Poeta anônimo escrita por Artemísia Jackson


Capítulo 7
Caos




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Bakugou correu e saiu empurrando todo aquele que atrapalhava seu caminho, gritando sonoros "saí do meio, porra!" para dúzias de pessoas já estressadas por sofrerem esses atentados contra a boa educação logo de manhã. 

 

Mas Katsuki não tinha tempo para as reclamações ou sentimentos cívicos dos outros naquele dia, não mesmo. Precisava chegar na UA, avisar os professores, pegar o seu uniforme de herói — esperava que aquela porra estivesse com as melhorias feitas — e salvar Eijirou. 

 

Quando chegou na UA, ofegava muito, mais por causa do ódio do que pela corrida. Ele parou assim que entrou na sala, suando um bocado e com faíscas no olhar. Ochako foi a primeira a perceber que algo estava muito errado. 

 

— Cadê o Eijirou? — indagou, já em alarde. 

 

— Eles o levaram — gritou Katsuki, finalmente dando vazão ao ódio e a frustração. — Levaram ele, não sei o porquê, foi do nada e não pude fazer porra nenhuma, não deu tempo, foi muito rápido, mas acho que os desgraçados queriam a mim!

 

— Quem os levou? — indagou Deku, ao lado da amiga, visivelmente agitado. 

 

— O cara da Liga dos Vilões, do teletransporte. Se materializou do nada e levou o Eiji, o filha da puta vagabundo! — vociferou Katsuki, como se berrar pudesse resolver algo. 

 

— Eles levaram o Eijirou? — gritou Mina, horrorizada, tapando a boca com as mãos em um gesto de grande susto. 

 

— O brô? O que fizeram com meu brô? — indagou Denki, preocupado, intrometendo-se na conversa. 

 

— Meu Deus, o que eles querem com o Eiji? — choramingou Momo, tão aterrorizada quanto os outros amigos. 

 

Um alvoroço se instalou na sala de aula, com um gritando mais alto que o outro e o pânico generalizado se instalando. Todos queriam saber o que tinha acontecido com o amigo tão querido da classe, todos estavam preocupados e horrorizados ante o perigo que este estava correndo. 

 

— O que está acontecendo? — a voz de Aizawa se sobressaiu em meio ao caos que tinha se formado na sala de aula quando ele entrou, parecendo exasperado. 

 

— Eijirou foi sequestrado enquanto vínhamos pra a escola juntos — revelou Katsuki, aflito. — Precisamos salvá-lo! 

 

O professor piscou e pareceu repentinamente muito irritado e perturbado. Encarou todos os alunos da turma com ferocidade. 

 

— Certo, se querem ajudar Eijirou, fiquem quietos e não façam alarde por enquanto — Aizawa logo tratou de botar ordem. — E você, Bakugou, já que era quem estava com ele, venha comigo, falaremos direito sobre isso na sala dos professores. 

 

— Não temos tempo pra essa merda, temos que ir agora — berrou o aluno novamente, fora de si. 

 

— Ah, temos? Você sabe pra onde eles foram, por acaso? — desafiou Aizawa. — Sabe a rota, como podemos pará-los sem que isso cause algum dano ao seu amigo? Tem experiência de herói no assunto, Bakugou?

 

— Mas que porra, você está aí todo calmo e… — voltou a esbravejar o aluno, tão nervoso que não media palavras ou gestos ofensivos. 

 

— Katsuki, se você quer ajudar, vá com o professor e explique o que aconteceu, gritar não vai resolver nada — interveio Ochako, pondo as mãos nas costas do amigo delicadamente. 

 

— Ela tá certa, Kachan — concordou Deku. — Se você quer ajudar o Kiri, fale com os professores e ajude-os a criar um plano com as informações que tem. Não se preocupe, nada vai acontecer com ele, porque nós vamos ajudar a salvá-lo, custe o que custar.  

 

Embora ainda estivesse muito nervoso, Katsuki pareceu cair em si. Aizawa observou tudo com atenção, e resolveu que a dupla de crianças problemáticas seria de grande ajuda para controlar a fera raivosa. 

 

— Certo, se já terminaram, vamos logo — disse, saindo pela porta. — Os três — acrescentou, sem sequer se virar. 

 

E eles seguiram Aizawa com determinação e toda esperança que tinham. Eles eram aspirantes a heróis, e iriam salvar Eijirou juntos. 

 

Não importava quão alto o preço por essa decisão pudesse custar, eles estavam dispostos a pagar. 

—________

 

Kirishima estava no beco num segundo, e no outro, num bar velho e aparentemente lotado de maus elementos. Reconheceu um ou outro rosto imediatamente, as memórias do ataque a USJ vindo em sua mente em retalhos confusos e caóticos. Os braços firmes do seu sequestrador o mantinham imóvel, e por questão de autopreservação, o jovem decidiu absorver o local antes de tentar agir. 

 

— É ele? — uma menina loira com presas perguntou, parecendo estranhá-lo. 

 

— Não, não é — pronunciou-se uma voz. O cara sinistro cheio de mãos na cara apareceu, aquele que Katsuki intitulara como "mãozinha desgraçado". 

 

Ao lembrar do amigo, Eijirou sentiu o peito doer. Esperava que ele estivesse bem e a salvo, que sua atitude não fosse em vão. Atitude essa que tomara sem sequer ter consciência, apenas tinha visto o perigo e sucumbido ao instinto natural de proteger Katsuki, independente dos danos que sofresse no processo. Aquele ato de empurrá-lo para longe do portal não fora calculado, mas apesar do perigo que representava, Kirishima não se arrependia. Antes ele do que o amigo. 

 

— Pode me explicar por que não vejo nenhum Bakugou Katsuki aqui, Kurogiri? — indagou o "mãozinha", num tom perigoso. 

 

— Foi um imprevisto, Shigaraki, eu estava prestes a trazer Bakugou, mas esse garoto o empurrou e veio no lugar — explicou aquele que ainda segurava Kirishima, de forma paciente e servil. 

 

— Ah, imprevisto? E você já não tinha se preparado para esse imprevisto? — tornou a indagar mãozinha, o tom ficando mais afiado a cada palavra. 

 

— O que vocês querem com Katsuki, seus criminosos? — intrometeu-se Eijirou, ainda parado. 

 

— Ora, que língua afiada ele tem — zombou uma voz lenta e articulada, vinda do fundo do bar. — Será que as presas são afiadas também? 

 

— Cale a boca, Dabi, ele vai ser o meu brinquedinho — retrucou a garota loira, sorrindo de forma psicopata. 

 

Kirishima tentou se soltar, ativando sua individualidade e se contorcendo contra aqueles braços que o seguravam. Era demais ser um objeto de entretenimento para aqueles criminosos. Soltou-se com certa dificuldade e saltou para trás, embora de nada adiantasse, uma vez que estava cercado. 

 

— Controle-o, Kurogiri, não vou tolerar mais erros dentro do nosso território — ordenou mãozinha, frio. 

 

— Certo — dito isso, o vilão do teletransporte avançou, mais uma vez se pondo em ação. Em um segundo Kirishima estava no centro do bar, e em outro num lugar escuro e fétido que parecia um porão. 

 

Ele lutou como pôde, chutando, socando, endurecendo cada parte que usava para golpear. Mas nada disso foi muito eficaz contra aquele ser estranho, e num piscar de olhos Eijirou se viu preso numa espécie de maca de ferro vertical, como aquelas dos filmes de Frankenstein. As mesmas amarras dos filmes estavam ali, porém muito mais reforçadas, com correntes servindo como proteção a mais. 

 

— Fique quieto e seja um bom menino, e ninguém morre — anunciou Kurogiri, antes de virar as costas e sair do porão se teletransportando novamente. 

 

Eijirou fechou os olhos, sentindo as lágrimas descerem com gosto de derrota e fracasso. Entrara na UA para ser um herói, e onde estava agora? Sequer pôde se defender, e sua individualidade se mostrava inútil enquanto estava ali, preso. Devia ter lutado antes de ser amarrado, devia ter feito algo para sair dali antes de chegar naquele ponto. Agora estava totalmente inútil e sequer podia ouvir o que os desgraçados planejavam. 

 

Eles queriam o Katsuki, mas por quê? Pretendiam fazer mal a ele, usá-lo? Se sim, para quê? E por que ele? Embora se sentisse frustrado por ter sido capturado com tamanha facilidade, uma parte de Kirishima se orgulhou. Havia atrapalhado os planos dos vilões, e de quebra salvado seu amigo daquelas garras asquerosas. 

 

Talvez morresse no processo, mas não se arrependeria de sua atitude. Seu único arrependimento seria não ter beijado — ou ao menos tentado — Katsuki quando tivera chance. 

 

Mas estava tudo bem, porque acontecesse o que acontecesse, seu amigo cabeça dura estaria a salvo. E só isso fazia tudo valer a pena. 

 

—_________

 

O cenário na UA era caótico. Nas salas de aula, a fofoca rolava solta, porque um certo Mineta não sabia o significado de discrição. Murmúrios curiosos e duvidosos podiam ser ouvidos em todas as salas, e os professores que tentavam manter o controle eram os primeiros a ameaçar perdê-lo, porque a situação era desesperadora. 

 

Enquanto isso, na sala do diretor, Katsuki estava ocupado fazendo o que fazia de melhor: gritar. Os berros dele poderiam ser ouvidos por todos que passavam por aquela área, tamanho era o estado de nervos dele. Aizawa, All Might e Nedzu nada podiam fazer além de ouvir. 

 

— Como assim, esperar? — o jovem berrava, ignorando os apelos de Izuku e Ochako para que se acalmasse. — Claro, os vilões vão esperar antes de fazer mal pra ele, não é mesmo? Estarão lá esperando sentados enquanto a gente não faz absolutamente porra nenhuma! 

 

— Veja bem, Bakugou Shonen — tornou All Might novamente, o tom calmo e compreensivo. — Sei exatamente como se sente, mas você deve entender que não há nada que possamos fazer por Kirishima agora. Precisamos tomar cuidado e arquitetar um plano, não podemos sair atacando a esmo.

 

— Vocês são heróis ou não são, caralho? — esbravejou Katsuki, inconformado. 

 

A veia na testa de Aizawa se destacou em meio ao seu nervosismo. Estava aguentando tudo de modo estóico desde que entrara na sala do diretor, mas aquela era a gota d'água.  

 

— Muito bem, vamos lá correndo salvar Kirishima — ele começou, o tom perigosamente calmo. — Você sabe onde os vilões estão? Sabe qual o esconderijo? Como entrar, e se não é uma armadilha? Caso seja, como passaremos por ela? Sabe dos reforços, de como passar pelos vilões sem que seu amigo seja machucado no processo?

 

A única resposta foi o silêncio. Toshinori o encarava com uma cara de reprovação, mas Aizawa pouco se importava. Ele não ia mesmo tolerar um pirralho do primeiro ano questionando seu trabalho. 

 

— Achei que seria essa sua resposta — tornou a falar, numa espécie de satisfação sombria. 

 

— Bom, embora não fosse com essas palavras que eu pretendia explicar, é exatamente isso — Nedzu enfim se pronunciou. — Gritar e esbravejar não vai adiantar, Katsuki. Precisamos pensar e pesar cada ação com calma, pois qualquer erro pode custar a vida do amigo de vocês. 

 

Os três adolescentes se entreolharam, em pânico. Felizmente, Bakugou teve o bom senso de controlar o impulso de voltar a gritar. A razão lhe voltava aos poucos, e embora soubesse que havia sido ridículo, não se arrependia. Estava preocupado, oras! 

 

— Nós precisamos entrar em contato com o delegado, não podemos simplesmente agir como bem entendemos, vocês sabem — continuou o diretor, apoiando o queixo em suas patas cruzadas. — É uma situação delicada, todo passo precisa ser calculado, ou tudo estará perdido. 

 

Os alunos assentiram obedientemente. Não podiam fazer nada além disso, já que não eram profissionais. Mas ainda tentariam ajudar como podiam, é claro. 

 

— Nós traremos ele de volta, jovens, eu prometo — All Might disse de frente para os adolescentes, exibindo o polegar num sinal positivo e um sorriso confiante. 

 

E eles confiaram na promessa. Afinal, All Might era o símbolo da paz. E se ele não conseguisse, Izuku e Katsuki dariam um jeito com suas próprias mãos, nem que precisassem atravessar o inferno e voltar dele carregando Eijirou. 

 

—______________

 

— Conseguiu prender o pirralho, ou falhou nisso também, Kurogiri? — indagou Shigaraki, a voz tomada por uma fúria gélida. 

 

— Ele está preso — foi a única resposta que pôde ser ouvida. Os outros vilões eram espertos o suficiente para manter silêncio. 

 

— O quão difícil deve ser sequestrar um pirralho que mal se equipara a um herói, é o que venho me perguntando — continuou Tomura, as mãos coçando o pescoço em seu tique nervoso. — Pensei que estivesse seguindo ele, que tivesse me garantido que o fato de ter alguém o acompanhando não interferiria no trabalho, Kurogiri. Era nossa chance mais fácil e rápida, e agora nós a perdemos graças a sua incompetência. 

 

— Eu sinto muito — foi tudo que o vilão repreendido se dignou a responder. 

 

— É claro que sente, mas isso não vai mudar seu erro — retorquiu Shigaraki, friamente. 

 

— Mas eu ainda não entendi pra quê vocês queriam o loiro gostoso — intrometeu-se Toga, que não tinha muito senso de autopreservação. 

 

— É porque ele poderia ser um bom aliado — Dabi saiu do seu silêncio e do seu canto na parede, dirigindo-se preguiçosamente para a garota, passando os braços em volta de seus ombros. — Veja bem, doidinha, no ataque a USJ, eles avaliaram todos os alunos presentes. "Assim como Midoriya se mostrou um pé no saco, o tal Bakugou se mostrou muito talentoso mas com um temperamento duvidoso, do tipo que lembraria Endeavor. Pessoalmente, sempre que olho para o herói número dois, penso que ele poderia ser muito melhor como vilão. Aposto que pensaram assim sobre o "loiro gostoso" e tentaram sequestrá-lo pra fazer uma lavagem cerebral e trazê-lo pro nosso lado. Ia ser um grande aliado, não acha?"

 

O silêncio reinava no local. Tomura encarava Dabi com o olhar estreito, avaliando-o. O líder da liga com certeza não dividira todos aqueles detalhes com os outros, e mais da metade das palavras de Dabi eram puramente observação. Shigaraki sorriu, porque embora aquilo representasse um jogo perigoso, tornava tudo mais interessante, além de indicar o quão boas haviam sido suas escolhas para aquela equipe — embora tivesse aceito apenas por insistência de Kurogiri, mas aquele detalhe não importava no momento. 

 

— Faz mesmo sentido — concordou Toga, mantendo o indicador e o polegar em volta do queixo numa pose pensativa. 

 

— Que bom que ainda tenho pessoas talentosas nessa equipe — comentou Shigaraki, um sorriso maníaco estampado em sua face. — Você está absolutamente certo, Dabi. Quem sabe na próxima missão eu deixe você comandar, já que não posso mais confiar em Kurogiri… 

 

— Seria uma honra — respondeu Dabi, fazendo uma reverência com a cabeça, sem deixar de ostentar uma expressão divertida e maliciosa no rosto. 

 

— E o que vamos fazer com o seu erro, Kurogiri? — indagou Shigaraki, voltando-se para aquele ao seu lado, cuja cabeça ainda estava baixa. 

 

— Você quem decide, mestre — ele respondeu, sabiamente. Não estava em posição de dar pitacos após tal fracasso numa missão simples. 

 

Tomura começou a refletir, a expressão tornando-se cada vez mais maldosa e maliciosa enquanto rodeava o seu mais fiel subordinado. As mãos finalmente se deixaram cair ao lado do corpo, parando de coçar a garganta. 

 

— Já pararam para pensar o grande espetáculo que seria se nós simplesmente… — Parou, encarando cada um dos membros da Liga numa pausa dramática. — Acabassemos eliminando o erro? 

 

— Eliminar como? — Toga perguntou, parecendo espantada e excitada ao mesmo tempo.

 

O sorriso maníaco de Shigaraki foi tão doentio que alguns membros recuaram alguns passos, embora outros tenham apenas sorrido igual, já imaginando o rumo da conversa. Ele gargalhou antes de encarar a garota e responder, como se estivesse dando a melhor notícia do mundo:

 

— Matando-o, é claro. 










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