Sobre a Terra Firme (Série elementos 2) escrita por Spoiler Cia


Capítulo 16
Capítulo 19




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Acordo apenas por causa da fome, se conseguisse teria ficado ainda mais tempo nesse estado semivegetativo. Sentei na cama, fiquei olhando fixamente para a janela. O céu já escuro. No meu celular está marcando duas horas.

A minha mãe acabou destrancando a porta durante o meu sono, porque quando tento abri-la não encontro nenhuma resistência. A casa está totalmente escura, exceto pela luz que sai por de baixo da porta do quarto da minha mãe. Caminho silenciosamente até a cozinha, onde como um lanche rápido, voltando para o meu quarto, fecho a porta, mas não tenho mais a chave para tranca-la.

Eu não esperava adormecer depois de passar praticamente o dia todo dormindo. Mas é exatamente isso que acontece, em questão de minutos durmo. Acordando apenas domingo, para passar um dia inteiro dentro do meu quarto, evitando qualquer confronto.

— Sophia, por favor, fala a verdade.

— Fala qualquer coisa, amor. É muito estanho te ver assim tão abatida.

Eu deveria contar sobre a briga de sábado com minha mãe, mas não consigo. Sei que se eu começar a falar vou chorar, e me recuso a derramar uma lagrima aqui na escola.

— Não é nada sério, lindo. Não se preocupem.

Se eu estivesse em um dia normal da minha vida teria percebido a troca de olhares entre os dois.

Eu só percebi que eles estavam planejando algo quando os dois, junto com o Miguel decidiram caminhar até o ponto de ônibus comigo. O Murilo falou que hoje a aula foi cancelada, por isso iria me acompanhar, a Maria e o Miguel falaram que era o caminho deles até a casa da minha amiga, e de fato é, entretanto quando chegamos ao ponto de ônibus o Murilo segurou minha mãe e começou a me forçou a continuar caminhando.

— Onde vocês pensam que vão me levar?

— Vamos dar uma volta, amor. Você tem andado muito preocupada, acho que precisa de um tempo, com os amigos.

— Não pode ser amanhã?

— Não, amanhã o Um tem aula particular.

— Além disso, hoje eu também posso ir com vocês, você não fica feliz com isso, Sophiazinha.

— Nem um pouco, mimadinho – como percebi que eles estavam falando sério, e não iriam desistir tão fácil assim, decidi aceitar, totalmente sem forças para lutar.

Acabamos sentados no nosso lugar especial, no lago, os quatro em silencio, apenas observando a paz desse lugar, que ninguém frequenta em plena segunda feira.

Depois de muito tempo, consigo finalmente relaxar aos poucos, aconchego-me no braço do meu namorado, aproveitando esse nosso momento, longe de todos os problemas. Sinto a mão da minha amiga na minha mãe, fazendo um carinho, mas é mais do que isso, percebo uma eletricidade em minha mãe, mesmo sem conseguir visualizar, sei o que ela está fazendo. A cada minuto que ela transmite para mim sua áurea, mas confortável eu me sinto. Até conseguir criar forças.

— A gente brigou sábado. Ela não gostou de me ver trabalhando no jardim do meu pai, foi como se ela me odiasse, ou sei lá... Odiasse qualquer coisa que tenha relação com meu pai. Eu não consigo entender o que mudou – eu fico em silencio, esperando algum comentário dos meus amigos, mas nada, eles querem apenas me ouvir, e nesse momento é apenas disso que eu preciso – Ela me trancou no quarto, não sei que horas me soltou, eu estava dormindo quando isso aconteceu. Eu nunca senti tanto medo, nem mesmo quando a gente foi sequestrados.

— Acho que são medos diferentes, antes você estava com medo da minha mãe, alguém que não tinha nenhuma relação afetiva com você. Agora o seu medo é próximo, é pessoal. É da sua mãe, e mais do que isso, é medo pela sua mãe.

— Acho que você pode estar certo, Miguel. Eu só não sei direito como lidar com isso, como ajudar minha mãe.

— Se tem pessoas que conseguem lidar com esse problema são vocês duas e a Roberta, vocês são especiais. Deve existir algum ritual, alguma poção para ajuda-la. Eu vou começar a ler ainda mais para ver se descubro algo.

— Todos nós vamos So. Eu sei que você não gosta de depender de ninguém, mas... – eu pulo em minha amiga, abraçando-a.

— Obrigada. De verdade. Vocês são os melhores amigos que eu poderia ter.

— Até mesmo eu?

— Até mesmo você, mimadinho.

Ficamos ainda até o final da tarde, ali, apenas observando o lago, conversando, e eu aproveitando esse momento para recarregar toda minha energia, com esse momento de contato com a terra. No final, a mãe do Murilo passou para busca-lo. Eu e o casal andamos até a casa da Maria, onde jantamos, antes do Marcel buscar o neto, e me dar uma carona até em casa.

Cada dia mais esgotada, essa é a sensação que eu tenho durante todas as aulas, e esse sentimento apenas se aprofunda quando estou no ônibus a caminho de casa. Eu acabo dormindo, acordo apenas quando ele para no último ponto, que é o da minha casa.

Eu me arrasto o caminho todo até minha cama, mas não posso deitar agora. Ontem cheguei do lago acabada, e deitei sem nem mesmo trocar de roupa, por isso hoje meu lençol está com marcas de terra.

Separo uma roupa de cama limpa e começo a retirar a suja. Quando tiro a fronha do meu travesseiro escuto algo cair no chão, algo que cai diretamente em meu pé, imediatamente gemo de dor, e abaixo para ver o que é.

— Uma pedra, como veio parar aqui?

Uma pedra preta que cabe em minha mão, e esteve não sei a quanto tempo em meu travesseiro. Apenas segura-la traz uma sensação de perda de energia, como se ela estivesse absorvendo toda a minha energia. Eu rodo ela em minha mãe, olhando-a com atenção. Um símbolo. Encontro um símbolo em sua superfície, tenho a sensação de já ter visto isso em algum lugar.

Coloco a pedra na minha cama, e fico um tempo observando, tentando lembrar da onde conheço isso. Eu tenho então uma vontade inesperada e incessante de ir ver a Roberta. Sigo essa minha intuição, ela deve saber algo.

Arrumo rapidamente minha cama, para minha mãe não notar nada de estranho quando chegar em casa E pego o caminho até a casa grande.

— Está indo para algum lugar, amor?

— Murilo? O que você está fazendo aqui? E sua aula?

— Minha professora não conseguiu ir hoje, precisou desmarcar. E eu aproveitei para vir aqui te ver, queria saber como você estava, na aula nem conseguimos conversar direito.

— Desculpa, eu não estou no meu estado habitual, lindo – eu falo enquanto continuo andando em direção a casa Almeida, o Murilo caminha ao meu lado, sem perguntar mais nada, eu quebro o silencio – Eu preciso conversar com a Roberta.

Eu mostro a pedra para o Murilo, que a segura, analisando-a. Ele mostra um brilho de reconhecimento nos olhos.

— Esse símbolo é bem familiar.

— Eu também senti isso. Acho que talvez a Roberta tenha a resposta.

— Eu acho que sei o que é, acho importante irmos até lá mesmo, preciso confirmar.

— O que?

— Onde você achou essa pedra? – nós chegamos nesse momento na porta principal da casa Almeida, interrompemos nossa conversa quando o Antônio abre a porta para a gente. Eu o abraço, sem conter minha alegria, ele parece estranhar, mas corresponde – Você voltou.

— Já estava na hora. Eu já estava entediado dentro de casa, sem ter o que fazer. Pedi para o senhor Marcel me deixar voltar antes, ele falou que só com a liberação medica.

— Fico feliz de ver que você está bem.

— Eu posso ser velho, seu Murilo, mas sou resistente.

— Você não é velho não. Só experiente.

— E você é um doce, Sophia, mesmo o patrãozinho achando você meio enxerida.

— O mimado me ama.

— Acho que vocês gostariam de falar com eles, não é?

— Eles?

— A senhorita Maria está com ele lá fora. Aliás o senhor João também está aqui, ainda estranho ver ele saindo de casa, e vindo para a cidade.

— A gente deveria ter imaginado, amor, esses dois não se desgrudam.

— E a Roberta? Onde está?

— Eu estou aqui, querida, acho que vocês gostariam de falar algo importante comigo. Eu senti mais cedo que teria visitas – ainda me surpreendo o quanto essa mulher sabe das coisas – Antônio, você poderia chamar meus netos, por favor, fala que vou estar em meu quarto com seus amigos aguardando-os. Fala para o meu filho que se ele desejar pode de juntar a nossa conversa também.

Nós ficamos esperando no quarto da Roberta. Meus amigos chegam, seguidos pelo pai da Ma, minha amiga estranha minha presença, principalmente junto com o Murilo.

— O que aconteceu, por que vocês estão aqui? Foi algo com sua mãe?

— Calma, chatinha, a deixa falar.

— Acho que tem sim relação com a minha mãe. Eu fui trocar o minha roupa de cama, e encontrei essa pedra no meu travesseiro – entrego a pedra para a Roberta, que a analisa por um tempo, em silencio, e depois passa para os netos.

— Esse símbolo é o mesmo do livro do Jupi – a voz do Miguel quebra o silencio.

— Eu imaginava mesmo, eu vi esse símbolo em diversos livros que falam sobre o espirito.

— E onde está o livro dele?

— Depois do sequestro de vocês eu acabei ficando com o livro, para ler, ver se descobria algo. Eu vou lá pegar em meu quarto.

— Acho que minha mãe colocou essa pedra lá.

— Faz sentido, So, ele está usando-a para te atingir.

— Eu só não sei como tirar essa influencia sobre a minha mãe.

— Acho que você já tem essa resposta, querida. A Deusa já deu para você.

— O livro? A poção de desintoxicar que eu fiz.

— Sim. Mas infelizmente para conseguir manter sua mãe a salvo precisamos afastar o Jupi dela, para ele não influenciar sua alma novamente. Afinal ele é ótimo em utilizar qualquer fraqueza da pessoa para seduzi-la para o seu lado. E a fraqueza da sua mãe é o medo que ela tem de te perder, ele deve ter utilizado isso para convencer sua mãe que as suas amizades, até mesmo suas vindas até aqui só serviram para afastar vocês duas.

— E assim ele conseguiria me afastar do meu dom. Exatamente como ele fez com o acidente do meu pai? O meu acidente?

— Suponho que sim.

— Mas como a gente pode conseguir afasta-lo, vó?

— Acho que eu sei, mas para isso precisamos encontra-lo pessoalmente.

— Como assim, lindo?

— Em um livro que eu li encontrei um ritual que vocês podem realizar juntas – o Miguel retorna nesse momento com o livro na mão – Chama ritual de isolamento, eu tenho anotado aqui no meu celular, estou fazendo um compilado com todos os feitiços que descubro nos livros, para vocês.

— Incrível Murilo – ele fica corado quando a Roberta o elogia.

— Acho que eu li algo a respeito desse ritual no livro da Inaiê, mas não lembro nada sobre ele.

— Depois eu explico. Mas vamos ver agora o livro do Jupi.

— Eu andei estudando esse livro ultimamente, e acho que sei o que essa pedra é. O Jupi pode transmitir sua energia para alguns instrumentos, como por exemplo essa pedra, sempre que isso ocorre ele deixa uma marca, a marca dele, como esse símbolo.

— Mimado, mas que efeito isso tem sobre a So?

— Por ser um objeto que carrega tanta energia negativa, ele acaba atraindo a energia das outras pessoas para si, em alguns casos pode até mesmo transmitir a energia negativa para a pessoa que está em contato coma pedra.

— Por isso eu tenho estado tão cansada?

— Provavelmente sim.

Uma gritaria inicia lá embaixo, seguida por um momento de silencio, reconheço imediatamente a voz da minha mãe e levanto da cama onde estava sentada, indo em direção a porta, que repentinamente abre.

— Ela começou a gritar. Eu não entendi nada. Ela pegou um dos carros e sumiu.

— Quem? – eu não preciso ouvir a resposta da empregada para a Roberta para saber a resposta.


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