Illusion escrita por leilane


Capítulo 2
Capítulo 2




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— E é por isso que eu não saio mais com vocês.
Revirei os olhos pela milésima vez ao ouvir as mesmas palavras ditas pela mesma boca tantas vezes.
— Ashton, se você não for me arrumar um remédio pra dor de cabeça, eu peço para que cale a boca. - coloquei os óculos escuros novamente, deitando a cabeça na escora do banco.
Ele apenas riu. Estávamos a caminho da arena onde tocaríamos esse noite. Michael, Calum e eu não sabíamos mais o que fazer contra aquela ressaca. A maior parte da noite anterior era um branco em minha memória. Lembrava apenas de chegarmos no pub que frequentávamos antigamente, algumas garotas se aproximarem de nós, bebermos mais e depois acordar essa manhã sozinho com um bilhete colado no peito. "Você é ridículo, eu tenho pena de você" e uma assinatura bonitinha para um nome difícil de se lembrar. Mais uma garota decepcionada por seu príncipe encantado estar mais para o vilão. Perdão, mas se vocês querem um príncipe que acorde vocês com um café na cama e flores no cabelo, procurem na Disney. Aqui é a vida real, onde se você é o mocinho, é apunhalado pelas costas.
— Não sei como eu vou passar o show inteiro do lado da caixa de som e não morrer. - o corpo inerte do meu lado, no caso Calum, reclamava.
— Nem pense. - Ashton logo virou-se no banco para nos olhar, elevando a voz - Querem passar as noites como ratos, em pubs e transando com o primeiro par de peitos que se oferecerem, tranquilo. Mas não esqueçam quem nos colocou nessa posição, a quem devemos tudo. Nossas fãs, que estarão na plateia e não tem nada a ver com as decisões idiotas que vocês tomam.
Estava cansado demais para tentar argumentar, o que serviu de incentivo para ele continuar falando.
— Então tratem de tomarem outros vinte banhos gelados e escovarem bem os dentes, pois se algum de vocês parecer um pouquinho desanimado naquele palco, as coisas vão ficar mais sérias.
Minha paciência já esta se esgotando com isso.
Michael tentou tranquilizar Ashton e Calum tentou se desculpar. Nada fez com que o nosso baterista quisesse olhar para nossa cara de novo. Eu não estava nem ai para ele e seus sermões. Não é porque ele tem uma namoradinha que todos nós precisamos fazer o mesmo. Mas como eu odiava esse clima estranho entre nós, e odiava ainda mais o sentimento de culpa por ter influenciado eles a irem comigo, decidi falar com Ashton assim que descêssemos da van.
— Cara, olha essa gente... - Michael divagou, olhando através da janela escura para a multidão que gritava ao ver a van.
— Essa gente esta aqui por você. - comentou Calum, dando duas batidas no ombro do colega.
— Por você, por mim, por ele e pelo cabeça dura do banco da frente. - resmunguei, sorrindo para os dois.
Ashton se virou lentamente e jogou em mim seu fone de ouvido, rindo e negando com a cabeça.
— Por que eu ainda ando com vocês? - ele questionou, mais para si mesmo.
— Porque somos demais. - eu, Calum e Michael fizemos uma pose em conjunto, uma pose não combinada e que devia parecer errada.
— Vocês parecem três Power Rangers rosa. - Ashton gargalhou, aumentando o nível das risadas com a nossa reação nada amigável ao seu comentário.
— Achei que fossemos mais como as Tartarugas Ninjas... - Michael divagou novamente, olhando para o teto da van.
Permanecemos por mais alguns minutos tendo uma discussão saudável a respeito do que éramos, circulado a arena para dar um tempo. Sorri sem ao menos percebem ou premeditar, encarando meus companheiros de banda, de carreira, de vida. Eu sabia que estaria perdido sem eles, e com certeza odiava desaponta-los. Mas como minha mãe um dia me disse, "sua felicidade tem que vir primeiro". E era exatamente o que eu mantinha na minha cabeça toda a vez que Ashton tentava me dissuadir a largar as noitadas, a bebida e as manchetes escandalosas.
Minha felicidade devia vir em primeiro lugar.

 

—__________________________________________________

 

— OBRIGADO PELO FANTÁSTICO SHOW, NÓS AMAMOS VOCÊS! - Calum gritou entusiasmado pela ultima vez.
Acenamos e saímos do palco, largando os instrumentos e seguindo diretamente para o camarim, sem pensar ou hesitar.
Só consegui respirar fundo quando minha cabeça repousou no chão, ouvindo outros três suspiros cansados do meu lado.
— Esse foi foda! - falou Ashton.
Não conseguia ver o quão perto estavam ou o que estavam fazendo, meus olhos simplesmente se fecharam, descansando o que precisava ser descansado.
— Acho que eu quero voltar para lá e fazer tudo de novo. - a voz de Michael parecia cansada quando disse isso.
— Não me convenceu. - falei, largando a mão com força sobre a barriga do corpo ao meu lado.
— Ai. - Calum resmungou de imediato, me fazendo rir e abrir os olhos.
— Desculpa, achei que fosse o... - fui interrompido por batidas na porta.
Nos levantamos correndo quando três garotas entraram na sala, acompanhadas por dois de nossos seguranças e mais nosso manager.
— Meninos, essas são as fãs que ganharam o concurso da emissora para conhecer vocês. - ele disse, arqueando as sobrancelhas para nós e empurrando de leve as garotas pelas costas para que elas se aproximassem.
Todas sorriam tímidas e não conseguiam parar o olhar em um de nós. Era como se não acreditassem que estávamos mesmo ali.
Normal.
— Prazer, eu sou...
— Nós sabemos. - a loira falou, sorrindo abertamente ao interromper Ashton - Eu sou Allie, e essas são Megan e Victorie.
As duas sorriram ao serem mencionadas. Passei meus olhos por todas, como um scaner. A morena da direita, Vicky ou algo assim, só olhava para baixo.
A porta se fechou com um baque surdo quando os seguranças saíram, nos deixando a sós com elas. Ashton logo foi bancar o simpático, abraçando as três com um afeto separado exclusivamente para fãs. Calum e Michael foram se aproximando aos poucos, seguindo os passos de Ashton. Eu esperei até que todos estivessem entretidos em assinar camisetas e tirar fotos para me aproximar por trás.
— Você devia se soltar mais. - sussurrei bem perto de seu ouvido, rindo de leve ao vê-la se assustando.
— Bom... eu... eu não consigo. - falou enquanto corava.
Sorri malicioso. Uma presa tão fácil quanto aquela eu nunca tive.
— Não consegue nunca ou só quando fica perto de pessoas bonitas? - me aproximei e me inclinei para ficar o mais perto de sua estatura baixa possível.
Ela levantou os olhos e se surpreendeu ao me ver perto. Típico. É claro que você não esperava que Luke Hemmings fosse se interessar por você, pois iludir fãs vinha no pacote "quero ter uma banda famosa". Tudo que ela provavelmente sabia sobre mim vinha de revistas adolescentes, fã-clubes e Sugarscape. Tudo que eu sou induzido a falar para convencer quem precisar que eu sou um inocente adolescente. Ridículo. Não conseguem lidar com o que o ídolo é de verdade, precisam ter um príncipe. Acontece que a maioria dos príncipes são, na verdade, sapos gosmentos. Ou, no meu caso, um leão faminto prestes a engolir uma nova gazela.
— Eu sou assim sempre. Não consigo relaxar perto de... - ela fez uma pausa para olhar para baixo - pessoas bonitas.
Eu queria rir de pena.
— Não se preocupe, eu era assim. Mas ai entendi que eu também era bonito e isso passou.
Tentei passar um sorriso caloroso, mas por falta de pratica, deve ter saído mais parecido com um cavalo. A garota sorriu, e foi quando coloquei minha mão em sua cintura e a puxei para perto de leve, voltando a sussurrar.
— Acho que você relaxaria muito mais se eu te pagasse um drink... - mordi seu lóbulo e ela arfou.
Ela demorou para concordar com a cabeça, se afastando para avisar sua amiga. Quando voltei para a posição normal que vi o olhar frio e de desaprovação de Ashton em mim. Dei de ombros e sorri para ele, que negou com a cabeça e tentou esconder a raiva quando a loira engatou outra conversa com ele. Logo minha presa estava voltando, com o ar um pouco mais nervoso.
— Tudo bem, ela já esta avisada. - esfregava compulsivamente suas mãos, o que me fez pensar que havia algo errado.
— Esta tudo bem? - perguntei, já juntando minhas coisas para sair.
— Sim... Não... Eu não sei. - ela riu, mas nervosa, olhando para baixo.
— O que? Você prefere ficar? - eu já estava perdendo a paciência. Era pra ser uma presa fácil, não complicada.
— Eu sou menor de idade Luke, eu não posso beber. - olhou para os lados e sussurrou, como se estivesse falando algum segredo nacional.
Eu estava me segurando muito para não rir. Mas se bem que agora meu trabalho facilitou.
— Tudo bem, eu não sabia. Desculpe por ter oferecido isso. - peguei sua mão, mudando minha tática - Então que tal apenas irmos para o meu hotel? Eu peço algo para comer e ficamos conversando...
Ela pareceu relaxar um pouco, concordando com a cabeça. Vendo que metade do caminho estava andado, peguei meu celular e mandei uma mensagem para meu segurança, pedindo para ele trazer um carro diferente para mim, e imediatamente.
— Eu nunca pensei que iria para o seu hotel... Com você!
— Eu sei, quer dizer... Mas agora esta indo, e vamos nos divertir muito. - consegui concertar a tempo, sorrindo para ela - Mas me diz uma coisa... Qual seu nome mesmo?
— Victorie...
— Ok Victorie, nós temos que ir agora... Só espere eu avisar os caras e vamos.
Me afastei antes que ela respondesse, me aproximando de Ashton e sussurrando para ele.
— Essa não vai dar problema, isso eu te prometo.
— Essa é uma fã Luke, você não devia colocar elas na sua lista de possibilidades de divertimento. - ele respondeu baixo, exasperado.
— Pode relaxar cara, e se divirta com a... a... a garota que você ta saindo ai. - Ashton revirou os olhos e segurou meu braço antes que eu me afastasse.
— Um dia, uma garota vai fazer o mesmo com você, e nesse dia eu estarei sentado, tomando um delicioso champagne, rindo da sua cara de babaca.
Soltei uma gargalhada forçada, fingindo limpar uma lágrima.
— Ah, você sonha muito acordado Ashton. Precisa dormir mais. - bati em seu ombro e me afastei, não dando a minima para ele me chamando e segurei a mão da garota a minha espera - Podemos ir?

 

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— E aqui tem o frigobar, pode pegar o que você quiser, viu? - fui apontando para cada canto do quarto assim que entramos - Enquanto você se ajeita e se sente a vontade, eu vou pedir alguma coisa para nós comermos. Alguma coisa em especial que você queira?
Ela estava maravilhada demais com o quarto e com minhas coisas para me ouvir. Tudo que ela tocava, tocava com cuidado, como se tivesse medo de estragar algo ou tirar do lugar. Por um momento apenas a observei, reparando na inocência que emanava dela. Repensei silenciosamente se seria uma boa ideia usa-la da forma como eu queria, tirando essa pureza e ingenuidade que ela certamente tinha, e ficando com pena por te-la enganado. Ela me tinha como aquele príncipe perfeito que eu tanto odiava, a imagem de alguém que eu nunca fui, não sou e nunca serei. E agora, da forma como eu sou, um galinha sacana que tem quem quiser aos pés, e matando qualquer outro Luke que ela tivesse projetado, estava acabando com seus sonhos. Nunca me importei com isso, mas agora parecia errado. Por isso Ashton me disse para ficar longe das fãs, para eu não mexer com quem não tem que se decepcionar. Elas precisam acreditar em algo melhor do que isso, do que eu sou.
Seus olhinhos curiosos virem ao meu encontro, e ela sorriu abertamente, demonstrando uma felicidade misturada com gratidão. A pena foi crescendo cada vez mais. Eu não devia, não era o certo. Não com ela.
Tive que ligar o "foda-se" no meu cérebro para seguir até ela, a puxando pela cintura e beijando seu pescoço. Eu não voltaria atrás, continuaria com isso até o fim.
— L-Luke? - ouvi ela balbuciar, tentando afastar meus ombros.
Não me detive enquanto ela me empurrava sem sucesso. Eu sabia que ela queria, mas essa estava com medo de se decepcionar comigo. Obvio que no sentindo sexual eu não desapontaria, mas se fosse em qualquer outro sentido, eu bateria o recorde.
— O que você está fazendo? - ela praticamente gritou quando caímos na cama, e tive que segurar seus punhos para ela não me bater.
Me afastei apenas para olhar em seus olhos assustados, franzindo o cenho.
— Não é isso que você quer? - falei exasperado - É o que todas querem! E eu estou aqui, pronto para isso. Você pode mudar de ideia e ir embora, eu não vou me importar.
Sua boca abriu e seus olhos se arregalaram, e ela parecia processar a minha fala e atitude. Agora não tinha mais volta, ela sabia da verdade. Seu príncipe encantado nunca havia existido.
Sua expressão inteira se fechou, vestindo uma mascará não tão inocente quanto antes. Soltou seus pulsos de minhas mãos e puxou meu rosto para perto pela nuca, me beijando.
Enquanto nosso beijo se intensificava, não pude deixar de sorrir. Eu tinha conseguido. Mudei o jogo ao meu favor.
Parabéns Hemmings, você merece o prêmio de maior babaca do mundo.


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Notas finais do capítulo

E aí? Me contem.



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