A história de Wuji escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Abraço protetor




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O grito das fãs não o assustava mais, como no começo daquela jornada.

Pela janela do ônibus, Lan Zhan acenou para a multidão do lado de fora, que gritavam e erguiam cartazes em diversos dialetos. Ele virou-se e apontou para a janela, mostrando o colega sentado ao lado o que estava escrito em um dos cartazes.

Wei Ying estava um pouco sonolento porque havia tomado remédios para a gripe. Ele usava uma máscara protetora de tecido preto, cobrindo a boca e o nariz. Ele olhou na direção do público, e automaticamente acenou, sabendo que aquele simples gesto causava comoção nas fãs que foram ali para vê-los cantar.

No cartaz, o nome dos dois formava um coração e isso fez com que Wei Ying voltasse a sentar na poltrona do ônibus dando uma risada divertida, porém, com as bochechas coradas. Ainda bem que a máscara estava protegendo-o daquela vergonha. O cantor e ator pop, olhou para o lado e viu a animação do amigo. Era contagiante, é verdade, adorava ser reconhecido pelo seu trabalho depois de tantos anos se esforçando.

Agora, aos vinte e oito anos, Wei Ying podia colher os frutos de seu trabalho. Contudo, sempre havia um preço a pagar com a fama. Diferente de Lan Zhan, que estourou logo em seu primeiro trabalho, a série de televisão que eles gravavam juntos, Wei Ying vinha trabalhando desde pelo menos os quinze anos de idade como modelo, ator e cantor. Mesmo com um currículo invejável, nunca teve um destaque tão grande como vinha tendo naquele momento em toda a Ásia. Até pouco antes da série ser lançada para o mundo, sua carreira se concentrava principalmente no sudoeste da China. Em meio a tantos grandes talentos, trabalhar na indústria do entretenimento não era fácil.

Já para Lan Zhan, o sucesso veio após vencer um programa de show de talentos aos dezoito anos. Agora, com vinte e dois, e dois CDs lançados, ele se consagrava mais uma vez como um dos protagonistas da série que trabalhavam, A história de Wuji.

O ônibus voltou a se locomover e a gritaria dos fãs ficou para trás. Wei Ying suspirou, cruzando os braços e fechando os olhos, poderia descansar um pouco até chegarem no hotel e serem bombardeados por mais uma multidão de fãs e repórteres.

Se alguém pudesse ler sua mente até o acharia ingrato por isso. Mas as coisas começavam a fugir do seu controle, algo engraçado, para não dizer trágico, um chinês comentar. O sucesso abria portas para mais trabalho, dinheiro e reconhecimento. E era maravilhoso, havia comprado seu apartamento, além de ter dado uma ótima casa para os pais na região ao qual eles haviam nascido. Também conhecia vários países e pessoas interessantes. Comia bem, se vestia muito bem, e nos últimos meses, depois de assinarem a terceira temporada da série, o salário aumentou e agora ele estava montando seu próprio estúdio musical, e pretendia trabalhar no CD de músicas que vinha compondo durante o período que ficavam assim, na estrada, visitando cidades e mais cidades pelo país. Isso quando não viajavam para outros países da Ásia. Era possível que naquele ano eles fossem para a Europa. Isso realmente o animava, mas também dava um pouco de medo.

Lidar com a fama na Ásia era estressante, e somado aos fãs de outros continentes, Wei Ying nem conseguia pensar nos efeitos colaterais que isso traria para seu psicológico.

Apesar de ainda sonolento, os pensamentos borbulhavam na sua cabeça, com isso, ele acabou não dormindo no caminho para o hotel. Ouviu, novamente, os gritos entusiasmados das fãs e sentiu um calafrio em seu corpo. Estava um pouco dolorido e precisando mesmo dormir em uma cama.

A equipe foi descendo do ônibus, e com isso eles fizeram uma barreira com os seguranças contratados pelo hotel para criar um corredor, onde os atores pudessem passar para entrar no hotel.

Todos estavam cansados, mas se esforçavam para sorrirem para os fãs e acenar.

Ele sabia que alguns fãs ficavam até uma semana acampados em uma barraca apenas para obter uma chance de vê-los por alguns segundos que fosse. Diante disso, achava que o mínimo que deveria fazer era comparecer aos eventos e, mesmo podendo desviar das rotas e entrar pelas portas dos fundos, não achava digno deixar tantas pessoas esperando e frustrar cada um dos seus fãs.

Ele foi o último deixar o ônibus, desceu devagar os degraus e abaixou um pouco a máscara mostrando seu sorriso e acenando para todos os lados que podia. Havia muitas pessoas ao redor, muitas câmeras de celulares apontando para ele. O corredor com seguranças impediu que eles fossem envolvidos pela multidão, mas isso não significava que não acontecia um ou outro empurrão. Isso o deixava muito preocupado. Aliás, toda a equipe ficava preocupada, por isso, em alguns lugares mais movimentados, como nas capitais, eles estavam começando a evitar aglomerações.

Assim que entrou no hotel, ajeitou os óculos escuros no rosto e segurou a alça da mochila um pouco desanimado. A gripe tomou toda sua energia e ele só pensava em tomar um banho e dormir. Quando o quarto foi liberado, ele entrou no elevador acompanhado dos colegas que conversavam animados sobre um restaurante que queriam fazer reserva naquela noite. Mas ele não estava muito empolgado para sair, pediu desculpas pela ausência e prometeu que eles jantariam juntos quando melhorasse.

Todo aquele andar do hotel foi reservado para equipe da série. Seu quarto era uma suíte ao lado do quarto de Lan Zhan.

Ele abriu a porta com cartão magnético e olhou para o lado, recebendo gentil sorriso. 

— Me mande uma mensagem quando estiver sozinho. — Lan Zhan disse, e depois ele entrou em seu quarto fechando a porta.

Quando ele entrou no próprio quarto, foi acompanhado do seu agente, que trazia novidades sobre uma entrevista que ele conseguiu para aquela semana. Wei Ying sairia em uma capa de uma revista magazine de moda, a entrevista seria voltada para seu estilo atual. Enquanto o agente andava pelo quarto, falando sobre trabalho, ele só pensava na banheira da suíte.

Ouviu pouco atento, até o final, quando agradeceu o trabalho de seu agente e esperou que ele fechasse a porta. Wei Ying também se certificou de que era o único com aquele cartão magnético que abria a porta, às vezes, em algumas viagens, era comum seu agente entrar e sair do quarto para resolver pequenas situações. Só que, de alguns meses para cá, Wei Ying vinha sendo muito mais cauteloso com a sua intimidade, mesmo que o agente fosse uma pessoa que estava ali para ajudá-lo.

Wei Ying encheu a banheira com água quente e tirou a roupa. Ele pegou a maleta com seus pertences e tirou um lenço umedecido para limpar o rosto e remover a maquiagem que haviam feito antes de gravarem um programa de auditório. Foi o dia inteiro gravando, depois deram uma entrevista coletiva para imprensa e ainda duas horas com os fãs que havia ganhado uma promoção de uma rádio local. Receberam quase mil fãs para tirarem fotos e darem autógrafos.

Essa era a terceira cidade que visitava naquela semana. A turnê ainda duraria um mês inteiro, sem contar os shows agendados no finais de semana.

Só de pensar nisso, ele sentiu a cabeça girar. Mergulhou o corpo na água quente, e relaxou os músculos. Já não bastasse o trabalho intenso, ele ainda precisava se controlar com a perda de privacidade. Nas últimas semanas boatos levaram a turnê ser modificada. Era comum ele sempre estar ao lado de Lan Zhan nas entrevistas, mas com os boatos de que eles estavam tendo um caso as escondidas, os produtores acharam adequado manterem os dois afastados durante as gravações, os ensaios, as entrevistas, e até mesmo dentro do ônibus.

Contudo, quando Wei Ying entrou no ônibus naquele final de tarde, não se sentou ao lado de seu a gente. Andou um pouquinho mais e se sentou ao lado de Lan Zhan. Todos ficaram olhando surpresos. Mas ninguém disse nada.

Depois do banho, ele vestiu um roupão e tomou seu remédio. Olhou o celular vibrando sobre a cama e viu as notificações, mas decidiu não responder ninguém. Wei Ying pegou o outro celular que mantinha guardado em sua mochila. Achava muito mais adequado ter dois aparelhos, porque era comum seu agente pegar seu celular para tirar fotos e fazer vídeos, ou até mesmo responder algumas mensagens para ele. Não que achasse isso inadequado, ele estava ali para ajudar, como já havia pontuado mentalmente.

De qualquer forma, achou melhor ter um aparelho que destravava com seu polegar, onde ele pudesse manter contatos íntimos sem que houvesse a possibilidade de alguém ler suas mensagens ou ver suas fotos.

Ele digitou uma rápida mensagem para Lan Zhan, dizendo que estava sozinho e que já havia tomado banho. Ele fez uma pausa e depois digitou uma mensagem dizendo que talvez era melhor eles não se verem. Arrependeu-se daquela mensagem um minuto seguinte. Ele sempre soube que para estar onde havia chegado precisava abrir mão de muitas coisas. Mas não contava que seria tão difícil assim.

Até então, havia tido romances esporádicos e sem muito vínculo afetivo. Até achava que era algo normal, da sua própria natureza. Pensava que o trabalho era muito mais importante do que as questões sentimentais e do coração. Entretanto, os sentimentos estavam intrínsecos ao seu trabalho. Ele evoluiu muito nos últimos meses, e projetava o seu sucesso pessoal na felicidade que vinha acumulando em seu peito.

Mesmo assim, não conseguiu lidar com a pressão do sucesso e toda a carga de ansiedade que vinha em manter segredo.

Sua carreira dependia da sua imagem, e onde ele vivia a sua imagem precisava ser transparente quanto um lago cristalino. As pessoas projetavam nele ideais que combinasse com o discurso que era vendido.

Wei só queria cantar e atuar, era seu sonho desde a infância. Mas ele acabou se tornando uma espécie de propaganda, ao qual sua imagem reproduzia uma vida de estabilidade, sucesso, carisma e plenitude.

Debaixo de todo o glamour estava um homem pedindo socorro.

Quando ouviu batidas na porta, soube que era ele. Assim que se levantou da cama, abriu a porta e deixou Lan Zhan entrar.

Ele o abraçou com tanta força que depois de fechar a porta, levou-o para cama.

O beijo em seus lábios foi tudo que fez antes de acariciar seu queixo e perguntar o que estava acontecendo.

— Eu só estou um pouco cansado. — Wei disse.

— Você não queria que eu viesse aqui te ver?

— Não é isso, eu estou gripado e não quero que você fique doente. — Ele respondeu, virando a cabeça e olhando para o abajur aceso.

— Eu te conheço, não é só isso. Você não vai me dizer o que aconteceu? — Lan Zhan afastou-se um pouquinho da cama, fazendo com que o outro virasse o corpo para que ele pudesse abraçá-lo melhor. Os dois estavam deitados na cama um de frente para o outro. 

— Eu realmente estou cansado, não somente da gripe, mas a viagem está um pouco estressante. Talvez eu esteja ficando velho. — Ele disse, sem muito humor.

— Eu vou ficar aqui com você, está bem? Não precisamos fazer nada apenas ficar abraçados. Posso?

— Claro que pode, obrigado. — Ele disse, quando se aconchegou nos braços do outro. Era engraçado que, Wei Ying era mais velho, e mesmo assim estava sendo acolhido de forma tão carinhosa por alguém mais novo. Não que isso fosse um problema. O problema maior era acordar e não poder ter os braços de Lan Zhan ao seu redor.


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Notas finais do capítulo

A história é curta, mas feita com amor. Vem!



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