Sobre a Terra Firme (Série elementos 2) escrita por Spoiler Cia


Capítulo 13
Capítulo 15




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Certo eu estava realmente pronta para esse momento, eu sabia que ia doer, e de fato doeu, não posso mentir sobre isso, mas ao mesmo tempo foi incrível, com a pessoa que eu amo, e no fim houve prazer também.

Mas não posso dizer o mesmo sobre o resto da semana, não encontrei mais nenhum momento de alegria, em minha casa apenas encontro silencio, na escola provas e trabalhos, e mal consegui ver o Murilo que ainda tem aulas particulares após a aula.

Meu refugio tem sido o livro, algo que nunca imaginei em toda minha vida, não estou acostumada a ler muito, entretanto nesse livro encontro respostas para o meu dom.

Hoje acordei cedo, apesar de ser sábado, afinal a Roberta deve estar me esperando já, pego a única bolsa que tenho. Ela estava comigo no dia do acidente, eu a abro para colocar o livro da Roberta, afinal eu não tenho uma memória tão boa para lembrar os rituais sem lê-los.

Dentro da bolsa encontro outro livro, eu tiro ele e fico olhando. O livro da Inaiê, eu nem mesmo lembrava disso, mas ela me deu o livro, ele veio parar em minha bolsa, e como não mexi nela desde aquele dia não havia o visto ainda. Eu dou uma rápida folheada, e ele para na pagina de uma poção. Poção de recuperação profunda.

Eu fecho o livro e o guardo novamente na minha bolsa. Já estou atrasada. Quando passo pela sala minha mãe já está acordada, sentada, olhando fixamente para televisão. A televisão está desligada.

— Mãe eu preciso sair, a Roberta está me esperando.

— Melhor não Sophia. Hoje você vai ficar em casa – sua voz me causa um arrepio, um mal estar.

 Eu volto ao meu quarto sem discussão, mas não desisti do meu compromisso. Eu tranco a porta do meu quarto e saio pela janela. Ultimamente tem ficado cada vez mais comum mentir para minha mãe, mas não posso deixar de me sentir mal por isso, mesmo sabendo que é por um bom motivo.

— Você está atrasada So.

— Eu sei Maria, não começa. Dessa vez não foi minha culpa.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não importa. Vamos a Roberta já deve estar nos esperando lá perto do lago.

Eu não preciso da água para nenhum ritual, mas a Roberta e minha amiga precisam por isso o nosso encontro precisa do lago ainda.

— Bom dia meninas, podem vir perto, eu estava esperando vocês para iniciar a meditação.

— Olá Roberta. Obrigada por me ajudar com meu... dom.

— Meus netos me contaram tudo sobre sua descoberta.

— Sim, eles contaram também sobre Umarama?

— Sobre sua visita? Contaram. Mas eu sinto que você tem algo mais para me contar.

— Eu havia esquecido do livro da Inaiê – eu o tiro da bolsa, dando para ela olhar – Eu o encontrei hoje, ele tem alguns rituais e poções que a Deusa compartilhou comigo.

— Interessante. Acho que será de bastante utilidade para você um dia. Porém hoje não precisamos dele. Conte-me o que você sabe sobre o seu dom.

— Eu sei que ele está em mim, até consegui vê-lo em Umarama, mas aqui eu não consigo acessa-lo. A senhora já contou sobre a dificuldade que nós da terra temos de visualizar a nossa áurea, ela é mais discreta.

— Você está correta. Sua áurea é mais discreta, entretanto quando você conseguir ver será muito mais fácil usa-la. O que a Maria demorou alguns dias você conseguirá em horas. Você está com um livro meu se não me engano, não é? Ele foi útil?

— Ele fala sobre a conexão com a energia da terra. Que depende muito da meditação e do contato direto com ela.

— Tire seus sapatos, querida. Está na minha hora de meditar mesmo. Acho que nós três precisamos.

— Como eu faço? – ela vai até um rádio e liga uma música, tranquila, que lembra sons da natureza.

— Apenas dance. Não pense em nada, e enquanto você fizer isso se concentre em seus pés diretamente na terra. Na sensação dela em você, a energia vai começar a vir para o seu corpo naturalmente, se preferir fique de olhos fechados, mas fique concentrada. Assim que você começar a visualizar a energia ficará cada vez mais fácil.

As duas começam a dançar, juntas, de forma natural e harmônica. De uma maneira até mesmo sedutoras. Eu por outro lado me sinto desconfortável, não sei direito como fazer. Me pergunto se para a Maria no início foi assim também. Eu acabo ffechando os olhos mesmo, mais para me esconder de tudo, mas isso ajuda, aos poucos a música domina minha mente, eu me esqueço das duas, sento apenas a música e a terra.

Conforme eu me movimento fico cada vez mais distante da realidade, com uma sensação diferente, mas boa. Não sei quanto tempo fico nesse transe, mas começo a perceber uma espécie de formigamento em meus pés, pode ser pelo frio, mas não é apenas isso.

Essa eletricidade sobe pelas minhas pernas, no mesmo momento em que a música que era calma fica mais intensa, eu começo a me movimentar com maior intensidade, mais rápido. O formigamento então está em minha barriga, peito, braços, tudo. Só existe energia.

E então nada. A música acaba, eu abro meus olhos e olho para o meu corpo. Tenho a impressão de visualizar um pouco de luz marrom em minhas mãos. Mas ela desaparece.

— Você está vendo algo So?

— Não. Parecia que sim, mas passou. Acho que não deu certo.

— Mas você sentiu algo durante a dança, não é querida?

— Senti uma eletricidade por todo meu corpo. Mas agora não sinto mais nada.

— A áurea da terra está em você, sempre esteve. Você apenas precisa aprender a ver. Sempre que você tiver dificuldade entre em contato direto com a terra. Eu estava pensando que faz tempo que não mexo em meu jardim. Você poderia me ajudar. Vamos?

Ela não espera nossa resposta. Tenho tempo apenas de pegar meus sapatos antes de correr atrás dela. Paramos na parte de trás da casa,  mas perto da porta da cozinha. A Roberta pega alguns vasos que estão perto da porta e trás até a mim.

— Passe essas plantas do vaso para o solo.

— Eu não costumo plantar muito. Não sei como fazer isso.

— Não tem nenhum mistério. Você sabe o que fazer, siga sua intuição.

Eu pego uma planta que já está grande demais para o vaso em que está, decido começar puxando minhas mangas para cima. Com uma pá começo a cavar, a terra é fofa, mas algo está errado. Eu preciso do contato com o elemento.

Deixo a pá de lado e começo a cavar com minha própria mão. Depois tiro a planta, sem deixar a raiz para trás, como se fosse algo extremamente natural para mim, e a coloco no buraco. Quando termino meu trabalho vou para a próxima planta. E assim por diante, até terminar todos os vasos.

No fim, estou cansada, e com um pouco de fome, provavelmente já está na hora do almoço. Mas nunca me senti mais feliz em toda minha vida. Agora eu entendo o prazer que meu pai sentia com suas plantas.

Eu levanto, ainda com as mãos sujas de terra. Quando olho para elas eu enxergo. A energia marrom, não só a terra grudada na minha mãe, mas também a luz, a áurea.

— Eu estou vendo – grito feliz, em êxtase. A Roberta que estava na cozinha, vem em minha direção, seguida pela Maria.

— Você consegue enxergar com clareza?

— Totalmente, quase como quando em Umarama.

— Você aprendeu a acessar sua energia. É como andar de bicicleta, você nunca vai parar de enxerga-la na terra, nas plantas, olhe para o seu trabalho.

Eu olho para as plantas recém-plantadas e elas brilham. Olho para a grama, olho para as árvores, tudo brilha.

— Eu não vou parar de ver?

— Não. Mas você precisa treinar, o que você tem hoje é pálido perto do que você irá ver com treino.

— Eu vou treinar todo dia.

— Ótimo. O melhor treino para você é mexer com plantas e com a terra. Acho que você tem o jardim de seu pai em sua casa ainda, não é?

— Sim. Minha mãe sempre cuida dele. Mas ela não tem muito dom, o jardim está um pouco acabado.

— Mas você tem o dom. Ele irá florescer. Cuide todo dia.

Ela vai para a cozinha enquanto eu e minha amiga ficamos no jardim. A Maria usa um regador cheio de água perto da gente para regar minhas plantas.

— Eu ainda fico surpresa quando você movimenta as coisas sem tocar.

— Logo você vai conseguir fazer isso também.

— Aqui querida – ela me dá um pacote, eu vejo que dentro tem algumas sementes – Acho que você vai precisar. No próximo sábado podemos treinar alguns rituais voltados para a terra, e alguns que até mesmo outros elementos podem fazer, mas com descendentes da terra é muito mais potente.

— O de cura.

— Isso mesmo, Sophia. Você vai conseguir realizar esse ritual muito mais fácil e intenso. Mas não esqueça que você nunca pode ressuscitar ninguém, isso pertence apenas as Deusas, mas no final do nosso treinamento você conseguirá recuperar feridas mais profundas, da alma.

— E as poções?

— Você precisa visualizar bem a energia antes de aprender a realiza-las. A sua áurea precisa estar saindo de você e indo para o conteúdo da poção. As poções mais fortes são as feitas por elementos que você mesmo cultivou, mas você conseguirá fazer até mesmo com coisas colhidas e plantadas por outras pessoas. Mas sem pressa. Treine! Cultive seu jardim por enquanto.


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