Sobre a Terra Firme (Série elementos 2) escrita por Spoiler Cia


Capítulo 15
Capítulo 18




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Minha mãe provavelmente não percebeu minha ausência durante a manhã de sábado, porque durante todo o fim de semana não falou mais sobre o assunto. Na verdade ela não falou mais nada comigo, seguindo a rotina de manter a distancia de mim, eu tentei novamente conversar com ela, mas a porta do seu quarto estava trancada.

Hoje cheguei em casa depois da escola pronta para me aventurar na parte de poções do meu dom. O livro que a Inaiê me deu está aberto em uma página que explica o básico sobre poções.

Não encontro nenhuma informação totalmente aprofundada sobre o assunto, apenas que devo seguir as instruções de cada poção que irei preparar, e sempre durante todo o processo manter minha concentração e minha áurea sobre os elementos, e sobre o conteúdo para a poção.

Não sei direito por qual poção iniciar, então deixo minha intuição me guiar, como muitas outras vezes, ou seja, deixo o acaso decidir. Abro o livro em uma página aleatória, e começo a ler a poção de desintoxicar a alma.

As instruções não são tão difíceis quanto eu imaginei, parece mais uma receita de alguma refeição do que qualquer outra coisa.

O primeiro passo é separar os ingredientes, a flor de alfazema, alegrim e cravo eu tenho no meu jardim. Entretanto, amarílis eu não tenho, e será necessário para a poção. Por fim decido ir até uma loja de produtos naturais na cidade para comprar amanhã depois da escola. O resto da tarde de hoje me dedico a cuidar de meu jardim.

No dia seguinte consegui achar a planta em uma loja no centro da cidade, consegui comprar uma muda, antes de começar a preparar a poção, cuidei da muda de amarílis, e a coloquei em meu jardim.

Peguei todos os ingredientes necessários e lavei como a receita recomendava. Para conseguir utilizar minha áurea preciso estar em contato direto com a terra, por isso preparei um local do lado de fora da casa para fazer a poção.

 Antes de iniciar concentrei toda minha áurea em minhas mãos. O primeiro passo foi espremer a flor de alfazema dentro de um pote, em seguida acrescentei um pouco de água. O próximo foi necessário transmitir minha energia para o alegrim durante 15 minutos, e então misturei com o conteúdo do pote durante mais 15 minutos.

Adicionei à mistura a amarílis. Precisei ir então para dentro de casa, para colocar  no fogo o que já fiz, segui as instruções deixando ali até o cheiro doce contaminar o ar, e um pouco de energia da terra sair da poção, agora coloquei o cravo na panela também, voltando a misturar, dentro consegui visualizar um conteúdo da com da minha áurea, marrom. Mas depois de mais 5 minutos no fogão se tornou rosa claro, no ponto de desligar.

Para a poção ter o efeito desejado precisa ficar 24 horas, sob a terra, por isso cavei um buraco em meu jardim, onde coloquei a garrafa contendo a poção.

Só agora embaixo da água morna do chuveiro percebo o quanto esse processo sugou minha energia. No momento da preparação estava totalmente concentrada em realizar da forma correta, transmitindo a energia da terra. Agora sei que isso foi mais desgastante do que eu esperava.

— Amor, acorda. A professora chegou.

— So, o que você fez ontem para estar assim, você está dormindo desde a primeira aula?

— Estou acabada, ontem eu fiz uma poção.

— E como foi? A minha vó não sabe muito sobre o assunto.

— Ela até que ajudou bastante, eu só precisei seguir as instruções e passar minha áurea para poção. Acho que por isso estou assim hoje.

— Mas amiga, sempre que eu utilizo minha energia eu só fico mais energizada, afinal a fonte dela continua cheia, sempre me passando mais.

— Para poção deve ser diferente, não sei. Só quero chegar em casa e dormir.

Eu deito no ombro do Murilo, e volto a piscar o olho de forma mais firme, quase dormindo novamente, entretanto a voz da professora me acorda, mas mesmo assim não consigo manter minha atenção no conteúdo da aula.

A primeira coisa que faço quando chego em casa é dormir. Acordo apenas quando minha mãe chega casa. Escuto os passos dela pela casa, escuto sua respiração ofegante perto da porta de meu quarto. Fico tensa sem saber o motivo.

Só volto a respirar tranquilamente quando a escuto se afastar do meu quarto, e fechar a porta de seu quarto. Hoje durmo com a porta trancada.

Só lembrei-me de retirar a poção do meu jardim ontem, o resto da semana passou em um misto de medo, de insegurança de algo que não sei ao certo o que é. Continuo acordando cada vez mais cansada, mesmo sem trabalhar em meu jardim.

 O resultado da poção acho que foi adequado, principalmente por ser minha primeira tentativa. A garrafa ficou com um liquido mais rosa escuro, deixo-a escondida no fundo da minha última gaveta da cômoda.

— Chegou cedo hoje, em flor do dia – apenas minha intensa determinação me fez estar aqui tão cedo, todo meu corpo pedia por mais horas de sono.

— Não enche Ma. Não tem vergonha de me atormentar na frente dos seus avós?

O Marcel e a Roberta estão juntos, ao lado da Maria, sorrindo feitos avós corujas. Eu às vezes sinto um pouco de inveja dessa nova família da minha amiga. Ainda mais com minha nova relação estranha com minha mãe.

— Não fui só eu que acordou tão cedo não é, mimadinho?

— Querida, eu sempre acordo cedo, só você que não vê. Principalmente quando minha chatinha vem aqui.

— Você também não tem vergonha de mentir na frente dos seus avós.

O Miguel está concentrado beijando minha amiga, e nem parece escutar o que eu falei.

— Agora crianças, vamos começar nossos rituais?

Caminhamos juntas até a beira do lado, realizamos todos os rituais de costumes antes de começar a aprofundar na conexão com o nosso dom. Tudo que realizamos depende do treinamento inicial que eu e a Maria já tivemos, é uma forma de magia extremamente fácil de lidar e aprender.

O que mais importa é aprofundar os nossos conhecimentos sobre os rituais, meio que um jeito de decora-los para conseguir utiliza-los sem livros de apoio. Mas tudo totalmente sem pressão.

— Suponho que você tenha conseguido fazer alguma poção.

— Consegui sim, Roberta, não foi muito difícil, mas não fiz muito mais essa semana.

— Por que? Você parece um pouco triste.

— Você notou algo estranho em minha mãe aqui no trabalho?

— Para falar a verdade eu tenho visto bem menos sua mãe esses dias. Eu sempre costumo ir conversar com ela no final de tarde, mas ultimamente ela nunca está disponível.

— Ela também está estranha em casa. Eu não consegui me concentrar em poções, nem mesmo em meu jardim. Toda minha atenção está voltada para minha mãe ultimamente.

— Você conseguiu conversar com ela?

— Ela ficou surtada quando eu tentei falar sobre isso. Desde então ela chega do trabalho e vai para o quarto dela. Eu só consigo pensar que algo muito errado deve estar acontecendo.

— Eu vou ficar de olho na sua mãe durante essa semana, querida, e vou tentar conversar com ela.

— Obrigada, eu não tenho nem dormido direito por causa disso.

— Acho que sei o que você precisa. E que vocês podem fazer hoje. O ritual de sonhos profundos.

— Vocês? Mas eu tenho dormido muito bem, vó.

— Mas é sempre bom treinar – ela demonstrou como era o ritual, logo em seguida a Maria realizou. Na minha vez eu apenas repeti o processo, porém trocando para o meu elemento.

— Terra, mãe de todos

Inaiê, mãe da vida

Mantenha sobre mim sua visão

Mantenha sobre mim sua luz

Purifique meus pensamentos

Abençoe meus sonhos

Que assim seja

Ao proferir a ultima palavra senti como se um peso tivesse saído imediatamente dos meus ombros. Quando cheguei em casa, deitei em minha cama e acordei apenas 3 horas depois, ainda cansada, ainda me sentindo estranha, mas um pouco melhor do que há muito tempo.

Decidi aproveitar o resto do dia para voltar a cuidar do meu jardim. Estava totalmente concentrada, quando senti que alguém me observava, senti um arrepio por todo o meu corpo.

— O que você está fazendo ai? – eu fiquei em pé em um salto.

— Estou cuidando do jardim do meu pai. Por que não posso nem mais fazer isso nessa casa?

— Não pode. Você só vem se metendo em coisa que não deve ultimamente. Eu cuido desse jardim, você não tem nenhum direito.

— Ele era meu pai, eu tenho todo o direito. Você pode não gostar disso, mas o jardim é o que ele me deixou de herança, então eu vou continuar aqui.

Em questão de um segundo ela me pegou pelo braço, apertando fortemente, machucando, eu fui arrastada até meu quarto, onde ela me jogou em minha cama, ela bateu a porta quando saiu, e escutei ela tranca-la.

 Eu pensei em fugir pela janela, mas no momento estava totalmente sem forças para me mexer, fiquei encolhida na cama, sentindo as lagrimas escorrerem pelo meu rosto. Tentei alcançar meu celular para ligar para o Murilo, mas ele estava muito longe. Por fim me rendi ao cansaço e a tristeza.


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