Sobre a Terra Firme (Série elementos 2) escrita por Spoiler Cia


Capítulo 12
Capítulo 14




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Apenas quem trabalha ou já ficou internado conhece o som de um hospital. Eu acordei ainda desorientada há duas horas, apenas o som dos monitores indicando que estou em um hospital, no setor de observação. Demorou menos de um minuto para tudo voltar a minha mente, a conversa com o primo do meu pai, o acidente, meu pai.

— Os médicos não entenderam muito bem o motivo de você ter ficado uma hora desacordada, você estava de cinto, não sofreu nenhum trauma craniano – uma enfermeira de meia idade puxa assunto comigo enquanto me medica.

— A árvore?

— A árvore não atingiu a parte do carro onde você estava, na verdade ela quase atingiu seu acompanhante, por milímetros.

Assim que consegui me recuperar e me orientar em tempo e espaço, lembrei-me do Antônio, descobri que ele está realizando exames neste momento, ele acabou fraturando uma costela por causa do impacto, mas fora isso está bem, nem chegou a ficar inconsciente. Ele ficou mais preocupado comigo pelo que eu fiquei sabendo.

— Por quanto tempo vou precisar ficar no hospital?

— Sua mãe está lá fora conversando com o médico, mas pelo que eu soube seus exames estão normais, acho que o doutor vai deixa-la aqui só até amanhã cedo, para ficar em observação.

Minha mãe volta para perto da minha maca, ela está quieta desde que eu acordei. Eu entendo, afinal ela descobriu minha mentira sobre a ida até Bragança da pior maneira possível. O que mais está me incomodando no momento é a ausência de questionamento, sua indiferença fria.

Pego meu celular para responder as mensagens preocupadas dos meus amigos, até mesmo do Miguel, e do meu namorado. Eles pediram para vir me ver, entretanto é permitido apenas uma pessoa por vez, e minha mãe recusou-se a sair do meu lado, eu não briguei por causa disso, afinal logo estarei fora daqui, e vou conseguir contar tudo para eles.

— Mãe eu fui para Bragança por cau...

— Eu não quero saber Sophia. Não importa, você não tinha o direito de ir para qualquer lugar sem me informar.

— Mãe eu precisava descobrir...

— Eu já disse para ficar quieta, eu não quero saber de nada. Você está totalmente mudada, eu já não reconheço minha filha em você.

Essa frase me machuca mais do que qualquer outra coisa que ela poderia ter falado, porque eu sei que é de certa forma verdade. Eu tenho segredos agora que não consigo falar com minha mãe sobre, eu adoraria conversar com ela sobre meu pai, sobre nossa família, meu dom. Mas faz um tempo que ela não é a mesma também.

Entretanto hoje mais do que nunca eu também não consigo reconhecer minha mãe nessa mulher. Ela deveria estar brava, preocupada, até mesmo me sufocando, mas ela não tem nem um pingo de emoção em seu rosto. Eu sinto meus olhos arderem, lagrimas começam a banha-los. Eu fecho meus olhos com força e me viro em direção a parede, fugindo da maneira que eu posso do bolo de tristeza que sinto em minha garganta.

A Roberta veio buscar eu, minha mãe e o Antônio no dia seguinte junto com o sr. Marcel. Minha mãe tentou recusar a carona, entretanto eles não deixaram.

Com isso a contra gosto minha mãe entrou no carro de seus patrões, ainda sem demostrar nenhuma grande emoção. O Antônio senta-se ao meu lado no carro.

— Ainda bem que a senhorita está bem. Eu fiquei preocupado quando olhei para trás e você estava inconsciente.

Escuto minha mãe falar baixinho algo sobre a culpa ser dele, mas apenas eu escuto o seu cochicho, e volto a conversar com o Antônio para desviar o assunto.

— E como você está? E a costela?

— Ele se recusa a aceitar que está machucada querida. Ele é muito teimoso, queria ir trabalhar hoje mesmo. Um absurdo não é Marcel?

— Esse daí acha que é imortal. Vai ficar em casa até o médico libera-lo para retornar ao serviço. Nós não precisamos dele como motorista agora, eu estou tirando um período de folga do trabalho para ficar com a Roberta, então posso leva-la onde ela quiser. E o Miguel pode muito bem usar o ônibus se necessário.

— O mimado vai andar de ônibus? Essa eu quero ver.

Minha mãe continua calada o resto do caminho. Primeiro paramos na casa do Antônio para deixa-lo, o sr. Marcel insiste que ele ligue se precisar de qualquer coisa, mas duvido que ele irá ligar para os chefes, por qualquer motivo que seja, velho orgulhoso. Quando o carro para em frente a minha casa eu agradeço a carona, e escuto minha mãe falar que vai para o trabalho daqui a pouco, a Roberta ainda tenta impedi-la, falando para ela ficar em casa cuidando de mim, mas minha mãe fala que eu não preciso dela.

Eu entro rapidamente dentro de casa, evitando ouvir o resto da conversa. Eu vou direto para o meu quarto, onde fico até escutar minha mãe sair de casa para ir trabalhar, sem se despedir de mim. Eu aproveito esse momento para comer alguma coisa.

Escuto uma batida na porta, quando abro encontro a Maria, o Miguel e o Murilo parados com ar de preocupados em minha porta.

— Você quase nos matou de susto, So – eu correspondo ao abraço de minha amiga, depois acabo abraçando o mimadinho também.

— Meu amor – ele não fala mais nada, mas nessas palavras percebo o alivio. Eu o beijo intensamente, esquecendo da presença dos outros dois.

— Acho que a gente está sobrando aqui em chatinha?

—Deixe-os mimado.

Eu me afasto do Murilo, mas ele ainda está com o braço ao redor da minha cintura, me prendendo junto ao seu corpo.

— Como se vocês nunca se beijassem na nossa frente, né mimadinho?

— Mas é muito melhor ser o que está beijando, não o que está observando.

— Concordo totalmente – o Murilo beija meu rosto, depois de dar um sorriso para o casal.

— So, você está bem mesmo? Como esse acidente aconteceu?

— Eu vou contar para vocês, vamos lá fora um pouco? Eu preciso de um pouco de ar.

A gente acaba sentando no jardim do meu pai, eu foco minha atenção do chão de terra, mas nada. Nem sinal daquela energia que estava tão presente em Umarama. Eu conto tudo para meus amigos, desde a conversa com o Moacir até a visita a caverna do Jupi.

— Então quer dizer que de certa forma nós somos primas.

— Acho que você tem razão Ma.

— Estou muito feliz por te ter na família, você sempre foi mais do que uma amiga mesmo, So você é o mais próximo de uma irmã que eu tenho.

— Você também é minha irmã.

— Vocês duas são tão fofas e brega, chatinhas.

— Eu preciso começar a aprender sobre o meu dom, o livro da Roberta sobre rituais da terra ainda está comigo, mas sozinha acho que não consigo. Aqui eu nem mesmo consigo enxergar a áurea.

— Amor, acho que você precisa da ajuda da Roberta, assim como a Maria precisou.

— Eu já havia pensado nela. Mas eu não quero ir em algum momento que minha mãe também estiver lá.

— Sua mãe continua estranha?

— Mais do que nunca Murilo. Ela não demonstrou nenhuma emoção ao descobrir minha mentira, meu acidente.

O Murilo faz menção de falar algo, mas ele mesmo se interrompe, e fica com uma expressão reflexiva por um momento. Eu fico tentada a perguntar para ele sobre o que ele está pensando, mas a voz do Miguel me impede.

— Acho que minha vó não vai se importar de te ajudar sábado. O que você acha? É o dia de folga da sua mãe, da para você ir até minha casa.

— Acho que é a melhor ideia.

— Eu aviso minha vó que você precisa conversar com ela sábado então.

— Eu posso ir com você também So?

— Claro amiga. Acho que você pode até mesmo acabar ajudando.

— Então vamos indo mimado. Vamos até sua casa, deixa os dois ficarem um pouco sozinhos.

— Ótimo. Também quero ficar um pouco sozinho com você também.

Ele da um sorriso malicioso para a Maria, e eu desvio rapidamente o olhar. Esse é um momento intimo entre eles.

— Amor eu tentei ir até o hospital ontem, ver como você estava. Eu estava enlouquecendo sem ter noticias suas. Eu passei os piores momentos imaginando que você talvez ficasse em coma, assim como eu.

— Imagina então o que eu passei enquanto você estava inconsciente.

— Deve ter sido difícil. Sua mãe não quis conversar comigo no hospital, ela pediu para a enfermeira me dispensar.

— Estranho, ela não me contou que você esteve no hospital. Será que ela está te culpando pela mentira que eu contei para ir até Bragança?

— Pode ser – mas não havia tanta firmeza em sua voz – Vamos entrar assistir alguma coisa amor.

Nós começamos a assistir um filme, mas eu estava um pouco sonolenta, por isso fomos ao meu quarto deitar. Entretanto uma vez em minha cama, ao lado dele eu não conseguia apenas fechar os olhos e dormir. Mas eu estava tentando.

Eu senti os lábios dele sobre os meus, em um beijo suave. Quase como um beijo de boa noite, eu não aguentei mais ficar quieta, e aprofundei o beijo, que foi ficando cada vez mais intenso. Eu dei um espaço então para recuperar o fôlego, e comecei a beijar todo seu rosto, seu pescoço.

— Você tem certeza linda?

— Eu quero você. Agora.

Ele voltou a me beijar intensamente. Enquanto eu me enrosquei o máximo que consegui ao seu corpo, tentando nos fundir, nos tornar apenas um, como em meu coração e em minha alma sempre foi


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