir que ambos consigam o que querem, em relação ao projeto pessoal dos dois. Isso para não falar no caso dos cinco soldados aprimorados que nos foi solicitado, para resolver uma questão pessoal de vocês. Posso lhe garantir que a perda deles nos fará muita falta – Ellen Nadeer não era tão boa em disfarçar uma possível contrariedade quanto Desmond.

 

— A perda daqueles soldados aprimorados é culpa da exclusiva incompetência deles em lidar com a inumana. Por falar nisso, eu vi a gravação do interrogatório com ela, meu caro – a senadora acomodou-se em sua cadeira – ficou muito claro que vocês também tinham um interesse pessoal em arrancar informações dela.

 

— É verdade! – afirmou Desmond – com a reestruturação da S.H.I.E.L.D. em processo, o Senhor H achou que seria interessante obter quaisquer informações que uma de suas ex-agentes pudesse fornecer. Principalmente uma informação que nos levasse a identidade da pessoa que depôs naquela comissão.

 

— Por que acha que ela saberia disso?

 

— A S.H.I.E.L.D. esteve diretamente envolvida nessa operação – Desmond responde – infelizmente ela conseguiu escapar do interrogatório antes que o nosso homem perguntasse sobre isso. De qualquer forma o Senhor H não desistiu de obter essa informação.

 

— E o que o Senhor H ganha com isso?

 

— O que ele sempre quis ganhar, senadora – Desmond se mantinha sério ao falar – dinheiro, muito dinheiro. É por isso que ele precisa dessa informação. Ele também precisa ser informado de qualquer ação do governo referente a alguma operação na fronteira da Rússia nas próximas semanas.

 

— O Senhor H não pode me tratar como se eu fosse sua empregada – Ellen Nadeer demonstra um claro desagrado em seu rosto.

 

— Ele nunca a tratou dessa forma – agora sim, ele sorri – a senhora é uma associada, cujo projeto pessoal o Senhor H está ajudando a viabilizar, em troca do seu acesso privilegiado a certas informações.

 

— Nesse caso então, creio que podemos negociar uma ajuda mútua – a senadora se levanta e vai até um cofre, de onde retira um pequeno dossiê – o meu sócio russo vem me cobrando certas informações em troca da continuidade do seu apoio. Infelizmente tudo o que eu consegui reunir foi esse material – Desmond folheia o dossiê.

 

— A senhora quer que o Senhor H consiga mais informações sobre o que está neste dossiê para o seu sócio russo? – Desmond vê a foto de um homem ao lado de um carro, ele está junto de uma mulher com traços orientais. O carro próximo a eles tem um símbolo da S.H.I.E.L.D. estampado na sua lateral – eu tenho certeza que o Senhor H pode conseguir toda a informação necessária. Em troca precisamos das informações das quais lhe falei.

 

— Se houver alguma operação nossa na fronteira com a Rússia por esses dias ou semanas, eu não terei dificuldade em descobrir – a senadora Nadeer olha desconfiada para Desmond – eu só não entendo o porquê da insistência sobre o que foi falado na audiência. Vocês já tem o soro, porque precisam tirar informações de um depoente que provavelmente estava negociando uma forma de se livrar da cadeia numa audiência secreta do governo? – a senadora Nadeer se mostra realmente intrigada.

 

— Nós temos a quantidade de soro que nos foi permitido produzir, com o que tínhamos da amostra que interceptamos – Desmond responde – o Senhor H quer produzir mais... muito mais.

 

— A audiência de que estão falando, e tudo o que foi dito nela, foi classificada como segredo de alta prioridade – a senadora Nadeer olha por um instante para Desmond – só o fato de ter passado o que passei a vocês já seria suficiente para custar o meu mandato, se isso fosse descoberto. Sem falar que eu ainda acabaria na prisão por crime de alta traição – ela faz outra pausa – a pouca informação a que tive acesso dizia que essa amostra veio de alguém que já está morto. Se sobrou alguma coisa dele, está vagando agora no espaço.

 

— Eu acabei de informá-la de que essa informação é falsa, senadora – Desmond retruca – a amostra pertence a alguém com uma ligação genética com Calvin Zabo, mais precisamente a uma filha dele. O Senhor H quer saber quem ela é.

 

— E o que o Senhor H fará com essa informação, caso consiga obtê-la, é claro.

 

— É muito simples, senadora – Desmond se inclina para falar – ele quer encontrá-la... e tirar dela o máximo de sangue que puder.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Capítulo 10 postado como prometido. No próximo domingo teremos o capítulo 11. Aguardem.