Sobre a Terra Firme (Série elementos 2) escrita por Spoiler Cia


Capítulo 17
Capítulo 20




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O primeiro lugar onde parei para procura-la foi em casa, mas mesmo sem entrar já sabia que ela não estaria aqui, afinal ela saiu de carro.

O Antônio estacionou o carro na frente da minha casa, seguidos pelo carro do João, que veio nos acompanhar junto com a Roberta.

A casa estava da mesma maneira que eu deixei hoje mais cedo, nenhum sinal de que qualquer outra pessoa tenha entrado aqui.

— Eu não sei por onde procurar – falo andando de um lado para o outro dentro da minha casa.

— Querida, ficar agitada não vai nos ajudar a pensar em uma solução.

Roberta provavelmente está certa, eu preciso me acalmar para conseguir ajudar minha mãe de verdade, mas continuo andando e sinto as lagrimas aumentando cada vez mais em meus olhos. Sinto o Murilo me puxando até o sofá, acabo sentada ao seu lado.

— Amor, a gente precisa pensar juntos.

— O Mu está certo. Será que sua mãe foi até o Jupi?

— Pode ser Maria – a voz da Roberta ressoa pelo ambiente – Mas é estranho, porque a influencia dos Deuses e espíritos na Terra é limitada, o Jupi só pode influenciar aquilo que está ao seu alcance. Aqui ninguém é onipresente, portanto ele teria que estar perto da gente para agir sobre a sua mãe.

— Tem algo mais sobre essa pedra no livro Miguel?

— Tem sim Murilo. Acho que isso pode ser útil – o Miguel que ainda está com o livro em sua mão, abre em uma página antes de voltar a falar – Essa pedra é um veiculo do Jupi, com isso ele tem um pouco de acesso ao que está acontecendo em outros lugares.

— Mais ou menos igual a um portal.

— Exatamente isso que o livro fala Sophia.

— Em Umarama existe um portal, que serve de conexão com o mundo dos vivos.

— Mas o livro fala que não funciona totalmente igual a um portal, afinal ninguém pode se transportar para qualquer lugar usando ele, nem mesmo o Jupi. Ele apenas tem acesso ao ambiente, como em uma tela de celular. Além disso, nenhum portal tem a capacidade de transmitir ou roubar energia.

— Então foi desse jeito que  o espirito descobriu que você sabe sobre a pedra. Mais do que isso, ele sabe que estamos atrás dele, filhos.

— Mas como vamos acha-lo? Essa pedra pode nos mostrar?

— Infelizmente não, Sophia, ela é um portal de mão única, apenas quem a criou tem acesso as informações.

— Então amor precisou pensar em tudo que sabemos sobre o Jupi. Onde ele estaria escondido?

— Não pode ser muito longe, não é? Afinal ele tem atrapalhado nossas vidas há algum tempo, ele causou a morte da minha mãe, até mesmo anos antes quando ele ligado com a morte da sua irmã vó.

— Mas como ele está perto? Ele deve ter um esconderijo muito bom para isso.

— Sim meu neto, eu só não consigo pensar em nenhum lugar.

Ficamos em silencio, tentando descobrir alguma pista. Eu tento me lembrar de referencias que li em livros sobre ele, mas nada, o que mais sabe desse assunto provavelmente é o Murilo que já leu o livro sobre o Jupi. De repente me vem a imagem de Umarama na cabeça, quase como um sinal.

— Cavernas – eu solto essa palavra sem nem ao menos perceber.

— Como assim cavernas So?

— Quando eu estava em Umarama meu pai me levou para visitar uma das cavernas em que o Jupi viveu. Acho que ele sempre se sentiu mais a vontade distante das pessoas.

— Faz sentido, amor, quando ele foi expulso pelas Deusas ele viveu muito tempo perto da tribo, muitos relatos nos livros falam sobre cavernas onde as pessoas entravam e saíam mudadas, como se um espirito ruim houvesse tomado conta de seu corpo.

— Ótimo, já é um avanço, queridos.

— Mas isso não tornou nem um pouco fácil encontrar minha mãe, existem várias cavernas por aqui, não da para irmos de uma em uma, sinto que ela não tem tanto tempo assim.

— Eu talvez possa ajudar – a voz do pai da minha amiga me tira do meu desespero momentâneo, e me faz lembrar da sua presença que até então estava apenas observando, quase invisível.

— Como assim meu filho?

— Vocês sabem que perto da minha casa era aonde a Carla ia com a Joana treinar, fazer o ritual para passar um pouco da áurea para a Joana.

— E o que isso tem de relação com a minha mãe?

— Amor, deixa ele terminar de falar.

— Então, esses dias eu decidi sair para caminhar, encontrei uma trilha, não muito distante da casa abandonada, e lá tem uma caverna. Eu fiquei sentido uma sensação ruim, como se estivesse com a pressão baixa, então decidi voltar para casa.

— Faz sentido, tio, lá onde tudo aconteceu, ele não poderia estar distante dali.

— Me leva até lá. Eu preciso ir – eu nem termino de falar e já estou em movimento, indo para o carro, dessa vez vou junto com meus amigos no carro do João, enquanto que a Roberta vai atrás com o Antônio.

— Aquele carro é do meu vô, acho que estamos no lugar certo, Sophia.

— Eu vou parar o carro aqui – mal o João parou o carro e eu já estava abrindo a porta e saindo do carro.

— So, espera a gente.

— Ela não está nem ouvindo a gente, Maria – escuto a voz do Murilo, enquanto avanço em direção a trilha perto do carro do Marcel.

Eu começo a andar sem espera-los, mas escuto paços atrás de mim. Depois de uns minutos na trilha, ela se abre em um campo, e na minha esquerda um moro, com o lago do lado direito separando o campo da casa abandonada.

— Ali na beirada tem a abertura da caverna que eu vi.

— Obrigada pai por trazer a gente.

—De nada. Mas não pensem que vou deixa-los aqui sozinhos, vou ficar também. Agora a senhora, mãe, deveria ir embora.

— Pare de besteira menino, eu sou mais velha e experiente do que vocês todos. Além disso, sou a com maior conhecimento para ajudar as meninas.

— Está certa, mãe, mas cuidado.

A caverna é mais escura do que a e Umarama, mas depois de alguns segundos meus olhos se acostumam, entretanto mesmo quando chego no fundo da caverna não encontro ninguém, apenas restos de animais mortos.

— Onde eles estão?

— Devem estar lá fora.

— Mas a gente não viu ninguém, Ma.

— Mas a gente não olhou na encosta do morro, nas árvores, queridas.

— Meu pai está certo, amiga. Vamos. Não desista.

— Eu não vou desistir da minha mãe.

Nós começamos a seguir o João que seguiu em nossa frente assim que saímos da caverna, ele caminhou até umas arvores que ficam entre o moro e o lago.

— A floresta não é muito densa, mas precisamos andar juntos para não nos perdermos, crianças.

— Acho que o melhor seria nós seguirmos a beira do rio.

— Ótima ideia, Mu.

Nós começamos caminhar, seguindo o percurso do rio, cada um concentrado no ambiente ao redor, olhando entre as arvores, prestando atenção nos sons vindos da floresta. A floresta foi se afunilando cada vez mais, e a cada passo mais o rio nos conduzia até a montanha.

— Acho que eu ouvi um barulho.

— O que Miguel?

— Prestem atenção.

Ficamos em silencio, eu não consegui ouvir nada. Até que ouvi, um sussurro, baixo. Eu corro em direção ao som.

— Espera, amor – eles me seguem, mas eu não paro nem um minuto.

— Outra caverna.

— O que você disse? – minha amiga para ao meu lado, sem folego – Outra caverna.

— Sim, acho que é aqui.

Eu não preciso entrar na caverna para descobrir que estou no local certo, porque nesse momento um homem sai da caverna, carregando uma pessoa no colo.

— Larga minha mãe.

— Já que você insiste, eu largo sim – ele a joga no chão, e percebo que ela está desmaiada.

— O que você fez com ela Jupi?

— Nada. Só o que era necessário.

— Necessário para o que?

— Para ter aqui, em minhas mão, as três descendentes.

— O que você quer da gente, espirito? Você deveria deixar as crianças livres, eu sou a fonte de conhecimento, as deixe em paz.

— Realmente, Roberta, você é a líder, mas mesmo sem você acho que elas podem ainda fazer muito estrago.

— Que estrago umas meninas poderiam fazer? – enquanto a Roberta conversa com o Jupi, que aparenta estar totalmente sobre o controle da situação, sinto o Murilo me passar algo. Seu celular. O ritual de isolamento – Estou começando a achar que você tem medo dessas crianças. É verdade Jupi? Ser abandonado pelas Deusas te deixou tão fraco assim?

— Cala essa boca sua idiota – em menos de um segundo ele está em cima da Roberta, segurando seus braços, o João tenta se aproximar, mas algo acontece, como se algo o impedisse de se mexer.

— Larga minha mãe! O que você está fazendo comigo.

— Apenas exercendo meu controle sobre a sua alma, sabe eu sou realmente bom em manipula-las.

O Jupi volta sua atenção para a Roberta, que está ficando cada vez mais pálida, e com um aspecto de quem vai desmaiar. Enquanto isso eu envio para o celular da minha amiga o feitiço, ela olha para mim e eu aponto para o seu celular.

— Você não vai conseguir me controlar, espirito. Eu sou dona da minha própria vontade, eu não vou machucar ninguém.

— Essa sua luta não adianta de nada, eu vou entrar na sua mente, na sua alma. E você será minha, e vai mata-las e em seguida irá morrer também.

A Maria começa a caminhar lentamente, e se posiciona na posição oeste, enquanto que eu na leste. Nós nos olhamos e sabemos exatamente o que fazer, e começamos a declamar juntas.

— Deusas protetoras

Deusas de suas filhas

Retira o que é ruim

Purifica o que está podre

Afasta o que nos faz mal

Isola todo o mal

Enquanto falamos o Jupi estremece e acaba soltando a Roberta, que se afasta rapidamente. Eu vejo minha áurea indo em direção ao Jupi, que acaba caindo dentro da caverna, enquanto eu e a Maria continuamos o ritual.

— Inaiê! Araci! Yara! Potira!

Deusas dos elementos

Unam nossas energias

Transforme-a em barreira

Para assim isolar o mal

Vejo minha energia conduzindo a terra, e mesmo sem enxergar a áurea da minha amiga vejo um filete de água vindo do rio, transformando a terra em algo firme, que vai aumentando cada vez mais, lacrando a entrada da caverna.

— Que o mal fique preso

Que o mal fique isolado

Enquanto nós estivermos unidas

Assim seja.

Mal termino de recitar o ritual, e sinto minhas pernas bambas. Caio no chão, totalmente sem força. O Murilo aparece ao meu lado, abraçando-me.

— Vocês conseguiram, meu amor.

— Minha mãe – eu tento me levantar, mas minhas pernas ainda estão fracas.

— O João está com ela, fica tranquila – eu encosto-me ao meu namorado tentando recuperar um pouco da minha energia da terra sob mim. Vejo que a Maria também está sentada junto com o Miguel, não fui apenas eu que fiquei alterada após o ritual.

— Acho melhor sairmos daqui. As meninas precisam descansar, e a Marta precisa se afastar desse local, do Jupi. Agora que ele está preso não poderá influenciar mais sua mãe, querida. Mas ela ainda precisa de uma cura, a alma dela ainda está com marcas.

— Acho que eu tenho uma poção para isso Roberta.

— Eu sabia que você teria. Agora filho pega a Marta no colo. E vocês meninos ajudem elas a andar.

Voltamos para o carro bem mais lentamente do que na ida. Cada passo doía meu corpo todo, mesmo estando apoiada no Murilo precisei andar bem devagar, em minha frente o Miguel e a Maria seguem no mesmo ritmo, seguindo o João que está com minha mãe no colo, e atrás da gente escuto a Roberta andando.

O Antônio está no carro, ansioso esperando a gente, ele acabou ficando para trás, para trancar os carros, e perdeu o nosso rastro. Ele já estava pronto para chamar a policia, mas chegamos bem na hora.

Quando o carro começa a andar pela estrada eu encosto minha cabeça no ombro do Murilo, e acabo dormindo, acordando apenas na minha casa, em minha cama, com o Murilo ao meu lado ainda.


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