Sobre a Terra Firme (Série elementos 2) escrita por Spoiler Cia


Capítulo 11
Capítulo 13




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Eu acordo em um local claro, quase me cegando assim que abro meus olhos. Sinto lagrimas neles, e começo a pisca-los para me adaptar a luz. Quando consigo finalmente manter meus olhos apertos olho ao redor, estou deitada na grama verde, e próximo dali avisto uma arvore enorme, cheia de flores lilás.

Eu me sento e enxergo um campo vasto, cheio de árvores semelhantes a que eu vi. Meu primeiro pensamento é que durante o acidente eu acabei caindo para fora do carro e deslizando pelo barranco até cair nesse campo. Mas não. Eu nunca havia visto árvores como essas em Tuiuti, é impossível ser isso. Então acho que eu morri.

— Não querida você não morreu.

Eu congelo com a voz, com o toque em meu ombro, eu não sinta isso há anos, nunca achei que voltaria a sentir.

— Pai? – eu me levanto e o abraço fortemente. Ele continua o mesmo de sempre, sua pele morena contrastando com a minha quase pálida, semelhante com a da minha mãe, porém seu cabelo é loiro assim como o meu.

— Minha pequena. Você está tão grande.

— Pai você fala que eu não morri, mas eu estou aqui com você. Como é possível?

— Você apenas está inconsciente. Sua parte que te liga a Inaiê trouxe você até aqui.

— Onde é aqui? É lindo.

— Aqui, querida, é  Umarama.

— O lugar das Deusas?

— Sim, e aqui é a parte leste, o domínio da Terra. Ela comanda esses campos, ela não gosta de lugares espalhafatosos, ela mora em contato direto com a natureza, em uma cabana. Ela deve estar nos esperando, vamos?

Meu pai me leva pela mão até as árvores, eu olho ao redor encantada, de longe era lindo, agora aqui no meio delas elas são mágicas, elas brilham com um marrom intenso ao redor, uma energia que chega até mim.

— Áurea.

— Isso mesmo. Nosso dom. Seu dom querida. Os descendentes de cada Deusa após sua morte vem para Umarama  ficar no domínio do seu elemento. Aqui no leste a Terra, ao oeste a água, que banha toda a encosta, olha naquela direção.

Eu olho para onde ele aponta, e longe, em quilômetros consigo ver o reflexo da água, e em cima dela um castelo verde.

— Aquele é o castelo da Yara, sobre as águas. Agora no sul fica o grande vulcão, mas não precisamos teme-lo aqui como tememos no plano físico, lá a Araci mora na encosta do vulcão,esse fogo não machuca, ele é domado e ligado intimamente a Deusa do fogo.

Eu consigo ver um rastro vermelho alaranjado, vivo e brilhante. E uma casa enorme que parece feita de fogo, linda.

— Agora ao norte encontramos o lar da Potira, ela mora no meio das nuvens, naquelas montanhas, não conseguimos enxerga-la daqui, por causa da neblina, mas seu castelo é feito de vento, de neblina.

Eu não consigo mesmo enxergar um castelo, apenas vejo montanhas banhadas por neblina, lindo e poético.

— Onde o Jupi morava?

— Ele é o espirito, querida, ele comanda a alma, portanto ele nunca precisou de meio físico para viver bem. Ele vivia em todos os lugares, nada o prendia, mas o que ele mais gostava era das cavernas escondidas aqui em Umarama.

— Tem alguma caverna aqui perto?

— Acho que sim, mas precisamos ver a Deusa antes, apenas ela pode te dar essa resposta de forma adequada.

Andamos um tempo no meio da floresta, as árvores lilás ficam para traz, entramos no domínio das árvores verdes, depois vermelhas, rosas, diversas cores. Saímos então em um jardim com verduras, frutas e ervas caseiras, coisas que existem também no meu quintal, e no meio do pomar está uma cabana.

— Você me falou que ela morava em uma cabana, pai, mas isso é bem mais do que isso.

— Você está certa, mas eu também. É uma cabana digna de uma Deusa.

Ela é feita de tijolo, que se assemelha a terra, o telhado parece feito de folhas verdes, e tudo emana uma enérgica marrom. Uma mulher linda está na frente da casa, com seu vestido que se camufla a própria casa.

— Eu estava te esperando Sophia, minha filha, minha descendente.

Eu não sei direito como agir, fico parada esperando algo acontecer, mas não sei o que. Meu pai me empurra em direção a Inaiê, eu utilizo esse impulso para forçar minhas pernas a funcionarem, me levando até ela.

— Inaiê... – nada mais sai da minha boca.

— Eu sei como você está surpresa, mas eu não. Eu sempre soube que você era minha. Eu nunca os perdi, vocês são minha família. Mas para você atingir seu potencial você deveria descobrir sozinha isso, afinal cada um dos descendentes das Deusas precisam batalhar para merecer o dom, principalmente os meus descendentes, que acabaram esquecendo. Além disso, depois dos incidentes com Jupi no passado nós prometemos interferir o mínimo possível na vida dos humanos.

— Eu sei disso, não foi fácil a jornada da minha amiga, como descendente da água, a minha também não poderia ser.

— E a sua jornada ainda não acabou. Você ainda precisa aprender muitas coisas. O livro que sua intuição escolheu para ser lido é muito útil para nós da terra, nele você já encontrou o caminho de acesso ao seu dom, você só precisa treinar.

— Eu só não sei direito como começar.

— Lembre-se dos seus companheiros, dos seus aliados. Você vai encontrar ajuda, assim como a Maria.

Ela me conduz até dentro da sua casa, meu pai ficou do lado de fora, no meio do pomar, cuidando das plantas como se ainda estivesse vivo, como nos velhos tempos.

A cabana é maior do que aparentava de fora. Estamos em uma sala que possui diversas plantas, como deveria ser de fato um lar de alguém da terra. Na parede prateleiras feitas com um aspecto de arvore, cada estante como um galho. E nelas diversos livros.

— Você precisa lembrar que nem tudo precisa de somente um ritual para ser resolvido. O nosso dom é visto como frágil por muitos, mas ele é forte, ele ajuda a fornecer vida, a curar feridas. Cultivamos plantas por meio de rituais, mas é utilizando essas plantas para poções que atingimos nosso potencial.

Ela faz uma pausa, enquanto faz um gesto em direção ao chão da sua casa que na verdade é feito de terra, assim como a de seu jardim, uma escada então é formada na beira da estante, ela sobe alguns degraus e alcança um livro de capa escura.

— Esse livro é para você. Os livros que você tem acesso no mundo dos humanos possuem rituais, e até receitas de algumas poções, mas esse aqui é o meu livro particular de poções, eu acho que será útil. Como a Roberta sempre diz, siga sua intuição na hora de usa-lo.

— Obrigada Inaiê. Antes de voltar para o... Mundo real, eu gostaria de pedir um favor.

— Você quer conhecer uma das cavernas do Jupi?

— Sim, se for possível, eu acho que pode acabar sendo útil para nossa missão de enfrenta-lo.

— Pode ser. Você tem sorte que existe uma aqui perto. Não tem nada de mais nela, apenas alguns desenhos na parede sobre o Jupi, os desenhos formam histórias, cada caverna daqui conta uma. Seu pai sabe onde é. Siga a sua intuição, querida.

Eu dou um abraço nela antes de sair. Encontro meu pai sentado perto de uma macieira, eu sento ao seu lado e encosto minha cabeça em seu ombro, como quando era menor.

— Eu vou te levar até a caverna. Você não pode ficar muito tempo aqui – nos levantamos e andamos lado a lado, em direção a floresta novamente.

— Por que não?

— Aqui não é um lugar para vivos, querida. Apenas os mortos e as Deusas vivem aqui. Cada minuto que você fica aqui mais você começa a se desconectar da sua realidade, a atração que esse lugar exerce sobre nós é muito forte.

— Onde você fica por aqui, pai? Na cabana da Inaiê?

— Não, nós descendentes da Terra ficamos na floresta, lá é nossa casa, nós ajudamos a cultiva-la, cada um possui sua pequena cabana, construída a base da energia da terra. Minha cabana está pronta, quando chegar a hora da sua mãe ela viverá lá comigo, por ter casado com um descendente da Terra.

— Mas e quem não descende das Deusas? Onde ficam após a morte?

— Eles possuem um local, eu não sei muito sobre ele, mas fica atrás das montanhas da Potira, através de um portal. Mas apenas nós temos direito a Umarama junto as Deusas.

O caminho que realizamos é diferente do que tomamos para chegar até a casa da Inaiê. Caminhamos em outra trilha, que nos conduz até um campo com pedras, andar fica mais difícil, mas a energia marrom que sai da terra e vem até mim me deixa eletrizada, ajudando.

— Aquelas pedras maiores formam uma entrada, consegue enxergar?

— Acho que sim.

— Não é uma grande caverna, por isso é mais clara do que muitas cavernas costumam ser, a luz consegue ilumina-la. Pode entrar, não cabe mais do que uma pessoa, eu te espero aqui.

Meu pai estava certo, quando eu entro percebo que caberia uma pessoa maior do que eu aqui, entretanto não mais do que uma pessoa por vez. O ambiente contrasta com a claridade de Umarama, demora um minuto para meu olho acostumar com a escuridão, mas quando acostuma consigo enxergar com o pouco de luz que entra através da entrada.

Incrível! As paredes apresentam desenhos totalmente realistas, nada parecido com desenhos rupestre que esperava encontrar. Começo a examinar o desenho perto da porta, nele encontro quarto mulheres, quatro Deusas, em um circulo, e no meio do circulo um homem nu, sendo formado a partir delas, a criação do Jupi.

Outros desenhos acompanham sua juventude, ele andando sobre a floresta de Umarama, escrevendo em seu livro, deitado em uma noite cheia de estrelas, diversos fragmentos da sua trajetória. Um desenho me chama atenção. Ele está em um portal, acho que o mesmo local onde eu acordei, mesmo eu não tendo visto esse portal antes, ele olha para o portal com cara de raiva. O próximo desenho mostra ele brigando com Yara, e em seguida a morte de um homem. O último desenho na parede é um novo circulo formado pela Deusa, ele está novamente no meio dele, entretanto dessa vez o portal está próximo a ele, e a energia do portal parece envolvê-lo, enquanto ele está com uma expressão de extremo ódio.

 Fico um tempo olhando para essa imagem, não sei quanto tempo. Quando saio do meu transe caminho em direção a saída da caverna, entretanto a energia marrom que está ao meu redor começa a sair do meu corpo. Eu paro e começo a observa-la, ela sobe até o teto da caverna, iluminando-o.

O desenho que encontro no teto é do Jupi, eu o reconheço pela mesma expressão de ódio que ele apresenta sem deu rosto, entretanto ele está diferente, mais velho, sem de fato ter envelhecido, ele usa roupas, algo que não está presente em outras imagens. Ele está novamente em um circulo, mas não consigo enxergar as Deusas, apenas vultos. E saindo dos vultos quatro luzes, uma verde, uma marrom, uma laranja e outra rosa. Essas energias o atingem, e apesar da expressão de ódio em seu rosto enxergo algo mais, medo.

Quando eu saio da caverna a claridade que anteriormente havia está bem menor, como se a noite estivesse chegando. O tempo passa de uma forma diferente aqui em Umarama, antes do acidente já estava quase escurecendo, e aqui apenas agora está ficando de noite.

— Filha eu preciso te levar embora.

— Eu não queria deixar você, papai.

— Nós vamos nos encontrar novamente querida. Você não precisa ter presa, eu consigo acompanhar você sempre.

— Como?

Nós chegamos até o local onde eu acordei, e realmente é o mesmo lugar ilustrado na parede da caverna, percebo que o portal que antes não havia visto está ali, alguns metros do local onde meu pai me encontrou.

— Esse portal é a nossa ligação com o mundo dos mortais, eu consigo acompanhar você, a Marta. Eu somente não posso interferir na sua vida. Mas querida, eu sempre estou olhando por você.

— Eu te amo, papai.

— Eu também meu amor.

Nós ficamos abraçados e uma lua imensa nos ilumina. Eu choro como nunca havia chorado em toda minha vida, mas não de tristeza, de alegria, de amor. Meu pai me afasta e enxuga minhas lagrimas. Eu ainda beijo seu rosto, antes de atravessar o portal.


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