Coisas que Amo escrita por Laura Fernandes


Capítulo 8
Capítulo 7 - Breve Discussão


Notas iniciais do capítulo

"A verdade se corrompe tanto com a mentira como com o silêncio."

— Cícero



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Catarina passou o restante do seu fim de semana estudando. Preferia desperdiçar suas horas lendo e exercitando a gramática, do que pensar na grande decepção que teve com Simon. Depois de confessar seus sentimentos, ao menos, esperava que ele pudesse dispensá-la de forma mais educada, e não fugir como fez.

Infelizmente, as coisas não funcionam do jeito que gostaria. Tratou de estudar, numa tentativa inútil de esquecer todos os seus anseios.

— Catarina? – sua mãe a chamou, batendo em sua porta.

Ela deixou os livros de lado, e abriu a porta:

— Oi mãe... Entra.

Sua mãe adentrou o quarto, e se sentou na poltrona próximo da janela.

— Você chegou ontem em casa estranha... Aconteceu algo no festival?

Aquela mulher não podia ser sensível, e muito menos amorosa como outras mães, mas sabia exatamente quando Catarina estava bem ou não.

— Não mãe, eu só fiquei cansada, só isso. – Catarina respondeu, desviando o olhar para as próprias mãos.

Não achava apropriado contar para sua mãe o que ocorreu, especialmente por saber que ela nutre sentimentos negativos quanto a Simon.

— Querida, caso algo tenha ocorrido, pode me dizer. – a mulher olhou para sua filha. – Você e sua irmã são os meus tesouros! Falando em sua irmã, ela não vê a hora de você conseguir entrar em Dion e se mudar. Vai amar a cidade! Não tem praia como aqui, mas tem trem, metrô, cinemas, teatros... Você vai amar.

— Vou sim mãe. Assim que o semestre acabar, terei alguma novidade quanto a Dion.

— Não se esqueça, se alguém partir o seu coração algum dia, irá se arrepender para o resto da vida... Você é tão especial, que só sendo um louco para desprezá-la.

Catarina encarou sua mãe e sorriu. Como ela podia saber quais palavras usar para aliviar suas dores? Ela se levantou e se sentou no colo de sua mãe, a assustando, afinal, havia anos que Catarina não se sentava em seu colo, ou a abraçava.

— Você cresceu querida... – ela sussurrou, segurando as costas de Catarina.

— Desculpa mãe, eu só precisava de carinho.

— Eu sei meu bem, eu sei.

A prova de gramática foi mais fácil do que esperava. Respondeu todas as questões sem dificuldade, e teve tempo suficiente após terminar a prova para observar a sala. Catarina não tirou os olhos de Simon, que estava sentado duas carteiras a sua frente. Parecia concentrado, e talvez estivesse determinado em terminar a prova...

Ela tinha esperanças de que ele se dedicasse e fosse bem.

Se levantou de sua carteira, e deixou a prova em cima da mesa da coordenadora Olga, que olhou para Catarina com aptidão:

— A primeira a terminar. Acredito que se saiu bem, não é mesmo?

— Espero que sim. – ela respondeu, seguindo para fora da sala.

Caminhou direto para a biblioteca. Ainda daria seu reforço para Maria e Apollo, e caso Simon comparecesse, também o ajudaria.

Escolheu a mesa mais afastada, onde normalmente se reunia com seus alunos, e começou a folhear um livro, enquanto os aguardava.

— O Morro dos Ventos Uivantes, você é muito clichê. – Simon comentou, se sentando na mesa.

Catarina permaneceu concentrada em seu livro, mesmo sabendo que sua temperatura e seus batimentos cardíacos aumentaram.

Heathcliff e, olha só que coincidência, você tem quase o mesmo nome que a protagonista, Catherine.

Por mais que quisesse insultá-lo por atrapalhar sua leitura, e ainda por consumir um ódio irreversível por ter sido abandonada sozinha, Catarina permaneceu calada, grudada em seu livro.

Simon sorriu. Ele sabia que sua ação no sábado anterior teria a magoado, especialmente depois dela ter se declarado. Mas o que podia fazer? Permitir ser amado e amar novamente não estava em seus planos, e agora que sabia da verdade, estava assustado. Por alguns minutos, pensou que seria melhor a falsa consideração dela, do que este sentimento que ele temia em não retribuir.

“Nelly, eu sou o Heathcliff. Ele está sempre, sempre no meu pensamento. Não por prazer, tal como eu não sou um prazer para mim própria, mas como parte de mim mesma, como eu própria.”— ele citou uma parte do livro, mas Catarina permaneceu com os olhos fincados no livro.

Simon suspirou, já irritado:

— Vai me ignorar até na aula?

Catarina terminou de ler a página do livro, e se virou na direção dele.

— Na aula não, mas como você pode ver, ainda não iniciamos a aula.  – ela olhou para a biblioteca. – Enquanto a aula não se inicia, você poderia perder o seu tempo em outro canto, aqui está vazio mesmo, e acho que você não quer a minha companhia.

Simon balançou a cabeça, contradizendo o que havia acabado de escutar.

— Não, vou permanecer ao seu lado. Não pode ficar com raiva de mim, só porque o sentimento não é recíproco.

A questão não era reciprocidade, mas a forma como ele havia a tratado incomodava.

— Simon, a questão não é se é recíproco ou não! – ela fechou o livro. – A questão é, você me deixou plantada na orla da praia, sem entender absolutamente nada. Qual o seu problema? Não poderia ter conversado como um ser humano normal?

Enquanto Catarina o encarava, Simon suspirava. Não esperava que as coisas pudessem estar a este ponto.

— O que queria que eu dissesse? “Não gosto de você, vamos para casa?” Pensando bem Catarina, qualquer coisa que eu dissesse seria mal interpretada. E ainda sim, eu sairia como um cuzão.

— Não Simon! Se você fosse decente, diria de uma forma que não fosse tão cuzão assim. Quer saber a real? Independentemente de como agisse, você ainda seria um cuzão. Afinal, é um bêbado deprimido, que não consegue superar as próprias merdas que faz.

Simon bateu na mesa irritado. Por sorte, a bibliotecária não estava lá.

Catarina o irritou, tocando fundo em sua ferida.

— Se eu sou um bêbado deprimido, você é uma garotinha mimada que faz de tudo para ter o que quiser, e quando ouve um não, ou é rejeitada, não sabe aceitar bem os fatos. – ele mordeu os lábios. – Sem contar que está loucamente apaixonada por este bêbado que acabou de insultar.

Catarina pegou seu livro e atacou em Simon, na intenção de feri-lo. Jamais em sua vida quis bater ou ferir alguém, mas da forma como ele tocou em sua ferida, fez toda sua raiva transgredir para uma provável agressão.

O livro passou de raspão por Simon, acertando a parede atrás dele.

Ambos permaneceram sentados, ofegantes, na espera do próximo passo.

— Ei! O que acontecendo aqui? – Maria indagou, acompanhada por Apollo.

Catarina se arrumou na carteira e a olhou:

— Nada, uma leve discussão sobre verdades que não queríamos ouvir.

— E uma quase agressão, já que Catarina atacou um livro em mim. – Simon continuou, irritado.

Maria riu, enquanto se sentava à mesa.

— Vocês dois são uma comédia. Enfim, fomos bem na prova, sabia a maioria das questões. Hoje iremos focar no que? Biologia?

— Biologia parece uma ótima ideia, semana que vem teremos prova da matéria. – Apollo comentou, abrindo seu caderno.

Catarina apenas concordou, abrindo todas as suas anotações referentes a matéria. Temia que a presença de Simon pudesse desconcentrá-la, mas faria um esforço, afinal, ninguém precisa sofrer as consequências de sua trágica briga e simplória que acabou de ter com ele.

Ela explicou as fases da mitose, e passou alguns exercícios práticos. Simon prestou atenção em cada palavra que ela dizia, e por mais que tivesse com raiva, sabia que precisava se concentrar.

Provaria que não passava apenas de um bêbado como ela julgara que ele era. Se dedicaria aos estudos, e forçaria uma breve reconciliação com Catarina, mesmo que ela se recuse a isto.

Ambos estavam machucados pelas palavras ácidas e pesadas que falaram um para o outro. Porém, sabiam que era verdade.

— Olá grupinho dos desajustados! – Cássia disse, se aproximando da mesa deles.

Ela usava suas roupas de esporte, e estava com os cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo.

Provavelmente queria falar sobre o evento de inverno, Catarina ponderou enquanto a encarava.

— O que quer Cássia? – Maria perguntou.

— Bom, a minha ideia para o festival de inverno foi negada. Nada do tema amor, mas pensei em algo legal para nós o último ano. – ela bateu palmas animada. – Faremos como a Índia, festival das cores. Mas, preciso que vocês acatem, senão, serei barrada novamente por Olga. Vai gente, vai ser legal! Iremos guerrear com pó de tinta, em comemoração ao inverno, ao último ano...

Todos se entreolharam. Sabiam que teriam de aceitar, pois a menina estava determinada.

— Pode dizer a Olga que participaremos.  – Catarina declarou, não resistindo mais as tentativas de Cássia.

Cássia bateu palmas feliz. E seguiu para fora da biblioteca, anunciando pelos corredores que o festival estava de pé.

 


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Notas finais do capítulo

E aí, curtiram? Uma leve briguinha haha



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