A história de Wuji escrita por Kori Hime


Capítulo 2
A brisa do sândalo




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Naquela noite, dormir não foi tão ruim assim. Contudo, precisaram acordar bem cedo, antes que alguém desse por falta do outro ator no quarto ao lado. As sete da manhã eles se reuniram no restaurante do hotel para o café matinal.

Wei Ying estava se sentindo um pouco melhor, e por isso desceu para tomar café com o grupo. Eles conversaram e riram bastante durante a refeição. Naquele dia, teriam apenas uma entrevista na parte da tarde, então poderiam ficar o resto do dia a vontade.

Durante a entrevista, os dois ficaram afastados por recomendação do agente. Lan Zhan não parecia nada contente com o afastamento, e isso foi percebido por algumas pessoas, deixando toda a equipe sem saber como reagir quando perguntaram com o microfone ligado, se havia algum dilema acontecendo entre os dois atores.

Era comum haver rivalidade no meio artísticos. O que não era o caso deles, mas as mudanças de comportamento pareciam afetar ainda mais a imagem do grupo.

Wei Ying levou o microfone até a boca e deu uma risada breve, inclinando o corpo mais para frente e acenando para o colega, dizendo que estava com saudade dele. A conversa foi sendo direcionada para outros assuntos até que a entrevista acabou de forma descontraída. Ele sabia que Lan Zhan era mais jovem e um pouco menos experiênte para essas situações, por isso, decidiu amenizar o momento.

Naquela tarde, ele recebeu a visita do médico no hotel, logo depois daquela entrevista. Não era nada muito grave, foi recomendado que Wei Ying ficasse de repouso e tomasse as vitaminas receitadas. Dessa forma, ele não pode ir ao jantar da equipe novamente.

Seu agente pediu que ele gravasse um pequeno vídeo falando com os fãs e tranquilizando todas e todos sobre a sua condição de saúde. Assim que o vídeo foi concluído, com um pouco mais de dois minutos, Wei Ying voltou a ficar sozinho no quarto.

Ele aproveitou e fez o que o médico recomendou, dormiu. Como nunca havia dormido antes. Dormiu tantas horas que chegou a ter um sonho estranho de que ele estava em um jardim de inverno usando antigas roupas cerimoniais de cor vermelha. Seus cabelos eram longos, cobrindo suas costas. Ele também segurava uma flauta de bambu preta na mão, e enquanto caminhava sobre a neve, ele tocava flauta. A melodia doce ecoava pelo jardim, era uma música que fazia ditar o compasso de seu coração. Do outro lado, havia o som tem uma cítara, também era um som poderoso que fazia estremecer a alma. Quando ele percebeu, viu que Lan Zhan estava sentado em uma varanda de uma casa, tocando o instrumento. Ele vestia roupas brancas e seus cabelos também eram longos, e os fios estavam em sua cor natural, preto.

Quando despertou daquele sonho, Wei Ying rapidamente pegou seu celular sobre a mesa de cabeceira e começou a gravar sua voz cantarolando aquela canção, antes que a esquecesse. Ele enviou uma mensagem para Lan Zhan, pedido que o encontrasse em seu quarto.

Mais tarde, quando Lan Zhan chegou, Wei Ying mostrou a gravação, explicando todo o cenário de seu sonho.

— Eu tenho a sensação de que já ouvi essa música em algum lugar. — Lan Zhan disse, apertando novamente o play. — Como uma lembrança triste e feliz. Não sei explicar.

— Você também? — Wei Ying perguntou, curioso. — Eu tive a mesma sensação e quando acordei, gravei rápido a música. Depois que eu percebi que estava chorando. Meu coração se encheu com um sentimento muito forte. E daí eu pensei em você, pensei em nós dois e… — Ying aproximou-se de Lan Zhan, e suas mãos foram de encontro ao gosto dele. Eles se olharam por um longo período e então sorriu, não havia medo me dizer o que sentia para Lan Zhan. — Eu te amo.

Wei Ying temia dizer em voz alta aquelas palavras. Não sabia se ele estava naquele mesmo ponto que ele. Pensou que talvez fosse afastado pelo outro, quando dissesse que eu amava. Entretanto, depois de ver a expressão espantosa na cara de Lan Zhan, ele recebeu um abraço quente e um beijo cheio de desejo.

A semana terminou com uma salva de palmas para a equipe que trabalhou muito, se esforçando cada vez mais. Todos estavam cansados e mereciam um pouquinho de descanso. A próxima cidade, não era muito grande como as outras. Um pouco mais distante, entre duas montanhas. Era um lugar tranquilo, com um lago famoso por ter propriedades curativas. O nome da cidade era Gusu, e foi colocada na lista da turnê porque um dos empresários que agenciava a produtora, nasceu naquela cidade. E como presente para seus conterrâneos, ele decidiu fazer uma apresentação especial dos atores principais no festival que ocorreria naquele final de semana.

Wei Ying já se sentia bem melhor e estava disposto naquela manhã. Eles se hospedaram em um hotel perto da colina, era uma pousada simples, mas muito bonita. Ele estava encantado com a paisagem local e queria explorar a cidade. Aproveitou que lugar parecia muito tranquilo para caminhar.

Ele pegou apenas uma garrafa de água e o celular. Quando estava deixando a hospedaria, ouviu a voz de Lan Zhan chamá-lo. Os dois se apressaram para sair dali, antes que fossem pegos em flagrante e obrigados a se afastarem. Não conversaram seriamente sobre aquela situação, embora a declaração que fizeram um para o outro, tivesse sido um grande ponto de partida para que os dois se sentissem mais seguros naquele relacionamento proibido.

Lan Zhan era mais jovem e se achava menos experiente do que Wei Ying, e era verdade. Ele havia completado vinte e dois anos recentemente e estava aprendendo a lidar com o impacto que a fama tinha em sua vida. Antes dele e Wei Ying iniciarem aquele romance, sua vida amorosa não era muito agitada, havia beijado algumas garotas no colégio. Apenas por pura curiosidade e para afastar os boatos de que ele e seu melhor amigo da época eram mais do que amigos. Era verdade que Lan Zhan sentia algo diferente pelo amigo, mas nunca se declarou. E quando ele sentiu uma forte atração por Wei Ying, achou que estava apenas confundindo as coisas.

Ele já era fã de Wei Ying, antes de conhecê-lo. Acreditava que sua empolgação e excitação quando estavam juntos era por esse motivo. Mas, aos poucos, compreendeu que seu coração não o via apenas como colega de trabalho, ou artista favorito. Seu sorriso, sua voz e seu carisma eram apenas a ponta do Iceberg. Quando o conheceu mais intimamente, depois de um ano gravando a série ao qual trabalhavam juntos, Lan Zhan finalmente compreendeu seus sentimentos.

Num primeiro momento, ele se apavorou. Contudo, a confiança e a intimidade que crescia com Wei Ying, permitiu que ele se sentisse à vontade para se declarar. Foi uma decisão completamente impulsionada pelo desejo e a excitação do momento, após eles retornarem de um dos ensaios. Ele pediu carona e, quando mal viu, já estava falando para Wei Ying que estava apaixonado por uma pessoa, mas o medo de não ser correspondido era maior. Ele decidiu manter o segredo do nome dessa pessoa, só que esse segredo não durou nem duas semanas.

Após essa conversa, Lan Zhan mal conseguia se conter de tanta alegria quando os braços de Wei Ying saltaram sobre seus ombros e o beijo aconteceu. Foi em uma noite, durante o final da segunda temporada, estavam sozinhos no estúdio que era o cenário da casa do seu personagem, o beijo foi tímido, com medo de serem flagrados, mas aconteceu. E depois disso, as coisas pareciam boas. Pelo menos até novas intrigas acontecerem.

Lan Zhan balançou a cabeça e afastou os pensamentos. Havia prometido que naquele passeio eles não falariam sobre os problemas e por isso decidiu focar sua atenção em Wei Ying, que andava na sua frente.

Eles encontraram uma escadaria e começaram a subir, a vista daquela altura já era incrível, e estava curioso para saber como seria ao chegar lá em cima. Olhou para o topo, imaginando que poderiam alcançar as nuvens quando chegasse ao final da montanha. Eles pararam algumas vezes e tiraram fotos, e beberam água. Sentaram-se nos degraus e comentaram trivialidades sobre o clima local. Apensar de estar sol, não fazia muito calor.

Depois, voltaram a andar e Lan Zhan se desequilibrou, mas Wei Ying o segurou pela mão e depois deslizou as mãos para sua cintura e o abraçou. Eles sorriram, com os rostos bem próximos um do outro e se beijaram. Era gratificante poder beijar a pessoa que amava sem ter medo de ser flagrado por uma câmera escondida ou por pessoas que os seguiam.

Eles riram, novamente, e voltaram a subir.

Chegaram num local onde parecia haver um pórtico de entrada feito de pedra. Havia inscrições entalhadas na pedra, mas muito danificadas pelo tempo, então não conseguiam ler tudo.

— Acho que aquele caractere significa Nuvem. — Wei Ying disse, virando-se para Lan Zhan, que se aproximou. — O que você acha?

— Sim, é possível, e aquele ali parece o mesmo que eu vi na placa quando entramos em Gusu.

— Aqui pode ter sido algum templo. — Wei Ying ficou mais animado. — Quem sabe um lugar proibido?

Lan Zhan sorriu, achava o humor dele de agora muito mais condizente com a sua personalidade. Ele esticou a mão e segurou a de Wei Ying, quando os dois passaram pelo pórtico, uma corrente de ar frio passou pelos dois, fazendo-os se arrepiarem e bagunçarem os cabelos

Wei Ying ajeitou os cabelos castanhos de Lan Zhan e o beijou rapidamente, antes de eles voltarem a andar. Quando estavam no topo, cansados pela caminhada, voltaram a olhar ao redor e havia muita grama crescendo pelas pedras empilhadas. Era um muro alto e bem chamativo.

No patamar acima, encontraram um novo pórtico com um mural muito maior e mais alto. Ali, havia muitas inscrições entalhadas nas pedras. Não dava para ler todas, mas alguns símbolos puderam reconhecer.

— Eu acho que aquele ali é conduta moral. — Lan Zhan apontou, enquanto ele tentava ler mais alguns inscritos. Ficaram um bom tempo tentando decifrar tudo o que havia naquele mural, mas parecia impossível alguém conseguir ler e decorar tanta coisa, poderia ter mais de quatro mil caracteres.

Alguns símbolos nem eram mais usados no dialeto modernos, o dialeto de Gusu era a origem daqueles caracteres diferentes.

Wei Ying apostou que chegava primeiro no topo da montanha e começou a correr. Lan Zhan riu, mas depois correu atrás dele e o alcançou. Os dois acabaram caindo em cima da grama e rolaram algumas vezes, antes de pararem deitados. As gargalhadas ressoavam pela montanha e eles se sentaram na grama e observaram encantados a paisagem.

O lugar, embora abandonado, ainda possuía as estruturas em pé, como muitos templos antigos pelo país. Contudo, parecia que algo havia acontecido ali, para que o templo houvesse sido danificado a ponto de ser abandonado.

Lan Zhan se levantou primeiro e depois ajudou Wei Ying a ficar em pé. Eles caminharam pelas ruínas e chegaram a um salão ao lado de uma árvore de sândalo. Lan Zhan apontou para a grama e mostrou alguns coelhos brancos e peludos. Eles tentaram se aproximar, mas os coelhos pareciam selvagens e não era uma boa ideia espantá-los. Voltaram até o único local que parecia ainda intacto.

Com um pouco de dificuldade, Wey Ying e Lan Zhan empurraram a porta dupla de madeira que estavam enganchadas e conseguiram abrir e entrar no salão.

As janelas estavam sem proteção, por isso, o ar ali dentro não era tão empoeirado, ainda que estivesse com uma bela camada de pó sobre os artefatos.

Os dois caminharam, cada um de um lado diferente, olhando cada objeto. Havia espadas, leques, bandeiras vermelhas pintadas e suja. Eles chegaram até o altar, onde havia o símbolo que pareciam nuvens.

— Isso, o que é? — Wei Ying aproximou-se, havia um pano cobrindo alguma coisa, ele então puxou e os dois fixaram os olhos no objeto que havia embaixo do pano.

— É uma cítara. — Lan Zhan comentou e olhou para o namorado que estava com uma cara muito assustada. — O que foi?

— É igual aquele instrumento que vi você usando no meu sonho. — Ele apontou.

— Não, é só parecida.

— Não, não, eu tenho certeza, é ela. — Wei Ying se aproximou, mas recuou a mão quando ouviram o barulho do vento aumentar. — Que estranho, não parecia que ia chover.

— Estamos no topo de uma montanha, é natural a corrente de vento se intensificar.

Wei Ying crispou os lábios, ainda achando estranho aquela cítara ser igual a de seu sonho. Ele então olhou para o resto do altar e foi notando alguns detalhes. Apontou na direção de um símbolo e virou-se para o namorado.

— Veja, é igual ao seu sobrenome, Lan. — Ele disse, entusiasmado. — E aquele do lado, é igual ao meu. — O sorriso delineou seus lábios e ele se sentiu excitado por ter encontrado aquele lugar.

— Talvez. — Lan Zhan se aproximou, apesar de estar dia e o sol bem forte do lado de fora, o salão possuía uma penumbra ao qual deixou ele menos entusiasmado do que o namorado. Desde que passou pelo pórtico, alguns degraus abaixo daquele pico, ele sentia os pelos de seu corpo se arrepiar.

Uma sensação fria tomou conta de seu peito, mas ele não desistiu de acompanhar Wei Ying naquela aventura.

— Veja, Lan Zhan. — Wei Ying andou até o altar novamente. — Aquilo é uma flauta de bambu?

— Acho melhor não mexer. — Ele falou preocupado.

— Está com medo? — Wei Ying deu uma risadinha.

— Não!

— Então, qual o problema de eu mexer?

— Esse lugar todo deve ter pelo menos milhares de anos, não podemos simplesmente mexer em nada, pode danificar. E se... — Eles pararam, quando ouviram o som de uivo.

— Um lobo? Não pode ser. — Wei caminhou até a porta e depois retornou. — Não há nada aqui fora.

— Será que podemos ir?

— Não antes de tocar. — Wei Ying disse. — Vamos, apenas para fazer um vídeo legal.

— Você não vai colocar a sua boca numa flauta suja, não é?

— Posso assoprar de longe. — Ele falou, dando uma risadinha divertida em seguida. Assim que pegou a flauta na mão, olhou fixamente para ela. Era como se tivesse encontrado um tesouro perdido, algo que sempre o pertenceu, mas que esteve longe dele por muito tempo. — Venha, eu assopro e você tira uma foto.

A contra gosto, Lan Zhan fez o que ele pediu. Depois de algumas milhares de fotografias e vídeos, Wei Ying ficou contente. Mas insistiu para que Lan Zhan tirasse também uma foto tocando a cítara.

O jovem ator sabia que não conseguiria sair daquele lugar antes de fazer o que Wei Ying queria. Ele então estalou os dedos e tocou a cítara.

— Muito fraco, toque com mais força. — Wei Ying disse, segurando o celular.

— Está bem. — Lan Zhan sentiu os dedos estremecerem quando se aproximou das cordas. O som estava bem ruim, porque o instrumento não havia sido afinado por muitos anos e as cordas pareciam enferrujadas. De qualquer forma, ele acabou relaxando um pouco, quando viu o quanto Wei Ying estava se divertindo com aquela brincadeira. Para variar, era bom que eles dois dessem umas boas risadas juntos.

— Vamos filmar nós dois fingindo que estamos tocando aquela música? — Wei Ying procurou algo que pudesse apoiar o celular para filmar. Ele acabou empilhando alguns objetos em cima de uma mesa de canto, que ficou em uma altura perfeita.

Lan Zhan deu a volta na mesa do altar e ficou na posição que Wei Ying mandou que ele ficasse, assim poderia aparecer melhor na filmagem. Correu então depois de dar o play para gravar, e eles começaram a fingir que estava tocando.

A princípio, os acordes da cítara pareciam enferrujados e completamente desafinados a ponto de magoar os ouvidos dos dois. Enquanto o sopro de Wei Ying não era o bastante para tirar alguma nota da flauta, e por isso saía um som bem depressivo do instrumento. Eles riram e olharam um para o outro, mas não pararam. Estava divertido e, por um momento, fecharam os olhos, quando uma brisa suave soprou para dentro do salão, levando até eles o perfume agradável de sândalo.

Quando eles perceberam, o som dos instrumentos deixou de ser ruim e passaram a tocar notas perfeitas. A cítara tinha um agudo firme que se espalhava pelo salão causando uma vibração cheia de energia, enquanto o som doce da flauta parecia acolher seus corações.

Lan Zhan parou de tocar subitamente, assim como Wei Ying. A brisa então se acalmou e os dois se olharam, piscando levemente os olhos.

— Lan Zhan? — perguntou, Wei Wuxian, surpreso. Ele abriu a boca, engolindo o ar e depois deu alguns passos até onde Lan WangJi estava.

— Wei Ying? — Lan WangJi estava imóvel, olhando-o com certa descrença.

— O que está acontecendo? — Wei Wuxian olhou para a flauta de bambu em sua mão, estava suja e velha. A mesma coisa a cítara na frente de Lan WangJi. — O que houve com você? Seu cabelo, está mais claro e você... isso é um brinco de mulher?

Lan WangJi levou a mão às duas orelhas e sentiu os brincos, depois, ele moveu a cabeça e deu por falta do cabelo.

Aquilo só poderia ser a pior das desgraças que havia se abatido sobre suas vidas.


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Notas finais do capítulo

Eles chegaram aeee



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